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O Trilho do Trem (PT-BR)

Desencontros - Parte 1

Desencontros - Parte 1

Feb 25, 2025

This content is intended for mature audiences for the following reasons.

  • •  Drug or alcohol abuse
  • •  Mental Health Topics
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3 de Dezembro de 2023, Domingo.
Rua Sete.
Acordo com uma ressaca forte, mas me sinto bem pelo dia anterior. Hoje é sábado e não tem trabalho. De tarde, vou ao bar. A formação mudou um pouco hoje, alguns foram ver seus filhos e outros para a igreja neste horário. O velho Beethoven continua no bar.
Os assuntos hoje são ainda mais aleatórios e específicos que o de ontem. Histórias sobre brigas de trânsito, teorias sobre o desaparecimento de meias da gaveta, estratégias certas em partidas de sinuca e comparações das marcas de cadeiras de balanço de bares.
Me satisfaço com a Skol, seu gosto amargo parece doce se comparado com minha vida.

- Então você é jardineiro da universidade? – Beethoven diz.
- Sim.
- E até agora não arrastou uma novinha pra casa?
- Ainda não.
- É só sair do trabalho e já entrar numa dessas festinhas que fazem! Essas casas onde isso acontece são no campo onde você trabalha, você não precisa nem se esforçar para andar, menos de um metro de distância! – Ele fala indignado.
- Essas festas são para os estudantes e seus conhecidos. Entrar lá do nada sem ser chamado é intrusão.
- Colega, você leva uns baseadinhos ou um estoque de cerveja e eles vão te adorar. – Ele ri como quem já fez isso bastante em seus tempos de juventude. 
Ele conclui. - Certeza que umas vão até querer dar para você. Só usa uma camisinha ou vai pegar uma DST, experiencia própria! Se quiser uma de maior beleza aí você vai ter que ter lábia mesmo, mas se quiser uma que dá pro gasto sem ter que conversar, só levar baseado ou cerveja.
– Farei isso, passar o rodo. - Meu eu de antes diria que não gosta dessas mulheres desse tipo. Promiscuas e fáceis, sujas. Que se fosse pra ser assim é melhor alugar uma puta para comer que vale mais a pena por ser boa de cama e mais bonita. 
As latas de Brahma acabam. Compro um chopp de vinho, doce, porém não faz muito efeito. Vou para a Antarctica, essa nunca me abandona. Não importa quanto tempo passe, seu efeito sempre é forte, uma lata e meia e já era.

Uma saia mulata entra no bar. Pele escura com tatuagens, lábios grossos, cabelo curto liso e seios pequenos.
Há várias mulheres por aí. Quem é Priscilla? Só uma qualquer.
Bebo a lata Antarctica em um só gole.
- Comia ela? – Beethoven sussurra no meu ouvido.
- Casava e “embonecava”. – A cerveja impulsiona minha excitação ao falar.
Ele ri e me dá um soco no ombro.
- Duvida eu chegar nela? – Pergunto ao Beethoven.
- Duvido! – Ele me atiça com gestos de mãos.
Não tenho nada a perder, mesmo que essa garota me dê um fora eu não me importo. Eu tô bêbado pra caralho.

Venho de costas para ela e chego ao seu lado. Postura exageradamente ereta, voz artificialmente grave. Nunca tentei isso antes.
- Olá!
- Oi. – Ela responde neutra.
- Está esperando alguém?
- Não. Vim comprar cerveja para beber em casa.
- Sozinha?
- Sim, por quê?
Ela é intimidadora. Um rosto amigável, mas é séria.
- Não gostaria de beber acompanhada? Eu pago as bebidas.
Ela olha para onde eu estava sentado, ali permanece o Beethoven. Que nos observa com um sorrisinho de canto de boca.
- Com você e aquele velho?
- Urgh, n-não! Eu e você apenas, em outra mesa. - Sem querer gaguejo, Beethoven me paga.
- Pode ser.
“Pode ser.” Que resposta sem graça. Ela é tão seca. 
Compro as bebidas e sento em outra mesa com ela. 
Beethoven continua a nos olhar. O idiota não sabe nem disfarçar.
- Você mora perto daqui?
- Sim, na rua 9. 
Constrangedoramente continuamos a beber.
Ela balança sua mão segurando seu celular, um Iphone dos mais recentes.
- O que você faz da vida?
Depois de algumas respostas secas, ela agora me faz a primeira pergunta, perguntando com o que eu trabalho... Mulheres são péssimas em esconder suas intenções.
E se eu dissesse que sou gari, ajudante de pedreiro ou limpador de privadas do banheiro de um shopping? Ela sairia da cadeira e iria embora na mesma hora? Ou faria uma cara de bunda e me deixaria continuar pagando bebidas para ela?
Não, não vou deixar essa escapar. Vou usa-la como ela quer me usar. 
Aproveito minhas vestes e aparência formal. – Sou administrador de uma empresa.
Seus olhos antes caídos agora arregalam, seu lábio se curva delicadamente formando um sorriso. Sua postura muda e sua expressão também.
- Que tipo de empresa? - Até seu maldito tom de voz mudou.
Tento pensar em algo. Olho para a rua e vejo um carro.
- Uma empresa de venda de automóveis. – Encontro um tom de voz confiante.
Ela abre a boca e solta um som de interesse. – Então você tem um carro?
Fodeu. E se ela quiser ver o carro? Ando de bicicleta todo dia pelas ruas.
- Estou tirando a carteira de habilitação.
- Ainda não tirou, mesmo trabalhando em uma empresa que vende automóveis? – Ela sorri. – Quantos anos você tem? – Me testa a cada pergunta. 
- Vint- Vinte e cinco. - Tenho apenas vinte anos, mas se quiser mentir bem, tenho que reinventar a mim mesmo como um todo. Meu eu fictício.
- Por que não tirou antes? – Ela me investiga, quase como se insinuasse “Você é pobre?”.
- Não sentia interesse antes, mas após entrar nessa empresa comecei a me interessar por carros. 
- Nunca tinha se interessado antes? Todos os homens que conheço adoram carros.
- Estive focado na faculdade e no trabalho de meio período por esses anos. Crescer no ramo.
Seu sorriso se abre largamente. Consigo ver em seu olhar o que pensa, “Ele é focado no trabalho, deve ter grana.”. 
Para não me embolar em mais perguntas, eu inverto o jogo.
- E você? O que você faz da vida?
- Faço faculdade na Universidade Rural.
Que merda, logo no lugar onde eu trabalho como jardineiro.
- Qual curso?
- Sociologia.
Puta que pariu. Sociologia, curso de vagabundo.
- Não trabalha?
- Não, só faço a faculdade mesmo. – Ela se contrai de vergonha, ela percebe que estou dando o troco pelo interesse dela na minha vida profissional.
Olho novamente para suas mãos. Seguram o Iphone mais recente.
Ela não entende direito meu olhar penetrante para o Iphone e mostra suas unhas enquanto sorri. Burra.
Vejo de longe Beethoven, que continua sentado na outra mesa do bar e me sinaliza de longe, “Ou é puta ou é patricinha.”.
Ela diz seu nome, Tatiana. 
Nome de puta.

Conversas supérfluas voam e ela me dá seu número.
Foi mais fácil que parecia. 

Acordo. É domingo. 
Vou para sala caminhando. 
Dou passos sobre o piso enfeitado de espalhados cigarros Blue Ice. 
Como cereais no sofá da sala enquanto vejo TV.
Um filme de romance passa no canal. 
Que coisa ridícula. Troco para outro. Futebol. Odeio, troco de novo. Um canal de uma mulher vendendo joias, pior ainda. Troco para outro e é um filme de suspense com assassinato. Bobo, porém, melhor que do que passa nos outros canais.
Entro no WhatsApp.
Tenho apenas 5 contatos.
“Pai”, “Mãe”, “Chefe”, “Priscilla” e agora “Tatiana”.
Ainda tenho o contato de Priscilla, está sem foto de perfil, não sei se ela me bloqueou ou apenas mudou seu número, de qualquer forma, ainda o mantenho aqui. Nunca apaguei as mensagens, farão 2 anos.
Minhas únicas mensagens recebidas vêm da minha Mãe.
Ela envia as rotineiras mensagens perguntando se eu estou bem. 14 mensagens não lidas, faz uns dias que não paro pra responder, é exaustivo. Quanto mais se responde, mais ela manda.
Vou para a aba dos status. Meu pai posta status de. Já minha mãe, memes de animais e prints de frases motivacionais do Instagram. Pulo um por um.
Vejo os status da Tatiana.
Uma foto dela de biquini numa piscina.
“Piscina com as amigas, domingou.”, a legenda.
“Puta.”, a alucinação do Beethoven em minha mente repete.
A foto do biquini cavado em seu corpo me atiça. Printo.
Sem trabalho, tarefa ou nada para hoje, Decido assistir pornografia na internet.

Na aba do site há um vídeo estranho na página principal, “Alucinações Sexuais de um Macaco”. Uma antiga pornochanchada com um título bizarro. Como de costumo do gênero, uma qualidade horrível. Essa falta de qualidade e título péssimo me atraem a clicar no vídeo.

A protagonista é bastante parecida com a Tatiana, só que com pele mais clara.

No filme, sujeira e prazer misturados.
Trash como o podrão que comemos nas esquina. 
O barato de ser ser-humano.

Hoje escuto o trem passar tão silenciosamente que confundo primeiramente seu descarrilhar com o de um carro passando pelas ruas.

Segunda até sexta trabalhando.
Dia a dia normais.
A volta do trabalho pra casa tem sido calma e não tenho tido mais ódio ou ressentimento do pessoal na mata. Nas idas frequentes ao bar tenho feito amigos e socializados. 
Só bebo agora, deixei o vício do Blue Ice. O gosto nem é bom, por que comecei esse vício mesmo? Me contorço para lembrar.
É mesmo... Foi por Priscilla.
Por instantes havia esquecido...

Na manhã de sexta-feira Tatiana me envia a mensagem. O print de um anúncio de uma festa que irá rolar no campo da universidade, as músicas e o local, ocorrerá na noite do mesmo dia. Seria isso um convite? Ela não manda mais nada, isso é tão irritante, porque não é clara com suas intenções?
- Está me convidando? – Pergunto no WhatsApp.
- Caso queira ir. – Seca, vaga, superficial. 
- Bem, eu vou. – Eu respondo.
Vou beber e com sorte talvez transar. Duas coisas numa tacada só, como diria meu pai.
- Estarei te esperando lá. – Tatiana diz.


8 de dezembro de 2023, 21:24. 
Apareço das sombras da mata do campo da universidade, como um monstro surge num filme de terror, dou de cara com a mulher decotada na minha frente, me aguardando para ir na festa junto a mim. Sem querer, a prego uma peça.
- Nossa, você me assustou.
- Não foi proposital. – Digo isso com vontade de rir. Realmente não foi proposital, mas a reação dela não deixa de ser engraçada.
Seguimos o caminho. Pisando em folhas de canudo jogadas pelos estudantes e fragmentos de copos de plástico rasgados. Avistamos a casa. Chegamos na festa. Uma música horrível estourado é a ambientação. Há pessoas familiares que já vi no horário de trabalho como jardineiro nesse mesmo lugar, alguns estudantes parecem me reconhecer também. Sinto um calafrio. Mesmo mudando meu eu, eu ainda sinto coisas de antes. O desconforto em lugares lotados de pessoas, os olhares que parecem me julgar mesmo sem dizerem nada, as pessoas. Meu eu de antes acorrentado no fundo da minha mente parece se libertar por um momento. Não, não voltarei a ser como era. Vou beber. Já deveria ter começado a beber antes mesmo de ter chegado aqui.
- Vamos beber algo. – Tatiana parece ler minha mente.
Acho que é o que qualquer sóbrio pensaria ao chegar neste lugar, só bêbados aturariam um som tão horrível.
Ela me segura pelo braço e me guia até o local do bartender. Ela sugere Mojito. Não lembro o porquê, mas abruptamente recuso.
- Que tal Chopps de Vinho?
- Pode ser. – Ela diz.
- Pink Moon então.
Nos encharcamos de beber. Minha primeira vez em uma festa, eu e Tatiana bêbados dançamos mesmo com sons péssimos.

O som pulsante das batidas eletrônicas reverberava pelas paredes envoltas em cortinas de veludo roxo-cinza. A luz violeta, emanando do teto como raios de uma aurora boreal distorcida. Os bartenders misturam elixires exóticos em copos incrustados de ametista, cada gole o escapismo. Nos recantos sombrios da sala, fumaças surgem, drogas inaladas. Agitação sincronizada na batida da caixa de som. Pessoas se reviram como peões. Outras se agarram. 
Sujeira.
O que eu tanto desprezei, agora faço parte.
NickLuska
Lucas Réver

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Álvaro, um jovem de 20 anos, se sente preso em uma rotina exaustiva e decadente, com uma visão distorcida e amarga da sociedade. Oscilando entre memórias obsessivas e fragmentadas de sua ex-namorada Priscilla, tenta preencher o vazio existencial com vícios e encontros superficiais, mas o estrondoso ruído vindo do trilho do trem próximo a sua casa o impede de qualquer fuga mental. À medida que a obsessão e o desespero se intensificam, Álvaro é arrastado para uma espiral de insanidade, e sua máscara de indiferença desmorona junto com os últimos vestígios de sua neutralidade.
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