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O Trilho do Trem (PT-BR)

Desencontros - Parte 2

Desencontros - Parte 2

Feb 25, 2025

This content is intended for mature audiences for the following reasons.

  • •  Drug or alcohol abuse
  • •  Mental Health Topics
  • •  Sexual Content and/or Nudity
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Sinto o calor da mão de Tatiana e me coro. Que bom que este lugar é escuro e ninguém pode notar essa cena ridícula que acontece. Olho em volta, estou começando a ver tudo embaçado, deve ser a bebida. 
Fecho os olhos e aproveito.
Uma música boa finalmente toca nessa mixaria. É notavelmente diferente das que estavam tocando. É uma música nostálgica, só não consigo me recordar quando ou onde ouvi pela primeira vez. 
Tatiana está realmente bêbada. Se descola de mim e pede licença, diz que vai ao banheiro e que está apertada. Me sento em uma mesa vazia próxima de onde estávamos, é colada com a parede e tem um quadro esquisito acima, vários detalhes e figuras estranhas. Há um título na parte de baixo onde está a moldura dourada. A fonte do texto é estranha e péssima para ler, talvez seja a minha vista também. “Pudim das Polícias Serenas”?. Não, não é isso. Forço minha vista, apertando meus olhos novamente. “Jardim das Gordinhas Eternas?”, não é possível que esse seja o título. Aperto ainda mais meus olhos, forçando a visão quase pulando meus olhos para fora. “Jardim das Delícias Terrenas”. É isso, me sinto orgulhoso de mim mesmo por ter conseguido enxergar finalmente. Que título esquisito.
Tatiana demora. Eu estava tranquilo antes, mas agora que estou sozinho temporariamente volto ao meu nervosismo. Estaria ela fazendo suas necessidades? Que horrível. Eu preciso beber mais. Procuro naquela embaçado e abafado lugar o balcão. Preciso da minha gasolina, meu abastecedor que me abastece a dor. Como um cego, só escuto vozes das pessoas em volta, e muito mal. 
Ando lentamente para que não cometa nem uma gafe e não chame atenção dos outros. Esbarro numa mesa sem querer, ouço uma voz de desaprovo. Peço desculpas com a voz embolada e trêmula. apresso meus passos e ando mais rápido para que não piore tudo. Não entendo nada, tudo está manchado e indecifrável, só vejo símbolos geométricos e raios de luz ultra borrados. Coloco a mão sob o que parece a mesa do balcão. Pronto. Consegui. A silhueta colorida do Bartender de antes me atende novamente.
- Olá, senhor. Vem aqui para beber mais? – Ele parece educado e preocupado. Que silhueta bondosa.
Aceno com empolgação. - Mete bala tiozinho. – Até meu linguajar está diferente, estou com as pernas bambas e mente tonta.
- Você não parece bem, senhor. Acho que deveria parar de beber.
A borrada silhueta gesticula a cabeça para os lados lentamente, parece me desaprovar como a voz de antes. 
Espero, mas o homem continua no mesmo lugar. Não vai pegar a bebida para mim. O gesto com a cabeça do contorno decepcionado do Bartender me lembra minha mãe, me irrito. – Tá fazendo este gestinho por que hein caralho? – Aumento o volume da minha voz e a mudo para um tom ameaçador.
O homem se recolhe para trás, espantado com minha fala. – Com quem pensa que está falando?
- Eu que te digo! Eu vou pagar como assim paguei antes, então faz a porra do teu serviço logo!
- Abaixe seu tom de voz! Não vou dar bebida para alguém quase a cair no chão de tão bêbado, irá causar problemas pra festa.
Sinto meu olho pular pra fora, enquanto sinto atrás de mim uma multidão me olhar. Uma crise de pânico se converte numa crise de raiva. Puxo o terno do Bartender e encaro sua silhueta embaçada.
Ele empina seu rosto e muda seu tom para um ameaçador. – Largue suas mão e se afaste ou chamarei o segurança para te retirar daqui!
Sinto vozes emergindo por trás de mim. Seria a multidão na festa me observando, vindo me parar? Só sei que não vejo e escuto nada mais direito. Bufo de raiva, meu sangue borbulha, minha mão treme. Largo a mão do terno do Bartender. Ele suspira. 
A mão de uma pessoa com um anel de caveira me aperta o ombro por trás. Diz coisas indecifráveis e que julgo inúteis. Empurro sua mão de meu ombro. Vejo que atrás dele há várias silhuetas de pessoas me observando, dizem coisas também. Igualmente indecifráveis. Agora meu medo é realidade. Amontoado de pessoas olham para mim, todos pequenos grãos na minha vista embaçada, sujeiras.
Me movo enquanto procuro banheiro, onde ainda deve estar Tatiana. Vou me despedir. A ressaca começa a bater. Enquanto caço o banheiro feminino me afundo nos meus pensamentos, como antes. Deveria só ter ficado no bar com os velhos, sempre odiei lugares como esse, meu eu de antes estava certo nesse ponto. Essa gente e este lugar não são para mim.
Milagrosamente encontro os banheiros, escolho a porta direita e forço a vista para ver o símbolo da porta, é o banheiro feminino. Ué? A porta está meia aberta, está vazio o banheiro, não há ninguém ali. Será que ela já saiu e está me procurando? 
Mesmo não ouvindo nada direito, escuto do lado esquerdo, no banheiro masculino, enormes gemidos e o som de carnes, peles, se batendo e encontrando. Também está meio aberto. Empurro levemente a porta para que a luz roxa da luz da festa infiltre o local, minha visão clareia lentamente, aperto meus olhos com força e noto o que acontece. No escuro canto do banheiro, Tatiana geme e ofega enquanto tem seu corpo apertado e esfregado pelos braços de outro homem. Um homem cabeludo e de proporções cômicas idêntico a um macaco. Seu maxilar é alongado e seus olhos fundos, macaco. Como dois bichos imundos, ali agachados se fodem e se espremem no banheiro sujo como duas aberrações que são. Sinto um choque percorrer pelo meu corpo diante dessa cena escatológica. Ânsia de vomito, gostaria de poder vomitar nos dois até que sintam o nojo que sinto. Só que isso chamaria ainda mais atenção, o que não desejo. A imunda mulher nota minha presença por causa do feixe de luz atrás de mim que vai em sua cara, ela para o macaco humano em seu ato, que em choque ao ser notado se revira e guincha . Não eram inteligentes o suficiente nem para fechar uma porta. Tenho pensamentos violentos olhando para os dois, um impulso, um desejo. Porém o choque do quão absurdo é aquela cena me paralisa, não posso chamar atenção também, tenho um emprego. Minha mente tenta raciocinar. Já imaginava a imundice de Tatiana, mas não nesse nível. O macaco continua se vestir desesperadamente. Estaria com medo de que eu faça algo? 
Lembro da multidão da festa, do que aconteceu antes e do que acontece agora, o que pode acontecer se eu fizer algo errado agora, a atenção que vou chamar. Sinto uma imensa turbulenta e urgente vontade de correr indo embora. Isso já aconteceu? Sinto déjà vu. Parece uma repetição de algo que já aconteceu, só não lembro do quê ou de quando. Minha mente evapora e eu corro. A imunda grita algo que não entendo, já não me interessa mais. Cenário embaçado, manchado, distorcido e deformado. Atravesso correndo as silhuetas, as manchas, os grãos, as sujeiras. Avisto a saída, minha salvação. 
Sem querer esbarro com força numa magra menina que entra na festa. Ela cai.
Na penumbra das minhas enterradas lembranças, ela está materializada. É como se o tempo nesses 2 anos nunca tivesse passado, está exatamente como antes. Suas feições e trejeitos, o poder que tem sobre minha vida volta em um cruzar de olhares. 
- Álvaro? – Ela pergunta com seus olhares arregalados. Mesmo com a vista embaçado consigo notar seu rosto angelical que expressa surpresa.
Priscilla, a musa da minha solidão, a condutora de meus dias de ostracismo, que se alongaram em um interminável ciclo de introspecção e solidão. Recordo-me dos momentos passados juntos, das palavras ditas, dos gestos feitos, todos envoltos na névoa densa da dor não superada. Que fui descartado. Como vivi esses dois anos depois de nosso término, que se arrastavam de maneira corroída e lenta, meu vício em álcool e fumar, o recém vício de acumular unidades e maços de cigarros por todos os cantos da minha casa, em uma vã tentativa de encontrar alívio para a dor que ela havia infligido em mim, para ainda tentar tolamente sentir sua presença perto de mim. 
Ela se levanta e se aproxima. – Álvaro, é você?
Priscilla. Seu nome ressoa em minha mente com um eco poderoso, um terremoto, uma lembrança indesejada que se recusa a desvanecer. É o fantasma do passado que procurava, uma marca indelével que carrego em minha alma como um testemunho de minha própria fragilidade e problemas.
- O que você faz aqui? – Ela vira e indica com seu rosto que o lugar é uma festa.
Minha respiração se torna incontrolável, o peito se contrai em uma mistura frenética de raiva e indignação. Cada fibra do meu ser se retorce em um turbilhão de emoções, enquanto a pergunta ressoa em meus ouvidos como o eco do desdém. Como ousa? Como ousa questionar minha presença, minha capacidade de pertencer a este lugar, a esta multidão? “O que você faz aqui?”, sou eu quem deveria a perguntar isso. Sinto-me diminuído por ela, como no dia em que nos separamos, como se cada palavra pronunciada fosse um golpe direto em minha pessoa, uma rejeição flagrante de quem sou e do que posso ser. O ódio se acumula em meu peito, uma chama ardente que consome qualquer resquício de paciência ou complacência. Ela, com seus olhos rechonchudos e seu rosto pálido como a neve, torna-se o foco de toda a minha ira contida por tanto tempo e por hoje. Cada traço de seu semblante me irrita agora. 
Sua mera se torna uma afronta à minha dignidade e à minha evolução até agora. A vontade de esmagá-la com minhas próprias mãos, de calar para sempre aquela voz insolente que ousou questionar meu valor ou capacidade social, cresce dentro de mim como uma tempestade prestes a desabar. Forço neutralidade em meus lábios e sobrancelhas, mas ainda assim não posso conter meus olhos que ardem. 
Uma silhueta nos interrompe saindo da festa e vindo até a entrada nos interrompendo com suas falas. 
É o macaco.
Ele abraça Priscilla... 
- Oi amor, eu tava te esperando. – O macaco diz para Priscilla.
“Amor”? “Amor”?
- Eu demorei um pouco porque tava esperando meu celular carregar. – Priscilla o retribui se esclarecendo.
Os dois continuam abraçados. O homem-macaco e Priscilla.
Uma sensação de torpor se apodera de mim, como se meu corpo fosse uma marionete cujos cordões foram subitamente cortados. Minha mente se torna um turbilhão caótico de pensamentos desconexos, enquanto tento desesperadamente encontrar um ponto de ancoragem na realidade distorcida que se desenrola diante de mim. Entro em estado de desacreditar, prefiro conspirar, Tatiana deve ter me drogado estou nesse momento em uma bad trip, alucinando com algo tão irreal e doentio. Fragmentos de memória se desprendem de minha mente torta, como pedaços de um quebra-cabeça cuja imagem final se perdeu na névoa do que é real ou não é. A linha entre realidade e fantasia se desvanece, opressivamente me envolve. Talvez Tatiana tenha de fato lançado sobre mim os fragmentos de alguma droga desconhecida, deve ter sido na bebida que bebi com ela, é possível. Não pode ser real, não pode ser. Não isso que está acontecendo. Tudo isso é loucura. Mergulho-me em um abismo de dúvidas. Ou talvez, apenas talvez, eu tenha finalmente sucumbido à loucura que espreitava nas sombras de minha própria mente. Me belisco brutalmente e me arranho, mas nada acontece.
O homem-macaco me encara com um olhar ameaçador enquanto a abraça. Seria uma ameaça, uma tentativa de me calar? Para eu não falar para ela o que ele estava a fazer no banheiro antes? Será que ele sabe de meu passado com Priscilla? Minha mente submerge em overdose de informações. Os dois finalizam o abraço. De longe da festa está saindo Tatiana lentamente. Não, não, não!
Isso não pode ser real. Não posso que Priscilla veja Tatiana comigo. Não, não. O homem-macaco me encara com suas monocelhas reviradas, só noto elas agora. Tatiana com sua expressão de cadela molhada me avista, seu olho arregala mais uma vez em surpresa. Está para dizer algo e apressa seus passos. 
- Preciso ir!!! – Impulsivamente falo para Priscilla e pro homem-macaco, me despedindo estupidamente.

NickLuska
Lucas Réver

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