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O Trilho do Trem (PT-BR)

Noite Transfigurada - Parte 2

Noite Transfigurada - Parte 2

Feb 25, 2025

This content is intended for mature audiences for the following reasons.

  • •  Drug or alcohol abuse
  • •  Blood/Gore
  • •  Mental Health Topics
  • •  Physical violence
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As sombra das árvores me cobrem, espalhadas pedras pelo caminho desafiam a roda da minha bicicleta, mas uma pequena luz vinda da lua me ilumina timidamente. Deus. É bastante silencioso, só o som do rio se movimentando pode ser escutado. Antes de chegar ao parque, há uma pequena curva a ser dada. Não consigo ver o parque por causa das árvores e das moitas, mas então ouço passos fortes vindo de lá. Será Priscilla? Não, o passo é muito agressivo. Não posso arriscar chegar lá com uma faca guardada no quadril. E se for um guarda? E se já tiverem descoberto? Devo entrar na moita e ver pelas árvores. Largo minha bicicleta no canto da rua e vou olhar. 
Não acredito no que vejo.
Não...
Homem-Macaco.
Lá está o macaco sozinho enquanto impacientemente caminha pelo parque dando voltas. Está segurando um celular, não é o de Priscilla, me lembro como era pela foto de perfil dela, ele está com seu próprio celular. Bufa pelo nariz como um touro e esfrega a testa frustrado. Está a esperar.
Espera... Eu fingi ser Tatiana. Ele transou com Tatiana naquele dia. Ele pode ter achado que sou ela? Mas eu mandei a mensagem para o número de Priscilla... Ele pode ter achado que foi uma mensagem subliminar? Um código? Um convite secreto? Talvez ele não a tenha em seu celular. Talvez essa não seja a primeira vez que isso acontece...
Todos meus planos vão por água baixo em um instante.
Devo dar o fora daqui.
Tropeço por um galho preso entre a terra e a moita, um grande barulho rasga o dueto entre seus passos impacientes e o som do rio. É impossível não ser chamado pelo som. Droga. Me apresso para me levantar e sair andando rápido até que-
O Macaco me puxa pela blusa. Suo frio. 
Ele me olha com sua monocelhas ridícula e seu olhar neandertal.
- O que faz aqui? – Com sua outra mão coça o sovaco.
- Na... Eu... Ergh... – Me congelo.
Ele continua a me puxar pela mão, enquanto quase arranca minha blusa fora com sua força.
- Tatiana me mandou uma mensagem por um número novo... -
- T-T-Tatiana?-
- Não se faça de idiota. Você sabe quem. – Ele arregala os olhos e range os dentes.
- O que tem ela?
- Foi você?
...
Ele aperta ainda mais minha blusa. – Você sabe? Não gosto de pegadinhas. – Ele guincha.
...
Ele olha para o céu, raciocina suas próximas palavras. - O que queria falar com a Priscilla? – Chacoalha levemente meu corpo que segura pela blusa. Range mais os dentes.
Engulo saliva seco.
Seu dentes que se raspam agora se distorcem em um sorriso debochado.
Ele ri.
- Quer se vingar por aquele dia?
Entro em choque com sua falta de noção e respeito. Dessa vez sou eu quem arregalo os olhos, não acredito no que ouço.
Ele gargalha.
Impulso. Questão de segundos. Deslizo minha mão solta para a parte de trás da minha calça. Faca, oculta. Ela gruda na palma de minha mão, giro o braço em êxtase. O coração martela no peito. Miro no coração do Macaco. Sou eu quem irá fazer seu coração martelar no peito agora. Enfio. Encravo. 
Enterro. Enterro para o próximo cadáver.
Ele geme de dor. Geme como no dia que comeu Tatiana.
Mas agora não sente prazer, sente dor.
Lentamente desanda para trás. Treme e balança.
Cospe sangue.
Cospe e engole de novo. Sufoca.
Puxo a faca encravada em seu peito, ele cai para trás.
Vaza sangue. Hemorragia.
- DOENTE! VOCÊ VAI PAGAR! 
Pego uma pedra e esmago repetidamente sua cara.
- Chamem a ambulância! Eu preciso de um médico! 
Seus gritos desesperados agora se enfraquecem. 
- A-Ajuda... – Solta sua última palavra. 
Sufoco sua voz. 
Reprimo seus gemidos. 
Destruo seu ser.
Seu ruído desagradável acaba.
Formigas aparecem em torno de seu rosto despedaçado.
Escondo o corpo na moita ali mesmo. O cheiro de carne morta fede. Já não tenho mais tempo. Não posso perder o resto carregando o corpo até a sala especial só para manter tudo discreto, deixarei o corpo aqui mesmo. O celular do falecido Macaco dispara notificações, não as percebi antes. Tiro o celular de seu bolso, mensagens vindas do WhatsApp. Como as coisas saíram fora do esperado, agora preciso desse celular para atrair Priscilla. Quando Priscilla notar a ausência do Macaco irá ligar para seu número, então não precisarei ter o celular aberto. Não posso abri-lo de qualquer forma, o celular tem senha de dígitos e está bloqueado.
Noto uma formiga que rodeia seu dedo. Seu dedo... Sua digital. Giro o celular para ver a parte de trás, tem o botão da digital ao lado da lente da câmera. Limpo o dedo ensanguentado do Macaco com minha blusa e encosto o botão da digital do celular. O celular dispara outro som. Abriu.
Engasgo em euforia. Destino? Benção. Cruzo minhas palmas e agradeço o criador. Onipresente e onipotente.
Removo a senha do celular. Está feito.

Vou até a sala especial de jardinagem. Pego uma tesoura de poda e um serrote. Sinto o frio metálico das ferramentas nas palmas da minhas mãos e a faca em meu quadril enquanto vou embora de bicicleta. Ouço risadas vindo de uma moita no campo, deve ser como naquele dia da orgia. Sinto o impulso urgente para correr, para desaparecer na noite antes que o peso de todas as minhas ações se concretizem. O frio no ar parece se intensificar, assim como as batidas das ondas do rio. Pela última vez, olho para o campo e me despeço acenando a cabeça. Essa será minha última vez aqui. 
Jardim do Eden.


Estou em casa. Lar doce lar.
Coloco sob a mesa o celular, a faca, a tesoura de podar e o serrote. Ponho novamente Verklärte Nacht na minha TV. Está em harmonia com minhas emoções. Como se Schönberg me observasse e mudasse propositalmente a direção da música para combinar com minhas emoções. Puxo do bolso o celular que era do Macaco. Ligo o celular, entro no WhatsApp.
Há novas mensagens de Priscilla.

“Você sumiu, você não ia vir aqui?”
“Maurício?”
“Responde logo, amor”
“Tô ficando preocupada”

Então o nome dele era Maurício.
Não consigo evitar sentir de ainda sentir algo por Priscilla, desta vez somente um puro ódio. Ela manda mensagens preocupadas para Maurício, mas nunca me procurou durante todo esse tempo. Ver ela sendo capaz de sentir algo tão intenso, por outra pessoa. Cada palavra que ela escreve para ele é uma faca que me corta em silêncio . O espaço que um dia ocupei em sua vida agora pertence aquele qualquer, que apodrece no matagal de um campo de universidade. Me pergunto se algum dia eu signifiquei ao menos metade do que ela significou para mim, ou se fui apenas uma curta fase para ela, que ela superou e esqueceu com facilidade.

“Eu vi que você tá online, responde”

Meu corpo gela ao perceber que esqueci de desativar a opção de visualizar mensagens no WhatsApp. O sentimento de pânico se espalha rapidamente, um frio súbito que me faz tremer. O tempo parece se arrastar enquanto minha mente gira, tentando encontrar uma resposta rápida que a chame até aqui. Devo fingir ser o Maurício, devo me adaptar ao que acontecer e saber resolver. Ela já está digitando mais coisa, uma pressão crescente me obriga a agir. 
A angústia é palpável, o medo dela descobrir que não é Maurício no celular me amedronta.
Minha mente, já atolada em emoções conflitantes, se apressa a criar uma resposta adequada. Vou atrás ver suas mensagens antigas e vejo que Maurício mandava mensagens seguidas com gírias e sem pontuação. Já sei como a responder.

“Tô na casa de um mano aqui”
“Queria te buscar pra vir aqui, mas tô no grau já”
“Cola aqui é no início da rua 7 portão cinza e vermelho”

Com o coração acelerado, meus dedos tremiam enquanto digitavam essa apressada resposta. Espero ter passado credibilidade.

“Tá bom. Vou me arrumar e já vou.”
“Da próxima vez não demore para responder, viu?!”

Estou incrédulo. Tão fácil assim?
Não precisei a pressionar, a convencer... Ela realmente virá?
Olho para trás, para todo esse tempo que se estendeu como um rio tortuoso, com suas correntezas e remansos. Vejo cada momento, cada frustração, cada dor, cada tristeza, cada alegria, tudo que aconteceu e que me trouxe até este momento. Uma sensação de fim iminente me invade, como se o peso de tudo estivesse prestes a se dissolver no ar. E, surpreendentemente, em meio a essa percepção, sinto uma alegria que remove todo meu peso, uma ternura inesperada. É como se, ao olhar para trás, as sombras se tornassem nuances de uma obra de arte maior, pintada com as cores da minha própria existência. Tudo é lindo, tudo é divino. Deus está em tudo, penso, com uma convicção que vem do fundo da alma. Ele está nas alegrias, nas tristezas, nos erros e nos acertos. Ele esteve comigo em cada passo, mesmo quando me senti perdido, mesmo quando duvidei. E agora, ao compreender que tudo fez parte de um caminho que Ele desenhou para mim.
Pego meu pano velho xadrez azul e branco, as bordas já desfiadas pelo tempo, carregando o cheiro familiar de sujeira do chão antigamente repleto de cigarros e suas cinzas. O tecido, tão simples, tão comum, agora ganha uma nova função, um novo propósito. Com uma precisão que surpreende eu mesmo, derramo o clorofórmio sobre ele, vendo o líquido se espalhar rapidamente, encharcando as fibras que absorvem com avidez essa substância que traz consigo a promessa de um apagamento imediato. O cheiro forte e químico sobe rapidamente, se misturando com o aroma antigo do pano, criando uma combinação que provoca uma ligeira vertigem. Cheiro de terra com ferrugem, esse deve ser o cheiro do trilho do trem.

O portão está aberto. Espero por sua presença, com o pano na mão. O lobo espera sua presa. Cada segundo se alonga, esticando a tensão que pulsa em minhas veias. A noite ao meu redor é silenciosa, o bairro está deserto como sempre. Meus olhos fixos na rua iluminada pelo poste torto. Estou atento a qualquer movimento, qualquer som que denuncie a chegada dela. A espera só aumenta a adrenalina. Cada batida do meu coração ecoa como um tambor, acelerando à medida que o tempo se estende. A tensão se acumula, se intensifica, até que quase não posso suportar o peso dela. É como se cada segundo que passa fosse uma carga elétrica, correndo através do meu corpo, me mantendo em alerta, me preparando para o que está por vir. O silêncio ao meu redor amplifica cada sensação.

Até que escuto o som dos passos leves e ritmados ecoando pela calçada. Meu coração, já acelerado, bate ainda mais forte, quase abafando o som que agora se aproxima. Em seguida, ouço sua voz, familiar e despreocupada, conversando no telefone. Cada palavra é nítida, cortando o silêncio da noite. Ela fala com uma amiga com a voz suave e casual, contando que está indo para a casa do amigo do namorado. A naturalidade em seu tom, a forma como menciona os planos da noite, traz uma nova onda de adrenalina, uma mistura de emoções que me envolve. Ela não sabe que essa será uma de suas últimas palavras. Fico parado, escondido atrás do muro e do lado do portão, ouvindo cada detalhe. Seu riso, sua conversa sem pressa, ela não faz ideia de quem a espera sou eu. O som de sua voz se aproximando cada vez mais me deixa à beira de um precipício. 
- Tchau amiga, vou desligar. – Ela finaliza a ligação.
Sinto que ela está perto da calçada, em frente minha casa, seus passos diminuindo enquanto para em frente ao portão.
- Nem para ele me esperar aqui no portão, que droga. Não gosto sair entrando na casa dos outros... – Ela reclama.
 O som agudo das notificações preenche o silêncio, ela manda mensagens para o celular de Maurício que está lá dentro de casa.
- Maurício? Tá aí? – Silêncio.
Por um momento, ela fica parada. O portão aberto parece chamá-la. E então, sem hesitar, ela entra.
Vejo-a de relance, um instante que se transforma em um turbilhão de adrenalina. Antes que qualquer pensamento possa se formar completamente, meus instintos tomam conta. Num movimento rápido, puxo o pano já impregnado de clorofórmio e avanço. Ela não tem tempo de reagir. Em um segundo, o pano está sobre sua boca, abafando qualquer grito que exclame susto ou grite por socorro. Seu corpo se tensa, tentando resistir, mas a surpresa e o impacto são implacáveis, minha força é maior que a dela. Sinto a força em minhas mãos enquanto seguro o pano firmemente contra seu rosto, o clorofórmio age rapidamente. Seus olhos se arregalam por um breve momento, antes de rolarem para cima e se fecharem. Sua consciência começa a desvanecer. Tudo acontece em segundos. O som da sua respiração abafada, o tremor do seu corpo, mal posso acreditar que cheguei aqui. Seu corpo cede, enfraquece. Ela se rendeu ao sono induzido.
Priscilla...

A carne é fraca. Olho para seu corpo apagado, uma onda de tentação tenta me envolver, quase me levando à sedução. A proximidade, o toque, a quietude de sua forma ali diante de mim, tudo parece conspirar para me puxar para a tentação. Não permitirei. Respiro fundo, lutando contra o desejo sombrio que ameaça tomar conta. Irei me controlar. Sou mais forte que as sombras que tentam me dominar, que esse impulso primitivo que borbulha sob a superfície. “Negue a si mesmo”, lembro da bíblia. Mesmo Priscilla não sendo a mesma de antes, há algo em mim que ainda clama por uma última conversa com ela, a que sinto que nunca tivemos, um ajuste final de contas entre o passado e o presente. Observo seu corpo desacordado, não posso usa-la de oferenda sem a conversa, não me sentirei pronto assim. Quero olhar em seus olhos aberto uma última vez, ouvir suas reais últimas palavras. Quero palavras que nunca foram ditas, respostas que nunca tive, mesmo sabendo que isso não mudará o que está por vir. Mesmo assim, quero o encerramento.
NickLuska
Lucas Réver

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