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O Trilho do Trem (PT-BR)

Noite Transfigurada - Parte 3

Noite Transfigurada - Parte 3

Feb 25, 2025

This content is intended for mature audiences for the following reasons.

  • •  Mental Health Topics
  • •  Physical violence
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Ela acorda de repente, e seus olhos se abrem em um susto imediato, piscando enquanto tenta entender onde está. A confusão logo dá lugar ao pavor quando percebe a extensão da sua situação. Ela se contorce, testa os limites das cordas que a prendem firmemente à cadeira, e o pânico cresce em seus movimentos desordenados. O primeiro grito rasga o silêncio, um som agudo e desesperado que reverbera pelas paredes. Ela puxa os braços com força, tentando se libertar, mas as amarras são firmes, implacáveis, segurando-a no lugar. Seu corpo inteiro luta contra a realidade que a cerca, e seus olhos, agora arregalados, correm pelo ambiente, procurando por uma saída na sala vazia e escura, uma esperança que não existe. Os gritos continuam, cada vez mais altos, mais desesperados, enquanto ela tenta se livrar do terror que a envolve. A cadeira balança levemente com suas tentativas de fuga, mas nada cede. Seu desespero preenche o espaço como um grito mudo no fundo da minha mente, uma manifestação de puro medo e impotência. Corro apressado, o som dos gritos dela ecoando pela casa como lâminas afiadas. Os vizinhos podem escutar. Meu coração dispara, e quando viro o corredor, vejo Priscilla se debatendo na cadeira, os olhos arregalados de puro terror. Sem pensar, lanço-me sobre ela e, num movimento rápido e desesperado, tapo sua boca com minha mão.
- Não adianta gritar. – A reprimo.
Ela tenta gritar novamente, mas o som se transforma em um murmúrio abafado, sufocado pelo peso da minha palma. Sinto seu corpo se contorcer contra mim, os músculos tensos numa luta silenciosa. Seus olhos me encaram, cheios de medo e fúria.
Com um movimento brusco, estendo a outra mão para pegar o controle da TV e a ligo, a fonte de luz vindo da TV nos ilumina. O brilho da tela revela nossos contornos vagos e distorcidos e então meu rosto surge da penumbra, iluminado pelas cores fugidias que emanam do televisor. Ela paralisa, me olha. Seus olhos arregalados pelo choque, enquanto a compreensão lentamente se instala. A respiração dela se torna irregular.
- Álvaro? – Ela sussurra. Seus lábios se movem com nervosismo, sua voz agora está baixa. 
A mistura de medo, incredulidade e algo que não consigo decifrar atravessa seu olhar. É como se estivesse tentando resgatar as últimas horas na memória. 
- Onde está o Maurício, meu namorado? – Ela chacoalha na cadeira.
Meu rosto se contorce involuntariamente, formando uma careta amarga e grotesca quando ouço sua pergunta. De todas as coisas que ela poderia dizer, de tudo que poderia ter saído de sua boca ao se deparar comigo nessa situação insana, ela escolhe falar dele. Maurício? A palavra sai com uma mistura de desprezo e incredulidade, latejando em meus ouvidos como uma afronta. Ela mal recupera o fôlego, ainda amarrada e vulnerável, e a primeira coisa que lhe vem à mente é ele. Como se todo o nosso passado, todas as lembranças, fossem subitamente eclipsados pela sombra desse maldito homem. Sinto o gosto amargo da frustração se espalhar pela minha boca.
- O que fez com ele? – Ela insiste.
Respiro fundo, tentando conter a explosão que ameaça escapar. Mas as palavras dela ecoam dentro da minha cabeça, transformando-se em uma ferida que nunca cicatriza, uma lembrança viva do quanto ela já está distante, mesmo estando tão perto, presa na cadeira diante de mim.
- Álvaro, o que fez com ele? - Ela começa a gritar, sua voz cortando o ar com uma intensidade que parece perfurar meu crânio. Algo dentro de mim se solta, como uma represa que não consegue mais segurar a pressão acumulada. Estouro em uma explosão de raiva e frustração, cada palavra saindo como um rugido que há muito estava preso.
- Você quer saber? - Minha voz sai áspera, quase selvagem, e sinto cada músculo do meu corpo tensionado, como se estivesse prestes a explodir por completo.
Ela se assusta.
- EU O MATEI! O ESFAQUEEI! - Minha voz transborda ódio, cada sílaba carregada de rancor e ressentimento acumulado. Mas meu rosto... meu rosto não esconde o prazer distorcido que cresce a cada instante. Sinto um êxtase sombrio tomando conta de mim, uma satisfação crua e perversa ao perceber que consegui destruir algo que Priscilla dava valor. 
O choque estampado em seus olhos é um combustível para esse prazer doentio, e minha expressão trai o que as palavras não conseguem capturar. Há um brilho insano em meus olhos, um sorriso enviesado que se forma no canto dos lábios enquanto absorvo cada nuance do seu desespero. Sinto o gosto metálico da vingança, um arrepio que percorre minha espinha ao ver sua expressão de pavor e impotência.
- Álvaro, me diga que está brincando... – Ela começa a chorar. Treme de medo, desvia seus olhos dos meus. Abaixa a cabeça com medo do que pode acontecer.
Eu sorrio. Meus lábios se curvam devagar saboreando o impacto das palavras que lancei contra ela. - Eu te livrei daquele ser abominável. – Digo, com a voz encarregada de deboche. - Ele não era nada do que você pensava, Priscilla. Enquanto você o amava tanto, ele te enganava.
Vejo a confusão atravessar seu rosto chorão, seguida por um medo que tenta se transformar em descrença, mas eu continuo, impiedoso. - Maurício traiu você, com Tatiana... lembra daquela festa no final de semana? Da morena com cabelo curto?.
 Você só pode estar mentindo. – Ela se choca.
- Enquanto você se importava tanto com ele, ele se divertia com outra até você chegar. 
- Só pode ser mentira. – Ela contém o choro.
- Antes de você chegar ele passava seu tempo fodendo a Tatiana no banheirinho da festa. – Eu não contenho a risada. Minha risada é alimentada pelo choque e pela dor que vejo crescer nos olhos dela.
Ela chora. Chora como desaba por dentro, mostra que cada pedaço está se fragmentando sem qualquer esperança de ser colado de volta. Os soluços ganham força. Ela se curva para frente, presa na cadeira, o rosto escondido entre as mãos trêmulas, e por um momento, toda a resistência que ela poderia ter se dissolve em pura vulnerabilidade. Talvez ela chore assim porque, no fundo, sabe que não haverá amanhã. Ela chora como se fosse a última vez, e talvez seja.
- Você é louco! - Ela exala com um misto de incredulidade e desespero, sua voz agora carregada de um tom que beira a insanidade. - Só pode ter alucinado! – Insulta com um olhar frenético.
- Eu sou maluco? - Minha voz ressoa com uma mistura de desprezo e frustração.  - Seu namorado te traiu e eu sou maluco? 
Ponho a Nona Sinfonia de Beethoven na TV pelo meu celular, isso me lembra dos meus velhos tempos com o Beethoven do bar.
- TIRA ESSA MÚSICA HORRÍVEL E ME TIRA DESSA CADEIRA! - Ela grita com uma intensidade desesperada, suas palavras se lançando como uma ofensiva direta contra mim e contra a atmosfera que criei. Mas o que ela não percebe é que seu desdém é um insulto não apenas para mim, mas para algo que eu valorizo profundamente. O som da sua voz ressoando contra a majestosa Nona Sinfonia de Beethoven, que preenche a sala com sua grandiosidade, é um ataque direto ao que eu considero sublime e sagrado. O contraste entre a beleza imortal da música e a brutalidade das suas palavras apenas aumenta a fúria que começa a ferver dentro de mim. Cada nota da sinfonia parece agora uma afronta ao meu sofrimento, um sacrilégio diante da grandiosidade que estou tentando preservar.
Levanto minha mão e, com um movimento rápido e decisivo, dou um tapa em sua face. O som do estalo agudo que interrompe sua gritaria e a mergulha em um silêncio abrupto. Seu rosto se vira com o golpe, o choque estampado na pele, enquanto a dor e a surpresa se misturam em um olhar atônito.
- CALADA! - Minha voz é um rugido, carregado com uma fúria implacável.
O som da música continua tocando ao fundo, mas agora parece quase um eco distante comparado ao estrondo da minha raiva. A força do tapa e o grito de comando fazem o espaço entre nós parecer ainda mais carregado, uma tensão palpável que se mistura com a violência do momento.
Olho para seu rosto, que agora está carregado de uma mistura de medo e rancor. A mulher diante de mim não é mais a mesma, é apenas um caco do que restou, uma sombra do que um dia foi. Seu olhar, que antes poderia ter sido suave ou amoroso, agora é uma tempestade de emoções conflitantes. O contraste entre o que ela era e o que se tornou é quase insuportável de se ver. A figura que está à minha frente é um reflexo distorcido da Priscilla que eu costumava conhecer. Sinto Jamais Vu.
-Você é doente. - Ela quebra o silêncio, tom de desprezo misturado com o medo, a voz tremendo enquanto encara o ambiente ao redor, a cadeira que a aprisiona. - Me amarrando nessa cadeira e se você fez isso mesmo com o Maurício... - Sua frase se arrasta como se o peso da realidade estivesse esmagando suas palavras.
- Por que não me deixa em paz? - Ela pergunta, a voz carregada de um desespero quase palpável. Cada palavra é um grito angustiado, um pedido para que a crueldade cesse, para que eu desapareça e a deixe em paz. - O que eu te fiz?.
- Imagino que você não teve todos esses sentimentos quando me largou como se eu não fosse nada. - Eu replico, a voz rouca carregada de um nojo profundo por seu atual ser. Mesmo sem lembranças claras de nosso término, suponho.
Sua face se torna desacreditada, o choque estampado em cada linha de expressão. - Você tem a cara de pau de falar isso?- Ela rebate, a voz carregada de uma indignação que cresce a cada palavra. - Você não lembra do que aconteceu? - A acusação dela corta o ar entre nós como um chicote. 
Confuso, estou.
- Você tentou matar meu amigo por ciúmes! - Ela grita, a voz quebrando enquanto a acusação se desenrola. - Minha família teve que te internar no hospício às pressas! - Cada palavra é um golpe que despedaça minhas teorias. A revelação me atinge como um soco no estômago. A imagem do meu passado, perdida entre memórias confusas e fragmentadas, começa a emergir com uma clareza dolorosa. – Você tentou esfaquear ele com uma faca, meu pai quem te segurou! – Ela engole o choro. - Eu nunca tinha visto sua agressividade antes, você era calmo e gentil. Até aquele dia... - Ela confessa, a voz trêmula e embargada, carregada de uma vulnerabilidade que nunca pensei ver de novo. - Passei noites acordada, pensando no que você poderia fazer comigo. 
- Mentira. Mentira. Mentira. Mentira. Mentira. - As palavras escapam da minha boca, cada repetição mais alta e desesperada que a anterior, como se eu pudesse arrancar a verdade dela pela força da minha voz. - MENTIROSA! - O grito explode, preenchendo a sala com uma fúria que se recusa a ser contida. A palavra ecoa pelas paredes, reverberando como um trovão que não se dissipa. 
Ela me encara com olhos arregalados, e eu vejo o reflexo do medo crescer, mas estou cego pela necessidade de refutar o que foi dito.


- Já é o suficiente. - As palavras saem secas, num tom baixo, como se fossem destinadas mais a mim do que a ela. Sinto o gosto amargo do momento em minha boca, cansaço. A raiva que fervia há semanas agora se transforma em um silêncio pesado, sufocante. Me calo, deixando que o eco de tudo o que foi dito se dissolva na escuridão da sala.
NickLuska
Lucas Réver

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