Com um último suspiro de determinação, me jogo da janela, o vento cortante e a queda rápida causando um turbilhão de sensações enquanto desço para o jardim dos fundos.
O impacto é forte, mas consigo manter a compostura, mesmo que os músculos estejam tensionados pelo medo e pela urgência. No chão, rapidamente me reorienta e começo a cortar caminho pelo mato denso que cobre o fundo do jardim. A vegetação é espessa e impenetrável, com galhos e folhas se entrelaçando em um emaranhado que parece quase como uma selva urbana. O som dos policiais dentro da casa parece distante, mas o conhecimento de que estão em busca de mim mantém a urgência em cada movimento.
Vão achar a cabeça de Priscilla. Já devem saber de Maurício ou do Chefe. Não importa mais, meu ritual já está completo...
Sigo o caminho pelo mato, movendo-me com a maior rapidez possível, tentando me manter o mais silencioso e discreto possível. A vegetação espessa atrasa meu progresso, mas também oferece uma camada de cobertura.
Finalmente, alcanço a borda do mato e vejo a rua à frente. Com um último esforço, saio da vegetação e entro na rua.
Dirijo-me ao trilho do trem, um destino que parece inevitável e definitivo. Como o velho daquele dia. O trilho do trem me aguarda. Minha salvação. Meu fim. O caminho até lá é uma corrida frenética, movido por uma mistura de desespero e salvação. Cada passo é um movimento em direção ao fim de tudo.
A chegada é iminente.
Chegando bem perto e... Quando chego não há nada.
Quando chego ao trilho, o cenário diante de mim é um choque cruel e inesperado. Não há trem. Não há trilho. O que se estende diante de mim é apenas um campo gramado, vasto e silencioso com o sol ainda crescendo. Cortado por direções que levam a outras ruas e casas distantes.
A expectativa de um destino iminente é substituída por um vazio absoluto.
A antítese completa do que eu sempre ouvia e esperava, de tudo que eu acreditei por anos.
O som do trem, que antes era uma presença infernal na minha vida, agora é apenas... um engano?
Mas... E agora?
Estou paralisado. Não entendo nada.
Como? De onde vinha o maldito som?
Tudo que acreditava...
O metal dos trilhos que eu esperava encontrar está ausente, e o campo se estende em uma plenitude que é irônica.
O contraste entre a minha expectativa e a realidade é esmagador.
Sinto que fui pregado uma peça...
Uma peça pregada pelo superior... Por Deus.
Tudo que acreditava era uma ilusão?
Gemo em raiva. Tremo em desespero.
E agora? E agora? E agora?
Em vez de uma força inevitável que se aproxima, há apenas a imensidão do campo e o som suave do vento entre as folhas.
O vazio deixa um espaço para uma sensação de desilusão. Uma ausência que pesa.
As casas e as ruas ao longe parecem tranquilas e inofensivas, indiferentes com minha frustração e desilusão.
O campo gramado, com sua quietude e simplicidade, oferece uma visão desconcertante de um futuro que não chegou, e a realidade do momento se torna uma ironia cruel.
O som da sirene, forte e penetrante, quebra a tranquilidade do campo gramado, trazendo uma urgência e pavor. O ruído crescente dos carros de polícia se aproximam rapidamente, a sirene ecoando com uma intensidade que parece amplificar a tensão no ar. Cada pulso da sirene ressoa em minha mente. Não é o fim.
A presença dos carros de polícia se torna cada vez mais evidente, suas luzes piscando e iluminando a paisagem ao longe, criando um contraste inquietante com a serenidade do campo. O som dos veículos se aproxima, um rugido metálico e implacável que preenche o espaço e torna a calma do campo quase surreal.
O medo e a ansiedade se misturam com a realização de que nada foi como eu esperava. Em vez do fim que eu havia antecipado, agora estou confrontado com a iminente presença da lei e a certeza de que não há como correr.
Vão me capturar. Me prender.
Enquanto os carros de polícia se aproximam com velocidade na paisagem plana da rua, a realidade do momento desmorona as expectativas e crenças que eu tinha. Os veículos se aproximam com uma precisão implacável, suas luzes e sirenes criando um espetáculo de urgência e autoridade. O trilho que eu via como meu fim, é agora um palco onde minhas consequências se desenrolam. Uniformizados e armados, são uma força organizada e implacável que desafia qualquer noção de controle que eu poderia ter tentado ter.
A realidade que se desenrola diante de mim é uma mistura de pânico e silêncio, duas coisas contraditórias que fazem sentido para mim agora. Uma compreensão de que o cenário que eu imaginei não se concretizou e que agora, em vez de um fim tranquilo, estou prestes a confrontar o início de um outro inferno.
Álvaro, um jovem de 20 anos, se sente preso em uma rotina exaustiva e decadente, com uma visão distorcida e amarga da sociedade. Oscilando entre memórias obsessivas e fragmentadas de sua ex-namorada Priscilla, tenta preencher o vazio existencial com vícios e encontros superficiais, mas o estrondoso ruído vindo do trilho do trem próximo a sua casa o impede de qualquer fuga mental. À medida que a obsessão e o desespero se intensificam, Álvaro é arrastado para uma espiral de insanidade, e sua máscara de indiferença desmorona junto com os últimos vestígios de sua neutralidade.
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