Ragnar avança sem hesitação, os machados cortando o ar com velocidade brutal. Seu sorriso sádico revela a empolgação de enfrentar uma presa que parece diferente das vítimas anteriores. Ele gira o braço, tentando um golpe lateral para partir Ryuki ao meio, mas, em um instante, algo muda.

Ryuki, quase instintivamente, ergue a mão e segura o machado de Ragnar. O impacto faz o chão sob seus pés rachar, mas ele permanece firme. Um brilho escuro e etéreo envolve seus dedos. Seus olhos refletem a presença de algo além dele mesmo.

— Eu… não estou sozinho… — murmura, sentindo a energia da pedra Kiva pulsar dentro de si.

A surpresa nos olhos de Ragnar dura pouco. Ele se afasta rapidamente, preparando outro ataque, mas Ryuki já está em movimento. Com um grito selvagem, ele desfere um soco direto no peito do minotauro, lançando-o para trás com força suficiente para fazê-lo atravessar uma fileira de armários.

Ragnar se levanta, ofegante, tocando o peito onde foi atingido. Por um momento, ele hesita.

Ryuki encara sua mão, ainda coberta pela aura negra. Um sorriso surge em seu rosto.

— Heh… Então é isso… — Ele flexiona os dedos. A presença de Kiva dentro dele se torna mais clara.

Mas não há tempo para celebração. A poeira se dissipa e Ragnar ruge, batendo os machados contra o chão e disparando em velocidade absurda. O corredor treme. Os olhos de Ryuki brilham enquanto ele se prepara para o próximo embate.

Ryuki, agora mais consciente do poder de Kiva, respira fundo. Ele sente cada célula do seu corpo vibrar com a aura sombria. Seus sentidos estão mais aguçados. Seus reflexos, aprimorados.

O primeiro golpe vem de Ragnar, descendo com força bruta. Ryuki se esquiva no último segundo, sentindo o vento cortante do machado raspar sua jaqueta. Sem hesitar, ele gira o corpo e desfere um chute lateral que acerta a costela do Minotauro, fazendo-o cambalear.

— Tsc… Você ficou mais rápido… — Ragnar rosna, limpando um fio de sangue da boca.

— Não só isso… — Ryuki responde, cerrando os punhos. Sua aura negra pulsa ao redor dele. — Eu estou começando a entender como lutar com isso.

Ragnar ruge e avança novamente, girando um dos machados como uma serra mortal. Ryuki abaixa o corpo e se joga para frente, passando por baixo do ataque e acertando um soco direto no queixo do oponente. O impacto ressoa pelo corredor, e Ragnar é jogado para trás, rachando o chão ao cair.

Mas ele não cede. Seus olhos brilham em fúria enquanto ele finca os machados no solo e impulsiona seu corpo para frente, saltando como um touro enfurecido.

Ryuki vê o ataque vindo. Tudo parece em câmera lenta. Seu corpo age por instinto. Ele estende a mão, e uma explosão de energia negra em forma de garras atravessa o peito de Ragnar, jogando-o contra a parede. O impacto é brutal. O monstro solta um gemido baixo antes de desabar.

O silêncio toma conta do lugar.

Ryuki se aproxima lentamente, ainda respirando forte. Ragnar está desmaiado, seu corpo voltando gradualmente ao normal. Mas algo estranho acontece. A pedra do Minotauro, agora visível em seu peito, começa a vibrar. Rachaduras surgem em sua superfície.

— O que está acontecendo…? — Ryuki observa atento.

A pedra solta um brilho intenso antes de se despedaçar no ar, como se tivesse cumprido seu ciclo e não tivesse mais um hospedeiro compatível. O som da destruição ecoa pelo corredor vazio.

Ryuki fecha os olhos por um instante, sentindo a energia ao seu redor desaparecer. Ele venceu.

Era a primeira grande vitória de Ryuki como Kiva, mas ele sabia que aquilo era apenas o começo.

Naquela noite, exausto, Ryuki caiu na cama e adormeceu rapidamente. Porém, seu sono não foi tranquilo. Ele se viu em um espaço nebuloso, onde uma mulher misteriosa emergia de um portal escuro. Seu corpo era coberto por marcas brilhantes, e seu olhar parecia atravessar a alma de Ryuki. Ela disse algo, mas as palavras ecoavam de forma distorcida. Antes que ele pudesse reagir, a figura se afastou, desaparecendo na escuridão.

Ryuki despertou ofegante, o suor escorrendo por sua testa. Ele levou alguns segundos para se acalmar antes de se levantar e vestir suas roupas. Ainda perturbado pelo sonho, caminhou até o banheiro e olhou para o espelho. Foi então que a imagem refletida se distorceu e, ao invés de seu próprio reflexo, ele viu Kiva olhando diretamente para ele.

— Finalmente começamos a nos entender… — disse Kiva com um sorriso enigmático.

Ryuki franziu a testa. — O que você quer dizer com isso?

— Você viu ela, não viu? A mulher do seu sonho… — Kiva inclinou a cabeça levemente, como se estivesse se divertindo com a confusão de Ryuki.

— Quem era ela? O que isso significa?

Kiva riu baixo. — Tudo tem seu tempo. Mas saiba que essa visão não foi um mero sonho.

Ryuki sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ele estava apenas começando a compreender a verdadeira extensão do que havia se tornado.