Os dias se passaram desde aquela noite fatídica. Veyni não conseguia tirar da cabeça a figura sombria que a salvou. O tom de voz, a presença… algo nela dizia que aquele ser não era apenas uma entidade misteriosa, mas alguém próximo.

Enquanto isso, Ryuki tentava seguir a vida normalmente. A conexão com Kiva lhe dava mais controle, mas o peso do que fez ainda estava presente. Ele evitava Veyni ao máximo, temendo que ela percebesse algo.

Mas o destino não poderia ser evitado.

Na escola, Veyni observava Ryuki de longe. Ele estava mais calado que o normal. Seus olhos carregavam algo sombrio. Foi então que ela notou algo estranho…

No pulso de Ryuki, um pequeno corte ainda cicatrizava. O mesmo lugar onde Kiva fora atingido durante a luta contra os ladrões.

Um arrepio percorreu seu corpo.

Ela precisava de provas.

A Armadilha de Veyni

Veyni armou um plano. Durante a saída da escola, enviou uma mensagem para Ryuki:

"Me encontre no parque mais tarde. Quero falar sobre algo importante."

Mesmo relutante, ele foi.

Chegando lá, Veyni já o esperava. A lua iluminava a pequena clareira.

— Ryuki… eu preciso te perguntar algo — ela começou.

— O que foi? — ele respondeu, nervoso.

— Naquela noite… Kiva disse algo para mim. Algo que eu sonhei antes mesmo de conhecê-lo.

Ryuki sentiu um calafrio.

— O que você quer dizer?

Veyni se aproximou lentamente, olhando direto em seus olhos.

— Ele disse… "Eu te protejo, Fênix."

Ryuki estremeceu.

Ela deu mais um passo à frente, agora apenas centímetros dele.

— Agora me diga… por que você reagiu a essa frase como se já a conhecesse?

Ryuki ficou sem palavras.

Ele não respondeu. Apenas desviou o olhar.

— Ryuki… — Veyni deu mais um passo à frente. — É você, não é?

Ele fechou os olhos.

Não havia mais como esconder.

Quando os abriu novamente, seus olhos brilharam em um tom escuro e avermelhado. Uma leve aura negra emanava de seu corpo.

Veyni levou as mãos à boca, chocada.

— Então… sempre foi você…

A verdade estava exposta.

Mas antes que pudessem falar mais, um grito ecoou pelo parque.

Era Rose.

O Nascimento do Samurai Oni

Rose estava no parque treinando com Mike. Mesmo depois da escola, ela insistia que precisava melhorar suas habilidades, e seu irmão sempre estava disposto a ajudá-la.

— Rose, já te falei, lutar não é só acertar golpes. É saber quando não lutar também.

— Eu sei, eu sei… mas se eu for mais forte, o Ryan vai notar minha presença!

Mike suspirou.

— Você é obcecada, sabia?

Rose riu. Mas, de repente, um barulho os interrompeu.

Do meio das árvores, três homens saíram, cada um carregando barras de ferro e facas.

— Ei, ei, parece que demos sorte hoje. Dois adolescentes sozinhos à noite? — Um deles zombou.

Mike ficou sério e se colocou na frente de Rose.

— Saíam daqui — ele disse, firme.

— Ou o quê? — O líder do grupo riu.

Mike cerrou os punhos.

— Ou vocês vão se arrepender.

Os bandidos avançaram. Mike tentou lutar, mas eram muitos. Um deles o golpeou com uma barra de ferro, derrubando-o no chão.

Rose gritou.

Mike tentou se levantar, mas foi chutado novamente.

Foi então que algo chamou sua atenção.

No chão, entre a grama, havia uma pedra diferente. Brilhava em um tom amarelo intenso.

Como se fosse instintivo, ele a pegou.

Assim que seus dedos tocaram a pedra, uma dor avassaladora atravessou seu corpo.

Seus olhos se tornaram vermelhos como brasas.

Seus músculos enrijeceram, e uma força monstruosa tomou conta dele.

Os bandidos tentaram atacá-lo de novo.

Mas algo mudou.

Mike desviava dos golpes com precisão absurda. Seu corpo parecia responder sozinho.

— O que… o que é isso? — ele sussurrou.

Foi então que ele sentiu.

Dentro de sua mente, uma voz sussurrou:

— “Samurai Oni… desperte.”

Seus movimentos ficaram mais rápidos, mais precisos. Cada golpe desferido era perfeito. Ele derrubou um, depois o segundo, e o terceiro correu de medo.

Rose observava, chocada.

— Irmão…?

Mike respirava pesadamente, ainda sentindo aquela energia estranha.

A pedra estava em sua mão.

O Samurai Oni havia escolhido seu novo portador.

Rose observava seu irmão com os olhos arregalados.

— Mike… o que foi isso?

Ele ainda sentia o calor da pedra em sua mão. Sua respiração estava pesada, como se tivesse acabado de correr uma maratona.

— Eu… eu não sei… — Ele olhou para a pedra. — Mas isso… isso não era normal.

Rose se aproximou, ainda assustada.

— Você parecia outra pessoa…

Mike fechou os olhos, tentando acalmar a mente.

Dentro de si, ele sentia algo pulsando. Uma presença diferente.

— Samurai Oni… — Ele murmurou.

A pedra brilhava fracamente, como se estivesse viva.

Mike olhou para os bandidos caídos. Em sua mente, flashes de combate passavam rapidamente. Ele viu a si mesmo lutando, mas os movimentos não eram apenas dele. Era como se algo o estivesse guiando.

Apenas um pensamento cruzou sua mente:

"Eu preciso entender o que está acontecendo."

No dia seguinte, Mike estava inquieto. Ele pesquisou tudo o que podia sobre lendas de samurais e espíritos guerreiros. Nada parecia explicar o que aconteceu.

O Treinamento de Mike

Após a aula, Mike foi para sua academia. Ele precisava de respostas.

Pegando as luvas e se preparando para treinar, ele respirou fundo.

— Vamos ver até onde essa pedra pode me levar…

Começou com exercícios básicos, socos e chutes. Mas quando decidiu testar a pedra, segurou-a firme e se concentrou.

De repente, sua visão escureceu.

Quando abriu os olhos, não estava mais na academia.

Estava em um campo de batalha antigo.

Ao seu redor, samurais lutavam em um conflito sangrento.

E no meio do campo, uma figura se destacava: um homem alto, de armadura negra, segurando uma katana ensanguentada.

Seus olhos brilhavam em vermelho, assim como os de Mike na noite anterior.

— Quem é você? — Mike perguntou.

O samurai olhou para ele.

— Eu sou aquele que caminha entre a honra e a fúria. Eu sou o Samurai Oni.

Mike sentiu um arrepio.

— Por que estou vendo isso?

— Porque você foi escolhido.

O samurai ergueu sua espada.

— Se quer entender seu poder… lute!

E então, ele avançou.

Mike mal teve tempo de reagir antes da lâmina cortar o ar em sua direção.

O verdadeiro teste havia começado.

O Teste de Mike

O golpe do Samurai Oni veio rápido. Mike se esquivou por puro reflexo, sentindo o vento cortante passar ao lado do seu rosto.

— Isso é um sonho? — Ele pensou alto, mas antes que pudesse refletir, outro ataque veio.

Ele levantou os braços para bloquear, mas foi jogado para trás com um impacto brutal. A força do samurai era sobre-humana.

— Você não é digno. — A voz do espírito ressoou.

Mike cerrou os punhos.

— E quem decide isso?

O samurai avançou novamente. Dessa vez, Mike se moveu instintivamente. Ele desviou para o lado e girou, tentando contra-atacar. Mas antes que pudesse acertar um soco, o samurai sumiu da sua visão e reapareceu atrás dele.

BAM!

Mike caiu de joelhos, sentindo a dor do impacto nas costas.

— Sua mente ainda é fraca. Sua técnica… desorganizada. Você se baseia apenas na força. Isso não é suficiente.

Mike respirou fundo.

"Eu não posso perder para uma ilusão."

Ele se lembrou do que seu mestre sempre dizia:

"Um verdadeiro lutador nunca depende de apenas uma arma."

Mike começou a mudar sua abordagem. Ao invés de atacar direto, ele analisou o samurai. Observou seus padrões, sua postura, o jeito que movia a espada.

O Samurai Oni atacou novamente, mas dessa vez, Mike se esquivou com precisão e respondeu com um chute lateral bem colocado.

O espírito cambaleou para trás.

— Hmph. Finalmente.

Mike sentiu algo pulsando dentro de si. A pedra brilhou em sua mão.

— Se você deseja carregar meu legado, deve provar que consegue controlar sua fúria.

O Samurai Oni jogou a katana no chão.

— Escolha. Você quer ser um guerreiro com propósito… ou uma fera cega pela raiva?

Mike sentiu seu coração disparar. A visão ao seu redor começou a sumir.

Quando abriu os olhos novamente… estava de volta à academia.

Suas mãos tremiam. Seu corpo estava coberto de suor.

E a pedra Samurai Oni… agora estava fundida à sua pele, brilhando fracamente.

Mike se levantou devagar.

— Acho que acabei de conseguir uma resposta.

Ele não sabia ao certo o que aquilo significava. Mas sabia que sua vida nunca mais seria a mesma.