Yamada não conseguiu dormir direito naquela noite.
Virava para um lado, para o outro, tentava não pensar em tudo que aconteceu, mas era impossível.
Ele estava namorando Mami.
Ou melhor… ele supostamente estava namorando Mami.
A cena da declaração se repetia em sua cabeça como um filme sem fim. Ele se declarando, já preparado para transformar tudo em uma brincadeira caso fosse rejeitado. O riso dela. O jeito casual como aceitou.
E então, o jeito como ela o provocou no caminho para o metrô.
Era brincadeira? Era sério? Ela realmente queria aquilo? Ele realmente queria aquilo?
Na manhã seguinte, ele chegou na escola ainda com sono. O sol brilhava, os alunos conversavam pelos corredores, tudo parecia normal. Mas ele sentia que o mundo ao seu redor tinha mudado.
No intervalo, decidiu ir até a quadra de esportes para espairecer. Talvez acertar umas cestas o ajudasse a pensar melhor.
Mas, ao chegar lá, encontrou alguém esperando por ele.
— Yamada…
Ele parou ao ouvir a voz.
Kaede. Sua amiga de infancia.
Ela estava ali, olhando para ele com uma expressão difícil de decifrar.
— Ah, Kaede. Bom dia.
— Você… tá namorando a Mami?
Yamada congelou. Não esperava essa pergunta tão direto ao ponto.
Ele abriu a boca para responder, ainda sem saber o que diria, mas antes que qualquer palavra saísse…
— Claro que estamos namorando!
A voz animada de Mami interrompeu a conversa.
Quando Yamada se virou, viu que ela já estava ao seu lado, sorrindo como sempre. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Mami segurou seu braço e o puxou para mais perto.
— Vem, namorado. Quero te mostrar uma coisa.
Yamada olhou para Kaede, confuso e um pouco culpado, como se tentasse dizer algo com o olhar. Mas foi puxado antes que pudesse protestar.
Kaede apenas ficou ali, observando os dois se afastarem.
Ela já sabia a resposta. Mas ouvir aquilo em voz alta ainda doía mais do que imaginava.
Mami segurava firme no braço de Yamada enquanto o arrastava pelos corredores da escola, o sorriso brincalhão no rosto como sempre.
— Você precisa aprender a responder mais rápido, namorado — ela disse, dando uma risadinha. — Ficou tão surpreso assim?
Yamada suspirou, sem saber se reclamava ou apenas aceitava seu destino.
— Você poderia ter me deixado responder…
— E deixar você enrolar e gaguejar na frente da Kaede? Não mesmo! Eu sou uma ótima namorada, sabia? Só estou facilitando sua vida.
Ele não sabia o que responder. Desde a confissão — ou melhor, desde a brincadeira que saiu do controle —, tudo parecia estar girando rápido demais. Ele estava mesmo namorando Mami? Ou era só uma piada que tinha ido longe demais?
Antes que pudesse refletir muito, Mami o puxou para fora da escola.
— Ei, pra onde estamos indo?
— Compras, namorado!
— Compras?
— Sim! Preciso de roupas novas, e já que você agora é meu namorado, tem que vir junto!
— Isso faz algum sentido?
— Não precisa fazer. Vamos!
Yamada nem teve tempo de protestar antes de se ver na frente de uma loja de roupas femininas. Ele hesitou ao cruzar a entrada, mas Mami não deu chance para fuga.
Dentro da loja, ela começou a pegar diversas peças, sem nenhum critério aparente. Saias, vestidos, blusas…
— Então, Yamada… — ela segurou um vestido contra o corpo e sorriu. — O que acha?
Ele coçou a nuca.
— Hã… é… bonito?
— Nossa, que entusiasmo — ela revirou os olhos e riu. — Você precisa aprender a elogiar melhor sua namorada!
Mami desapareceu em um provador e, depois de alguns minutos, saiu com um vestido justo e elegante.
— E então? Como estou?
Yamada sentiu o rosto esquentar. Ele tentou desviar o olhar, mas Mami parecia se divertir com sua reação.
— Ah, então gostou? — ela se aproximou, inclinando-se levemente. — Tá vermelho, Yamada…
— Eu… eu só não esperava que você…
— Que eu ficasse tão bonita?
— Não é isso que eu quis dizer!
Mami riu e girou diante do espelho.
— Brincadeira, brincadeira… Mas sério, sendo sua namorada, você deveria me cobrir de elogios, sabia?
Yamada suspirou.
— Você tá bonita, pronto.
— Hmm… poderia ter mais emoção, mas aceito.
Ela voltou para o provador e continuou experimentando mais roupas, sempre saindo para provocá-lo de alguma forma. Em um momento, colocou uma saia curta e girou na frente dele.
— Será que está muito curta, namorado? — perguntou, segurando a barra como se fosse levantar um pouco mais.
— M-Mami!
Ela riu.
— Você é tão fácil de provocar, Yamada…
Saindo da loja, Mami ainda segurava o braço de Yamada, balançando as sacolas com um sorriso satisfeito.
— Foi divertido, né? — ela disse, olhando para ele com um brilho travesso nos olhos.
— Você se divertiu. Eu só fui arrastado de um lado para o outro.
— Ai, que exagero! — Ela deu um leve empurrão nele. — Aposto que gostou de me ver experimentando as roupas.
Yamada sentiu o rosto esquentar.
— Eu… eu só tava esperando você acabar logo.
Mami riu, claramente não convencida.
— Bom, já que meu namorado se esforçou tanto hoje, vou te dar uma recompensa!
— Recompensa?
— Você vai me acompanhar até o metrô!
— Isso nem parece uma recompensa…
— Ah, para de reclamar e vem logo!
Sem dar tempo para mais protestos, ela pegou sua mão e começou a puxá-lo pela rua.
O caminho até a estação foi cheio de provocações.
— Yamada.. você ainda não disse que me ama, você não
precisa ficar tão nervoso — ela provocou, apertando o braço dele contra si.
— Mami…
— O quê? Só tô aproveitando nosso momento romântico.
Quando chegaram na estação, Mami parou na entrada e virou para ele.
— Foi um bom dia, namorado.
Yamada cruzou os braços.
— Pra você, talvez. — ele diz sorrindo
Ela riu, inclinando-se ligeiramente para perto dele.
— Amanhã eu penso em mais um passeio romântico pra gente. Se prepare, Yamada.
Antes que ele pudesse responder, ela deu um aceno e entrou na estação.
Ele ficou parado ali por alguns segundos, com um sorriso estampado no rosto.
Virou-se para ir embora — e então congelou.
Bem ali, parada na calçada, olhando diretamente para ele, estava Kaede.
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