O som de passos pesados se aproxima, seguido pelo barulho da porta se abrindo bruscamente. Uma voz masculina preenche o silêncio do quarto:
— Dylan, por que você não está no seu quarto?
Desperto com a voz do meu pai. Atordoado, tento processar o que estou fazendo aqui e, rapidamente, dou um pulo da cama ao me lembrar do porquê estou no quarto dos meus pais.
— É porque minha tia está dormindo no meu quarto — respondo rapidamente.
Meu pai franze a testa, confuso.
— Hã? O que ela está fazendo aqui sem sua mãe?
Saio do quarto sem responder e vou direto ao meu quarto ver como está minha tia.
Sem pensar que ela poderia estar acordada, abro a porta. Ela estava em pé no meio do quarto, tentando fechar a parte de trás do seu vestido, que estava quase fechado. Surpresa, ela se vira.
Envergonhado, peço desculpas por não ter batido na porta.
— Tudo bem — ela responde, ainda tentando ajustar o vestido. Me aproximo sem que ela perceba e, com um gesto gentil, fecho a parte de trás para ela.
— Obrigada, Dylan... por isso e pela hospedagem.
Ela dá um passo em direção à porta.
— Até mais.
Aquelas palavras me deixam inquieto. Como assim "até mais"? Ela já vai embora?
Antes que consiga sair, seguro seu pulso.
— Como assim? Você já vai? — pergunto, um pouco desesperado.
Ela abaixa o olhar.
— Já deu minha hora... Preciso ir.
Fico calado, reprimindo a vontade de implorar para que ela fique. O que posso fazer? Passei anos sem vê-la, e agora que finalmente estamos juntos, ela está indo embora tão rápido? Eu queria recuperar o tempo perdido...
De repente, o toque do meu celular quebra o silêncio pesado entre nós. Pego o aparelho e vejo o nome da minha mãe na tela. Peço para minha tia esperar e atendo.
— Dylan! Você não atendia minhas chamadas! Sabe quantas vezes eu te liguei? Que inferno! Estou aqui preocupada, onde você está e a sua tia?
Ela está furiosa.
— Me desculpa, mãe. A tia passou a noite aqui em casa e ela está bem.
Há um momento de silêncio antes da voz dela soar mais calma, mas firme.
— Sério?! Passa para ela!
Ofereço o celular para minha tia. Ela hesita, mas acaba atendendo.
— ...Marcele?
A voz de minha mãe soa aliviada.
— Graças a Deus, você está bem! Dormiu bem? O Dylan te tratou bem?
— ...sim.
— Já vai ser quase a hora do almoço. Por que você não vem para a casa da nossa mãe almoçar aqui?
Ela não responde de imediato. Seu olhar hesitante e apreensivo diz tudo.
— Por favor — minha mãe praticamente suplica.
Minha tia me encara, e seus olhos carregam indecisão e medo.
Aproximo-me dela e sussurro:
— Se você for, eu vou também.
Ela solta um suspiro trêmulo antes de murmurar:
— ...Ok.
Dá para escutar a risada de felicidade da minha mãe do outro lado da linha.
No carro
era inevitável notar o nervosismo dela. Ela não parava de apertar o vestido e seu rosto demonstrava um pouco de medo, como se se perguntasse se fez a escolha certa.
Tomando a liberdade, coloco minha mão sobre a dela e aperto suavemente.
— Vai ficar tudo bem, tia. Eu estou aqui.
Ela me olha, surpresa, e um lindo sorriso se espalha em seu rosto, um sorriso que posso chamar de alívio.
Depois de alguns minutos, chegamos.
— É aqui? — ela pergunta, confusa, olhando para a casa.
— Sim, tia.
Ela arregala os olhos.
— Meu Deus... Se você não me dissesse que era aqui, eu nunca teria reconhecido. Está tão diferente da última vez que vi...
Antes que possa dizer mais alguma coisa, uma voz cheia de emoção explode à nossa frente.
— Clarice!!!
Minha avó vem correndo, as lágrimas já rolando pelo rosto.
— Mãe! — minha tia desaba, emocionada, caindo nos braços da sua mãe.
A cena é tão bonita que chega a apertar meu peito. A família toda se reúne para ver aquele momento, e todos estão genuinamente felizes por Clarice estar ali.
Depois de um tempo de abraços e lágrimas, seguimos para o almoço.
— Gente, sei que ontem foi um dia muito triste... Mas não posso negar que hoje é o dia mais feliz da minha vida. Depois de tanto tempo sem ver minha filha querida... Vamos! Sentem-se! Vamos comer.
Minha tia finalmente parece relaxada. Aquela expressão sombria que a acompanhava desde o enterro desapareceu, dando lugar a um rosto iluminado.
Mas então, sua voz soa de repente:
— Ué... cadê o papai?
O silêncio cai sobre a mesa. Todos se entreolham.
Minha avó suspira, seu rosto se contorcendo de dor. Ela se aproxima de minha tia e acaricia seus cabelos.
— Oh, minha flor... Faz tanto tempo que não nos falamos que você nem deve saber ainda...
Minha tia franze a testa.
— Saber o quê, mãe?
Aos poucos, seu semblante muda. Ela começa a entender.
— Mãe... o pai...?
Minha avó fecha os olhos.
— Ele morreu, meu amor.
O brilho no olhar de minha tia se apaga.
— O quê...?
Ela fica imóvel, a tristeza voltando a tomar conta dela. Nenhuma lágrima cai, mas sua dor é visível.
— Faz sete anos... — responde minha avó, com pesar.
Minha tia fecha os olhos, como se absorvesse a informação. Ela não teve a chance de se despedir do próprio pai.
Minha avó a abraça e beija sua cabeça, tentando consolá-la.
Com o tempo, o clima pesado começa a se dissipar e a sensação acolhedora da família reunida aquece o coração de todos.
O sol já estava se pondo quando percebi que minha tia não estava mais na sala.
Fui procurá-la e a encontrei no jardim.
Ela estava parada, olhando para o pôr do sol. A luz dourada tocava seu rosto com suavidade, e naquele momento meu coração bateu forte no peito.
Sem querer, pisei em um galho seco. O estalo fez com que ela olhasse para trás. Ao me ver, ela sorriu.
— Nossa, Dylan... Obrigada por ter me dado forças para vir aqui. Eu não me sentia tão feliz há muito tempo. Estava morrendo de saudade da mãe, da titia, dos meus primos... De você.
Meu peito aqueceu com aquelas palavras.
— Falando nisso... cadê sua irmã?
— Ainda está fazendo intercâmbio — respondi.
Ela suspirou e sorriu para as rosas.
— Nunca vi rosas tão perfumadas como essas...
Animada, pegou uma para cheirar, mas rapidamente a soltou com um pequeno grito.
— Droga! Me espetou! — reclamou, rindo.
Ri junto.
— Vem, tia. Vamos lavar sua mão.
Peguei sua mão com delicadeza e a lavei sob a torneira do jardim, tentando não machucá-la.
Nossos olhos se encontraram. Meu coração acelerou.
Dylan sempre teve uma conexão especial com sua tia Clarice, cuja vida se torna sombria após seu casamento forçado. Ele sente a necessidade de protegê-la e, após a morte de seu marido, acredita que pode ajudá-la a reencontrar a felicidade.
No entanto, ao reencontrar Clarice, percebe que as feridas do passado ainda a assombram. Enquanto tenta curá-la, sentimentos complexos emergem, desafiando seus laços familiares e levando Dylan a confrontar o verdadeiro significado de seu amor por ela.
Comments (0)
See all