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Segredos de Suspensyst

Não há céu debaixo da terra, parte 3

Não há céu debaixo da terra, parte 3

May 08, 2025

Na margem do rio, Beta está sentado, segurando uma vara de pesca. Está imerso em pensamentos, completamente alheio ao seu redor. Sentia-se frustrado por já estar anoitecendo e os aventureiros não terem aparecido como haviam prometido.

Ele havia decidido pescar sozinho, como uma forma preventiva de aprender a sobreviver na natureza — um passo importante para quem queria se tornar um aventureiro. O fato de seu núcleo ainda estar impuro o preocupava, mesmo com Tate insistindo que o despertar só ocorre na adolescência. Algo, no entanto, parecia errado.

— Boo — uma voz sem emoção sussurra em seu ouvido.

SPLASH!

— Caramba, garoto, você estava mesmo no mundo da lua, hein? — Tate ri, sentando-se no lugar onde a criança estava antes.

— Tenho meus motivos — responde Beta, nadando até a beirada e se sentando ao lado dele.

— E quer compartilhar com alguém? — pergunta Tate, passando o braço em volta do pescoço do garoto, puxando-o para perto.

— É sobre o meu núcleo — responde, envergonhado.

— Ainda isso? — suspira Tate, soltando-o. — Você sabe que a vida de um aventureiro está longe de ser perfeita, não é? Há perigos por todos os lados e decisões difíceis que podem pesar pelo resto da vida — explica, olhando para a correnteza enquanto a brisa noturna balança seus cabelos negros como a noite.

— Você já teve que tomar uma decisão difícil? — pergunta Beta, percebendo-o cabisbaixo. — M-me desculpe se eu te fiz lembrar de algo ruim! — diz, desesperado.

— Não, está tudo bem. Às vezes, lembrar é importante para não repetir os mesmos erros — diz com um sorriso sem graça. — Sabe, Beta... Quando eu tinha acabado de completar dezessete anos, decidi entrar em uma dungeon pela primeira vez.

— Sério? E o que fazia antes disso? — pergunta, curioso.

— Nada demais. Meu pai era mercador, e eu trabalhava com ele até os quinze anos, quando ele faleceu — conta, respirando fundo. — Ele... morreu de infarto. No começo doeu bastante. Minha mãe adoeceu, e, como nosso sustento dependia só dele e eu nunca fui bom em lidar com isso, acabei perdendo minha mãe também — diz, com o semblante sério.

— Que triste... Sinto muito por isso — diz Beta, tentando consolá-lo.

— Lembro de algo que meu pai me disse uma única vez, quando eu tinha a sua idade. Ele disse: "Filho, tive muitos arrependimentos e fiz várias escolhas erradas. E não por ter feito algo, mas por ter deixado de fazer. Quero que, quando completar dezoito anos ou quando eu e sua mãe partirmos, você viva sua vida de verdade, sem arrependimentos, para não acabar infeliz como eu." — Tate sorri de canto. — Essa frase ficou comigo até hoje, mesmo eu tendo vinte e oito anos.

— E como soube que queria ser aventureiro?

— Ah, isso é fácil. Eu não sei — responde, abrindo um sorriso.

— O quê?

— Eu ainda não sei o que quero da vida. E é por isso que escolhi ser aventureiro. Quero explorar, enfrentar monstros, fazer amigos, cometer erros e acertos. Mas o mais incrível são os lugares por onde passamos e as pessoas que conhecemos. Cada uma com sua história, por menor que seja. Pode parecer insignificante para o mundo, mas para mim, é fascinante.

— Então está numa jornada de autodescoberta? — pergunta, confuso.

— Algo assim. E você entende bem, pra quem só tem dez anos — responde, fazendo-lhe um cafuné.

— É que sempre escuto essas palavras quando o cavaleiro Jonathan conversa com o amigo dele, o Philipe.

— Entendi — diz Tate, e um silêncio volta a se instalar. — E você? O que seus pais acham dessa ideia de ser aventureiro?

— Eu... não conheço meus pais. Nunca conheci. Ninguém na vila fala sobre eles. Sempre mudam de assunto. Talvez pra não me magoar. Às vezes acho que só fui abandonado mesmo — diz, cabisbaixo. — O povo deste vilarejo é tudo o que tenho. Faria qualquer coisa por eles.

— Mantenha esse pensamento, garoto. Devemos ser leais a quem foi leal conosco. Proteja quem você ama com unhas e dentes, não importa o que precise enfrentar, entendeu?

— Sim...? — responde, um pouco inseguro. — Mas e a dungeon que você mencionou?

— Hã? Ah, deixa pra outra hora. Quem sabe quando eu estiver indo embora eu te conte essa história — diz, se levantando. — Mais uma coisa, Beta. Ouvi das garotas e dos anciãos que você está muito focado em treinar, mas, por favor, relaxe um pouco. Você tem apenas dez anos. Deve brincar com as outras crianças, aproveitar sua infância. Vai ter todo o tempo do mundo pra treinar depois. Faça isso por mim — diz, afastando-se.

— Tudo bem... — murmura Beta, pensativo à beira do rio.

Enquanto refletia sobre suas atitudes, o garoto considerava a vida que Tate teve. Compreendeu que, embora quisesse se tornar forte logo, precisava também aproveitar a infância com os amigos.

— Mais tarde, vou te ensinar aquele golpe. O Dereck deve aparecer para te ajudar com o núcleo — grita Tate, acenando de costas.

— Aventureiros são mesmo pessoas legais... — pensa, esboçando um sorriso modesto.

De volta ao vilarejo algum tempo depois, Beta procura pelos aventureiros desaparecidos. Nota que Jonathan está mais pensativo do que o normal e decide ignorá-lo.

— Ainda tá com isso na cabeça? Esquece isso e vem me ajudar — diz Philipe, puxando seu parceiro pelo braço.

— Não consigo tirar isso da cabeça... Será mesmo que não devemos nos preocupar?

— Cara, para de maluquice. Vem logo — responde, continuando a arrastá-lo.

— Ei! Aonde você vai, Beta? — pergunta Jonathan, preocupado. — Não tá vendo que já escureceu? Não vá treinar agora!

— Tate me chamou pra ajudar com a técnica de espada — diz, sem parar de andar.

— Agora, à noite? Philipe, me cubra por enquanto! Fique bem... BETA, ME ESPERE! — grita, correndo atrás dele. — Não quero você tão próximo desses aventureiros, entendeu? — fala de forma rude, segurando seu braço.

— Por que isso agora? O que deu em você? Você tá me machucando! — reclama, tentando se soltar.

— Volte pra vila! — ordena.

— Ei! O que está acontecendo aqui? Por que está segurando o garoto desse jeito? — pergunta Dereck, ao chegar.

— Seu parceiro chamou esse garoto pra treinar à noite! Ele tá maluco? Quer matar o moleque? — esbraveja Jonathan.

— Bem, eu estava indo justamente ajudá-lo. Se está com tanto medo, por que não nos acompanha? — propõe com um sorriso malicioso.

— Eu vou mesmo.

— Resolvido. Venha, Beta — diz, afastando-o de Jonathan.

O treino acontece no local habitual, agora iluminado com tochas, como precaução contra monstros.

— E então, o que quer aprender primeiro, moleque? — pergunta Dereck, colocando um cigarro na boca.

— Acho que... a técnica de espada — responde, indeciso.

— Tate — chama, estalando os dedos.

— Muito bem, Beta. A técnica que vou te ensinar é o Surprise Attack. Está preparado? — pergunta, levantando uma espada de madeira.

— Acho que sim — responde, erguendo a própria espada, ainda inseguro.

— O mais importante é manter a confiança e o pulso firme, ficar atento e se mover com liberdade, mas com cautela.

— Acho que entendi dois terços disso...

— Vou começar.

Em questão de segundos, o aventureiro — que estava no estágio laranja escuro — avança com uma sede assassina tão intensa que faz o garoto cair de joelhos. Jonathan tenta intervir, mas é contido por Dereck.

A pressão era grande demais para uma criança de dez anos. No entanto, de repente, toda aquela energia assassina desaparece. Beta se levanta, assume uma posição de combate, mas não consegue mais ver seu oponente. Olha ao redor, em alerta, até que sente um peso imenso sobre si e desiste.

Era Tate. Ele havia reprimido toda a fúria em um salto, surpreendendo o garoto e imobilizando-o ao cair sobre ele. Assim, o treino terminava — com uma lição sobre atenção, coragem e limites.

— Em uma luta real, você estaria morto. Sabe disso, não é? — disse Tate em tom de zombaria, levantando-se de cima da criança.

— Me solta, porra! — reclamava Jonathan, ainda imobilizado.

— Calma aí, amigão. Como espera que o garoto aprenda alguma coisa se não tiver a menor noção do tipo de inimigo com que pode acabar se metendo? — respondeu, soltando o cavaleiro em seguida.

— C-como você fez aquilo? Foi magia? Eu... eu não conseguia ficar de pé, mal conseguia respirar. Parecia que algo enorme estava me esmagando, mesmo antes de você pular — disse Beta, completamente pálido.

— Acho que isso foi demais pro moleque, Tate — comentou Dereck, rindo.

— "Acho" é? — retrucou Jonathan, furioso.

— Talvez seja melhor deixarmos isso para amanhã. O que acha, garoto? Aí eu te explico como fiz essa "magia", pode ser? — sugeriu Tate.

— A-acho que sim... — respondeu Beta, ainda trêmulo e assustado.

— Eu disse pra não ir com eles, não disse!? — esbravejou Jonathan, puxando-o pelo braço.

— Deixa pra lá, Tate. O moleque provavelmente não nasceu pra isso — disse Dereck, indo atrás dos dois.

— Não, ele nasceu sim. Só não teve a chance de provar ainda. Você vai ver amanhã. Eu confio nesse garoto. Ele vai conseguir despertar o núcleo de força — respondeu Tate com convicção.

— Tudo bem, então. Mas vamos logo. Precisamos jantar e descansar pra acordar cedo e treinar. Pelo menos até o garoto levantar, isso se conseguir dormir.

— Tá certo.

★

Vila Élfica

— Clara? — Adolf batia à porta do quarto.

— O que você quer? — perguntou, claramente furiosa.

— Eu… pode, por favor, abrir a porta para que eu possa conversar com você cara a cara? Ou ao menos me deixar entrar? — perguntou, girando a maçaneta e percebendo que a porta estava trancada.

— Foi o meu pai que te mandou aqui, não foi?

— Bem, tecnicamente sim. Eu não vou mentir para você. Mas você se trancou nesse quarto por um dia inteiro, e eu imaginei que quisesse conversar com alguém de confiança.

— Assim que eu sair desse quarto, você vai contar tudo para os meus pais.

— Eu não vou. Eu prometo.

Tick!

— Entra — disse ela, cabisbaixa, com a porta entreaberta. — E tranca essa porta! — completou, pulando em sua cama.

— Okay… — respondeu ele, entrando e trancando a porta. — E então? Quer conversar sobre esse seu problema? — perguntou, sentando-se à beirada da cama.

— Não sei… — respondeu com a voz abafada, o rosto afundado no travesseiro.

— Não lembro quando foi a última vez que pisei neste quarto… Espera aí, você ainda está de pijama? Você ao menos tomou banho nesse tempo todo que ficou trancada aqui?

— É claro que tomei, seu imbecil! Esqueceu que tem um banheiro no meu quarto? — respondeu, encarando-o.

— Menos mal — disse ele, enquanto um silêncio inquietante se instaurava novamente. — Sobre os cientis…

— Não precisa falar nada sobre isso. Todo mundo sabe que foi culpa do meu pai aquilo ter acontecido — interrompeu, voltando a ficar furiosa.

— O seu pai não fez por mal, Clara. Ele não podia adivinhar que aquela aberração conseguiria sobreviver sem os órgãos.

— Que criatura era essa? Nem sabia que existia alguma que pudesse viver sem os órgãos do corpo.

— Pois é. Aqueles cientistas também não sabiam. Nem encontraram nada nos livros sobre criaturas assim.

— Tá falando sério?

— Sim. Esse monstro deve ser uma nova espécie ou esteve escondido por décadas. Nem o seu pai sabe o que é. O que me preocupa são as circunstâncias em que esses seres nascem... e se houver outros monstros como esse que também não conhecemos?

— Provavelmente não. Seria impossível nenhum caçador já ter encontrado algo assim.

— Mas esse é justamente o problema, Clara. Nós, elfos, somos excluídos do mundo. Vivemos isolados dos humanos, e até mesmo da nossa própria floresta. Só descobrimos esse monstro por conta da falta de água na vila. E se ele já existisse há bastante tempo e os humanos até já tivessem dado um nome a ele? — encarou-a nos olhos. — E se houver uma infinidade de novas criaturas surgindo nos últimos anos, e nós estivermos em desvantagem por não termos acesso ao conhecimento? Eu entendo que a morte dos cientistas não foi culpa do seu pai. Mas, se ele continuar com essa cultura ridícula de isolamento, quantos elfos mais precisarão morrer até que outro monstro desconhecido apareça por aqui?

— Eu quero dormir. Pode ir embora?

— Me desculpe, Clara, eu não…

— Adolf, por favor — pediu, com firmeza.

— Tudo bem — suspirou, levantando-se da cama e indo destrancar a porta.

— Garoto sem noção… tem o núcleo da consciência e mesmo assim não sabe a hora de calar a matraca — murmurou, indo trancar novamente a porta do quarto. — Acho que o que eu preciso de verdade é de uma boa noite de sono pra colocar a cabeça no lugar.

Tick!


‡


daviraimundomenezes
Løser

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