Houve uma grande espera por uma luz que me guiasse na criação do conto que está por vir. Inicialmente imaginei um pequeno romance, com um soar grosseiro, entre um violonista e uma poeta, cujos quais embarcam em um grande folhetim, imersos em versos e músicas que descreviam a magnanimidade do amor, onde a tragédia já se escrevia para os dois. Como fortemente influenciado pelo passado essa ideia um dia foi, decidi não a escrever. “Quem sabe a história se saia magistral algum dia...” Pensava.
No passo por um novo sentido ao conto, observei a importância das pessoas para a vida. Julguei-me antipático ao me comunicar pouco, pois havia em mim muita coisa a ser dita, mas, por não expressar, esvaíram-se pelos meus dedos. As frases que eu pensei, mas não falei, essas eu me amarguro por não as pôr para fora. Por outro lado, no “pensar ou não pensar”, perdido entre ideias, proferia o maior impropério que jamais imaginei. Há quem diga que a impureza do vocábulo define a alma, mas os livros que li, as pessoas que vi passar como que num vislumbre pela minha vida, disseram-me o contrário. A bondade não é se expressar de maneira sublime, nem mesmo requintar uma coleção de versos. A bondade é a ação, e isso independe de palavras.
Houve pessoas que se diziam boas, de pouca ação, quase que cruéis em seu âmago, mas seu linguajar não expressava nenhum baixo calão. Por outro lado, observei vocábulos dos mais esdrúxulos, esbanjando bondade e compartilhando um coração puro aos demais que o cercavam, tementes a Deus. Que direi, pois? Que são inválidas as suas boas ações por conta de palavras? Imagino que não. Como João Bosco prefere dizer: a capa de um livro, ou palavras perdidas pelo sumário, não definem a qualidade do conteúdo, mas a essência do livro, isso sim, define. Antes queira eu viver plenamente, do que viver de aparências. Dessa maneira, o conto deixou de ser um melodrama romântico para ser uma reflexão sobre a bondade, sinceridade, o amor e o medo. Dois homens e um jovem, junto a João Bosco, conversam sobre seus medos e inseguranças, seus sonhos e amores, para desmanchar suas amarguras junto à bebida e ao alcatrão.
Um advogado que aguardava por uma ligação de seu chefe; um pedreiro que aguardava pela sua esposa (não bebia); um jovem que desejava novas descobertas, perdido de si, e um recém-adulto chamado João Bosco, que entrava para não buscar por nada, nada além do amanhecer.
Por outro lado, um ancião chamado Aurélio, dono da adega onde se encontravam os homens, oferecia apenas as bebidas, limpava e requintava as mesas. Mas, em um momento, em que começava a falar, afundava aqueles na maior embriaguez que nenhuma cachaça foi capaz de captá-los, discorrendo sobre o futuro, sobre os conflitos das mentes, sobre o doce sonho de viver um grande Amor.
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