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O Fim da Rua Bosco

I - DAS RUAS

I - DAS RUAS

Apr 07, 2025

Já era a hora nona, as nobres lojas fechavam suas portas enquanto, nos bares, a noite só começava. Vagando pelas ruas estava João Bosco, recentemente chegava à cidade e não sabia onde poderia parar para descansar, pois os hotéis escondiam-se dele como se fosse um sórdido ladrão.

         “Preciso encontrar um lugar para ficar antes que me roubem as trouxas.” Pensou consigo, olhando de lá e cá em um passo leve.

         Viradas duas esquinas, João via, no fim de uma rua nomeada Bosco, uma adega pouco lotada, mas não era isso que lhe chamava a atenção. Além do fato da rua ter o seu nome -o que era pouco usual-, a adega demonstrava ter dois andares superiores, com luzes apagadas, indicando que aquilo poderia ser um pequeno apartamento escondido do mundo, onde as garras dos andarilhos não as alcançaram.

         Pouco antes de entrar, olhou aos dois lados da rua e concluiu que nada havia naquela rua, se não o vazio no olhar das mulheres nas esquinas e dos homens ébrios, arrazoados pela vida, descontentes ou, quem sabe, perdidos, tal qual estava o pobre João.

         Por dentro da adega estavam apenas três clientes e um senhor de idade, dono dos tamboretes aos cantos, das mesas redondas cercadas de cadeiras divididas para fantasmas, com, aos lados, pequenas protuberâncias no chão de madeira, exalando a sensação de um velho e doce lar.

         -Que deseja, meu jovem? - Perguntou o ancião.

         De maneira tímida, João respondia ao senhor: -Apenas um quarto para dormir, por favor. -

         Aurélio (o senhoril), não esperava por um pedido diferente de um copo americano banhado de rum, franzindo o cenho antes mesmo de responder.

- Claro, é logo aqui. Mas o custo são quinhentos mil cruzeiros, certo?-

-Não tenho essa quantia. Aliás, isso é o custo de um apartamento da mais alta categoria em São Paulo. Penso que o senhor está imaginando que eu não passo de um tolo. – Respondeu, com desdém, João Bosco.

         O senhoril se absteve de dizer, mas realmente contava com a ingenuidade do recém-chegado. Evitando mais constrangimento, apenas permitiu que João se abrigasse na adega pelo resto da noite, oferecendo, como uma consolação, alguns copos de bebida, mas João recusara.

         Eram dez horas e meia a noite. Por falta de algum livro ou caça-palavras, João se pôs a escutar a conversa dos três homens que estavam sentados e rindo um do outro. Imaginou que havia algo interessante na conversa das almas que habitavam aquele recinto, e estava completamente certo.

         Os homens eram um advogado, um pedreiro e um jovem, cujos quais não sabiam sequer o nome um do outro, chamando-se entre eles de “O Juiz”, “O Servente” e “O Pequeno”. Quando um dizia algum desses célebres nomes, caíam na risada quase que em um instante.

         -Ei Juiz! Que sentença tem para mim? – Perguntou o jovem, naufragado em cachaça. -Sou um miserável, não é?-

         -Sem dúvidas! – Riu-se o Juiz.

         João, se não soubesse que os homens estavam ébrios, levantaria a voz e defenderia o jovem, apesar de não o conhecer. Já estava perdendo a paciência por entre as piadas, prestes a falar como um sóbrio aos entorpecidos sobre a sua conduta vil.

         Por outro lado, Aurélio, o senhoril, ativamente empenhado em reabastecer os copos, lucrava em cima daquela situação deplorável: um advogado que, seja lá por quê, estava se afundando em bebida; um pedreiro que não bebia, se via introspectivo maior parte do tempo, trocava apenas risadas (o que fazia ali?), e um jovem louco por descobertas, na busca por uma suposta liberdade em abandonar o capricho dos pais e deturpar sua caminhada no álcool. João se encontrava distante dos três, com um visível orgulho de sua posição, convencido de que, se encontrados diante do tribunal divino, certamente seria o primeiro justificado.

         -Por que não vem e se junta a nós? – Perguntou o Juíz.

         -Eu não bebo. – Respondeu João, prontamente.

         O Juiz esboçava um sorriso. -Ora, este aqui, - Tocou no ombro do Servente. -Também não bebe e está conosco! –

         João iniciava suas falas ignorantes com pobres embriagados, uma má ideia, considerando a sua situação: carregando duas valises e uma pilha de livros (apenas os seus prediletos), torcendo para que o sol amanhasse o quanto antes.

         -Quem dirá que ele realmente quer estar aí? – Perguntou João. -Imagino que este homem sequer está bebendo convosco, está apenas aí sentado em meio a dois bebuns que não sabem nem qual hora passará o trem. Este homem certamente não faz parte da choldra que se instalou neste bar a essa hora da noite. Que sentido tem em você estar aí, Servente? –

         Assim que cessou em falar, os três permaneceram em silêncio, os dois por confusão, não entenderam metade do que fora dito, estavam aéreos. Mas o Servente ouvira bem e ponderava a questão.

         -Estou aqui porque preciso buscar a minha esposa. – Disse. -Ela trabalha em um novo emprego por essas bandas e, como não possuo qualquer veículo para buscá-la, vou caminhar com ela por entre as ruas até o ônibus. Não tenho dinheiro para desembolsar um carro, mas tenho amor de sobra pela minha mulher. – Encerrou.

         João olhava profundamente para o Servente, como se julgasse qualquer frase, mas, na verdade, fingia uma autoridade, quando seu âmago estava completamente destruído. Pela primeira vez ouvia um relato de Amor em muito tempo. O ancião, ciente de que estava exagerando ao persistir em oferecer bebidas, cessou. O jovem implorou por mais, como um bebê chorando pela amamentação.

         -Jovem, você está perdido ou o quê? – Disse o ancião.

         -Quem são seus pais, para eu ligar para eles? – João instigava.

         O menino mal entendia as palavras, mas ouvia muito bem sobre “pais”, lembrava muito bem sobre “eles”, era a sua família! Logo que entendia, seu semblante se alertava. Estava profundamente desesperado com essa ameaça, e tornou a dizer:

         -Por favor, não! Eles não sabem que estou aqui! –

         -Quem te trouxe até aqui? – O Ancião indagava.

         -Meus amigos. –

         Neste momento estava tudo mais claro, imaginou João que aquele jovem era apenas mais um em busca de sentido para a própria vida. Imaginou consigo mesmo se era adequado perguntar mais algo ou deixar para o conselho tutelar.

         Descontente com as respostas, João chegou à mesa e conversou primeiro com o jovem.

         Assim perguntou:

         -Que sentido você vê nisso tudo? –

ConfusoOct
Universo Confuso

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