-Sentido? Não preciso disso! – Respondeu, com nervosismo eminente.
Quem sabe ele não esteja certo em “beber por beber”? Talvez houvesse algo em si mesmo que se confortasse apenas em bebidas. “Mas se não há sentido, por que beber?”, pensava João constantemente, abismado.
-Se não precisa, então saia. – Disse, com grosseria.
-Não posso! – Respondeu. -Meus amigos não... – Mais uma vez falava nos amigos, como se eles fossem o caminho certo a tomar.
-Não fale sobre amigos. – João rebatia. -Eles não estão aqui com você, deixaram-te aqui largado às taças como um miserável e você ainda os considera? Você é incapaz de imaginar como seriam amigos verdadeiros, não? –
-Bem, - ponderou o menino. -eu tenho tido sonhos ruins, dos piores. Tenho sonhado que estava sozinho e ficaria sozinho por toda a vida. Esses amigos que conheci me mostraram como fugir desses sonhos, como me ver mais feliz, sem pensar em desespero ou qualquer condenação sobre mim ou o que faço. -
De repente se João lhe fosse um ombro sobre o qual repousar, certamente não pensaria em cerveja como um refúgio dos seus sonhos tempestuosos. Observar que o menino bebia para fugir da sua realidade era um artigo de luxo para o ateliê da mente de João, que não houvera testemunhado tal episódio em muito tempo.
-Menino, volte para a sua casa e abandone isso. Não há sentido em fugir, simplesmente não há. Você é jovem e precisa descobrir um caminho, não o desvirtuar. Você seguiu o conselho dos seus amigos e olhe só para você, está aqui sozinho. Onde estão os seus amigos? Suponho que devam estar em casa, desfrutando seja lá do quê. Vá para casa, jovem, busque outro sentido, um que vá de encontro com o seu entendimento. –
O menino começou a chorar e correu porta afora, em um rumo que nem mesmo
o ancião sabia se era a sua casa ou não. O senhoril, atentamente, observou João
e lhe deu um sermão:
-Entenda, João. O maior
pesadelo é jamais sonhar. Se não há vista para o futuro, em qual chão
caminharemos? E se, semelhantemente, não há vista ao passado, quem somos, afinal?
–
Quero uma vida bem vívida,
Provar da dor mais dolorida,
Testemunhar toda a alegria,
De quem viveu bem uma única vida.
Quero viver para ver, não ignorar.
Quero saber como é o verbo amar.
Caso não haja mais tal sentir,
Não custa nada sonhar.
Quero lembrar de todos que vi,
Saber que cada um está onde queria.
Vivos, cada um com sua alegria,
E eu, assim, bem me vi.
Preciso me ver outra vez,
Seja no espelho, na água ou coisa qualquer,
Preciso saber se aquele garoto ainda tem fé,
Esperança no amanhecer.
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