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Segredos de Suspensyst

Vozes que a runa não silenciou, parte 1

Vozes que a runa não silenciou, parte 1

May 15, 2025


A chuva havia caído durante toda a noite, acompanhada de raios e trovões. Um amanhecer nublado e frio aguardava o treinamento do garoto com os aventureiros. Assim como da última vez, eles tomavam café na casa de um dos moradores — todos, exceto Ferry, que já estava no campo de treinamento, com o gramado encharcado.

A garota de cabelos verdes vestia um manto da mesma cor, acompanhado de um casaco feito com pele de tigre para se aquecer. Concentrada, mantinha a mão firme ao esticar a flecha, mirando em um esquilo que tentava alcançar uma noz.

— Ah, então é aqui que você está? — disse uma voz familiar às suas costas, enquanto o ranger do portão de madeira denunciava sua abertura.

A jovem ignorava a criança, mantendo o foco no esquilo.

— Ei, não vai falar comigo? — insistiu o garoto, tocando-a de leve, o que a fez errar o tiro.

— O que você quer? — perguntou ela, suspirando com impaciência enquanto caminhava para recuperar a flecha.

— Seus amigos são legais. Por que você se mantém tão distante? Desde ontem, você não disse uma palavra além do necessário para ninguém do vilarejo — comentou ele, acompanhando seus passos.

— Não tenho obrigação de falar com vocês — respondeu ela, puxando a flecha que havia se cravado no tronco de uma árvore.

— Seus amigos vão me treinar! Eu vou ser um caçador, sabia? — disse ele, animado.

— Isso é perda de tempo. Você deveria ajudar o vilarejo, em vez de ficar se iludindo com um sonho impossível — respondeu ela, passando por ele com a intenção de ir embora.

— Impossível? Mas qualquer um pode se tornar um aventureiro! — rebateu o garoto, indignado.

— Você é um pirralho de dez anos com o núcleo impuro. Nunca vai conseguir.

— Mas o núcleo só começa a se formar a partir dos doze!

— Isso é o que eles dizem para não te desanimar. A verdade é que, a partir dos sete anos, você já começa a remover as impurezas do núcleo.

— Mas eu comecei a meditar faz menos de um mês!

— Não é necessário meditar. As impurezas desaparecem gradualmente. Eles mentiram para você, seu idiota — disparou ela, afastando-se.

Num impulso, o garoto pegou uma pedra próxima aos pés e a lançou com força na direção da aventureira. Com agilidade, ela desviou e rebateu o projétil com o arco, fazendo-o ricochetear e acertar a testa da criança.

— Desista dos seus sonhos e aceite a vida que foi planejada para você.

— Você só fala isso porque tem medo de que eu fique melhor do que você!? Não quer que eu viva aventuras como seus amigos? Que eu passe por experiências que moldem meu caráter e conduta? — gritou ele, caído de joelhos, com a testa sangrando.

— Você não faz ideia do que está dizendo.

— Até parece!

— A vida de aventureiro não é tão incrível quanto parece. Desista dessa ideia. Não vale a pena passar por essas “aventuras” que você tanto idealiza.

— E por que não, hein? — indagou, levantando-se com raiva. Seu olho esquerdo permanecia fechado por causa do sangue que escorria pelo rosto.

A mulher o encarou por alguns segundos, olhando fundo em seus olhos, sem perceber qualquer sinal de medo. Observou todos os cantos ao redor e, em seguida, começou a caminhar de volta para o campo.

— O que foi? Ficou sem arg... — zombou ele, antes de ser interrompido por um poderoso chute no estômago, que o lançou contra o tronco de uma árvore.

— Eu vou te contar uma historinha — disse ela, já à sua frente em questão de segundos.

— C-como você…? — murmurou, mal conseguindo articular as palavras.

— O Tate provavelmente já te contou como formamos nosso laço de parceria e amizade. Talvez até tenha falado sobre o que eu fazia antes, por causa daquele coração mole que ele tem. Mas eu vou te contar o meu passado como aventureira, apenas para mostrar o quão terrível essa profissão pode ser — disse, sentando-se ao lado do garoto. — Pode destruir para sempre uma mente sã.

— Precisava mesmo me dar aquele chute!? — perguntou ele, encolhido de dor, sendo silenciado com a mão dela sobre sua boca.

— Quando eu tinha dezessete anos, entrei em uma pequena guilda experiente de caçadores e aventureiros. Era a minha primeira vez em uma masmorra, e eu estava nervosa — começou, falando num tom sério enquanto olhava para o céu cinzento. — Essa guilda, em especial, tinha dez membros: três com núcleos de percepção, três de força, três de magia e um de consciência. O lugar tinha apenas três andares subterrâneos, habitado por aranhas e, ocasionalmente, slimes — nada fora do comum.

— Pode parar com esse papo furado? Eu não tenho culpa se você teve uma experiência ruim. O Tate, ao menos, tinha um motivo nobre para se tornar aventureiro. Bem reflexivo, pra falar a verdade — resmungou ele, tentando se levantar.

— Eu não sei sobre o passado dele, e nem me importo. Só estou te contando a verdade por trás dessa diversão fantasiosa que você ouviu. Então sente-se. Agora — ordenou, com uma voz intimidadora que causou calafrios no garoto.

— T-tudo bem... — disse ele, sentando-se ao lado dela, trêmulo.

— O primeiro andar de uma masmorra geralmente é o mais fácil, dependendo da quantidade de níveis, obviamente. Mas, a partir do segundo, comecei a sentir algo estranho no ar... algo que não sabia explicar. Perguntei aos outros, mas ninguém sentia o mesmo — continuou, abraçando os próprios braços, a voz começando a tremer. — Quando chegamos ao terceiro andar, tudo estava completamente escuro. Alguns magos conjuraram “tochas” mágicas para iluminar o longo corredor à nossa frente.

Ferry suspirou profundamente, olhos fechados, como se buscasse lembrar de cada detalhe daquela incursão. Seus dedos apertavam os próprios ombros com força. Era visível que a lembrança ainda a assombrava. Beta, por sua vez, começava a ficar apreensivo.

— Matamos mais alguns monstros, até mesmo goblins que apareceram pelo caminho. Não era comum encontrá-los nesse tipo de lugar, mas ignorei. O objetivo da missão era simples: encontrar uma runa e entregá-la ao mandante. Seríamos muito bem recompensados, caso conseguíssemos.

— Desculpa, mas o que são runas? — perguntou, confuso, apoiando a cabeça no colo da garota.

— Runas são pedras mágicas que contêm algum tipo de poder oculto. Dependendo da pedra, você pode ganhar uma habilidade única extremamente poderosa... ou algo completamente inútil.

— P-pera aí! Tá me dizendo que existem pedras que dão poderes!? — exclamou, levantando-se animado.

— Seguimos limpando completamente a área até chegarmos à última sala, que parecia ser uma biblioteca. Vasculhamos tudo, mas não encontramos nada — continuou, recordando com um olhar distante. — Foi quando virei um criado-mudo e descobri um alçapão secreto que levava ainda mais fundo na dungeon. Era um corredor imenso, e no fim havia uma caixa de vidro iluminada contendo a runa que procurávamos. Era linda. Por mais fina e frágil que parecesse, o vidro era inquebrável. Nenhuma magia funcionava... até que um dos magos usou um feitiço sonoro que foi capaz de estourá-lo.

— Então deu tudo certo! — exclamou, indignado, antes de receber um tapa para que ficasse quieto.

— Sabíamos dos possíveis perigos e até dos monstros que poderiam estar lá dentro. Tudo havia sido meticulosamente planejado. Mas houve um único detalhe... — disse, abrindo os olhos em luto. — Assim que pegamos a runa, um covil completamente infestado por monstros explosivos se abriu. Foi uma cena aterrorizante. Incontáveis criaturas suicidas vinham em nossa direção em quatro patas, emitindo sons como de um explosivo prestes a detonar.

Beta percebia o quanto aquilo havia sido psicologicamente perturbador. Mesmo sentindo empatia, sua curiosidade era mais forte.

— Um único descuido pode transformar seus aliados em inimigos em questão de segundos. Foi isso que aprendi na minha primeira incursão. Uma garota corria ao meu lado com a runa em mãos. Eu tentava organizar o grupo para lutar, mas ninguém me ouvia. — Sua voz tornava-se cada vez mais pesada. — Escutei o som de ossos quebrando e um grito agonizante. A garota que corria comigo havia tido as duas pernas esmagadas e, antes de cair, jogou a runa para o alto. Outro aventureiro a pegou. Mas depois soubemos que um dos magos havia feito isso com ela para servir de distração, esperando que os monstros se matassem entre si. Eu não quis deixá-la para trás, tentei voltar para ajudá-la. Foi então que senti uma dor lancinante na perna — levei uma flechada do outro arqueiro do grupo.

— COMO É QUE É!? POR QUÊ!? — gritou Beta, tomado pela raiva.

— Eu não podia fazer nada. Só via aquelas coisas vindo em minha direção. Até que ouvi uma explosão seguida de desabamento. Ironia do destino: aqueles que nos abandonaram foram os primeiros a morrer. Um dos monstros estava escondido, parecia ter previsto os movimentos deles. — Ela soltou um sorriso amargo. — Mancando, corri até o monte de pedras que bloqueava a saída, enquanto via os monstros cercarem minha companheira. Sua expressão naquele momento... ela perguntava com os olhos: "o que eu fiz pra merecer isso?"... e então explodiram.

— Meu Deus… — sussurrou Beta, cobrindo a boca com as mãos.

— A explosão desencadeou uma reação em cadeia. Todo o chão tremia. Mais degraus desabavam sobre o subterrâneo. Eu estava presa, sem como subir ou descer. Perderia muito sangue e morreria em breve. Mas percebi que a runa havia sobrevivido. A mão de um dos homens ainda a segurava, intacta. — Sua voz carregava desgosto. — Podia ouvir o teto acima rachando. Eu não sabia que tipo de poder aquela runa continha, mas, pelo valor, imaginei que fosse algo extremamente poderoso.

— Não brinca... então você...

— Antes que o teto me esmagasse, absorvi a runa. O tempo pareceu parar. Senti o poder correndo pelas veias, pulsando. Minha visão ficou roxa por alguns segundos. Achei que fosse vomitar — disse, desviando o olhar. — Quando o teto tocou minhas mãos, que levantei por instinto, tudo se desintegrou. Não só o teto, mas toda a dungeon foi obliterada. Não sobrou nada. Nem os restos mortais dos meus companheiros. Foi aí que entendi: havia absorvido a runa de conjuração. Um artefato extremamente poderoso, capaz de materializar qualquer coisa que eu pensasse, por meio da magia.

— Então você é uma maga?

— Sou uma arqueira. Mas possuo esse poder especial. Embora ele ainda não esteja em seu auge — respondeu, olhando para a palma da própria mão.

— O que quer dizer com isso?

— Runas são poderes únicos e raros. Dificilmente alguém terá a mesma habilidade ou um nível de poder igual. Elas se adaptam ao seu núcleo. Só descobrirei o potencial máximo da minha quando alcançar o estágio branco.

— Mas... não é proibido que magos atinjam o estágio branco?

— Eu não sou uma maga. Apenas possuo um poder que utiliza magia — explicou, curando o ferimento na testa do garoto.

— E a pessoa que encomendou a runa... não foi atrás de você?

— Parece que eles chegaram. Eu já vou indo — disse, ao notar Tate e Dereck se aproximando. Levantou-se e se afastou.

— E-er... fico feliz que tenha confiado essa história a mim, senhorita Ferry — comentou o garoto, sem jeito.

— Eu não contei por confiança. Contei para que você entendesse no que pode estar se metendo. Essas runas podem parecer incríveis, mas, se forem mais poderosas do que você é capaz de suportar, vai morrer de forma horrível. Lembre-se disso — falou com irritação e as bochechas coradas, afastando-se.

— Você é mesmo peculiar. A Ferry nunca conversa com ninguém além de nós. E, pra falar a verdade, nem com a gente ela fala muito — disse Dereck, rindo.

— Sim... Mas, tudo bem. Vamos começar, campeão? Prometo pegar leve com você desta vez — disse Tate, agachando-se na frente do garoto e bagunçando seu cabelo com um sorriso.

— Tanto faz... só me pegou desprevenido ontem — respondeu, afastando a mão do aventureiro.

— Então o que foi aquele medo quando a Ferry mandou você se sentar? — provocou Dereck, acendendo um cigarro.

— C-CALA BOCA!!! — gritou, envergonhado.

— Chega de conversa. Beta, vá para o centro — ordenou Tate.

O garoto assentiu e caminhou até o centro do campo, sem ter a menor ideia do que o aguardava no treinamento.

— Vai pegar leve com ele dessa vez? — perguntou Dereck, tragando seu cigarro.

— Fiz aquilo ontem para ver se ele realmente queria continuar com essa ideia de se tornar aventureiro — respondeu Tate, caminhando até o garoto, que estava distante o suficiente para não ouvir a conversa.

— A Ferry também estava envolvida nisso? — soltou a fumaça e seguiu atrás do amigo.

— Apenas pedi que ela tentasse convencer o pirralho a desistir. Não faço a menor ideia do que conversaram.

Ambos estavam reunidos em um pequeno círculo, lado a lado. Tate explicava ao jovem como funcionaria o treinamento naquele primeiro dia. Era evidente para os aventureiros que as palavras de Ferry haviam abalado o psicológico da criança — seu semblante denunciava a descrença no que ouvia.

Tate começou explicando sobre a “vontade assassina” e como liberá-la. Era necessário sangue frio, já que esse poder exigia matar animais e, em casos extremos, até seres humanos. Demonstrou também a técnica chamada surprise attack: ao pensar nessa palavra-chave, a mente esvaziava-se de tudo, focando apenas em ocultar a própria presença.

Esse treino exigiria muito esforço do garoto, pois ele teria que liberar sua vontade assassina e então escondê-la novamente junto com sua presença. Esse exercício só poderia ser realizado após matar seus primeiros animais com as próprias mãos. Enquanto isso, Dereck ensinava como fortalecer e purificar seu núcleo de força.

Embora menos intenso, esse segundo treino também não era fácil. Beta deveria permanecer em silêncio, meditando, tentando esvaziar a mente. Quanto mais tempo conseguisse manter seus pensamentos em branco, mais impurezas conseguiria remover do núcleo. A fortificação do núcleo consistia em expandi-lo, até que ocupasse boa parte do corpo — integrando-se às veias e nervos.

Diferente dos movimentos e da força, que se adaptavam conforme se evoluía de estágio, essa fortificação não era um bônus natural: era uma conquista. O núcleo passaria a ser parte essencial do corpo, como um novo órgão, e traria vantagens imensas frente aos que mantinham núcleos comuns.

Para demonstrar o poder dessa técnica, Dereck enfrentou Tate em uma rápida luta. Mesmo estando apenas um estágio acima, a diferença de força era brutal. Seus movimentos eram absurdamente velozes, e os golpes certeiros demonstravam que ele nem mesmo estava usando todo seu poder. Essas eram as vantagens de um núcleo expandido e interligado ao corpo.

O treinamento seria árduo, e o garoto já suspirava, nervoso, prevendo o quão exausto estaria até o fim do dia. Mas como diz o ditado: “sem dor, sem ganho”.

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