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Segredos de Suspensyst

Vozes que a runa não silenciou, parte 2

Vozes que a runa não silenciou, parte 2

May 15, 2025

À distância, Ferry retornava ao vilarejo. Caminhava com um olhar frio, observando de relance as meninas que brincavam e conversavam com os guardas. A simples presença da mulher fazia com que arrepios percorressem as garotas.

— Aquela mulher é assustadora — comentou Carla, aproximando-se das amigas.

— Isso é só pose. Ela faz isso para parecer superior — respondeu Liz, sem demonstrar medo.

— Ela é estranha de qualquer jeito — disse Catarina.

— Tanto faz. E aí, querem ir até o rio tentar pescar? — sugeriu Sarah.

— Como? Não ouviu a chuva da noite passada? E já olhou pro céu? Está óbvio que vai cair outra tempestade. Ir até o rio seria burrice — aconselhou Payton.

— O que você está fazendo aqui, mesmo? Você é um porre! — retrucou Liz, indo embora com as outras.

— Ela ainda está brava com você por causa daquilo? — perguntou Jonathan, suspirando.

— Todas estão. Já se passaram quatro anos, e ela ainda guarda mágoas — respondeu Payton, furiosa.

— Ela não é do tipo que gosta de conversar sobre isso.

— Uau, temos um verdadeiro Sherlock Holmes aqui — caçoou.

— Payton, como foi mesmo que aquilo aconteceu há quatro anos? Eu não lembro direito.

— Não quero relembrar aquele dia estúpido — disse, virando as costas.

— Você nunca contou a sua versão da história, só ouvimos a dela. Talvez eu consiga fazer vocês voltarem a se falar como crianças normais.

— Não vai. Ela já envenenou a cabeça das outras meninas.

— Payton, por favor, conte a sua versão.

— Tudo bem — respondeu, soltando um longo suspiro.

O problema entre Payton e Liz era, ao mesmo tempo, simples e questionável. Quatro anos atrás, quando as crianças passeavam pela floresta, encontraram filhotes de lobos sozinhos — recém-nascidos.

Já era estranho haver apenas filhotes sem sinal dos pais por perto, mas tudo se tornou ainda mais misterioso quando Payton — a mais velha entre as garotas — se ofereceu para ficar de guarda enquanto as outras meninas corriam até a vila em busca de ajuda. A versão aceita pela maioria dos moradores, embora muitos não expressassem diretamente sua opinião, foi a de Liz.

Na versão de Liz, ela e suas três amigas voltaram do vilarejo e encontraram os lobinhos decapitados, deitados sobre uma poça de sangue. Payton não estava mais no local, mas a parte de trás de seu vestido trazia manchas de sangue. Apesar de alegar que não fez nada e que apenas se afastou por ter ouvido um barulho vindo dos arbustos, seus argumentos não convenceram os adultos presentes.

Diante da cena, ela não teve como se defender: foi julgada como culpada pelas mortes, tanto pelas crianças quanto pelos adultos que testemunharam o estado do local. Desde então, uma linha de restrição foi traçada: as meninas não poderiam brincar ou conversar com ela sem a supervisão de um responsável. Esse comportamento se perpetuou até os dias atuais, mesmo sem necessidade.

As garotas, no entanto, não agiam por pura maldade, mas por acreditarem sinceramente que Payton era culpada por tamanha atrocidade. Os argumentos da mais velha não pareciam fazer sentido. No fundo, Payton sabia disso — que não era vista como uma criança comum, mas como alguém capaz de tirar uma vida.

Na sua versão da história, ela cuidava dos filhotes até ouvir um barulho vindo dos arbustos a poucos metros de distância. Temendo que fossem os pais dos lobinhos, correu até a árvore mais próxima para se esconder. Porém, em questão de segundos, os dois filhotes foram mortos, sem que ela conseguisse ver quem os atacou. Essa seria a explicação para o sangue em suas costas.

Dizer que crianças são inocentes é uma afirmação forte demais. Liz, sendo mais esperta e atrevida que as outras meninas, conseguiu articular um "bullying invisível" contra Payton, sem que os adultos percebessem. É evidente a raiva e o desprezo que sente na presença da mais velha, mas Jonathan acredita que existam outros motivos além da morte dos filhotes.

— E é exatamente por isso que nunca mais serei amiga delas. Posso ir agora? — perguntou Payton, irritada.

— Pode — respondeu ele.

Ferry havia escutado toda a conversa à distância, utilizando sua magia de conjuração para ouvir através dos insetos que caminhavam pela grama. Estava decidida a fazer algo bom antes de deixar a vila.

— Ela parece até nossas mães dizendo o que podemos ou não fazer — reclamou Liz, enquanto caminhava pela trilha.

— Deixa pra lá, já passou — tentou amenizar Catarina.

— Sim, sim. Acho que o que eu preciso mesmo é distrair a mente com um pouco de pesca — respondeu, esquecendo completamente do assunto.

Trovões começaram a ecoar, e nuvens carregadas cobriram o céu, obrigando os moradores a largarem suas tarefas e voltarem para suas casas. Com exceção das meninas, apenas os aventureiros e Beta ainda estavam fora da vila — e também Ferry, que agora estava prestes a descobrir a verdade sobre os lobos.

O poder de sua runa de conjuração era extraordinário. Embora seus dons já fossem formidáveis, ainda não havia alcançado o potencial máximo. Colocando a palma da mão sobre a grama e fechando os olhos, ela rastreou vestígios de sangue pela floresta. Identificou vários pontos, já que os moradores dependiam da caça, mas decidiu seguir aquele que mais coincidia com os relatos.

Chegando a um ponto específico, encontrou resquícios de sangue — invisíveis a olho nu — ainda presentes mesmo após quatro anos. Estavam em uma área isolada da floresta, longe das trilhas. Ao tocar o que um dia foi uma poça de sangue, conseguiu localizar o ponto onde os corpos dos filhotes haviam sido enterrados.

O poder de Ferry era imenso, mas de difícil controle. Não resolvia todos os problemas. Ela podia conjurar tanto magias quanto desejos — dentro de seus próprios limites. Um exemplo foi a manipulação dos insetos para escutar a conversa entre Liz e Jonathan, uma conjuração de som. Cada feitiço, no entanto, exigia concentração extrema e drenava seu núcleo, fazendo com que morresse, lentamente, a cada uso.

Além disso, havia restrições. Cada tipo de poder tinha sua própria runa: manipulação de insetos, controle do tempo, dos elementos, de objetos físicos e até de aspectos espirituais. Sua runa era uma fusão de tudo isso, mas podia ser usada por menos de cinco minutos.

Os filhotes estavam enterrados no topo de uma colina próxima. Enquanto subia em sua direção, as primeiras gotas de chuva caíram sobre seu rosto. Era um clima perfeito para dormir, com trovões ao fundo.

No campo, Beta enfrentava dificuldades. Fortificar e limpar seu núcleo seria algo possível de dominar com o tempo, mas o foco agora era aprender a ocultar sua presença. O gramado encharcado e a forte chuva prestes a cair dificultavam seus movimentos com a espada, e ele escorregava várias vezes, tornando-se um alvo fácil para Tate.

— Sério que o Dereck tinha que entrar na floresta pra urinar logo agora? — reclamou, ofegante, após levar outro golpe.

— Ele também é humano, precisa atender ao chamado da natureza — respondeu Tate, estendendo a mão para ajudá-lo. — Além disso, você mal está aguentando só a mim. Imagina nós dois ao mesmo tempo. Parece até um sadomasoquista.

— Sado o quê?

— Esquece isso. Apenas segura minha mão.

— Não vai esperar seu amigo?

— Dereck já é grandinho. Não vai se perder. Vamos voltar, parece que a chuva será forte. Não saia de casa até ela passar, entendeu? — ordenou, puxando-o pelo braço.

— T-tudo bem... Mas você vai continuar meu treinamento depois da chuva, não vai? — perguntou preocupado.

— Sinceramente, acho que vai chover o dia todo. Já ensinei o básico. Quando formos embora depois de amanhã, você só precisa continuar treinando por conta própria — respondeu, caminhando até a porteira.

Eles correram pela trilha em direção ao vilarejo, enquanto as meninas permaneciam à margem da violenta correnteza, esperando que a chuva passasse. Mas o que vinha de longe era uma quantidade de água ainda mais avassaladora.
— Acho que não foi uma boa ideia — comentou Catarina, abrigada sob uma árvore enquanto olhava para o céu carregado de chuva.

— Devíamos ter escutado a Payton — mencionou Carla.

— Tsk, dane-se ela — murmurou Liz, sentando-se sobre as raízes que se entrelaçavam com a terra molhada.

— Por que tanta raiva? — perguntou Catarina, franzindo o cenho.

— Parece até que vocês esqueceram como ela é.

— O que você quer dizer com isso? Nem sabemos se...

— Não sabemos o quê? Quer debater de novo sobre esse assunto? Não tem como não ter sido ela. Aquela garota é perigosa — rebateu Liz, irritada, interrompendo a amiga.

— Você a viu fazer alguma coisa? Porque eu não — respondeu Catarina, cruzando os braços.

— Eu não vou discutir sobre isso com você.

— Tá legal, gente, acho que já deu. Vamos mudar de assunto — disse Sarah, tentando acalmar os ânimos.

— E por que é que você sempre faz isso? — questionou Catarina, claramente incomodada.

— Como assim? — perguntou Sarah, sem entender.

— Ficar querendo proteger a Liz, ou sei lá.

— Eu não protejo a Liz.

— Protege sim. Sempre que voltamos a falar sobre isso, ou qualquer outro assunto que ela não consiga sustentar, você corta o papo na hora. Por quê?

— O que está acontecendo com você hoje, hein? — retrucou Liz, levantando-se irritada.

— Nada. Só acho que já passou da hora. A Payton não merece isso.

— Ninguém está te impedindo de ir ficar com ela.

— Espera um pouco, Liz… — disse Sarah, apreensiva.

— Não, Sarah. A Liz está certa. E talvez, quando vocês finalmente tiverem consciência do que estão fazendo com ela, tomem a mesma atitude que a minha — finalizou Catarina, virando-se e indo embora, enfrentando a chuva.

— Espera, Catarina! A chuva está muito forte, você vai acabar pegando um resfriado! — alertou Carla, preocupada.

— Não me importo — respondeu, sumindo entre as árvores e a névoa que a tempestade formava.

O clima havia mudado drasticamente em questão de segundos. As garotas ficaram em silêncio, sem saber a quem apoiar. De um lado, Catarina acreditava que já era hora de perdoar Payton, afinal ninguém sabia ao certo o que havia ocorrido. Do outro, Liz sustentava argumentos fortes, apoiados por evidências visuais, e um ódio que parecia impossível de apagar.

Era uma faca de dois gumes. Independente de quem escolhessem apoiar, acabariam perdendo outra amiga. As palavras e ações de Catarina mexeram profundamente com Sarah e Carla, que ficaram pensativas diante do que acabara de acontecer.

— Por que estão caladas? Querem ir embora também? — perguntou Liz, irritada, assustando-as.

— N-não — respondeu Sarah, sentando-se ao seu lado.

Enquanto isso, no topo da colina e sob a forte chuva, Ferry desenterrava o que restava do "túmulo" dos três filhotes de lobo, determinada a descobrir a verdade. Encontrou apenas ossos e pedaços de carcaça já consumidos por vermes. Colocou a mão sobre os restos e ativou seus poderes.

Fragmentos daquele dia fatídico surgiram diante de seus olhos — imagens confusas, mas reveladoras. Ela via o que os filhotes viram: árvores, folhas, grama… e Payton, mais jovem. A garota dava as costas, e então, de repente, os lobos eram mortos. O sangue espirrava nas costas de sua roupa.

Ferry foi arrancada da visão em choque, trêmula, com o nariz sangrando. Vasculhou os restos mais uma vez, mas não encontrou nada além do que já vira. A constatação era clara: aquilo não fora feito por humanos. Algo sobrenatural ou um monstro estava por trás daquilo.

Abandonando a cova aberta, correu em direção ao local onde os corpos haviam sido encontrados. O que começou como simples curiosidade, agora era uma investigação séria e sinistra.

Na vila, Beta observava a chuva pela janela, entediado. Viu Tate e Dereck na igreja, aparentemente discutindo. Tentava entender o assunto, mas acabou sendo surpreendido por Payton, que surgiu na sua frente, assustando-o e o fazendo cair.

— Droga, Payton! — reclamou, levantando-se.

— Calma, aventureiro mirim. Está na mira de algum monstro super perigoso? — brincou ela, pulando pela janela para dentro do quarto.

— O que você está fazendo aqui?

— Jonathan e Philipe estão nervosos, e você sabe como as meninas são… No fim das contas, só tenho você — disse, jogando-se na cama.

— Payton, como você aguenta tudo isso? — perguntou, ainda olhando a chuva. — Elas te odeiam, fazem de tudo pra te excluir. E mesmo assim, você continua como se nada tivesse acontecido.

— Porque minha consciência está limpa, Beta.

— Eu sei que isso já passou, mas… você realmente não sabe o que aconteceu?

— Não — respondeu de imediato.

— Eu sei que você é mais velha do que eu, mas pode me contar o que quiser. É raro você aparecer por aqui.

— Só vim esperar a chuva passar.

— Podia esperar na sua casa, não? Vai, fala logo. O que houve?

O silêncio no quarto era preenchido apenas pelo som da chuva caindo sobre o telhado e a grama.

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