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Segredos de Suspensyst

Vozes que a runa não silenciou, parte 3

Vozes que a runa não silenciou, parte 3

May 15, 2025

— Você já pensou em ir embora dessa vila? Ir para outro lugar, sei lá…

— Óbvio que sim — respondeu, rindo. — Você sabe que eu vou virar um aventureiro quando fizer quatorze anos. Terei que sair da vila para explorar o mundo.

— Não acha que falta muito tempo pra isso?

— Como assim?

— Você tem dez anos. Ainda faltam quatro anos, Beta. É muito tempo.

— Na verdade, não. Vou usar esse tempo pra fortalecer e purificar meu núcleo, e treinar com a espada. Quando completar quatorze anos, estarei pronto pra me aventurar.

— Entendo — disse ela, num tom de leve decepção. — Acho que vou pra casa. Até mais.

— Até — respondeu ele, observando-a saltar pela janela.

Ferry chegou ao local onde os filhotes foram mortos, mas a chuva forte impedia que encontrasse qualquer pista concreta. Frustrada, ela decidiu voltar para a igreja, onde seus colegas discutiam.

Com a chuva cada vez mais intensa e a correnteza aumentando, as garotas foram obrigadas a retornar à vila. Na entrada, dentro de uma cabana improvisada, os guardas se protegiam da tempestade com café quente.

A estrutura fora feita justamente para isso: oferecer abrigo aos guardas durante as tempestades, com cama, comida, mas sem banheiro. Um refúgio seguro, já que o outro lado da vila era cercado pelo rio.

— Chuva forte, não? — comentou Philipe ao loiro absorto em pensamentos com uma xícara de café na mão. — Jonathan?

— Hã? Que foi? — respondeu, despertando de seus devaneios.

— Ainda preocupado com os aventureiros?

— Não sei, Philipe. Mesmo sem provas, sinto que eles escondem algo. Só não sei o quê.

— Eu não quis deixá-los entrar, você que abriu caminho.

— Você não quis por preconceito e rancor. Eu... porque pressinto algo estranho. Só isso.

— Já estamos velhos, Jonathan. A idade traz sabedoria, mas também ignorância. Assim como eu errei, talvez você esteja errando também. Eles não estão atrapalhando a vila.

— E você devia perder uns quilos e raspar essa barba de viking.

— Qual é? Ficou ofendidinho?

— Não é isso. Esquece. Deve ser paranoia minha.

— Você vive estressado desde sempre.

— Não fala como se soubesse tudo da minha vida — respondeu num tom intimidador.

— Não sei tudo, mas já vivi o bastante pra entender como as pessoas são. E você ainda não superou o trauma da última raid, aos vinte e nove anos.

— Não é só essa. A que mais me atormenta é a que participei aos quatorze. A minha primeira raid.

— Está preocupado com os aventureiros... ou com o garoto que quer ser um?

— O Beta? Também. Me arrependo de ter contado aquelas histórias pra ele. Vi aquele garoto nascer. Conheço o passado dele. Não quero que siga pelo mesmo caminho. Prefiro que tenha uma vida pacata aqui do que morrer lá fora.

— E ainda tem a questão das meninas, né?

— Nem me fale. Até hoje não consigo explicar o que houve com aqueles lobos. Sei que Payton não faria algo assim, mas ela foi rotulada como assassina por todos.

— Pelo menos ela tem uma mente forte.

— Não por toda a vida. Uma hora ela vai se cansar. E eu quero consertar isso antes que isso aconteça. Mas você sabe como são as crianças.

— Sei — respondeu com um sorriso de canto. — E as outras meninas? Já tentou conversar com elas?

— Do que adianta? Os pais repreendem qualquer tentativa de aproximação com a Payton.

— Já tentou falar com os pais? Mostrar como isso afeta tanto as meninas quanto a própria Payton?

— Conversar com eles é como falar com uma parede. Não escutam — disse, tomando outro gole de café.

— Situação complicada — suspirou, enquanto um trovão ecoava ao longe.

— Acha que um dia vai deixar de ter mágoa dos aventureiros?

— Você sabe o que eles são. Podem te abandonar no pior momento.

— Mas nem todos são assim. Eu mesmo era um aventureiro, e você não sente raiva de mim.

— Você é uma exceção. Salvou minha vida.

— Assim como qualquer outro teria feito.

— Não apostaria nisso… — disse, encarando a xícara vazia. — E você? Vai superar seu trauma dos quatorze?

— Já tentei. Mas ele me assombra.

— Por que nunca me conta o que aconteceu?

— Não é algo que me sinto à vontade pra compartilhar — respondeu, caminhando até a janela.

— Vai me contar algum dia?

— Quando eu estiver bem com isso… eu contarei — disse, observando a chuva cair.

— Espero que consiga — respondeu Philipe, dando um tapinha em seu ombro.

— Eu também, Philipe.

Na igreja, Tate e Dereck ainda discutiam. A chuva intensa e os trovões abafavam o som da briga, impedindo que as casas vizinhas ouvissem.

— Você concordou com tudo isso! — exclamava Dereck, exaltado.

— Mas eu não acho que seja o certo. Devemos permanecer na vila, sabemos o que está para acontecer! É crueldade demais com um lugar que nos acolheu de braços abertos — reclamava Tate.

— Precisamos dar a notícia ao rei o quanto antes! Não teremos chance alguma contra o que está por vir. E nem sabemos se os colares funcionam de verdade!

— Acha mesmo que ele mentiria sobre isso? O que ele ganharia com isso?

— Você realmente confia naquele monstro? Acha que ele se importa se vivermos ou morrermos? Só estamos aqui porque somos fortes, e frios. Você sabe disso.

— Mesmo assim... uma vila como esta... — Tate suspirou, notando Beta os observando de sua janela.

— Esquece o garoto. Quantas vezes você já não passou por situações parecidas?

— É que... com esse garoto em especial... Eu não sei. Só acho que não devíamos fazer isso. Devíamos ficar e lutar!

— Está agindo como uma criança, caramba! Põe na cabeça que viemos em missão, encontramos o que procurávamos e agora vamos voltar para relatar. Vilarejos ou reinos no caminho não significam nada. E é justamente por isso que não nos apegamos.

— A gente parte depois de amanhã, certo? — perguntou irritado, cerrando os punhos.

— Sim — respondeu Dereck, com arrogância.

Subindo as escadas, Dereck seguiu para o quarto que dividia com Ferry, enquanto Tate tentava conter a raiva. No fundo, o loiro sabia que seu parceiro não estava errado. Aquilo era, de fato, uma missão de coleta de informações. Vilarejos e cidades deveriam ser apenas marcos no caminho. Pelo menos, era assim que devia ser.

— Eu vou fazer com que aquele garoto esteja pronto para lutar — murmurou para si mesmo. — Nem que seja por alguns minutos... mas farei isso — disse, acenando discretamente para Beta com um leve sorriso.

Na casa de Liz, a garota chegava completamente encharcada pela chuva. Sua mãe a esperava sentada à mesa da cozinha, os dedos entrelaçados e a expressão rígida.

— Você não viu essa tempestade toda? Onde estava? — perguntou em tom duro, levantando-se com firmeza.

— E-eu estava na floresta, com as meninas — respondeu Liz, dando passos para trás.

— Aquela psicopata estava com você? — aproximou-se mais.

— N-não... — Liz bateu as costas na parede, sem ter mais para onde ir.

— Mesmo assim... — a mulher suspirou, antes de puxar violentamente os cabelos da filha.

Liz gritou e se debateu, esbarrando em objetos pelo caminho enquanto era arrastada para o porão. Um espaço abafado por encantamentos mágicos que anulavam o som, impedindo qualquer vizinho de ouvir os horrores cometidos ali.

No porão, Liz era despida e amarrada em uma mesa de madeira. A mãe, fria e cruel, desferia golpes brutais em suas costelas, causando fraturas. Os gritos da garota se misturavam a lágrimas, saliva e sangue, mas nada disso parecia comover a mulher.

Sempre que as agressões cessavam, Liz era forçada a ingerir poções de cura que restauravam seus órgãos e tecidos — apenas para que o ciclo de dor recomeçasse com seu corpo sensível como antes. A cura física vinha acompanhada de um tormento psicológico ainda mais intenso.

E esse não era o único tipo de punição. Liz já havia sido chicoteada até a pele se abrir, obrigada a mergulhar o rosto em formigueiros de espécies demoníacas, envenenada, humilhada e submetida a diversas formas de tortura. As poções de cura apenas perpetuavam o sofrimento, reiniciando a dor no corpo que ainda carregava o trauma.

Sua mãe, sádica e impiedosa, jogava sal nas feridas abertas. Parecia encontrar prazer em cada grito de dor da filha. Liz, apesar da idade, só desejava uma oportunidade de escapar. Queria contar tudo a Jonathan ou a qualquer aventureiro. Queria justiça. Mesmo que sua mãe fosse morta da pior forma possível.

A ausência de amor e o excesso de crueldade criaram um ódio silencioso dentro da criança. Um rancor que crescia, moldando algo sombrio — algo que, sem saber, acabaria por definir o seu destino nos dias que se aproximavam.

‡


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Løser

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