— Tsc — resmungou Dereck, que acabara de descer as escadas e saiu pela porta sem dizer mais nada.

— Está tudo bem entre vocês? — perguntou Jonathan, observando-o se afastar pela janela.

— Sim, apenas um pequeno desentendimento. Mas enfim — desviou do assunto, levantando-se. — Mostre-me onde fica a caverna, verei o que posso fazer.

— Ainda não sabemos exatamente a localização. Só o chefe dos mineradores sabe. A varredura seria feita amanhã, mas como já confirmou sua saída do vilarejo, faremos hoje mesmo — informou, colocando as mãos na cintura.

— E você vai procurar sozinho? Já tem uma noção de onde fica? Vai falar com esse “chefe” aí ou o quê? — perguntou, cruzando os braços.

— Como vejo que ainda tem consideração em nos ajudar, vou até ele agora. Em breve trarei a informação — respondeu, caminhando até a porta.

Quando Jonathan abriu a porta, deparou-se com Beta: ofegante, suado e visivelmente exausto. Sua expressão misturava surpresa por encontrar o guerreiro naquele local com um sorriso breve, antes de desmaiar diante da igreja.

O desmaio causou alvoroço imediato, e, por um instante, ambos temeram que algo grave tivesse acontecido. No entanto, logo perceberam que era apenas um colapso por exaustão. Levaram-no até a cama que Tate usava dentro da igreja e o acomodaram ali para descansar.

— Ele está levando isso a sério demais... Não gosto disso — comentou Jonathan, sentado ao lado da criança. — Não devia ter ensinado tanto a ele. Tenho certeza de que vai se cobrar ainda mais no futuro.

— Faz parte — respondeu Tate, observando o garoto dormir profundamente. — Parece que a chuva vai durar o dia todo — disse, ao ouvir o som das gotas se intensificando.

— Nesse caso, não teremos como ir até a caverna — afirmou Jonathan, sentando-se na outra ponta da cama, passando os dedos por seu colar, o que chamou a atenção de Tate.

— Onde conseguiu esse colar? — perguntou, sem esconder o interesse.

— Isso foi há muito tempo... É uma lembrança da minha primeira guilda, por assim dizer — respondeu, cabisbaixo, soltando um suspiro pesado. — Foi uma época complicada.

— Por que ele tem esse tom avermelhado nas bordas? — indagou, fitando o colar com atenção.

— Isso não é da sua conta, rapaz. Embora eu tenha certeza de que você sabe o que aconteceu.

— Todo aventureiro está fadado a passar por isso. É impossível passar anos nessa vida sem sofrer uma traição... ou uma perda — comentou Tate, mergulhando em seus próprios pensamentos.

— Se sente confortável para contar a sua história? — perguntou Jonathan, curioso.

Tate apenas negou com a cabeça, fazendo um gesto sutil que indicava a presença de outra pessoa no local.

— Entendo. De qualquer forma, é melhor eu voltar ao meu trabalho — disse Jonathan, levantando-se da cama e fazendo um breve cafuné na criança antes de sair.

O guerreiro deixou a igreja, e Tate ficou sozinho com o garoto, ainda pensativo a respeito daquele colar.

— Será...? — murmurou, ignorando a presença do menino até ouvir batidas à porta novamente. — Tsk! — resmungou. Ao abrir, deparou-se com Liz, que procurava por Beta e se desesperou ao vê-lo desacordado.

— Beta!? — gritou, correndo até ele. — O que aconteceu com ele!?

— Ele só está descansando. Desmaiou de exaustão.

— Se não tivessem colocado essa ideia na cabeça dele, isso não teria acontecido! — vociferou, tomada pela fúria.

Mas não era uma fúria comum. Tate, experiente e acostumado a lidar com os mais variados tipos de comportamento, percebeu algo a mais. Nos olhos de Liz havia uma criança perdida, triste, prestes a explodir.

— O que ele é pra você? — perguntou, encarando-a com desconfiança.

— O quê?

— Você vê esse garoto como alguém que precisa ser protegido?

— Não! Eu vejo ele como alguém que precisa parar de tentar alcançar sonhos impossíveis!

— Você tem algum sonho? — questionou, sentando-se à beirada da cama.

— Isso não é da sua conta.

— O que sua mãe quer que você seja quando crescer? — perguntou, esperando alguma reação.

— Eu... — Liz travou, sem palavras. Levantou-se, cabisbaixa, e caminhou até a porta, saindo sem dizer mais nada.

— Hmpf... — suspirou Tate, compreendendo o que acontecia. — De qualquer forma, isso não é da minha conta. Tenho problemas maiores — murmurou, observando pela janela.

— Você sabe que essa ajuda não valerá de nada, não sabe? — disse Ferry, do primeiro andar.

— Eu sei. Mas quero fazer isso como uma última contribuição antes da atração central. Não quero sair daqui com peso na consciência — respondeu com um suspiro pesado. — Espere um minuto... O quanto você ouviu?

— Você estava tão imerso nos seus pensamentos que nem percebeu quando desci as escadas — respondeu, encarando-o. — Não há como deixar esse vilarejo sem carregar alguma culpa... a menos que conte a verdade a todos.

— Como se eu realmente fosse fazer isso.

— É o que está demonstrando.

— Por mais que eu ainda tenha sentimentos e empatia pelas pessoas — muito diferente de vocês dois, inclusive —, ainda sei diferenciar trabalho de conflitos pessoais.

— Assim espero — respondeu Ferry, mergulhando em um silêncio prolongado. — Então você vai ajudá-los de verdade?

— Sim... Uma última contribuição... — murmurou Tate, passando a mão pelos cabelos do garoto adormecido.

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