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— Payton... — murmurava Beta, apertando o peito enquanto as lágrimas escorriam por seu rosto. — Eu vou vingar você... e a todos. — Sua voz carregava todo o ódio que conseguia reunir.

O cavalo seguia em linha reta pelas trilhas, até se assustar de repente, derrubando o garoto e fugindo para longe o mais rápido que podia. Sem entender o que acabara de acontecer, Beta sentiu uma presença forte no ar, ao mesmo tempo em que uma ventania intensa balançava até os menores gramados ao redor.

— Q-quem está aí!? — gritou tomado pelo medo, procurando desesperadamente algo ao redor que pudesse usar como arma.

Um elfo emergiu da mata. Tinha cabelos alaranjados e usava uma máscara preta com seis buracos, moldada como o rosto de uma aranha. Vestia uma capa feita de folhas, um bracelete esverdeado no braço direito, com uma pequena esmeralda pendurada, além de uma calça de moletom — verde do lado direito, branca do lado esquerdo. Por baixo, uma camiseta preta e um colar dentário, feito com dentes de diversas cores e tamanhos.

Ele caminhava em direção a Beta. Conforme se aproximava, o garoto, apavorado, percebeu que sua voz era alterada pela máscara, tornando-a ainda mais macabra.

— O que faz sozinho em um lugar como este, criança?

— O que vai fazer comigo? — perguntou Beta, pálido, tentando se arrastar para longe como uma presa desesperada.

— Você ainda não respondeu à minha pergunta — disse o elfo, estendendo a mão direita. A esmeralda brilhou sob a luz do sol e, através de sua palma, o garoto pôde ver o ar girando.

[Tornado]

O elfo lançou um poderoso feitiço em forma de tornado, disparado como uma bala de uma arma colossal. A tempestade de vento crescia rapidamente, arrastando tudo ao redor com fúria destrutiva.

Para a surpresa do elfo, o garoto era mais rápido do que aparentava. Avançou sem planejamento algum, sumindo em meio aos destroços que o tornado arremessava, tornando-se invisível por alguns segundos.

— Onde ele... — murmurou, prestes a desfazer o feitiço, até sentir uma dor repentina na cintura.

Sangue escorria pela ferida. Cravado em sua carne, havia um pedaço de graveto com espinhos, lançado por Beta, que agora corria mata adentro, tentando desesperadamente sobreviver.

— Será que... Não, não é possível — sussurrou, estendendo novamente a mão em direção ao garoto.

[Balas de Vento]

Fragmentos cortantes de vento partiram da palma de sua mão, atingindo o corpo da criança. Ferido gravemente, Beta caiu ao chão, imobilizado. Mesmo assim, ainda tentava fugir, rastejando com a força que lhe restava na mão esquerda.

— Talvez tenha sido apenas sorte — disse o elfo, preparando-se para dar o golpe final.

[Balas de Vento]

O ataque deveria ter atingido o crânio da criança com tanta violência que apenas fragmentos do cérebro restariam. Mas quando a poeira assentou, levada pelo próprio vento, o elfo percebeu que havia errado.

— Impossível — sussurrou, procurando o garoto, que havia desaparecido.

Na verdade, a força do impacto contra o solo, potencializado pelo atributo vento de Eurus, lançara Beta para o alto. Ele acabara preso entre os galhos de uma árvore. O elfo o localizou após escutar o som de sua queda.

— Me... mate de uma vez... — forçou as palavras, os ferimentos se agravando rapidamente.

[Piedade da Mãe Terra]

Beta estava à beira da morte, como todos do seu vilarejo. Mas então sentiu a palma da mão do elfo pressionar seu peito. Fragmentos de uma luz esverdeada emanavam do toque. Suas feridas começaram a se fechar à medida que o elfo se concentrava, como se jamais tivessem existido.

— Você vai me contar absolutamente tudo sobre você... entendeu? — disse o elfo, segundos antes de deixá-lo inconsciente.

Naquela mesma tarde, após descobrir as origens do garoto e os objetivos traçados pela jovem que o acompanhara, Eurus teve certeza absoluta: a criança tão aguardada por May era aquele menino de cabelos e olhos castanhos.

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— E então? — Therris perguntou, fundida a uma enorme árvore coberta por musgos. Sua voz era calma e aconchegante.

— May estava certa, de fato. A visão dela se concretizou — respondeu Eurus, sentando-se em um toco de árvore à frente da elemental das plantas. — É assustador alguém possuir tamanho poder, capaz de prever o amanhã.

— Mais importante que isso... — murmurou Therris — conseguiu convencer Hambar a treiná-lo? O garoto precisa realizar a visão de May.

— Dei um jeito — respondeu com um leve sorriso. — Na verdade, acho que ele faria isso de qualquer forma. Mesmo que mudemos os meios, tudo sempre se encaminha para algum final.

— Sim... embora eu ache o poder dela extremamente limitado.

— Limitado? Ela consegue ver um ano inteiro no futuro, armazenando cada detalhe em sua mente! Deveria ser considerada uma divergente!

— Eurus, divergentes são aqueles que dominam forças além dos elementos básicos que nos foram dados.

— E todos os divergentes acabam tendo uma forma estranha como a sua? — zombou ele.

— Você sabe muito bem o motivo de eu ter me tornado o que sou hoje — respondeu ela, com a voz ficando mais séria.

— De qualquer forma, Hambar cuidará do garoto. Ele trará de volta a água para o reino. Não há com o que se preocupar. Preciso voltar a vigiar as fronteiras do selo. Divirta-se com essa sua fotossíntese — disse ele com sarcasmo, levantando-se para ir embora.

— Você tem potencial para se tornar um divergente da gravidade, Eurus. Lembre-se disso.

Eurus resmungou em desdém, de costas para ela, seguindo seu caminho visivelmente irritado.

— Eurus... — suspirou Therris, sendo lentamente engolida pelos musgos da árvore. — Até quando continuará relutante sobre isso?

Therris era uma elemental da terra, divergente das plantas. Diferente de muitos, ela não era uma elfa, mas uma humana. Após atingir o núcleo branco e vivenciar um acontecimento misterioso — do qual nunca falou com ninguém —, transformou-se no ser que é hoje: praticamente imortal.

A fonte de seu poder era tamanha que nem mesmo May, com seu núcleo de percepção, conseguiu compreendê-lo. Por isso, Therris e seus segredos permaneciam envoltos em mistério. Embora não representasse uma ameaça e fosse considerada uma guardiã da floresta, havia suposições de que, por ser humana e não possuir linhagem élfica, ela jamais poderia se tornar uma verdadeira abençoada e despertar todo o seu potencial.

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