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Inquisição: O Teorema Perdido de Fermat

Capítulo V

Capítulo V

Apr 11, 2025

    Há histórias que valem a pena serem contadas. Há histórias que também precisam ser lembradas. Eu me lembro bem das histórias que ouvia. Agora, no aconchego do meu escritório, não consigo nem lembrar do frio que fazia naqueles dias. Dias em que jovens puderam viver momentos que os definiram para sempre. E que talvez, um dia, definissem o mundo.
    Nevava muito naquela tarde. O silêncio era tanto que apenas se ouvia o som daqueles flocos gélidos se quebrando no chão. As pernas de um jovem estavam congeladas, não por causa das baixas temperaturas, mas sim por causa daquela situação. Ao mesmo tempo, o coração de outra jovem estava congelado por um motivo semelhante.
    Ela estava cabisbaixa, olhando fixamente para aquele pedaço de pedra.
    Ele olhava para ela, observando seu vazio e pensando como deveria prosseguir dali em diante. Ela pensava sobre o que restava. Um motivo para desistir ou um objetivo de vida? Já ele, pensava se deveria deixar para uma outra hora. Parecia insensível da sua parte, mesmo no mundo em que vivíamos.
    Ele nem deveria ter se aproximado tanto, para começar. Resolveu então se afastar um pouco. Porém, ao tirar seu pé da neve, a garota que antes encarava uma pedra o olhou sobre seu ombro, com um olhar diferente. Um olhar um tanto irritado e, ao mesmo tempo, fragilizado:
    — O que você quer? 
    — Ah, bem – o jovem respirou fundo e escondeu sua expressão de surpresa. – Devido a morte dele, me mandaram aqui para… Você sabe. Te acompanhar nas provas de final de ano.
    — Eu não quero mais companhia. Vá embora! Eu não preciso de mais ninguém.
    — Você sabe que as coisas não funcionam assim. Além disso, já temos um serviço marcado. 
    — Você não está vendo que eu estou sofrendo? – berrou ela, com raiva, se virando para o menino, tentando ao máximo segurar suas lágrimas. – Por que você, sendo essa criança que não entende nada, não vai embora daqui?
    Depois de gritar com o jovem, ela se virou novamente para a sepultura. Alguns segundos se passaram. Cada floc que caia sobre ele aumentava seu desconforto.
    — Eu já perdi muitos companheiros – respondeu. – Talvez esse seja o seu primeiro, mas eu entendo mais desse sentimento do que você imagina.
    Ela pareceu desconcertada.
    — O Edu não era qualquer companheiro. Você não entende, não importa o que diga.
    — Já que está indisposta – disse o menino enquanto se virava. – eu vou dar um jeito sozinho.
    Então ela, aparentemente mais irritada, começou a se mover. Rapidamente a jovem se virou e começou a andar na direção do menino. Não sei o porquê, mas, cada passo afundando na neve parecia uma trombeta do apocalipse. Ela passou ao seu lado sem falar nada. Pegou de suas mãos, de forma violenta, as instruções de procedência e seguiu para fora do cemitério congelado. 
    Ela não trocou olhares com ele em nenhum momento. Apenas seguiu.

    Lá estavam eles, do lado de fora de um dos mais luxuosos hotéis da cidade. Trinta andares com um grande centro de eventos no topo, despejando glamour sobre aquela pobre cidade.
    — Qual é o sentido de atacar durante uma festa? – indagava o menino, olhando a torre. — Sinceramente, acho uma ideia idiota.
    — Você não entende nada. Mas esperar o que de uma criança, não é? – comentou a menina que, aliás, era apenas um ano mais velha, enquanto lia os papéis e detalhes da missão. – Temos aqui a festa de um político. Ele está aproveitando para convencer outros deputados a ampliar os gastos com a luta contra o narcotráfico. O cartel de drogas não gostou. Ou seja, o nosso trabalho é eliminar esse cara e fazer parecer que foi uma causa natural.
Os carros passavam no fundo. Os dois estavam em um beco, tentando manter-se despercebidos.
    — Ele não tem proteção da instituição? – perguntou o menino. Ele sabia que pessoas que contratavam a Instituição de Assassinos tinham imunidade. Era assim que ela mantinha seu monopólio sem perder membros.
    — Não. Ele acha que pessoas como nós não existem, acredito. — Os dois ficaram em silêncio. Eles nem, ao menos, se conheciam direito.
    Apenas se ouvia o murmúrio que as ruas faziam, o respirar urbano, e alguns relâmpagos ao fundo, indicando a chegada de uma chuva que logo começava a descer, levemente, na forma de uma simpática garoa. A cidade já era longe da oculta Academia de Assassinos onde estavam mais cedo. De repente, o menino advertiu sua parceira:
    — Você sabe... – Ele não parecia confortável em nenhum momento daquele dia. – Da minha fama, não sabe?
    — Você é o 119, certo? – indagou a menina enquanto encarava o brilho da festa, no topo do edifício, sem desviar o olhar. Não houve confirmação da parte dele, mas não parecia ser necessário. – Dizem que você deixa todos os seus parceiros morrerem porque está pouco se fudendo para a instituição e a academia. O pior entre todos os alunos. Só apresenta falhas em seu currículo acadêmico.
    As palavras eram duras. Ele preferiu ficar quieto e apenas desviou o olhar. 119 estava pronto para oferecer que ambos desistissem, porém, a rancorosa menina o impediu:
    — Não se preocupe, 119. – Ela riu, confiante. – Eu posso estar no fundo do poço, mas ainda sou uma Promessa.
    Uma Promessa da Navalha: o título mais honroso que um aluno da academia poderia receber. Especificamente, isso significa que você faz parte dos 2% de alunos de maior prestígio dentre todos. Os melhores entre os melhores.
    119 se surpreendia com aquilo enquanto via a menina desaparecer diante de seus olhos. Ela, de repente, apareceu na parede do prédio. Cada vez que ela o tocava, brilhava, deixando apenas fagulhas de energia em seu lugar, reaparecendo mais acima. Passos da garoa; Era uma de suas estimadas técnicas, que permitia teletransportar a pequenas distâncias, ao mesmo tempo que anulava sua velocidade em relação ao objeto que tocava. O menino apenas observava enquanto ela sumia de sua vista.
    Em alguns instantes, após poucos saltos, ela estava no topo do prédio. Assim como ela imaginava, por causa da chuva, todos estavam dentro do salão central. Em um segundo, com outra impressionante habilidade, a Metamorfose da Tempestade, ela assumia a forma de uma garçonete, com uma bandeja, e entrava no local.
    Muitas pessoas conversavam sobre diferentes coisas naquele lugar climatizado com músicas clássicas. Algumas delas a respeito do narcotráfico na cidade.
    Tudo parecia correr bem. O álcool se espalhava pelas bocas de todos ali.
    Pessoas se apresentavam em mais um evento oficial dado por um homem rico do governo, assim como muitos outros naquele país. Homens bem intencionados, muitas vezes, por mais incrível que pareça.
    As pessoas dançavam e se misturavam aos tons daquela bela noite.
    “Toque da chuva ácida” , sussurrou alguém. 
    De repente, um corpo no chão. Gritos de desespero e lágrimas de entes queridos. Alguém tinha morrido.  Alguém tinha dado o seu último suspiro bem ali.
    Subitamente, o corpo da garçonete que se afastava da cena de óbito paralisou. Três pessoas entraram na sala.
    Gritos e mais gritos. Pessoas correndo.
    Logo, um salão vazio. Três pessoas paradas olhando para uma jovem moça congelada no centro da confusão, não muito longe do corpo de um ex-deputado influente.
    — Para que você não sofra tanto – dizia um deles, observando o fio da lâmina de sua faca enquanto se aproximava da menina que começava a se apavorar. – , não se mova. — Essa habilidade lhe parou por alguns segundos. — Tentar mover-se vai lhe causar dor, não que eu me importe. É só triste ver uma jovem tão bonita como você morrer dessa forma.
    — E… eu… nã… ão... – Ela tentava se comunicar. A dor a impedia – so… — Sem sucesso.
    — Você não vai enganar ninguém aqui – dizia um dos outros, incendiando seus punhos. – Nós vimos tudo. Foi como se você tivesse matado ele como uma bazuca. 
    — Vocês da instituição se acham incríveis, mas é só encontrar um assassino clandestino que a moral acaba – dizia uma mulher enquanto transformava seu braço em uma lâmina.
    — Que saber? – dizia o primeiro homem, guardando sua faca. – Você é bonitinha demais para desperdiçar. E faz muitas luas que não tenho tempo de me satisfazer. Sabe como é, né? Quando não se é de raça, como vocês da instituição, tem que trabalhar muito para ganhar dinheiro.
    — Ei, ei! – Chamava o homem com os punhos luminosos. – Se você não se diverte a tempos, imagine eu! Você tem que aprender a dividir. 
    — Vocês dois são lixo da pior, sabiam? Ela deve ter, no máximo, 16 anos. – Dizia a mulher enojada.
    — Vai nos impedir, por acaso?
    — Seu sádico! – A mulher fazia com que seu braço voltasse ao normal. – Eu só não quero ver isso. — Repentinamente, memórias começam a aparecer na cabeça da moça. Memórias de um outro jovem. Um que lhe fazia feliz.
    “Quando nos formarmos, vamos casar, Mônica? Eu sou feliz de verdade ao seu lado”. Lágrimas começaram a escorrer.
    “Vamos sim. Eu te amo”. Lágrimas que dificilmente seriam diferenciadas entre dor e alívio.

    “Ele morreu em operação. Sinto muito, ossos do ofício”.

    Uma respiração aflita de uma pessoa que estava prestes a ter um fim. Não qualquer fim, o pior fim possível. No auge do seu luto e insanidade, ela sorriu. Mesmo doendo, mesmo quase imóvel, ela sorriu. O pensamento mais degradante e triste que um ser humano pode ter em toda a sua existência se passava na sua cabeça: “logo, logo… eu estarei com você de volta. E ninguém vai nos separar mais. Eu sei que você vai me perdoar por não te vingar, porque a única coisa que você queria, era estar comigo, afinal de contas".

    O assassino, transbordando malícia, parava ali no meio, a apenas dois metros de uma jovem que havia aceitado seu fim. E então ficou cabisbaixo. O tempo não parecia passar enquanto ele ficava cada vez mais abatido, e em câmera lenta, sua cabeça rolou pelo chão, fazendo um tapete vermelho com seu sangue, para que seu corpo caísse em cima.
    Uma memória se estilhaçou enquanto o choque com a realidade parecia um soco na cara.
    — O… quê? – indagava a mulher assustada, vendo seu companheiro morto no chão – ei, você viu o que aconteceu? – perguntava desesperada, olhando para seu outro companheiro, igualmente caindo no chão.
    Antes que pensasse em uma resposta, ela apenas correu. Começou a dar seus passos desesperados pelo salão vazio, batendo em retirada, enquanto sentia seu corpo se despedaçar e dava seu último suspiro abrupto.
    Mônica, totalmente incrédula, viu aparecer em sua frente, como um fantasma que se tornava visível, aos poucos, aquele tímido menino.
    — 119…
    — Poupe suas palavras – dizia ele enquanto colocava o corpo paralisado da garota sobre seus braços e corria ao som da polícia.

    Já eram as primeiras horas da manhã do dia seguinte. Mônica acordava, não mais imóvel, em um dormitório. Ela passava a mão pelo seu corpo procurando ferimentos. Tudo estava bem. Olhou ao redor e percebeu que estava sozinha naquele quarto. Ela estava na academia, no dormitório masculino. A garota não pensou duas vezes antes de pular da cama. Abriu a porta e saiu correndo.
    Ela procurava por alguém.
    Com alguns minutos de busca, ela se viu no terraço, olhando para ele sentado na beira do prédio, encostado na grade e admirando o sol que começava a nascer. Mônica sentou-se ao seu lado. Os dois estavam em paz.
    — Que vergonha. Uma Promessa da Navalha sendo salva desse jeito... – Ela olhava para o pátio, desviando o olhar do menino. – Mas mesmo assim, obrigada. 
    — Eu também sou uma Promessa.
    — O quê? — Segundos de silêncio tomam o lugar. — Como alguém com sua reputação tem esse título?
    — Você estava desejando morrer, não estava? — A menina se entristeceu. — A maior lição que um assassino pode ter: – disse 119. – Não morra. Enquanto você viver, seu alvo estará sentenciado à morte. Por isso sou uma promessa da navalha. Não sou tão bom em matar. Ou, pelo menos, não quero matar. Mas sou ótimo em ver o sol nascer no dia seguinte.
    — Mas…
    — Meus parceiros morrem muito porque eu me recuso a participar das missões e tarefas. Eles morrem porque tentam fazer tudo sozinhos. Que nem você.
    — Por quê você me salvou? O que fez com que eu fosse diferente?
    — Eu tive muitos parceiros. Tanto eu, quanto eles tínhamos perdido nossos antigos colegas, mas, nenhum deles se importava com quem tinha vindo antes – 119 sorria enquanto lutava contra algo que o machucava, internamente. — Inclusive, eu fui desonesto com você. Desculpe! Eu não sabia como você estava se sentindo, hoje mais cedo. Ou ao menos, não exatamente. – Ele respirou fundo. – Eu nunca vi alguém querer morrer por causa de outra pessoa. Eu senti que você valia a pena. Eu não sei qual relação você tinha com esse tal de Eduardo, mas eu sinto muito.
    Mônica segurou a grade com força e abaixou a cabeça.
    — Eu perdi tudo – dizia ela com a voz tensa de quem tentava conter o emocional. — Eu perdi tudo, tudo.
    — Quando eu entrei aqui foi por meio de uma adoção forçada, sabe como é. Era o 118, eu e o 120. Éramos amigos inseparáveis, até o dia em que o 120 morreu. Nós sentimos que tínhamos perdido tudo também. – A menina prestava a atenção nele. – Foi difícil, mas em algum momento, 118 disse algo muito importante: não dá para perder tudo porque quando você perde o que você tem, o algo que resta é o seu novo “tudo”. Ele não é só uma sobra, agora é o todo.
    — Não sei se isso me ajuda…
    — Bom, eu só quero que saiba que, independentemente do que aconteça, vamos ser amigos. Eu vou tentar ser o seu tudo, assim como o Kai foi o meu.
    — Kai?
    — O 118. Eu não sei como, ele nunca me contou, mas ele descobriu o nome de batismo dele. Ele se chama Kai Heatmore. Tenho certeza que você vai gostar dele. Amanhã eu te apresento.
    — Ah, certo.
    — Não esqueça, Mônica. Você ainda tem o seu tudo em algum lugar. 
    Ela sorriu um pouco, mesmo que por dentro ainda estivesse destruída. Mas aquilo foi o suficiente para que ela seguisse em frente por mais um dia. Aquilo foi o que lhe restou. Aquilo, naquele momento, foi o seu tudo.

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