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Namorada de Mentirinha

Primavera

Primavera

Apr 15, 2025

Dois meses se passaram desde Hokkaido.

O inverno começava a dar lugar à brisa suave da primavera, e os corredores da escola estavam cheios de estudantes animados com os primeiros sinais da nova estação. As cerejeiras ainda não tinham florescido, mas os brotos começavam a surgir, tímidos.

Yamada caminhava pelo pátio com os livros sob o braço, o cachecol já deixado de lado, e o cabelo um pouco mais bagunçado do que o normal. Seus olhos ainda carregavam um certo cansaço — não físico, mas aquele tipo de peso que só o tempo consegue suavizar. Ainda assim, ele sorria mais. Falava mais. Estava presente.

— Ei, namorado. — Mami apareceu do lado dele, equilibrando um pãozinho com as mãos. — Comprei um extra. Metade é sua.

Yamada arqueou uma sobrancelha.

— Metade?

— Isso, eu mordo de um lado, você do outro. Igual nos romances.

— Você só quer me ver passando vergonha.

— Sempre.

Eles se sentaram no banco mais afastado do pátio, onde o sol batia com suavidade. Mami esticou as pernas, o pãozinho no colo, e olhou de lado pra ele.

— Você parece melhor.

— Eu tô tentando — ele respondeu. — Às vezes ainda sonho com ela. Mas agora… dói menos.

Mami não disse nada, só assentiu devagar. Depois, com um sorriso leve:

— Ela ia querer te ver assim, sabia? Seguindo em frente. Rindo.

— Eu sei. — Ele olhou para o céu, as nuvens se movendo lentamente. — Às vezes acho que ela ainda tá por perto. Não de um jeito triste, mas… tipo uma memória boa que fica.

— Ela tá, então. — Mami encostou o ombro no dele. — E eu também tô.

Yamada olhou pra ela. Mami riu de leve.

— Tô dizendo que tô do seu lado, bobão.

A manhã seguiu tranquila. Yamada participou das aulas sem bocejar tanto quanto antes, até fez um comentário sarcástico que arrancou risadas da turma de história — coisa rara.

Mami, como sempre, estava ao seu lado nos intervalos, dividindo doces escondidos e trocando olhares cúmplices com Yamada. Era fácil esquecer as partes cinzentas da memória quando ela estava por perto.

— Última aula é educação física — ela disse, com um sorrisinho.

— Eu odeio educação física.

O sol do fim de tarde já aquecia a quadra quando os alunos começaram a se reunir para jogar futebol. Yamada não era dos mais entusiasmados com esportes, mas Mami o arrastou junto.

— Se eu correr, você corre comigo — ela ameaçou.  
— Isso soa mais como chantagem emocional.  
— E funciona!

O jogo começou leve, todo mundo rindo, chutando errado, tropeçando nas próprias pernas. Até Yamada estava se divertindo — ou pelo menos fingindo muito bem.

Foi então que veio o chute.

Uma bola mal direcionada voou direto para a cabeça de Yamada. Ele nem teve tempo de reagir.

THUMP

A dor veio como uma martelada seca.

O mundo escureceu.

…

…

Quando abriu os olhos, Yamada sentiu o frio da neve sob seus pés.

As luzes da cidade de Hokkaido piscavam ao longe, e a noite envolvia tudo num silêncio calmo demais.

Ele piscou, confuso.

— O que…?

O som de passos suaves o fez virar.

Kaede.

Ali, na mesma calçada de dois meses atrás. Usando o mesmo casaco bege, o mesmo olhar gentil.

— Eu não esperava te encontrar aqui, Yamada.

— K-Kaede?!

O coração dele acelerou.

Tudo se repetia. Cada palavra, cada expressão. O frio na ponta do nariz, o barulho da câmera no pescoço dela, o sorriso leve quando ela disse:

— Eu tô morando em Hokkaido agora, o templo da minha vó fica por aqui.

Ele tentou falar algo, mas a garganta estava seca.

E então, a frase.

Aquela frase.

— Mesmo que só por hoje… eu queria andar com você de novo.

Yamada ficou paralisado. Era a mesma coisa. Palavra por palavra. O jeito como ela sorriu. Como se… como se já soubesse.

O mesmo passeio. As mesmas ruas. A mesma Kaede.

Era um sonho? Uma lembrança? Ou algo mais?

Mas então, como da primeira vez, tudo escureceu de novo.

...

Quando acordou, Yamada estava deitado no chão da quadra, um professor abanando seu rosto com uma prancheta. Mami ajoelhada ao lado, preocupada.

— Você tá bem?! — ela perguntou. — A bola bateu com força!

Ele piscou, atordoado, sentindo uma lágrima escapar sem perceber.

— Eu… eu sonhei com ela. O dia em que…

Mami apertou a mão dele, firme.

— Já passou. Tá tudo bem.

Yamada assentiu devagar, tentando convencer a si mesmo disso. Talvez tivesse sido só uma lembrança aleatória, um eco da mente.

Mesmo que só por hoje…

Talvez ela só tivesse dito aquilo por saber que ele não voltaria tão cedo para Hokkaido.

Talvez.

Mas a sensação de que havia algo a mais… ainda pairava no fundo do peito.

Yamada ficou mais alguns minutos sentado na borda da quadra, com uma garrafinha de água gelada na mão e Mami ao seu lado, calada, mas presente. O barulho dos colegas voltando ao jogo, a bola quicando no concreto, os gritos misturados com risadas — tudo parecia distante.

Mas, pouco a pouco, ele foi voltando.

— Ei — ele disse, limpando a lágrima que ainda teimava em ficar ali. — Não acredito que desmaiei por causa de uma bola.

— Eu sabia que você era fraco — Mami respondeu, aliviada por vê-lo falando.

— Fraco nada… isso foi só uma falha estratégica.

Ela riu e entregou um pãozinho que tirou do bolso do moletom.

— Tava guardando pro final da aula, mas você parece precisar mais agora.

— Tá meio esmagado.

— Amor e carboidrato vêm em formas imperfeitas.

Ele aceitou o lanche e deu uma mordida. Ficaram em silêncio por um tempo, apenas ouvindo o barulho da quadra e o vento fraco da tarde que balançava as folhas ao redor.

— Eu pensei que já tinha superado tudo — ele disse, encarando o chão. — Mas ainda tá aqui, sabe? Uma parte de mim… ainda presa naquele dia.

— Isso não é fraqueza — Mami respondeu, encostando o queixo no ombro dele. — É só porque você se importa. Mas você também tá aqui. Comigo. Com todos os outros dias que vieram depois.

Yamada respirou fundo. De alguma forma, ouvir isso da Mami fazia o mundo parecer mais firme sob os pés. Como se fosse permitido não estar 100% bem o tempo todo. Como se o fato de continuar tentando já fosse, por si só, um progresso.

Quando a aula acabou, Yamada já conseguia andar sozinho. O sol começava a se esconder por trás dos prédios e as sombras se esticavam pelo pátio.

— Vai pra casa direto? — Mami perguntou.

— Vou, sim. Prometi pra minha irmã.

— Uau. Responsável e tudo.

— Não se acostuma — ele brincou, colocando a mochila no ombro.

Mami o acompanhou até o portão. Antes de se despedirem, ela o puxou pela manga da blusa.

— Yamada?

— Hm?

— Mesmo quando você se perder um pouco… eu vou te ajudar a voltar, tá?

Ele olhou pra ela, e dessa vez, sorriu com leveza verdadeira.

— Eu sei.

E então seguiu pela calçada, com passos ainda cautelosos, mas firmes. O céu tingido de rosa acompanhava sua caminhada. E dentro do peito, um sussurro calmo.

Porque ele estava indo em frente.

Dois dias depois, as primeiras cerejeiras começaram a florescer.

Era tímido ainda — só alguns galhos mais ousados se cobriam de rosa pálido —, mas já era o suficiente para atrair olhares curiosos e estudantes tirando fotos para as redes sociais.

Yamada estava guardando os livros no armário quando ouviu a voz familiar atrás de si.

— Ei… tá fazendo algo depois da aula?

Ele se virou. Mami estava parada ali com as mãos nas costas, um sorriso que misturava nervosismo e animação.

— Não? Por quê?

— Pensei em dar uma volta até o parque. Disseram que as cerejeiras começaram a abrir lá. Só… eu e você.

Yamada hesitou por um segundo, mas depois assentiu.

— Tá. Vamos.

...

O sol já começava a se esconder quando eles chegaram ao parque. A brisa estava mais amena do que o esperado, e o céu ganhava tons alaranjados entre as nuvens finas. Os galhos de cerejeira balançavam suavemente, flores pequenas mas vivas, como se o mundo estivesse começando de novo.

— Tá bonito — disse Yamada, olhando para cima.

— Tá mesmo. — Mami caminhava ao lado dele, com as mãos nos bolsos do casaco. — Parece mentira que já faz dois meses, né?

— Às vezes parece que passou rápido. Outras, que foi uma eternidade.

Eles pararam perto de uma árvore ainda meio pelada, mas com um galho florido o suficiente para criar sombra.

Mami se sentou na grama, puxando ele junto.

— Sabe… — ela começou, olhando o céu. — Eu fiquei com medo, naquela vez.

— Do quê?

— De que você não voltasse. Que você fosse se fechar de vez, ou… me afastar. Eu não sabia o que fazer, só fiquei ali. Esperando que você me deixasse ficar.

Yamada ficou em silêncio por alguns segundos. Depois, suspirou.

— Eu nunca quis te afastar. Eu só… não sabia como respirar sem ela, sabe?

— Eu sei. — Ela virou o rosto pra ele. — Mas agora você tá respirando.

Ele a olhou. A luz do pôr do sol batia de lado no rosto dela, iluminando os olhos castanhos com um tom dourado suave. Era bonita. Sempre foi. Mas ali, naquele momento, ela parecia mais real do que tudo.

— Obrigado — ele disse, quase num sussurro. — Por não ir embora.

Mami sorriu, meio tímida.

— É que eu sou teimosa.

Ficaram em silêncio por um tempo. O tipo de silêncio que não incomoda, que preenche. Um galho florido caiu lentamente entre eles, uma pétala pousando no ombro de Yamada.

Ele se inclinou, devagar, até seus rostos estarem próximos o bastante para sentirem a respiração um do outro.

Mas, por algum motivo, não se beijaram.

Ficaram ali, com a testa quase encostando, olhos nos olhos, como se aquele instante bastasse.

— Ainda não, né? — Mami perguntou baixinho.

— Ainda não — Yamada respondeu. — Mas logo.

Ela sorriu.

E o vento soprou mais uma vez entre as flores, como se a primavera tivesse acabado de chegar pra eles dois.
Eyhwaaa
Eyhwa

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Sr. Maltines
Sr. Maltines

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Não ache que esquecemos da sua história, senhorita Eyhwa. Continuo na espera da continuação :D

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