A tensão estava no ar. A contagem dos pontos estava terminando. A professora Rubi estava pronta para dar a grande notícia.
Miyu estava muito tensa, a preocupação com o resultado era visível em sua expressão física. Naoko estava tranquila, sabia que tinha se esforçado na prova e agora esperava o resultado com atenção. Adonis estava um pouco ansioso, mas não demonstrava. Para quem o via de fora parecia que o jovem ruivo estava tranquilo.
A professora levantou o microfone, fez o olhar característico e provocador de quem tinha muito a revelar. Ela encarou a plateia, animada, entoando seus gritos de guerra e começou a dar as notícias:
— PREPARADOS? Este ano foi diferente dos outros, e por isso vamos começar... anunciando o Primeiro Lugar!!
Os alunos estavam atônitos, e um silêncio ensurdecedor tomou o ginásio. Todos estavam esperando para saber quem havia sido o aluno mais inteligente da escola. Após a pausa dramática, a professora Rubi continuou:
— Na primeira posição da prova de Perguntas e Respostas... NAOKO DOS OCEÂNICOS!!
A notícia foi recebida com muito ânimo e agito pelos alunos do terceiro ano do ginásio. Naoko comemorou sua vitória de maneira comedida, mas era possível ver que estava feliz. As turmas do Terceirão começaram a gritar em uníssono "UH! É TERCEIRÃO! UH, É TERCEIRÃO!", o mantra já conhecido e repetido todos os anos.
Mas os anúncios ainda não haviam terminado, e assim que os ânimos se acalmaram, a professora Rubi prosseguiu com o anúncio:
— É isso aí! O Terceirão comemora! Mas o anúncio especial é que neste ano, pela primeira vez, tivemos um empate! Adonis das Geleiras, Miyu dos Bombeiros! Os dois faturaram o segundo lugar!
As turmas comemoraram, a pontuação do segundo lugar valia mais que a do terceiro, então, de certa forma, as duas saíam ganhando.
Mas, ao olhar para os dois alunos mais inteligentes da escola, como eram conhecidos e comentados nos corredores, se percebeu que nenhum dos dois demonstrava muita alegria. Miyu estava atônita, paralisada. Já Adonis havia franzido a testa, mostrando que não havia gostado do resultado.
Passado o choque inicial, Adonis quebrou o gelo.
— Ei pequena, a gente empatou. — Adonis constatou, provocando.
— E o que tem? — Miyu perguntou, levemente chateada.
— Significa que ainda não resolvemos a nossa disputa! Mas eu vou pensar em algo! — Adonis provocou, mostrando a intenção de desafiá-la em seu tom de voz.
— Desencana disso! — respondeu Miyu, cruzando os braços e franzindo a testa.
A professora Rubi esperou os ânimos se acalmarem mais uma vez. E desta vez, seu semblante animado deu lugar a um olhar sério. Todos perceberam que ela tinha algo importante a dizer e se calaram.
— Agora temos mais um recado importante! A prova de desenho NÃO SERÁ CANCELADA! Aceitem que as pessoas desenvolvem habilidades diferentes. Se vocês não sabem algo e estão incomodados que alguém sabe, então tratem de treinar e aprender também!
Uma pequena pausa foi feita para que todos refletissem.
— E a vencedora dos paineis foi a equipe Bombeiros! — anunciou a professora Rubi.
Uma alegria tomou conta do coração de Yukino, que pela primeira vez sentiu que havia verdadeiramente vencido algo. Ela deu um leve sorriso e seu rosto corou. Não era comum que ela se mostrasse assim.
A Gincana Escolar finalmente chegou ao fim! E os resultados foram escritos em um papel kraft enorme, que ficou uma semana exposto, pendurado no mural do pátio.
RESULTADOS DA GINCANA:
1º - OCEÂNICOS
2º - GELEIRAS
3º - BOMBEIROS
Mais tarde, muitos cochichos começaram a percorrer os corredores. Foi Aino quem descobriu do que se tratava e correu para avisar ao grupo:
— Ah, mandaram avisar que todos os participantes vão ganhar 1 ponto na média por causa do empenho.
— Eu avisei! — provocou Yukino, acostumada com o funcionamento da gincana.
Planeta Finalia
Naquele dia, no denso Planeta Finalia, a sala de Ayami estava com visita. Passados tantos dias desde o início da missão, a soberana se encontrava impaciente.
— Algo para relatar depois de um mês na Terra? — perguntou Ayami.
— É um planeta bem curioso. Até que não é preciso muito tempo para se acostumar e agir como eles. Tem pessoas de diferentes tipos, mas tive sorte em ser acolhido rápido. Facilitou bastante pra levar os outros pra Terra. — respondeu Itzel, sentado no sofá grande e espaçoso da sala de Ayami.
— Mas e a demora? Já está me incomodando. Não te mandei para lá para ficar de turista. — reclamou Ayami, encarando-o.
Mesmo com a pergunta agressiva, ele foi capaz de manter a calma e continuar a responder:
— Com Adonis na escola, deve ficar mais fácil de encontrar elas. O problema é que tivemos o caso do Koa. Então precisamos ser discretos.
— Ah, sim... tem essa questão... Bom, Itzel, você é o que mais se adapta às situações... dê jeito nisso. Agora se retire. — A soberana finalizou a conversa.
— Muito obrigado, Lady Ayami! Agradeço o elogio!
Ayami ficou em sua sala, olhando fixamente para o planeta Finalia. Enquanto isso, Itzel se levantou do sofá, e foi em direção à porta, retirando-se.
Seguindo pelos corredores, ele acabou por chegar em um quarto com um puxador em formato de rosa.
— Rose, posso entrar? — perguntou, depois de bater à porta.
Rapidamente a porta se abriu. Rosália apareceu sorridente ao ter escutado a voz de seu amado.
— Itzel! Você voltou... — comemorou, mas sua fala foi rapidamente interrompida.
Ela o examinou da cabeça aos pés. Seu olhar denunciava o quanto estava chocada, com um ar de desgosto.
— Hum? Que roupas são essas, Itzel? — perguntou Rosália.
— Gostou? Comprei pra conviver com os terráqueos! Eles têm vários estilos, e eu gostei desse! — falou enquanto mostrava seu casaco preto de linha para ela.
Itzel parecia bastante animado falando sobre suas roupas, que eram mais arrumadas que o estilo que costumava utilizar quando morava em Finalia. Rosália, que a princípio não gostou, mas decidiu ceder ao ver a alegria de seu namorado.
— Bom, entre! — convidou.
Ela correu para dentro do quarto, tirou seus sapatos e subiu na cama. Depois começou a dar tapinhas de leve na coberta, como que convidasse Itzel a se juntar a ela.
— Por que não veio me visitar? Já faz quase um mês que não nos vemos. — perguntou, sorrindo.
— Tô ocupado com a missão. Assim que tudo tiver um fim, te busco, prometo. — disse Itzel enquanto retirava seu casaco.
Ele se sentou na lateral da cama, colocando seu casaco ao lado. Rosália se aproximou para fazer uma massagem. Ao escutar o que ele havia dito, perguntou surpresa:
— Me buscar?
— Tô me organizando. Logo consigo um lugar pra nós dois! Seria pequeno, pra um maior eu teria que ter outro emprego. — explicou seus planos para sua amada.
— Itzel, meu amor! Fizeram lavagem cerebral em você? — perguntou Rosália, chocada.
— Haha! Estou bem! Mas é que os humanos que conheci são legais! — respondeu em meio aos risos.
— Mas quem que gostaria de morar na Terra? — perguntou, incomodada.
— Bom, o ar de lá é melhor que o daqui. — explicou. — Além disso... Finalia está morrendo.
— Mas... Ayami nos prometeu um novo lar se nós tomássemos a Terra para ela. — contestou Rosália, abraçando Itzel.
— Mas será que é verdade? Você já ouviu que parece que ela destruiu um planeta? — indagou, segurando e acariciando a mão dela.
— Se isso fosse verdade, eu acho que ela seria punida. Devem ser boatos. — respondeu Rosália.
Rosália desfez o abraço e se colocou ao lado de Itzel, segurando no rosto dele, para beijá-lo.
— Eu só quero nós dois juntos, felizes, com duas crianças correndo pelo pátio de uma casa. — revelou Rosália, compartilhando seus desejos futuros.
— Duas crianças? — perguntou, se assustando um pouco. "Vou ter que trabalhar mais", pensou, mas não falou nada para não desanimar sua amada.
— Itzel... não vai embora... — pediu.
— Posso ficar aqui só essa noite. — informou.
Eles se beijaram apaixonadamente. Itzel a deitou com delicadeza na cama. Rosália estava achando ele diferente naquela noite, seu coração batia acelerado. Sentia que ele estava mais apaixonado, seus toques eram mais suaves. Não sabia se era porque estava com saudades, ou se ele realmente estava mudando.
Os passaram aquela noite juntos. No dia seguinte, se despediram, e ele seguiu para a Terra, sem previsão de quando voltaria a vê-la.
5 de abril na Terra, período da manhã, Colégio
Era uma segunda-feira pela manhã, horário da aula. O primeiro dia útil da semana, após a semana de jogos da gincana. Os alunos estavam preguiçosos e não muito animados para as aulas.
— E é isso, 1º ano! Matemática ao ar livre para sofrer menos. — comentou o professor.
O professor de matemática decidiu testar algo diferente naquele dia e levou os alunos para terem aula ao ar livre. O local escolhido foi a quadra aberta de basquete, que ficava ao lado da quadra coberta, de futebol.
— Barulho de bola... — disse um aluno.
— O 2º ano tá na educação física. — explicou outro aluno.
— Se fosse na sala, era vocês gritando. — rebateu outra aluna.
Era possível escutar o barulho da bola sendo chutada e dos alunos torcendo. O professor não parecia tão incomodado, pois realmente o barulho do jogo era menos irritante que a gritaria na sala de aula.
A aula estava seguindo normalmente. Os alunos estavam agrupados, fazendo seus estudos em grupo, quando de repente, um som alto e agudo foi ouvido. Era Adonis assoviando. Para quem? Não sabia, mas não demorou muito para ele se pronunciar.
— MIYU! — gritou Adonis.
Miyu levou um susto, seus colegas de sala a encararam, e ela ficou morrendo de vergonha por estar passando por aquilo.
— TÁ SURDA, MIYU? VEM CÁ! — gritou Adonis novamente.
Com dois chamados, não teve como ignorar, Miyu se virou e avistou o rapaz que a chamava para todos ouvirem. Ela se levantou de sobressalto. Estava bastante irritada, o que era difícil de se ver. Ninguém tinha conseguido tirar tanto sua paciência quanto Adonis em menos de um mês.
Miyu seguiu em direção a Adonis, os colegas de sala olhavam curiosos. Com seus punhos em riste, e sua postura rígida, tudo nela mostrava incômodo.
— Opa! Ouviu! — comemorou Adonis.
O jovem Adonis parecia nem perceber que a Miyu que vinha de encontro a ele estava irritada. Parecia que ele era completamente alheio à linguagem corporal; seu objetivo era chamá-la, e ele havia conseguido.
Ela se aproximou bem dele, com seus 1,50 m, enquanto Adonis com seus 1,75 m, a observava. Ela olhou para cima, franzindo sua testa, seus olhos verdes encaravam os olhos azuis dele.
— O que você tá fazendo? — perguntou Miyu com tom de indignação.
— Que foi? Só quero fazer uma proposta! — indagou Adonis para ela.
O tom de voz despreocupado do rapaz contrastava com a incomodação da garota. Que proposta Adonis teria que precisava de tanta urgência?

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