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Rostwood: O Último Lampejo (prévia)

Capítulo 1: Encurralados (4/4)

Capítulo 1: Encurralados (4/4)

May 18, 2025

— Calma, Sr. Allen, está tudo bem! — tranquilizou Hilbert. — Ele saiu há alguns minutos para ficar a sós com seus pensamentos.

— Hã?

— Ele está lá do lado de fora agora. Está um pouco emotivo.

De imediato, Artur saiu pela porta destrancada do moinho com embalo, sentindo o ar fresco da madrugada acariciar seu rosto suado, refrescando-o. A lua minguante brilhava suave, iluminando aqueles campos arejados, silenciosos e desprovidos de companhias indesejáveis.

Ele voltou seus olhos para a margem do rio e viu Harry em um estado contemplativo que jamais vira antes, seus olhos estavam fixos nas águas escuras, como se procurasse respostas nos movimentos suaves e intermináveis. Vê-lo bem e a salvo era uma das coisas mais reconfortantes que poderia lhe acontecer por ali.

O rapaz se aproximou lentamente, fazendo pequenos ruídos na grama úmida, atingida pelo sereno.

— Hey! Tá-tá maluco?! — O menininho não respondeu, seus olhos perdidos permaneciam repousados sobre aquelas águas frias que movimentavam o rodízio ao lado. — O-o-o que tá fazendo acordado, hein?! — insistiu. — Não… não pode ficar aqui, é perigoso!

Harry não se mexeu. Artur sentiu um calafrio, algo parecia mesmo perturbá-lo profundamente, a ponto de interromper o seu sono e de fazê-lo ignorar completamente o mundo ao seu redor. Seus olhos amargurados já diziam tudo.

— Hey! — Artur cutucou gentilmente o ombro do irmão, tentando trazê-lo de volta à realidade. — O que foi?

— Lembra… quando falei que te odeio? — perguntou o menininho de forma repentina e com uma voz suave.

— Como eu não lembraria? Me disse isso hoje o dia inteiro.

— Eu… eu não te odeio — acrescentou, sem desviar os olhos do riacho.

Já escutara aquilo antes. Seu coração continuava acelerado, mas aos poucos tornava a bater normalmente. Só de vê-lo respirando ao seu lado já era o suficiente para conseguir se acalmar.

Indiferente quanto aquela postura inusitada, o rapaz soltou um suspiro de desafogo e abraçou o irmão com um dos braços, enquanto se unia a ele àquela apreciação noturna.

O menino não queria soltá-lo nunca mais depois de passar pela experiência de instantes atrás, mas também não queria preocupá-lo com o que viera a ser um dos piores pesadelos que já tivera na sua vida.

— Eu sei que não — murmurou em resposta, acariciando seu ombro discretamente. — Sabe? Se é o caso, você não devia dizer essas coisas.

— Eu… eu sei.

— Porque uma hora vou acabar acreditando.

— Des… desculpa!

Diante daquilo, o rapaz sorriu.

— Olha, tá tudo bem! Não fica assim por isso.

A expressão no rosto murcho de seu irmão não mudou nem um pouco. O menino Allen se perguntava se aquilo era mesmo tudo o que o incomodava.

— Naquele cemitério e… e no porto, quando eu te vi lutando — continuou o menininho —, você parecia mesmo um guerreiro.

— Mesmo?

— É! E quando você jogou aquela charrete naqueles guardas. — Harry arregalou os olhos. — Puxa! Aquilo foi incrível!

— Erm… hehe!

Então era isso o que ele acreditava que havia acontecido? Artur bem queria possuir habilidades mágicas suficientes para tal. Embora não fosse a verdade, era bom ver seu irmãozinho reconhecendo finalmente a vocação dele após vê-lo em ação algumas vezes.

— Eu sei… que não foi culpa sua — continuou.

— O-o quê?

— Eu vir para essa ilha.

Aquilo o pegou desprevenido.

Esse era definitivamente um assunto que esgotara as energias daquele rapaz, mas dado o tom, dada a afirmação, não parecia prudente desconversar.

— Parte foi sim — admitiu, olhando para a pedra a qual era contornada por aquelas águas agitadas. — Mas detesto ter isso jogado na cara.

— É que eu… eu preciso descontar em alguém! — confessou Harry, apertando a túnica que o encobria.

— Isso é chato!

— Eu… eu sei! — murmurou, recuando o rosto.

Após um momento efêmero de puro silêncio, acompanhado pelo crocitar de corujas repousadas sobre o telhado ao lado, Artur retomou um sorriso gentil em seus lábios e respondeu:

— Prefiro mil vezes aguentar a sua chatice do que te perder, sabia? — disse, tentando aliviar a tensão. — Ficar aqui com você me faz entender um pouco mais o papai. O medo de perder alguém que a gente ama torna tudo mais difícil — acrescentou pensativo, enquanto abraçava com mais força aquele garotinho. — Sabe de uma coisa? Eu meio que pensei em propor pra você uma coisa depois que embarcássemos naquele navio.

— O-o quê?

— Nenhum navio que sai daqui vai direto para Calvária, aquele não era diferente. Eles vão geralmente para Kingshill, teríamos que pegar outro para aí, sim, chegarmos em casa.

— E o que tem?

— Eu estava pensando… ao invés de irmos para casa… na possibilidade de, sei lá… ficarmos por um tempo por lá, ao invés de voltar para o papai.

— Na capital? — espantou-se. — Longe de casa?

— Meu maior problema não é ter que deixar Rostwood, Harry. É ter que voltar para onde tudo começou — afirmou convicto. Em seguida, ele desviou seus olhos para as distantes luzes do vilarejo e acrescentou: — Mas deixa pra lá! Já mudei de ideia de novo. Se for para partir, que seja para Calvária mesmo.

— Como assim, se for para partir? — repetiu.

Artur olhou para a lua distante com uma expressão confiante.

— Vamos contornar toda essa situação e vamos pra casa, como você quer. E tudo vai voltar a ser como era antes.

— É… sério?!

— Esse não é lugar para você, nunca foi. Seu lugar é lá com o papai — admitiu o rapaz com naturalidade. — Mesmo se tudo desse certo desde o início com James, eu estava disposto a ir embora com você de… de alguma forma. Eu já tinha me decidido antes.

— Mas… e você?

— Eu?

— É! Isso quer dizer… que você vai sair também? Faria isso por mim?

— É claro, idiota! — respondeu com firmeza. — Você é meu irmãozinho!

— Mas aí… você ficaria bravo, né?

— Bravo?

— Sim. Me… odiaria por isso.

— Isso jamais vai acontecer! — respondeu gentilmente, puxando sua cabeça em um afago sutil.

— Você jura?

— É claro que juro!

— É que… não quero que você desista de mim também. Como… o papai fez.

Artur desfez seu sorriso de imediato e se virou para encará-lo.

— Papai não desistiu de você! Que droga é essa, hein? Isso… isso é só por causa daquela estupidez dele no porto? É isso?

— Não… não é só isso!

— Então o que é?

— Papai… nunca me tratou do jeito que trata você. Toda essa preocupação, toda essa atenção que… eu nunca tive.

O rapaz arregalou seus olhos.

— Você não dava motivos para ele querer se preocupar, diferente de mim.

Harry balançou a cabeça, ainda não convencido.

— Quantas vezes ele perguntou de mim nas cartas? — perguntou o menininho elevando o tom, o mais velho travou sua voz. — Ele… só se interessou em receber cartas minhas quando descobriu que você mentia nas suas! — Não conseguindo mais segurar o choro, ele começou a recuar os passos.

— Harry…

— Ele nem pensou duas vezes em me querer longe — continuou, enquanto suas lagrimas brotavam e riscavam a bochecha. — Ele… ele…

— Ele disse que te ama na última carta que recebi, idiota! — Irritou-se Artur, cerrando os punhos.

— Mas ele… nunca disse isso pra mim.

O rapaz sentiu um profundo aperto no peito, realmente não conseguia se recordar de tal episódio no passado. Ele sabia que o pai tinha suas falhas, mas ouvir isso de Harry era devastador.

— O-o-olha, Harry. Ele… ele…

— Eu sei… — disse enquanto, desamparado, enxugava o pranto com a manga da veste. — Você… também sabe!

— O quê?

— Que papai… no fundo… sempre me culpou… pela morte da mamãe.

Era realmente terrível escutar aquilo. Harry soluçou e suas lágrimas finalmente caíram livremente.

Bervely Allen dera a vida para tê-lo, ele não deveria se culpar por aquilo jamais, muito menos ser culpado por terceiros e menos ainda pelo próprio pai.

Porém, por mais terrível que pudesse parecer, a amargura e o descontrole de uma alma atormentada  poderiam causar sofrimentos irremediáveis a pessoas inocentes.

Artur não se via capaz de admitir que aquilo era algo que ele mesmo também desconfiara sutilmente tempos atrás. E agora, ao ver que seu próprio irmão conseguira constatar sozinho aquela terrível suposição, ele também não conseguia encontrar meios de defender, nem por um minuto, Larry Allen.

O menino puxou o irmãozinho, de modo que pudessem se entreolhar face a face, mas as lágrimas compulsivas dele impedia que isso acontecesse.

— Eu… eu só tenho você! — dizia, enquanto continuava a esfregar os olhos sofridos com ambos os bracinhos. — É por isso que eu… que eu não… não quero me odeie também!

O rapaz o abraçou de um modo que nunca fizera antes, sentindo-o soluçar e derramar mais lágrimas em seus ombros.

— Isso nunca vai acontecer, nunca! — Artur respondeu com a voz firme, mas cheia de emoção.

Sabia que não podia mudar o passado, mas podia tentar curar as feridas do presente.

— Eu sempre vou estar aqui para você, não importa o que aconteça. Eu te amo, e isso nunca vai mudar.

Sentir aquelas lágrimas o tocarem era doloroso, estavam sozinhos, encurralados, no fim do mundo, unidos e, ao mesmo tempo, distantes, perante um destino incerto e cruel de todas as perspectivas.

Porém, o jovem Allen se recordava do que dizia Wigley: “Depois da escuridão, sempre vinha a alvorada”. Era nisso que ele desejava, mais do que tudo, acreditar.

Que a alvorada então viesse e que ele pudesse apreciá-la ao lado da pessoa mais importante de sua vida. Em um mundo em que lágrimas já não mais existissem, nem a dor provocada por feridas insistentes de um passado sombrio.

Que um último lampejo surgisse, naquela mais profunda escuridão.

 

∴

(FIM DO CAPÍTULO 1)
walterjscoutinho
Walter J.S. Coutinho

Creator

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Capítulo 1: Encurralados (4/4)

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