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Trilha de Lágrimas

Capítulo 7

Capítulo 7

May 27, 2025

Só percebi que estava morto de fome quando o jantar chegou. O cuscuz com banana-da-terra estava maravilhoso, apesar de sentir falta da manteiga e do ovo para acompanhar. Em Pristine não se consumia nada de origem animal.

Era compreensível que, em um mundo pós-apocalíptico, alimentar-se de animais ou monstros era altamente perigoso, pois o risco de a carne ser tóxica era alta, e era muito difícil de purificar. Por essa razão, o Culto da Luz mantinha fazendas especiais, onde o solo era constantemente purificado por Guias, para garantir comidas saudáveis. Nesses locais era proibida a criação de animais para consumo ou exploração. Os únicos animais permitidos em Pristine eram os espirituais.

Dizem que a fome é o melhor tempero, e deve ser verdade, pois até o leite de soja sabor uva, que eu costumava torcer a cara quando via no mercado, estava delicioso! Comi muito rápido e senti meu estômago reclamar. O meu corpo, ou melhor, o corpo de Spes tinha sofrido mudanças drásticas, e mesmo eu estando em posse dele, ainda sentia a tristeza profunda por ter perdido Ignis. Admito que não era só a essência de Spes que de alguma forma me influenciava; eu também me sentia triste por perder Ignis.

Passei por aquele luto sete vezes lendo o livro e achei que não me abalaria tanto, mas a verdade era que ver a cabeça de Ignis sumir e o seu corpo se debater até ficar totalmente sem vida era algo que nenhum livro me preparou a vivenciar. Os poucos momentos que passei com Ignis foram preciosos para mim e vou guardá-los com carinho. Cuidarei de Mox e manterei a chama de Ignis sempre acesa em meu coração.

Apesar do cansaço, eu não conseguia dormir. A dor era o menor dos meus problemas. Ao menor dos ruídos, eu me encolhia sob os lençóis, imaginando que eram Sentinelas invadindo o meu quarto no meio da noite para me aprisionar em uma cela. As imagens de Spes trancafiado em um cubículo grotesco enchiam a minha mente, assim como todas as dores pelas quais ele passou durante e após os experimentos.

Aquele período foi terrível de ler, e eu certamente não gostaria de vivenciar.

Quando não era isso, era Doutor Castelo se esgueirando pelas sombras e me arrastando, ainda desacordado, para o buraco fétido em seu apartamento. Eu acordando atordoado, não só com um Torquem no pescoço para bloquear os meus poderes, mas também com todos os membros acorrentados. O corpo nu e exposto. Eu não passaria de um objeto na mão daquele homem cruel.

O fato de ser um Excluído estava me atormentando. Minha imaginação, que costumava ser meu refúgio, passou a ser meu suplício.

Ler algo seria uma boa distração.

Apertei o botão para chamar alguém da enfermaria, e uma moça veio logo em seguida.

— Em que posso ajudá-lo?

— Vocês teriam um livro que possa me emprestar? De qualquer gênero, só quero me distrair um pouco.

A mulher ficou paralisada, olhando para mim como se eu tivesse dito uma barbaridade. Até que eu lembrei o que eu de fato tinha dito. Livros eram proibidos em Pristine, exceto pelo Sacrum, onde eram passados os ensinamentos do Culto da Luz. Todo cidadão aprendia a ler através dele, e mesmo assim, existiam raríssimas versões físicas. Todos os outros estudos eram feitos através de videoaulas. Apenas os pesquisadores do laboratório da Mansão Sagrada tinham acesso aos artigos científicos, todos digitais, claro. Em um mundo destruído pelo desmatamento desenfreado, usar papel era proibido.

— Quero dizer… eu não tenho um relógio holográfico ainda, e não vou conseguir assistir nada porque a claridade vai incomodar o meu olho. Onde posso ler o Sacrum por aqui? — tentei disfarçar.

— Ah… — a enfermeira me analisou desconfiada — Você é novo na Mansão Sagrada, não é?

Acenei, mesmo sabendo que era apenas uma pergunta retórica.

— Vou te mostrar o que essa belezinha pode fazer — ela apontou para um monitor ao meu lado, aquele com os fios ligados ao meu peito. — Você pode pedir para acessar o Sacrum, e uma tela vai aparecer na sua frente. Essa função foi instalada pois a palavra sagrada costuma acalmar os pacientes.

— Alexa, acessar Sacrum — brinquei, vendo a enfermeira me olhar torto mais uma vez.

— Alexa? — a enfermeira estava claramente confusa com a minha maneira de falar com a máquina.

— Esse é o nome carinhoso que eu dei para ela — sorri, tentando amenizar a situação, mas sabia que a enfermeira estava achando que tinha algo errado com a minha cabeça.

Olhei para a tela flutuante à minha frente. Estava em uma posição excelente, com claridade perfeita e a fonte com tamanho ideal para minha visão, mas ainda tinha um problema. Eu não entendia nenhuma daquelas palavras.

Minha cabeça ainda doía e eu não conseguia pensar direito. Será que era por isso que a minha atividade preferida estava me incomodando tanto? Espremi os olhos e o formato estranho das letras não se encaixava no que eu conhecia. Será que meu olho esquerdo também tinha sido afetado de alguma forma?

— Algum problema?

— Eu… Hmm — encarei a tela por mais um tempo. Minha visão do olho esquerdo parecia normal, era eu que não sabia ler o que estava naquela tela — Minha visão está mais borrada do que imaginei — falei, envergonhado — Será que posso ouvir ao invés de ler?

— Claro, você pode pedir para ele recitar também, mas você não prefere ouvir as lutas? Hoje teve batalhas épicas na série D, sempre são emocionantes, mas a de hoje? Foi colossal! — a enfermeira parecia realmente empolgada com a demonstração de força entre Sentinelas, o que era compreensível, já que era o único tipo de esporte em Pristine.

— Obrigado pela sugestão, mas eu prefiro algo menos agitado no momento — expliquei, tentando não deixá-la desconfortável com a sua paixão. — Alexa, recite o Sacrum.

— Nossos antepassados eram pessoas que viviam em eterno pecado. Destruíram a si mesmos, os seus irmãos e até mesmo a terra onde viviam — disse uma voz feminina aveludada, muito mais bonita que a da Alexa real.

— Eu posso mudar a voz? — se a voz daquela máquina parecia tão real, deveria ter mais opções.

— Claro.

— Alexa, mudar para voz sexy masculina — pedi, sem muita esperança. Por ser algo considerado sagrado, duvidava que teria algo sensual relacionado.

Eu estava errado. Diria que erradíssimo, até.

— Irritado, Deus abandonou os humanos. Sem Sua graça, o mundo foi tomado por caos, e não demorou muito para que a humanidade entrasse em decadência — a voz grossa e rouca soou e senti meu corpo esquentar, era como se sussurrasse em meu ouvido.

“Será que alguém bate uma ouvindo o Sacrum?”

— Hum… mais alguma coisa? — perguntou a enfermeira, que parecia tão corada quanto eu devia estar.

— Não, obrigado por sua assistência.

A enfermeira se retirou com passos acelerados, enquanto eu repousava ouvindo aquela voz me seduzir. Os dizeres eram os mesmos recitados pela Prioresa durante o batismo, entretanto o tom não era monótono e arrastado como o da bruxa velha. O som era baixo, rouco, sensual e me fazia vibrar. Era tão impróprio! Eu estava amando! Era tudo que eu precisava para me distrair.

Tentei relaxar, apesar de me sentir muito idiota por não saber que o idioma falado e o escrito eram diferentes em Pristine. Eu achei que sabia tudo sobre aquele lugar. A autora nunca foi confiável, eu fui enganado por ela tantas vezes, principalmente enquanto lia Jogo Perverso. Por que eu insistia em acreditar em tudo que ela escrevia? Ainda faltavam vários spin-offs, é claro que eu não teria como saber tudo sobre esse universo!

Devia ter imaginado que teria algo diferente na escrita, já que estava muitos e muitos anos no futuro. Além do fato da língua ser mutável e evoluir com o tempo, Pristine tinha influências totalmente diferentes. A cidade ficava em algum lugar do Brasil, mas os seus habitantes vinham de todos os cantos do mundo, quase uma Torre de Babel com forte influência tupiniquim. Por isso eles falavam português, mas sua escrita era algo que eu não conhecia.

Precisava urgentemente arranjar uma forma de ser alfabetizado na língua escrita de Pristine. Só assim eu poderia investigar a fundo o que acontecia de fato naquele lugar. Ainda existiam muitas coisas sobre a sociedade que eu não conhecia, e a principal delas era o porquê fui invocado.

No final de Trilha de Lágrimas, Spes e Lux pereceram, mas conseguiram libertar os Excluídos e transformaram a sociedade em algo mais igualitário onde Sentinelas não eram mais vistos como demônios, e até os civis ganharam mais direitos. Claro que era só o começo de uma grande revolução, e por isso teria o spin-off do casal secundário. Mas isso não explicava o que eu precisava fazer para salvar Pristine.

Algo me dizia que eu precisava ler os documentos ocultos da Prioresa e descobrir o motivo dela ter aberto aquele maldito portal. E depois eu iria vingar a morte de Ignis, é claro.

Revisão Ortográfica por: Isabella Viard

Ganhei uma Fanart 😭!!!! 


Obrigada Aelius por esse desenho maravilhoso do Spes!



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Creator

Salvador é um safado mesmo, até pra ouvir a palavra sagrada (sem julgamentos aqui, apenas uma constatação)

Tenha acesso a três capítulos antecipados, extras, ilustrações e muito mais fazendo parte do Pittyverso

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Agora me diz: se você fosse Salvador, qual voz você escolheria para ler o Sacrum pra você?

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Trilha de Lágrimas
Trilha de Lágrimas

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“Eu juro que nenhum sacrifício será em vão! Eu vou salvar o amor de Lux e Spes! Vou salvar Pristine! Vou dar um final feliz para essa história!”

Eu era um típico leitor, que prefere mais o mundo da fantasia do que a realidade. Frequentemente ficava obcecado por um gênero e devorava vários livros. O vício da vez era: Guideverse. A mistura de fantasia com ficção fazia os Sentinelas e Guias se tornarem extremamente fascinantes. Entre novel e quadrinhos, li mais de 100 obras com aquele tipo de universo e entre eles estava o meu livro conforto, Trilha de Lágrimas, que era nada mais nada menos que um Doomed Yaoi, e sempre que lia, de fato, eu deixava uma trilha de lágrimas pelas páginas.

Nunca fui de acreditar em magia, ou em religião, mas depois de uma semana pesada no trabalho, reli a história sobre aquele amor tão lindo entre Spes e Lux se tornar uma tragédia pela sétima vez, e pareceu doer mais do que todas as outras, então eu rezei. E alguém me ouviu.
Uma voz disse “Seja o nosso Salvador” e fui transportado para Pristine, o Reino Gótico Futurista onde os protagonistas viviam. Me vi no corpo de Spes minutos antes dele se tornar um excluído. Era a oportunidade perfeita de mudar o rumo da história e dar um futuro feliz para os protagonistas!

Mas será que eu, um mero leitor, seria capaz de mudar o destino?
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