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O Sétimo Silêncio

CAPÍTULO 1 — O SÉTIMO SILÊNCIO

CAPÍTULO 1 — O SÉTIMO SILÊNCIO

Jun 16, 2025

Dia 1 em Kurokawa Heights.

O Kurokawa Heights não pertencia àquele bairro de Tóquio. Não se encaixava.
Era como um sussurro fúnebre em meio ao burburinho da cidade.

Espremido entre arranha-céus de vidro espelhado, o prédio parecia um sobrevivente de outra era. A fachada de tijolos enegrecidos se desmanchava em rachaduras que serpenteavam como cicatrizes antigas. A placa da entrada — “Kurokawa Heights” — estava tão desbotada que parecia mais uma ameaça do que uma identificação.
Ou um epitáfio.
Da penumbra da entrada, uma figura o observava. O zelador, um homem de ombros curvados e rosto vincado pelo tempo, estava parado, quase misturado à decadência do salão. Ele não acenou nem demonstrou surpresa. Apenas assistiu Ren chegar com um olhar resignado, o olhar de quem já viu aquela cena se repetir incontáveis ​​vezes. Ren Takeda sorriu ao vê-lo.

“Moradores que desaparecem... vozes no sétimo andar... portas que trancam sozinhas...”

Ele havia lido tudo. E como bibliotecário com alma de investigador do oculto — ou vice-versa — aquilo era quase uma carta de amor.

O táxi parou a dez metros da entrada, mas o motorista não desligou o motor. O carro vibrava como um animal encurralado.
— É aqui. — A voz dele saiu rasgada, e os dedos não tamborilavam — arranhavam o volante, lentos, como se estivessem escavando algo podre da borracha. — Mas não passo daqui. Esse lugar... — Ele finalmente olhou para Ren pelo retrovisor. Os olhos eram muito claros, quase sem íris. — Ele já sabe que você chegou.
Ren abriu o caderninho. A página cheirou a mofo e ferro, e ele anotou, com a letra mais firme do que sentia:

"Motorista não me olhou. Não é medo. É reconhecimento."

Lembrou da avó. Foi ela quem o ensinou a perceber quando o medo vinha de dentro — e quando vinha de algo maior. Ela via sombras nas paredes. Dizia que algumas portas se abrem só para quem tem silêncio demais nos olhos.

Ajeitou os óculos. Respirou fundo. E saiu do carro.

Acima dele, uma janela se abriu no sétimo andar.

Hayato Muraoka observava em silêncio. Do 702.

Há exatamente um ano, ele havia alugado aquele apartamento por motivos racionais: preço acessível, proximidade do escritório, e a esperança — ingênua, talvez — de viver sem drama. Os boatos sobre o prédio? Palhaçadas.
Até o prédio começar a respirar.

Primeiro, foi a arquitetura que não fazia sentido.
Depois, os sons. Os cheiros. Os silêncios.

E agora… o recém-chegado.

Cabelos escuros, ondulados até o queixo. Mochila pesada nas costas. Passos firmes. E um sorriso indecifrável, como se já soubesse.
Hayato apertou o anel preto que pendia de seu pescoço. Presente do irmão.
Relíquia, proteção ou ilusão?

“Mais um curioso”, pensou. Mas não desviou os olhos.

E então, o homem levantou o rosto, e olhou direto para ele.

Não como quem procura uma janela... Mas como quem procura alguém.

Hayato sentiu o arrepio subir pela espinha.


Sete andares. Arquitetura discreta, porém, marcante. Nenhuma planta na entrada. Nenhuma recepção calorosa. Só concreto e silêncio. Um silêncio quase sólido, que parecia se acumular nos cantos.

Enquanto subia até o sétimo andar, Ren segurava com força a chave em uma das mãos. O 703. O anúncio dizia que era um dos poucos apartamentos ainda vagos. "Negociável", dizia o preço, quase como um sussurro tentador. Demais até.

O elevador do Kurokawa Heights era antigo, com portas de metal que rangiam ao abrir. Parecia um caixão em pé. Ren entrou com o gravador ligado.

"Temperatura: 5°C abaixo da média. Odor: mofo + doçura metálica (sangue seco? mirra?). Porta arranhada — como garras ou unhas humanas."

Portas se fecharam com um rangido. E eles abriram no sétimo andar com um suspiro.

Quando chegou ao andar, um frio percorreu sua espinha. Não de medo, mas de desconforto. Aquele tipo de sensação que o corpo entende antes da mente.

O corredor  respirava . Não era vazio — era  cheio demais , como se as paredes tivessem engolido gritos antigos e agora os digerissem em silêncio.
Ren pisou devagar. Seus tênis grudaram no chão com um estalo úmido, como se o prédio lambesse suas solas antes de deixá-lo avançar.

Ren caminhou até o 703. Foi quando a porta do 702 se abriu.

Hayato surgiu como uma sombra. Postura impecável. Roupas neutras, mínimas, elegantes. Cabelos penteados com precisão matemática. A antítese do caos em volta.

— Você... vai mesmo morar aí? — perguntou ele, sem rodeios.

Ren deu aquele sorrisinho de lado — não dizia nada, mas deixava no ar mil possibilidades.

— Ren Takeda. Bibliotecário. E... curioso por natureza.

— Hayato Muraoka. Arquiteto. — Os olhos dele examinaram Ren com cautela. Mochila, óculos, fita vermelha amarrada.... Cada detalhe, um enigma. — Moro aqui há um ano.

— Ah. Então você já ouviu as histórias do 703? Dizem que é mal-assombrado.

Hayato revirou os olhos, mas os dedos encontraram o anel no pescoço tão rápido quanto um reflexo — a corrente estava fria. Mais fria que o normal.

— Dizem. Mas se você veio brincar de caça-fantasmas...

Antes que terminasse, uma voz sussurrou. Quente. Úmida. Íntima.
Como um segredo soprado direto no ouvido:

— Você voltou.

Ambos congelaram.

A voz era familiar para Hayato. Familiar demais.

Ren, por outro lado, sorriu, com um brilho perverso nos olhos.

— Isso... foi o prédio?

Hayato olhou para a porta entreaberta do 703.
Algo respirava ali dentro. Algo que não devia estar vivo.

— Não — a voz de Hayato saiu rouca, como se algo apertasse sua garganta por dentro. — Foi ela.

Um som cortou o ar.
Algo se arrastava. Lento. Molhado. Como se viesse... do teto.

E ambos ouviram.

— Interessante. Sussurrou Ren, enquanto caminhava até a porta do seu novo apartamento.

...

A porta do 703 parecia igual a todas as outras, mas a tinta ao redor da maçaneta estava levemente descascada, como se muitas mãos tivessem hesitado ali.

Ao girar a chave e empurrar a porta, Ren sentiu um leve estalo, como se a casa respirasse. Como se dissesse: "Você entrou."

O apartamento estava vazio. Silencioso demais. O tipo de silêncio que não é ausência de som, mas presença de algo que ainda não se revelou.

Os cômodos eram amplos, mas escuros. A luz do fim de tarde entrava pelas janelas em ângulos estranhos, desenhando sombras longas e tortas nas paredes.

Havia um espelho antigo encostado em uma das paredes da sala. Aparentemente esquecido por alguém.

Ren deixou a mochila no chão e se aproximou. O espelho era emoldurado em madeira escura, com pequenas rachaduras nas bordas do vidro.

Quando se olhou, sentiu um leve desconforto — como se o reflexo demorasse um segundo a mais do que deveria para responder.

“Dramatizando”, ele murmurou, passando os dedos pelos cabelos. Ainda assim, evitou olhar de novo.

O banheiro cheirava a mofo. Nada forte, mas presente. A água demorou para sair da torneira, e o som dos canos parecia ecoar mais do que o necessário. Como se houvesse mais espaço atrás da parede do que o apartamento permitiria.

No quarto, um armário embutido com portas rangentes. Vazias. Mas no fundo, um cheiro doce e antigo. Chá? Perfume? Ou lembrancinha?

À noite, o silêncio do sétimo andar se tornou mais denso. Ren, deitado no colchão inflável que trouxe, encarava o teto.

Foi quando ouviu.

Um som seco. Três batidas. Vindas da parede atrás do espelho da sala.

Ele prendeu a respiração.

Nada. Nenhum outro som.

Ele se levantou, devagar. Caminhou pelo corredor como quem pisa em memórias de outra pessoa. Quando chegou à sala, o espelho ainda estava lá. Mas levemente inclinado. Como se ele tivesse se mexido sozinho.

Ren se aproximou. O reflexo parecia normal — até ele perceber algo que não havia reparado antes:

Uma marca de mão.

Pequena. Como se uma criança tivesse encostado do lado de dentro do espelho.

Ele recuou, com o coração disparado.

De volta ao quarto, tentou dormir. Mas o som das batidas ecoava na mente. E quando finalmente caiu no sono, sonhou com uma boneca.

Sentada no meio da sala.

De porcelana rachada.

Chorando sem emitir som.

Na manhã seguinte, Ren acordou antes do despertador. Sentou-se na cama e ficou em silêncio por longos minutos.

“Bem-vindo, 703”, ele sussurrou, com um sorriso leve, cansado. “Vamos ver quem cede primeiro.”

 

 

 

 

 

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Luna Mori

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No sétimo andar de um prédio antigo em Tóquio, o tempo não passa - ele espera.
Ren Takeda, um bibliotecário fascinado por fenômenos sobrenaturais, muda-se para o apartamento 703 do Kurokawa Heights, um prédio cercado por boatos de desaparecimentos e vozes que surgem sempre às 3h17. O que era curiosidade se transforma em algo mais denso quando ele conhece Hayato Muraoka, um arquiteto marcado pela ausência do irmão, Yuki, que desapareceu anos antes... nesse mesmo prédio.
À medida que os dois se aproximam, descobrem que o edifício carrega mais do que lendas: carrega fragmentos de uma mulher esquecida, Sayuri - uma entidade que não busca vingança, mas existência. Vozes, bonecas, reflexos impossíveis e lembranças que não são suas os guiam por corredores cada vez mais estreitos entre o real e o impossível.
Entre rituais inacabados, segredos enterrados e sentimentos que crescem mesmo em meio ao caos, Ren e Hayato se tornam mais do que sobreviventes - se tornam peças fundamentais de um eco antigo que só quer ser ouvido.

Porque Sayuri não foi silenciada. Só está esperando que alguém escute.
Mas o que acontece quando alguém finalmente a ouve?
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