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sereno [PT-BR]

7.1

7.1

Jul 05, 2025

Sabe o que é o pior de tudo? Depois de causar todo esse clima terrível, ele ainda vai ter que lidar com o casal Prater de novo amanhã. Não tem nem para onde fugir. O jeito é torcer para que a mãe de Mikael não seja o tipo de pessoa que guarda mágoa. Ele até oferece ajuda para sair do carro quando chegam no hotel, mas caso ela não goste de atenção, é capaz disso ter o efeito contrário. Gustave não culpa os curiosos que os encaram. Não é todo dia que você vê uma viatura parada na porta do seu trabalho, com uma madame sendo escoltada como se estivesse saltando de uma limusine. Entretanto, uma vez que as malas são levadas e os Prater se despedem, isso não é mais problema dele. Agora, ele só tem mais uma obrigação a cumprir.

— Você não tá de folga? — Bouchard não-cumprimenta do outro lado da linha, após atender no primeiro toque.

— Também achei, mas a Major mudou de ideia. Nada a ver, mas você lembra da última vez que eu te fiz um favor?


Veja bem, essa foi a melhor escolha possível para a situação. É quase hora do rush, e as ruas no entorno da delegacia têm um tráfego tenebroso. Gustave quer o máximo de distância possível desse caos, então opta pelo conforto: dirige o sedã até em casa e manda Bouchard vir buscar a viatura. O tenente faz pedidos bem piores o tempo todo, então é justíssimo. Além do mais, ele já estava na rua patrulhando, e Gustave prometeu que pagaria o Uber, então o panaca não tem nem argumento para reclamar.

Para não atrapalhar o fluxo, estaciona o carro em frente ao prédio dele, do outro lado da rua. Essa escolha não tem nada a ver com o fato de que precisará passar alguns minutos esperando bem na porta da casa de Émile, mas é por isso que Gustave salta do sedã. Quer uma chance melhor do que essa? Ele deve chegar do trabalho a qualquer momento. E cá está Gustave, mais bem vestido que o normal, encostado contra uma viatura. Apesar de estar meio caidinha, a postura de policial nunca falha em impressionar. 

Isso é, caso Émile tenha saído de casa hoje, né? Se também estiver de folga, é bem plausível que esteja lá dentro agora. Se ele chegar na janela…

Gustave dá uma olhada discreta por cima do ombro. Nenhuma luz acesa. Ou ele ainda está na faculdade, ou… pensando bem, como será que Émile passaria um dia de folga? É o tipo de assunto neutro o suficiente para puxar com o professor quando a oportunidade e a intimidade surgirem.

Se Gustave tivesse que adivinhar, ele chutaria que Émile é o tipo que prefere passar o tempo livre no conforto do lar. Gastaria uma tarde em filmes estrangeiros, sem necessidade de adiar ou parar no meio para resolver coisas, porque ele não deixa o trabalho acumular. Mesmo que ele acorde um pouco mais tarde que o normal, não tem problema. Se o clima estiver bom, quem sabe ele não daria uma voltinha depois de comer? Talvez uma caminhada na feira, ou um pulinho no museu. Será que ele levava a mulher ao parque enquanto ainda estavam namorando? Será que ele não sente falta da época de solteiro, ou pelo menos deseja algo diferente de vez em quando? Será que ele não gostaria de alguém para se acomodar contra quando ele tá analisando aqueles monólogos britânicos intermináveis? Eles sempre falam tanto e não dizem quase nada, fica um silêncio no quarto, Émile começa a se entediar, se vira para Gustave, suas mãos sobem pelo seu peito nu, seus dedos gelados se firmam contra sua mandíbula, lábios úmidos no queixo dele…

Porra…

Ele precisa demais tirar essas coisas da cabeça. Gustave mal conhece o cara. Eles só conversaram por alguns minutos sobre coisas do trabalho, e ainda assim, o policial não consegue parar de pensar nele. Tá, ele é bonito, mas nem faz tanto assim o tipo de Gustave. Esse nível de obsessão não faz sentido, chega a assustar. Mas também assusta um pouco o nível de coincidência neles serem vizinhos, e Gustave até que tem ido bem em se restringir em relação a esse desejo súbito, mas…

Até ele tem limites no quanto quer acreditar nesta sequência de coincidências. Ele não tem como chamar o que sente de “amor à primeira vista”, mas precisa ter algum motivo para não conseguir tirar Émile da cabeça. Ele nem tá tão carente assim, muito menos em abstinência, sabe? Gustave não precisa mais fazer tudo escondido pelos cantos, como foi durante a época em que era casado.

Se bem que, sendo sincero, talvez ele só esteja ficando mal-acostumado. Por muito tempo, esses encontros apressados eram tudo o que ele desejava. Agora, não parecem ser quase nada. É muito pouco para satisfazê-lo — ele quer algo mais estável, que possa ser mais frequente, que não dê muito trabalho para arranjar, que vá poupar o tempo dele…

Basicamente, o melhor para ele agora seria arranjar um parceiro fixo, né? Mas precisa ser alguém sem expectativa nenhuma, porque a ideia de firmar qualquer tipo de compromisso chega a lhe dar calafrios. É problema demais para pouco benefício, e ele não liga para os aspectos cotidianos de um namoro. Pelo contrário, Gustave só quer o mínimo possível: alguém que esteja livre nos mesmos dias que ele, que não vai encher o saco, saiba pagar um bom boquete e vá direto para casa depois do banho.

Putz, falando assim, meio que parece mais fácil contratar um garoto de programa, né? Mas que homem também não sonha em ter uma puta de graça com exclusividade?

… Vai ver o que ele precisa mesmo é de um hobby. Mente vazia é oficina do diabo, e o desgraçado tá fazendo hora extra na cabeça dele. Indo mais longe ainda, o problema talvez seja simplesmente o fato de que a vida de Gustave está operando no piloto automático num nível tão elevado, que ele não consegue nem imaginar o que poderia fazer se ele fosse arrumar uma distração dessas. Nada lhe parece particularmente interessante. Ele curte malhar, mas a essa altura, é bem mais obrigação do que lazer. Ele tocava violão quando adolescente, mas hoje em dia… A ideia de ter que reaprender já o faz desistir do prospecto.

Cara, o que é que ele passou esses anos todos fazendo, além de fingir ser um marido feliz? A maior parte da energia e capacidade mental dele era gasta em equilibrar todos os lados dele em algo minimamente harmônico, e nisso se ia o tempo livre dele. Agora que está por conta própria, o que é que sobrou? Ele está livre para fazer o que quiser, como sempre quis — só não esperava ter problemas para seguir adiante agora que chegou a esse ponto.

Afinal, o que é que ele quer da vida?

Uma mão pousando em seu ombro o arranca dos trilhos dessa viagem filosófica, quase fazendo ele ter um ataque cardíaco no processo.

— Com licença.

No que se vira para encontrar o dono da voz, Gustave cai de um precipício. Quem o chamou é um homem de olhar gélido, tão intenso que parece pronto para abrir furos no crânio dele. O policial se sente subitamente nu debaixo daquela inspeção, intimidado apesar do homem ter quase meia-cabeça de altura a menos que ele. Ele não se curva para encará-lo. Não há necessidade.

— Algum problema por aqui, senhor? 

O ar volta aos pulmões dele mais ou menos no mesmo tempo em que o homem o questiona. Caralho, faz muito tempo que ele não é pego desprevenido assim. Puta que pariu. Forçando-se a reagir, ele descruza os braços, ajeitando a coluna. A voz até sai mais grossa na resposta:

— Nada, estou só esperando um colega chegar para pegar a viatura. Quer estacionar aqui? Posso parar um pouco mais pra frente.

— Não, não precisa. — O homem oferece um sorriso educado, mas não há brilho em seus olhos. Eles são um contraste gritante frente aos seus cabelos negros e pele avermelhada, provavelmente por esforço físico. Ele deve ter corrido até aqui, Gustave deduz. Toda a situação seria risível se assistida de longe, visto que o estranho traja apenas calças de moletom e uma regata que ressalta seus ombros largos. A observação que Gustave faz do homem quase o impede de ouvir uma informação imprescindível: — É que o senhor estacionou na frente da minha garagem. Achei que tivesse acontecido algo.

Como é?

— Ih, foi mal. — Balbucia, mirando o mesmo portão branco que Émile destrancou ontem à noite. — Tá precisando sair? Posso manobrar…

— Não! Não se preocupa. — A risada que ele solta agora soa um pouco mais sincera. — É que imagina o susto que é chegar em casa e encontrar a polícia na sua porta. Perdão pelo transtorno.

É preciso um esforço notório para Gustave não transparecer em sua expressão toda a confusão que está se armando em sua mente.

— Que isso, eu que peço desculpas pela situação.

— Desculpa também atrapalhar seu trabalho…

Recompondo-se durante o vai-e-vem de gentilezas, o policial prende um sorriso no rosto antes de tentar novamente:

— Fica tranquilo que não aconteceu nada, não. Estou só esperando um colega vir buscar a viatura. Se ficar melhor para você, eu posso pegar o retorno ali no fim da rua, que aí eu fico na frente da minha casa mesmo.

E para ressaltar a mensagem, aponta com o polegar para o prédio de tijolos na calçada oposta. As sobrancelhas do homem se levantam enquanto ele solta um “ah!”.

— Você é o cara que se mudou para cá no início do ano! É, não é? Finalmente te encontrei! Vi o caminhão e as suas coisas chegando, mas não consegui te ver direito.

— Isso, deve ser eu mesmo. Cheguei em Janeiro.

Pelo visto, funcionou. O cara já tá todo sorrisos, com direito a tapinhas nas costas de Gustave enquanto responde num tom bem mais amigável do que o que usou na abordagem inicial.

Isso é um bom sinal, né?

Seria melhor ainda se Gustave soubesse quem é ele, e porque Émile estava indo tão à vontade para a casa dele, então.

— É um prazer finalmente te conhecer. — O suposto vizinho estende a mão, sem nem imaginar o que se passa na mente dele. — Meu nome é Theodore.

— Gustave. — Ele aceita o cumprimento. Theodore mantém o sorriso e o contato visual  durante o gesto. Educado, porém intenso. Bastante apertado. Não chega a doer, mas é mais do que o suficiente para sentir os calos nas mãos dele. Pelo menos não chega perto de machucar; na verdade, é até quase gostoso.

O que é a maneira mais bizarra que ele já descreveu um aperto de mão, mas é o que é.

— Obrigado pelo seu serviço. — Ele dá um tapinha no capô do carro também. — E desculpa uma última vez por essa cena. A gente se vê, Gustave!

E lá vai ele, com passos largos e cabeça erguida rumo à entrada da casa. Novamente, tal como Émile fez, ele destranca a portinhola, sobe as escadas e desaparece atrás da porta. A diferença é que, sendo sincero, Theodore de fato parece bem mais familiar do que Émile. Julgando pelo traje, talvez eles já tenham até se cruzado na academia, ou algo similar. A reação dele ao vê-lo estacionado ali também não é de todo estranho — Gustave talvez agiria bem pior se visse um desconhecido grudado na porta da casa dele, policial ou não.

Será que a cena de ontem foi um alarme falso? Vai ver eles são parentes. Tem que ser uma relação bem próxima para ter as chaves da casa do outro. 

Uma possibilidade passa brevemente pela mente do ruivo, mas é descartada na mesma velocidade em que é proposta. Theodore não está usando aliança, para começar; nem no dedo, nem numa corrente ou algo similar. Além do mais, que outra explicação teria aquela foto no escritório de Émile? Gustave chega a tentar se lembrar se o vizinho estava na imagem, mas não consegue recuperar nenhum detalhe dos dois outros homens na foto. 

Amigos, então? Do tipo bem próximos? Sócios, colegas de trabalho…? Ou será que eles estão dividindo aquela casa, talvez até com mais gente? Explicaria tamanha magnitude para tão pouco movimento. Dá para alugar um ou dois quartos ali, com espaço de sobra. É o que ele faria com uma propriedade dessas, pelo menos. 

Se bem que Theodore mencionaria se houvesse mais algum morador na casa, não? E Gustave com certeza se lembraria de Émile se tivesse o visto antes. Ele já teria percebido um homem daqueles morando em frente à ele, porra. Provavelmente, o vislumbre de ontem era só uma visita casual mesmo. De qualquer jeito, perto ou longe dele, o professor não consegue o deixar em paz…

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Após um divórcio conturbado, uma transferência no trabalho, e uma mudança de cidade, a tediosa rotina de Gustave Martin vira de ponta-cabeça após o desaparecimento de um estudante universitário. Como se isso tudo já não fosse o suficiente, o cínico policial tem o resto da sua paz destruída após conhecer um dos professores do jovem, testemunha do caso.
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[arte por @banancrumbs
atualização toda sexta-feira!

AVISO DE CONTEÚDO: Esta história contém menções à temas como vícios (álcool, drogas, jogos de azar), suicídio, homofobia e crises de saúde mental.
Caso necessário, os capítulos possuirão avisos parecidos com esse, de acordo com o conteúdo presente.
Se há mais algum assunto que você acredita que seja necessário inserir nos avisos, por favor, me informe!]
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