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Podemos morrer juntos?

Capítulo 11: De volta ao inferno.

Capítulo 11: De volta ao inferno.

Jul 20, 2025

Chego em casa às 1:20 da tarde, segundo o relógio da cozinha. Estou muito suado provavelmente é porque eu corri para chegar aqui a tempo do almoço mas sinto que um percentual da culpa é meu nervosismo. Costumo não gostar de almoçar com meu avô, ouvindo ele e meu pai reclamarem de nós e soltarem alguma piada preconceituosa que sou obrigado a rir. Afinal se não risse seria questionado. E além disso tinha passado um dia inteiro fora de casa sem avisar ninguém e não sabia a história que meu irmão tinha contado. Olhei para ele que sentava na mesa redonda, estava de frente para mim totalmente quieto com um sorriso malicioso no rosto que dizia -Alguma coisa vou fazer.   Nem minha mãe e nem o meu pai me repreenderam, ela apenas me chamou para o canto dizendo -Depois a gente conversa. Logo depois me sento à mesa e sirvo um pouco de polenta e ponho no meu prato, junto a um pedaço de galeto que havia sido separado para mim. Olho para aquela mesa repleta de comida e falsos sorrisos de felicidade. Bernardo tenta conversar sobre o Opala do qual tinha visto na frente da casa dos vizinhos mas é completamente ignorado. Meu pai e meu avô estão ocupados demais falando sobre política para prestar atenção, minha mãe fica de canto apenas olhando para a taça vazia de vinho na sua frente, parece aérea. Estou me sentindo tão desconfortável para conversar que fico quieto ou talvez esteja quieto para não ouvir nenhum comentário sobre a minha voz. O jeito que eu falo sempre é corrigido pois não falo “grosso o suficiente”. Enquanto isso, sinto o olhar de Ricardo me queimar por completo, ele tenta encontrar feridas no meu corpo, as quais não acha pois fui precavido e as cobri com um casaco de Mattew. Ele parece suficientemente satisfeito, eu mesmo escondi os rastros.  O almoço termina com uma discussão fervorosa entre meu pai e meu avô que se despede rindo levando consigo uma marmita cheia de polenta. -Até mais, guris! Aposto vocês já estejam cheios de namoradinhas. Ele diz enquanto já prevejo o que vem a seguir. Meu vô, Osvaldo, se dirige em voz alta a mim, fazendo questão que todos ouçam. -Menos tu, Érico, tá muito fraquinho, precisa crescer mais. Afirma o idoso que é claramente o culpado de eu ter a estatura que tenho. Não me sinto humilhado, só triste, tinha a esperança de que ele me falasse outra coisa. Mas o que seria? Um eu te amo ou um parabéns pelas notas, não seria. Já que aparentemente demonstrações de afeto eram secretamente proibidas no mundo de homens de verdade. Em resposta boto um sorriso amarelo e digo -Tchau, vô.

 Antes que possam começar o interrogatório sobre ontem, corro para o banheiro, tiro com cuidado o casaco de Mattew do meu corpo. Só aceitei usar porque se não iam ver os machucados, iria ser pior pra mim- Penso mentindo para mim mesmo, disfarçando o desconforto (ou conforto, por mais que não queira admitir) de usar algo de alguém. Lembro também da sensação gostosa do pijama largo do inglês, da cama fofinha, do calor de suas mãos e de como ele é reconfortante assim como o pijama, ou mais que ele. Os últimos dias realmente mexeram comigo, digo mentalmente. Olho para as feridas na minha pele, flashbacks da luta, dos meus traumas e da escola tomam conta dos pensamentos que antes eram doces. Os machucados são a prova das consequências das minhas ações, a consequência de apenas ser eu mesmo. Lágrimas correm sobre o meu rosto enquanto a água do chuveiro queima a minha pele, não sei a quanto tempo estou ali. -Sai do banheiro! ouço Bernardo reclamando e batendo na porta. O relógio indicava que havia passado uma hora inteira e nem percebi.  Saio do chuveiro e me visto rapidamente. Depois abro a porta do banheiro e passo de cabeça baixa por meu irmão mais novo que me olha de cima. -Não fica achando que não fiquei sabendo de nada, eu tava na escola. Disse ele sério na tentativa de me confortar, dou de ombros e começo a ir até meu quarto. -Desculpe não poder ter feito nada! Falando comigo novamente tentando alguma resposta, a tentativa falha, fecho a porta do quarto. 

 Já com as minhas roupas me deito na cama ao lado do casaco de Mattew, o cheiro é intoxicante, tanto que não consigo sentir o cheiro da ansiedade tomando conta do meu corpo, mal sei o que está por vir . Pego no sono, sonhando com coisas belas. No sonho estou em um campo florido presenciando um piquenique romântico. Lá está sentada uma bela dama, digna de ser protagonista de um de meus romances trágicos, ela chora enquanto suas lágrimas se transformam em farelos de biscoitos que sujam seu vestido. Ao lado dela se senta um homem muito bonito que abraça ela e por algum motivo come as migalhas que estão sobre a saia da moça. De repente a garota vira um rapaz, e a boca do outro que estava cheia de biscoitos agora se encontrara  preenchida por um beijo longo entre os dois. O beijo dura um bom tempo e é interrompido por um estouro, um deles estava no chão com a cabeça perfurada por uma bala. O campo antes florido se transforma no teto do meu quarto, meu pai está lá gritando comigo, não estou mais dormindo. -Tu perdeu a cabeça Érico?! Ainda não entendo a diferença entre realidade e sonho. -Teu irmão me contou tudo! Meus pais estão dentro do meu quarto, minha mãe está muda na porta tentando não fazer contato visual comigo. Eu olho para ela em busca de proteção, ela dá as costas e fecha a porta. Sinto medo. Tristemente não sinto solidão, também, sempre estou sozinho. Meu pai joga a camiseta do meu uniforme no chão, sinto meu peito apertar de aflição. -Presta atenção aqui! Não adianta chamar tua mãe porque o negócio é comigo hoje! Ele agarra meu rosto, forçando a direção do meu olhar para o seu. -Porra, eu faço tudo por ti e tu brigando com teu irmão de novo! Ele pisoteia o chão, junto está a camiseta. Me seguro firme para não chorar vendo outra coisa a qual gosto muito sendo destruída. -Não bastou a confusão que tu me arrumou aquele dia?  Mentiroso, falando que teu irmão é drogado e fica brigando com todo mundo. Tu que deve tá drogado! Por isso passou a noite toda fora né? Diz ele apertando mais ainda meu rosto, enquanto vasculha por sinais meus de fraqueza ou algum estado diferente da sobriedade. -O teu irmão é um baita homem, diferente de ti que não passa de uma bicha.   Por ele não saber que sou gay as palavras dele me machucam mais ainda, dói saber que minha existência é motivo de reprovação e a minha palavra não tem credibilidade alguma. -Eu vi o roxo que tu deixou no rosto do Ricardo. Só não te quebro agora porque não quero dois filhos meus com o olho roxo. Termina a repreensão finalmente soltando meu rosto, que se encontra marcado por seus dedos. Meu pai sai do quarto e me deixa ali. Não entendo porque coisas desse tipo adoram acontecer comigo, acho que estou destinado a morrer sozinho.

leozito
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