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sereno [PT-BR]

9

9

Jul 25, 2025

Bem, acabou. O trabalho de Gustave está feito, tudo o que pediram dele foi cumprido. É só dar meia-volta, entrar na viatura e meter o pé. Ele não quer ter que passar mais tempo manejando o humor dos pais de Mikael Prater, e muito menos está a fim de matar trabalho batendo papo com gente que ele mal conhece. Só que por mais que quisesse evitar Émile, agora que estão de fato frente a frente… Talvez ele tenha mudado de ideia sobre sair correndo do campus.

— Bom dia, Capitão.

— Bom te ver, professor — cumprimenta com um raro sorriso sincero.

Parece até que eles são cúmplices de algum segredinho — mas meio que é, né? Quando ele olha para Émile, só consegue pensar no que viu na noite passada, e no que deve ter ocorrido depois que Gustave fugiu da janela. Repete em sua mente todas as maneiras que imaginou Theodore tocando, beijando, marcando Émile, apesar de não haver evidência alguma que essas ações realmente ocorreram. O pescoço do professor está coberto, não há nenhuma vermelhidão nos pulsos, o cabelo dele… Não está menos bagunçado do que o normal, mas isso também não é indicação de muita coisa.

Por outro lado, pensar no quão diferente as coisas podem estar debaixo daquela camisa chega a dar água na boca.

E é aí que Gustave lembra que está de serviço, no meio de um escritório universitário, e que se qualquer um quiser prestar atenção nele, perceberá como está tentando despir Émile com os olhos. Claro, se isso o ajudar a economizar tempo para chegar nele, que assim seja. Desde que a amantezinha não fique puta com isso.

Se bem que ela não deve ser mesmo amante dele, né? O amante de verdade é o Theodore, não? Claro que nada impede que ele tenha vários amantes também. O negócio é não esquecer da oficial, seja lá quem for. Isso é, se ela existir, porque, né…

… Não que isso importe no panorama geral, no fim das contas, mas sabe como é. Essa mania dele de se perder nas próprias tangentes é uma questão antiga e diária; hoje, se manifesta de tal maneira que quando a alma de Gustave volta para o corpo, todos ao seu redor já se sentaram.

— Vou indo, então. — Ele disfarça, concluindo que talvez isso seja o melhor a se fazer. — Aproveitem o dia—

— Não! — A senhora Prater o interrompe. — Eu ia convidar todos para um almoço.

— E- Eu tenho que voltar com a viatura…

— Ontem mesmo não mandaram alguém buscar com o senhor?

Como eles ficaram sabendo disso?!

— Senhora, eu tenho obrigações a cumprir, não posso…

A professora Villeneuve, se é que Gustave lembra do nome dela corretamente, apenas assiste à cena sem esboçar reação. Émile, pelo outro lado, parece se compadecer dele, com uma bela dose de vergonha alheia estampada em sua feição. Parece ser o mesmo caso do pai de Mikael, que resmunga algo em alemão, chamando a atenção da esposa. Ela responde numa frase aparentemente longa, levando os professores a trocar olhares entre si. Émile até levanta as sobrancelhas.

Uau, que ótima maneira de fazer alguém se sentir excluído.

— Ele está falando para deixar o Capitão em paz. — A professora solta um sussurro apressado. — Ela disse que vai pagar para todo mundo.

— Que maravilha. — Émile suspira.

Villeneuve levanta a mão, afirmando… algo em alemão. Faz sentido. O casal parece tão empolgado quanto aliviado, se não até um pouco envergonhado, ao saber que alguém ali fala a língua deles. Imediatamente, volta o falatório. Ela gesticula primeiro na direção de Émile, depois do próprio Gustave. O professor concorda com a cabeça em certo ponto, e todos riem.

Caralho, chega a beirar à discriminação.

— Você também fala alemão?

— Só sei o básico. Estou fingindo entender na maior parte do tempo.

Gustave segura uma risada. Villeneuve se vira para ele com um sorriso educado e avisa:

— Consegui convencê-los, ela até ficou com dó de te deixar tão confuso. Obrigada de novo pela ajuda, Capitão.

— Eu que agradeço pela cooperação. Com licença…

No que ele se volta à saída, ela acrescenta:

— Aproveita a deixa e vai com ele, Vince.

Logicamente, Gustave para.

— Ainda tá cedo pro meu horário.

— É, mas quem sabe até que horas vamos ficar aqui? Eu prometi que ia levar eles numa tour do campus. E se eles já estão com planejamento pro almoço…

Roubando uma olhadela na direção do professor, Gustave o vê pender a cabeça para trás e suspirar mais uma vez antes de responder;

— Tudo bem, vai demorar mesmo. Vou andando, então.

— É capaz deles ainda estarem aqui quando você voltar.

Ao contrário do policial, ele não disfarça o riso.

— Não duvido. Aproveite o almoço de graça, querida.

— Pode deixar! — Ela acena. — Não esquece de cobrar o Theo pelo brownie que ele tá me devendo.

— Isso é problema de vocês dois, eu tô fora.

Gustave fecha a porta assim que ele passa, sem perder tempo antes de segui-lo pelo corredor. Finalmente estão a sós, talvez pela primeira vez desde que se conheceram… mas há tanta informação para processar, que fica difícil pensar num gancho para puxar assunto.

Que Émile e a professora são bastante próximos ele já sabia, mesmo sem apelidinhos carinhosos para confirmar. O mais interessante dessa interação, entretanto, foi ver que não apenas ela sabe da existência de Theodore, mas também parece ter alguma relação amigável com ele. Émile está saindo daqui para se encontrar com ele, inclusive. Provavelmente vão almoçar juntos? Quem sabe o que mais farão além disso…

Ele não parece estar mais arrumado do que no resto da semana, por mais que o suéter de gola alta e a jaqueta bege combinem bem com ele. É mais casual do que os dias anteriores, na verdade: tirou os óculos e veste jeans, mas eles ainda estão perfeitamente acinturados nele. Ainda é um visual muito melhor do que o de boa parte dos homens por aí. 

Mas nada bate a abordagem direta quando se trata de descobrir os planos dele, e é por isso que Gustave limpa a garganta antes de perguntar:

— Quer carona?

Os passos de Émile cessam. Ele se vira para encará-lo.

— Não precisa, eu…

A voz dele oscila, como se procurasse pelas palavras certas nos olhos de Gustave. É cinza no azul, escurecendo rapidamente, descargas elétricas preenchendo o ar num céu nublado. Gustave não faz questão alguma de tentar se restringir, de disfarçar qualquer coisa — dessa vez, é uma escolha consciente.

O silêncio se prolonga.

É difícil que ele encontre uma oportunidade melhor do que essa. Foda-se quantas de suas intenções estão transparecendo agora; elas vão acabar escorrendo de suas palavras mais cedo ou mais tarde, manchando sua pele em cada gesto que dirigir ao professor. Ficam cada vez mais evidentes toda vez que se lembra da luz baixa no quarto de Theodore, de como Émile se segurava nele, da curva do seu pescoço, descendo ao peito, de ondas grisalhas ameaçando tocar seus ombros nus. Seus lábios entreabertos. Gustave desce os olhos à eles, Émile rapidamente os umedece com a língua. O ruído dos suspiros dele atravessando o pequeno escritório ecoa na mente do policial; só a memória já basta para arrepiar sua nuca. Porra, ele deve ficar tão lindo todo corado, de guarda baixa, pressionado contra os lençois, de braços abertos para recebê-lo…

No momento em que inspira profundamente, o professor finalmente corta o silêncio, completando seu pensamento:

— Eu vou andando.

— Tem certeza? Não vai atrapalhar.

— Eu vou na direção oposta da delegacia. Não precisa se preocupar.

— Posso te deixar no ponto de ônibus, então, ou no meio do caminho. Vai te economizar tempo, não?

— Estou com tempo de sobra, Capitão.

— Ah, mas eu insisto.

É impossível segurar um sorrisinho quase triunfante.

Émile, pelo outro lado, mantém o semblante sério ao conferir o relógio de pulso.

— Obrigado pela gentileza, mas eu realmente estou com bastante tempo livre, e quero ver outras coisas no caminho. — Antes que Gustave consiga se infiltrar na pausa entre as frases, ele anuncia: — Prometi ao meu marido que ia conferir um negócio para ele antes de almoçarmos juntos, e ainda tem mais de uma hora até o horário dele. É capaz de eu chegar cedo demais mesmo se eu for andando. Com licença.

Ele não dá mais nenhuma chance para conversa, apenas passa por um Gustave quase boquiaberto e segue andando sem olhar para trás. 

Marido.

Cara, era sim tão óbvio quanto parecia. É claro. Tudo se encaixa tão perfeitamente quanto soa — tão óbvio, que Gustave não queria nem considerar essa possibilidade. É ridículo. Sim, Theodore é vizinho dele, mas Émile também. Eles não estão só se comendo ou tendo um caso, eles são casados um com o outro. Quando Gustave conheceu Theodore, ele estava voltando de um exercício ou algo similar, o que justificaria a ausência de aliança no dedo dele. Não que isso importe, cada um com seu cada qual, mas— foda-se! Foda-se, isso não importa, nada disso importa!

Por mais que Gustave reconheça a própria babaquice, ele pelo menos se orgulha da própria esperteza, até certo ponto. Só que o problema de se achar esperto demais é que, às vezes, você prefere pensar em alternativas menos óbvias, e aí é pego de surpresa quando as coisas são tão simples assim. Então não apenas ele perdeu a vantagem, como também não conseguiu fazer quase nenhum progresso. Não deu para pedir um número de telefone, puxar qualquer assunto a mais, nada, só passar vergonha parecendo desesperado. Eles só ficaram se encarando. Como que é pra interpretar isso? Eles ficaram parados por quase meio minuto se olhando, sem trocar uma palavra, saboreando o ar pesado de tensão. Os olhos convidativos de Émile, a porra da lambidinha nos lábios, tudo isso para terminar jogando essa bomba nele. Qual a intenção dele? Para avisar “tenho marido, sai de perto”, ou provocar porque “tenho marido, vai dar trabalho me conquistar”?

O pior é que ele está mais tentado a acreditar na segunda opção. Pode ser uma esperança fútil, mas é tudo no que ele precisa se segurar para investir nesse lance — agora que Émile também começou a colocar suas cartas na mesa, ambos já fizeram alguma espécie de investida. Agora é questão de tempo para ver quem dá o próximo passo.

Ah, caralho, pensa ao morder o interior da bochecha, sentindo o calor pulsante que irradia por suas veias com a adrenalina. Seus dedos formigam com ansiedade, seu peito pesa com desejo. Tem tempo que ele não brinca com esses tipos de joguinhos — e eles nunca duram muito, tal como a maioria dos outros casos que já teve, mas Gustave sempre fez questão de aproveitá-los o máximo possível, até o limite. Agora mesmo, tudo o que se passa na mente dele é dar a volta e correr atrás de Émile, tentar novamente, pressionar, encurralá-lo contra a parede, seja de maneira metafórica ou literal. Fazer ele admitir o que quer de verdade, ou o que não quer, e aí convencê-lo mesmo assim. Cercá-lo com seu calor até que derreta, para que aí Gustave consiga engoli-lo por completo.

Mas agora ele precisa respirar bem fundo, três vezes, e ignorar isso tudo. Você ainda está em horário de trabalho, seu viadinho de merda. Invés de soltar o ar num suspiro, o som é mais parecido com um silvo. Ele tem obrigações a cumprir, uma tarde inteira para enfrentar, e provavelmente já gastou toda a sorte que tinha para hoje.

— Eu preciso dar o fora daqui. 

Gustave sabe que uma vez que voltar à delegacia, terá coisa o suficiente para distraí-lo. Mas até lá, enquanto está no campus, tudo torna-se mil vezes mais difícil de reprimir. Entre essas paredes, é como se o olhar de Émile ainda estivesse nele, seguindo cada movimento seu, esperando-o a cada curva para penetrar novamente nele. E por mais que não seja a coisa razoável a se fazer, a última coisa que Gustave deseja fazer agora é deixar a vista deles.


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Mas talvez seja justamente isso o que ele mais precisa agora...

[arte por @banancrumbs
atualização toda sexta-feira!

AVISO DE CONTEÚDO: Esta história contém menções à temas como vícios (álcool, drogas, jogos de azar), suicídio, homofobia e crises de saúde mental.
Caso necessário, os capítulos possuirão avisos parecidos com esse, de acordo com o conteúdo presente.
Se há mais algum assunto que você acredita que seja necessário inserir nos avisos, por favor, me informe!]
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