Tinha uns caras grandes lá, fedendo a testo e GH pedindo por creatina. Alguns até faziam pose para tentar impressionar ela.

Eu confesso que senti um pouco de ciúmes por ela sorrir com eles, mas eu sabia que era um sorriso falso. Mas mesmo assim ainda me irritava um pouco.

A garota se chama "Zoe", ela era a mais linda da academia, mesmo que não treinasse lá. Tinha cabelos longos e ruivos, geralmente usa um boné e rabo de cavalo, uma calça de moletom e uma camiseta com a logo da academia.

E também é a garota que eu gosto— mas tirando eu e o Guilherme, ninguém mais sabe.

Espero os caras bombados irem embora e me aproximo.

"Bom dia, já cedo e esses caras treinando."—sorrio enquanto falo—"Dormiu bem?"

Ela apenas concordou com a cabeça e começou a me ignorar—o que não era muito normal— fico lá com cara de tacho, parado enquanto coçava o cabelo sem graça.

"Tá tudo bem?"—pergunto—"Você está brava comigo?"

Ela para de arrumar a estante de suplementos e me olha com os olhos semicerrados.

"Porque eu estaria brava com você, você por acaso fez algo para me deixar brava?"— ela apoiou os cotovelos no balcão, também apoiando a sua cabeça nas suas mãos—"Ou será que você tem algo para me contar antes do nosso encontro no dia 17?"

Eu pensei por um momento, talvez por mais de 30 segundos. Ela percebendo a minha demora perdeu a paciência.

"Se não tem nada a dizer... Então acho melhor você ajudar aquele garoto no supino e me deixar trabalhar em paz!— disse ela em um tom não de raiva, mas em um tom agressivo/passivo.

"Espera...eu te conto tudo, mas é um pouco confuso até pra mim."

Então ela se virou pra mim e me olhou atenciosamente— nessa hora eu me senti como se fosse um coelhinho sendo caçado por um lobo, crendos pai.

Comecei a contar detalhe por detalhe, sobre como as nossas mães nos enganaram, sobre como eu apanhei da PM quando eu encontrei a Maju pela primeira vez, quando ela me bateu com o cabo de vassoura, sobre como ela parecia fofa algumas vezes e quando eu apareci na live dela— mesmo não me lembrando.

O que a deixou indignada, por minha mãe não avisar direito, sobre a Maju me bater e sobre eu achar ela fofa— ela fez um biquinho fofo enquanto falava dessa parte— então ela suspirou e voltou a me olhar com os olhos semi cerrados.

"Você não beijou ela?"—balancei a cabeça—"não sei se acredito em você."

O que eu posso fazer.... Para convencer ela?

"E se você for jantar lá em casa?"

"O que? sério?"

"Sim, se você for comer na minha casa, você vai poder conversar e conhecer a Maju."

Ela pegou o celular e olhou como se pudesse ver o futuro, me olhou, guardou o celular e voltou a me olhar. "Eu vou querer uma macarronada e um bolo recheado pra sobremesa."

"Agora...."— ela foi interrompida por gritos falhos de um garoto, provavelmente adolescente—" Marcos! Vai ajudar o muleque no supino!!"

Eu vi um adolescente magrin, magrin. Só osso o coitado, se tremendo todo e com espuma na boca enquanto o peso esmagava ele.

"Não há nada que possamos fazer."— disse imitando o Napoleão e fazendo uma reverência para o futuro finado.

"Marcos!!!"— gritou a zoe me dando um tapa na nuca— "ajuda ele logo!"

Eu levantei o peso, 70 kg de cada lado, 140 kg no total—quase não consegui levantar o peso—Eu nunca vi esse muleque aqui antes, mas vendo a finura dele fiquei com tanta pena que quase dei minha marmita pra ele.

"M-muito obrigado....eu quase morri— o garoto tossiu—" você e meu salvador!"

Zoe me olhou e cutucou minha costela, como se me mandasse dizer algo.

"Que nada... Agradeça a Zoe."

Ele me examinou com uma cara confusa, como se estivesse olhando para um rosto de um conhecido que você não lembra o nome.

"Moço... Eu te reconheço de algum lugar."— ele se aproximou e limpou os óculos—"você é um lutador, eu conheço você e sou seu fan.

Os olhos do garoto brilharam e ele soltou um grande sorriso de orelha a orelha. Um fan? nem sabia que eu tinha isso.

Já que não sabia o que fazer, fiquei calado e a zoe aproveitou pra tirar um sarro da minha cara.

"Olha como ele é famoso!"— ela falou, cutocando minha bochecha com o dedo indicador.

"Acho que estou aprendendo com minha

 "namorada" majuzinha."— rebati seu sarro.

"Hum!?"— bufou a zoe jogando a toalha na minha cara—"me mande seu endereço pelo celular, que eu chego lá às 20:00!!"

Agora sim ela estava brava, hehehe.

Ofereci a toalha para o garoto que me olhava com olhos que brilhavam em admiração.

Enquanto ele se enxugava, não parava de falar sobre como eu era forte ou como eu nocauteava os meu adversários e até sobre a luta em que eu venci em 3.2 segundos.

Ele me pediu pra tirar uma "selfie" com ele— não sei pra que ficar inventando esses nomes, era só chamar de foto— e tudo mais o que fãs fazem.

Resumindo ele era um puxa saco, que me deu dor de cabeça, ave Maria.

Terminei o meu turno na área de personal trainer. Voltei ao vestuário, tomei banho e comi minha marmita, depois como tinha um tempo livre fui caminhar para ajudar na digestão.

No caminho mandei mensagem para a Maju avisando sobre o jantar, mas ela nem visualizou a mensagem ainda.

Em exatas 13:33 começo a treinar, tudo ocorreu normal até chegar o treino da tarde às 16:00— que é quando o Guilherme começa a treinar— ele se alongou, aqueceu e ficou me encarando como um psicopata até o professor declarar que hoje seria dia de sparring.

Ele levantou a mão e gritou bem alto.

"Eu vou com o Marcos!"— é claro que ele vai comigo, afinal ele é meu parceiro de treino. Daime paciência Jesus.

Ficou um clima desconfortável, praticamente a academia inteira estava olhando pra gente e ele tava fazendo umas caretas, umas poses meio suspeitas— que me fez ficar preocupado com o futuro desse muleque.

Hoje era dia de sparring leve, sem muita força e mais técnica. E eu queria testar um golpe novo que aprendi com o professor.

Ajeitei minha postura enquanto media a minha distância entre o Guilherme com um jab, ele se esquivou e ele se aproximou com uma single leg, que foi muito agressiva e desastrada— parecia até que ele queria arrancar minha perna— eu rapidamente escapei e tomei distância.

Ele decidiu trocar a base para boxe e avançou com um sequência brutal de jabs, consigo me esquivar de todos, mas tropeço nos outros alunos que treinavam com a gente. 

No meio da queda antes de cair, ele solta um direto com força total—que deixa minha visão turva por um momento.

Naquela hora eu perdi a minha paciência— eu tava com a cabeça cheia sobre o jantar e até agora a Maju não me respondeu, por isso tava preocupado com ela também— me levanto devagar e armo minha base que geralmente uso nas minhas lutas profissionais.

Guilherme hesita em se aproximar pela primeira vez, um passo de cada vez me aproximo de minha presa. Ele realmente passou do limite e agora eu tenho que mostrar pra ele do porque eu sou um lutador profissional.

Ele finalmente toma coragem e avança— cauteloso mas avança— finto um back kick(um chute traseiro giratório) e ele se esquiva do ar.

Ele mordeu a isca... Respirei fundo e avanço com uma double leg, o abraço por traz dando um suplex no final. 

Enquanto nós ainda estávamos no ar, ajusto a queda direcionado a maioria do impacto para meus ombros, afinal ele ainda é meu amigo e eu quero entender do porque ele está fazendo isso.

O som da queda ecoou pela academia, todos ficaram calados olhando para mim, alguns assustados, outros impressionados— enquanto o Guilherme grunia rolando de um lado pro outro.

"MARCOS E GUILHERME!!!" — uma voz que eu conhecia muito bem.

Olhei para o lado e vi um homem calvo e com cara fechada, de 1.85 de altura. Ele estava com um par de luvas e caneleiras— que com certeza... Dava medo até no diabo.

O Guilherme se levantou se esquecendo da dor do suplex— segue o roteiro irmão!— com uma postura ereta, parecendo até que estava saudando um major do exército.

"Vocês dois... O que foi que eu falei para fazer hoje?"— disse o mestre cruzando os braços com uma postura imponente.

"Pra... Pra fazer sparring de leve, senhor!"— gritou o Guilherme gaguejando.

"Sem força, mais técnica."— o mestre me encarou fixamente—"s-senhor." 

"Então porque vocês estavam lutando igual cão e gato?"

"Em minha defesa eu apen..."— fui interrompido por um grito do mestre me mandando calar a boca.

"Escolham, vocês preferem lutar contra a academia inteira, limpeza ou exercícios e cardio até o fim do treino?"— disse ele com firmeza.

"Limpeza, senhor."— Guilherme falou baixinho.

"Luta, eu quero lutar!!!"— gritei entusiasmado.

Todos ficaram calados e alguns até assustados com a ideia de ter que lutar comigo, enquanto o mestrão me chamou de masoquista com um tom de desgosto.

"Ta decidido!"— afirmou o mestre—" façam um cardio e depois limpem essa academia toda... Quero esse chão brilhando."

E depois disso a gente foi fazer cardio por pelo menos 1 hora e meia, por aí, ele não falou uma só palavra e nem eu.

Até chegar a hora da limpeza onde nós fomos limpar o tatame.

"Vacilão."—indagou ele—"pensei que nós fossemos amigos!"

"Mas a gente é!"— respondi parando de esfregar o tatame.

"Então porque você não me contou sobre ela?"

"Ela?.... A Maju?"— perguntei com hesitação.

"Isso!"— afirmou ele—"como que você pode morar com minha deusa Maju e não me contar nada?"

"Deu...deusa Maju?' 

"Sim, é assim que comunidade e fãs chamam ela! ela é tão linda, fofinha e quando ela sorri nas lives, com aquelas Bochechas rosadas. Vai me dizer que tu não assiste os vídeos e lives dela?"

"Não... Eu não assisto, ela é muito famosa na internet?" 

"Bro... Famosa?"— ele fez uma careta muito engraçada agora—"ela é reconhecida nacionalmente e até em outros países."

"Legal."

"Legal? Você sabe o que é ser famoso em um país inteiro?"

"Bom... Eu tenho um fã clube."

"Você? hahaha"— ele riu mas eu não achei graça.

"Se for dar risada é melhor ficar quieto!"

"Tá bom, tá bom"—falou ele levantando as mãos para cima—"me desculpa pelo direto."

"Relaxa, mas se fizer de novo eu vou quebrar seu braço."

"Hahaha, muito engraçado"— falou ele sem graça—"sabe? Eu queria muito ter uma chance de conhecer ela..."

 

"Você quer ir jantar lá em casa? A Zoe vai também."

"Posso mesmo?— assenti com a cabeça.

Ele veio pulando para me dar um abraço, mas meti o pé na cara dele, fazendo ele rodar no ar.

"Eu tô bemmmm!"— disse ele no chão, fazendo um joia com a mão.