Parece que eu irei morrer daqui a pouco.

O ponto de vista é do herói.

Eu fui sentenciado a prisão perpétua, que acabou mudando para sentença de morte, após eu ter matado minha ex-namorada.

Sim, eu matei uma pessoa mas não foi somente uma mas várias. Ela foi apenas mais uma vítima.

Agora eu estou aqui sendo levado neste corredor imenso, sentindo o cheiro do ódio de todos que passaram aqui. Isso não me incomoda muito, afinal, eu mesmo não sinto nada sobre isso.

- Ande logo, sua hora vai chegar. - O guarda disse de forma impiedosa, ele o olhava com desprezo afinal ele matou uma mulher inocente.

Esse guarda quem ele pensa que é? Eu poderia matar ele também se não tivesse algemas até no rabo. 

- Aqui estamos. Sente. - O guarda o coloca dentro da sala e arruma a cadeira para o destino que ela irá de ter.

- Últimas palavras? - O inspetor pergunta, seus olhos estavam já cansados de quantas vezes ele fez esse trabalho.

Palavras? Eu? O que eu poderia dizer... 

Desculpas? Não. Ela teve o que merecia mas por que ela merecia isso?

. . . .

Começou quando eu conheci ela em um bar, minha vida era chata como sempre. As pessoas me entediavam facilmente e eu não tinha nenhum apreço a elas.

Ela chegou em mim e perguntou se eu era solteiro, realmente, ela era bem direta.

Eu quando olhei para ela senti um sentimento que nunca havia sentido antes mas até hoje não sei se consegui expressa-lo. Senti um alívio, mas não que algo estivesse errado. Falando sério, acho que algo começou a ficar errado naquele momento.

Depois de um tempo começamos a namorar e morar na mesma casa, mas depois de passar um tempo com ela eu vi ela mudar. Até que teve a hora que aconteceu a tragédia.

Eu acordei na manhã seguinte com uma poça de sangue escorrendo para debaixo de mim ao lado dela. Seu corpo estava frio, eu não sentia mais seu brilho.

Depois de ficar um tempo perto dela eu escondi ela no quintal de casa, não precisou de muito para a polícia achar o corpo dela, afinal eu nem me preocupei em esconde-la direito.

- Seu lixo, matou minha filha! Seu vagabundo! Por que? Minha pequena... - A mãe dela gritava, gritos que logo se transformaram em lágrimas tristes.

Eu não poderia culpa-la de descontar a raiva em mim, afinal eu matei a filha dela.

- Sua sentença é de prisão perpétua. - O juiz disse.

E foi dessa forma que eu cheguei aqui, amarrado nesta cadeira. Ah sim, elas trocaram minha sentença.

- Quer ir embora sem dizer nada senhor? - O inspetor fala parece que ele estava esperando há um tempo lá.

Eu realmente tenho que dizer algo? Parece que ele não vai me matar enquanto eu não disser algo diferente.

- Tchauzinho....

Eu esperava que ele fosse ligar a cadeira elétrica e uma dor imensa viesse até meu corpo, um destino cruel mas que faria sentido. Mas eu não senti nada apenas um formigamento e apaguei, espera... Então essa é a morte? Eu simplesmente durmo? 

Tem algo de errado, meu corpo não me responde mas eu estou plenamente consciente até estou vendo minha vida passar.

- Espera?! Que merda é essa.

Uma luz surge do fundo da minha mente, eu não sabia que o inferno era tão claro.

Está cada vez mais próxima, minha visão está repleta desta luz branca que ao invés de paz me trás cegueira.

- Ikrum vashouta.

Eu lentamente abro meus olhos, será que eu entrei em coma e eles me trouxeram para o hospital, eu não consigo ver nada e nem sentir o meu corpo. Alias que merda ela falou? Eu fiquei caquético? Alô?

- Ikrum Ishatar Varum.

Que merda ela tá falando? Será que no inferno eles falam outra língua? 

- Onde eu estou?

Eu ainda tenho pouca visão mas consigo ver alguns detalhes, essa mulher tem um cabelo ruivo. Mas parece falso. 

- Ah, me desculpa. Eu não avia ajustado o feitiço de linguagem.

Ela fala de forma nervosa, que merda é feitiço de linguagem e onde eu estou? 

Eu lentamente consigo enxergar de novo, mas o que eu vejo a minha frente me deixou de certa forma... 

- Que porra é essa? 

Eu me olhei com fios conectados em todo o meu corpo, uma mulher de cabelos vermelhos do meu lado de óculos e um chapéu esquisito e ainda mais um cômodo que parecia estar em uma época que nem o papel higiênico havia sido inventado.

- Ah, eu sabia que isso iria acontecer... -Ela suspira.

- Acontecer o que? - Eu olho para ela, tenho várias perguntas mas cada vez mais eu consigo pensar menos.

- Por favor fique calmo, nós estamos em Farabella. Meu nome é Ituh e eu sou a pesquisadora integral deste reino. - Ituh fala sobre si mesma tentando acalma-lo.

- E onde eu estou? 

- Você está em Farabella, digamos que é uma dimensão bastante longe da sua. 

Isso está cada vez mais estranho, acho que quando a gente morre, temos esses sonhos super realistas.

- Você não vai me dizer seu nome? - Ela pergunta, parece que eu deveria respondê-la.

- É Takeru. Alias você disse que é uma pesquisadora, o que você está pesquisando afinal?

- Eu fico muito feliz em responder. Eu estou pesquisando sobre formas de vida de outras dimensões e como elas reagiriam a esta terra. - Ela responde empolgada, mas realmente eu imaginava algo mais sombrio.

- É um lugar bem feio... 

- O que?! Tá bom, a minha sala não é o lugar mais bonito mas você precisa ver o lado de fora, tem paisagens e...

- Eu não me importo. Alias você consegue retirar isso de mim? - Eu olho para ela, esses fios incomodam muito.

- S-sim, claro... - Ela parece nervosa... Parece que eu disse algo ruim.

- Pra o que é...

- Você as odeia? - Ela me interrompe, parecendo estar nervosa. Por que ela se importaria com o que eu gosto ou desgosto?

- Eu não acho ruim, é só que elas não me fazem sentir nada. Mas isso é um problema meu. 

- Então... Você não se sente bem em olhar para uma vista bela?

- Por que eu sentiria? - Eu gostaria de saber o por que dela me perguntar isso, não é como se eu fosse um psicopata recluso por não gostar de paisagens.

- É realmente verdade isso? Que você é um psicopata sem sentimentos? - Ela olha para mim enquanto tirava os fios do meu corpo todo. Ela leu a minha mente? Rápido pensa em algo nojento pra ela parar.

- Eu li seu registro de vida, e parece que minhas hipóteses estavam certas.

- Hipóteses? Que hipóteses você está falando?

- Você tem um histórico de algumas mortes, não muito frequentes mas todas bastante digamos que pesadas?

Ela não lê minha mente então, ufa... Alias eu não devia ter pensado no meu avô pelado em uma hidromassagem, algo bem específico.

- É eu matei algumas pessoas, e o que tem?

- Você não sentiu nada sobre isso também?

Sentir? Do que ela está falando? Eu senti algo sim, eu senti fome. Cansaço. Eu sinto também.

Ela está perguntando se eu fiquei triste? Claro que eu posso ficar triste, mas eu.

- Eu senti fome.