Eu tinha 14 anos quando cometi meu primeiro assassinato, eu era jovem e não sabia muito o que eu queria.
Meu pai e eu tínhamos uma mecânica, era simples mas tinha todos os objetos necessários para um bom conserto.
Eu trabalhava depois da escola a noite, quase todos os dias. Neste dia eu também fui trabalhar.
Estava escuro, eu abri o portão de ferro que já estava todo ferrado. Quando eu entrei, havia um carro me esperando ansiosamente. Meu pai sempre me dava o último carro para eu terminar, parece que este precisava de um pneu novo e talvez uma simples troca de óleo como sempre.
Eu entrei finalmente na oficina, indo diretamente para o escritório, meu pai sempre me dizia que cada homem deveria ter suas próprias ferramentas e por isso fui pegar as minhas.
Quando eu cheguei no escritório, eu senti uma daquelas coisas, uma sensação estranha. Parecia que eu não estava sozinho.
- Tem alguém aqui - Eu sussurrei para mim mesmo, havia mesmo alguém lá? Ou eu estava ficando louco?
Eu olhei para a bancada do escritório, normalmente em uma caixinha de plástico estariam as chaves, um ótimo lugar para guardar as chaves de um carro de outra pessoa.
Foi nesse momento que eu vi uma sombra, sempre pensei como em filmes as pessoas não tem sombras e ninguém descobre elas, mas isso não importa afinal era uma sombra de um homem e ela não parecia segura.
Eu não sabia o que fazer, se eu corria ou se eu tentava lutar. Afinal eu nunca havia machucado ninguém, nem mesmo matado.
O homem parecia estar indo em direção ao carro que eu deveria consertar, era poucos metros de onde eu estava.
Eu deveria me decidir naquela hora, era eu ou ele. Ou ele me atacava primeiro ou eu atacava ele.
Tomei coragem e peguei uma chave inglesa que tinha na minha maleta e me preparei.
Tentei ficar escondido por detrás da parede observando o homem e o que ele faria até que a hora chegasse.
Por algum tempo ele ficou apenas andando parecendo estar procurando algo no carro, até que ele parou e começou a andar na minha direção como se tivesse percebido que eu estava lá.
Eu segurei a minha nova arma firme, nunca havia lutado com um homem antes mas eu estava disposto a proteger minha vida e a oficina com tudo.
- Ei! Você é? - O homem passou pela porta do escritório mas antes que ele pudesse terminar a frase eu, mais de uma vez, acertei a cabeça dele.
Foi naquela hora que eu me dei conta, quando o sangue começou a escorrer de um cadáver deitado no chão já sem nenhum resquício de força.
O impacto foi forte e a cabeça dele não parava de sangrar, foi o momento mais insano que eu já tive.
- O que foi que eu... - De repente, eu senti uma sensação que nunca havia sentido antes, meu coração não parava de bater e parecia que nunca iria.
Eu não sabia o que fazer, havia acabo de matar um homem e eu comecei a entrar em desespero tentando pensar em como eu iria esconder o cadáver e o que eu iria fazer depois.
- O que é que eu vou... - Eu me agachei, não conseguia aguentar o peso das minhas próprias pernas. O que eu deveria fazer agora.
Foi aí que me veio algo, talvez se eu enterrasse o corpo, não, eu já vi que enterrar alguém demora e talvez alguém me pegaria. Ainda tinha aquela parte de levar o corpo, esse cara era muito pesado para mim. Eu estava condenado.
Foram minutos que pareciam horas pensando em como eu me livraria daquele homem, eu queria que ninguém descobrisse.
- Eu poderia atirar ele em um rio... - Eu falei para mim mesmo, enquanto o homem já sem vida parecia estar olhando para mim como se tivesse dizendo que eles iriam me encontrar em breve.
Eu senti minha garganta coçar, embora eu não usasse roupas fechadas eu me senti preso. Mas eu teria que resolver isso e sem ninguém saber.
Eu senti um olhar vindo do meu pai, parecia que o homem sabia do que eu tinha feito. Nunca senti uma sensação tão avassaladora como essa.
O meu pai me deu um olhar profundo - Filho, como foi o trabalho? - Perguntou, enquanto cortava uma fatia de queijo.
Eu olhava para os cantos da mesa de jantar - Foi bom... - Acho que quanto eu tivesse em um interrogatório eles iriam me comer inteiro.
O meu pai deixou a faca de cortar queijo sobre a mesa, e suspirou. Um suspiro que se espalhava na casa inteira.
- Takeru... Seu pai. Está passando por muitas dificuldades. - Meu pai começou a falar, seus olhos pareciam tristes e de certa forma ele parecia estar decepcionado comigo.
Depois o meu velho começou a listar os problemas - O trabalho está pagando mal, cada vez temos menos clientes na nossa oficina... - Ele falava sem parar .
Eu fiquei quieto, não queria nem mencionar a merda que eu tinha feito.
Meu pai colocou as mãos na testa e os cotovelos na mesa - E além disso, o cliente que iria buscar o carro hoje de manhã ainda não veio. Tá difícil pra caralho. - Eu congelei, eu sabia o porquê dele não ter vindo. Ele estava morto.
Eu senti uma pressão enorme, meu pai ficou quieto por um tempo olhando para a mesa.
- E como você sabe, sua mãe levou tudo que nós tínhamos. - Ele suspirou, e começou a falar da minha mãe. Eu me senti aliviado, e até sorri.
Talvez eu estaria em uma casa melhor ou até com um emprego diferente, minha mãe sempre foi de família rica mas ela nunca foi a melhor para me cuidar.
Minha mãe nunca foi apegada a mim e sempre me olhava de forma fria, parecia que eu tinha feito algo e eu vivia com medo dela me odiar.
Eu sempre preferi ficar com o meu pai, já que minha mãe parecia me odiar, e a final ele me ensinou a como estar preparado para tudo.
Meu pai e minha mãe estavam separados há um ano, foi algo difícil de lidar e eu fiquei com o meu pai. Eu não sei o que teria acontecido se eu ficasse com a minha mãe naquela época.
Eu tenho poucas memórias de quando eu era criança, nos meus cinco anos a minha lembrança mais forte era de quando minha mãe e meu pai iriam cortar laços.
- Filho, pode vir aqui um pouco? - Minha mãe me chamou, sua voz estava calma mas ainda sim não era reconfortante.
Eu me levantei, eu estava em uma mesa pequena colorindo alguns desenhos.
- Takeru, eu e sua mãe estávamos conversando e... - Meu pai começou a falar, ele era um cara forte mas ainda assim parecia suave com suas palavras.
Minha mãe colocou a mão no meu ombro, e olhou diretamente para mim. Eu não poderia deixar de notar mas seus olhos estavam com olheiras.
- Eu e seu pai iremos nos separar mas não se preocupe. - Minha mãe falou, eu senti que meu pequeno mundinho havia se acabado naquele instante.
- Então filho, com quem você vai ficar? - Meu pai me olhou, ele não sorria nem esboçava nenhum sentimento.
- E-eu... - Eu não conseguia falar, parecia que eles tinham me jogado aquela pergunta sobre os trilhos do trem.
Minha mãe e meu pai continuaram me encarando, querendo uma resposta mas eu não sabia o que dizer a eles.
- Eu vou ficar... - Eu tremi, eu não queria decepcionar nenhum dos dois e também não queria que eles ficassem com raiva ou até mesmo tristes.
Eu senti que tinha lágrimas escorrendo pouco a pouco no meu rosto, minha mãe percebeu e logo me abraçou. Ela estava estranhamente carinhosa naquele dia.
Eu acabei ficando com o meu pai, minha mãe foi embora e como nós não tínhamos dinheiro pra pagar as despesas da casa, nós nos mudamos para uma casa menor e mais simples.
Depois dela ir embora, eu nunca mais havia tido notícias dela. Nem mesmo visto conhecidos dela ou até parentes dela. Parecia que ela tinha sumido.
O meu pai tentou de tudo para me dar uma vida boa mesmo que com pouco, desde pequeno ele me ensinou diversas coisas que eu não aprenderia com ela.
Mas mesmo assim, mesmo com ele se esforçando tanto. Eu ainda sentia que faltava algo, faltava ela.
Ituh me olhou preocupada e ainda intrigada com o que eu havia contado a ela.
- Mas e quanto a sua fome? E por que você começou a matar assim? - Ela parecia preocupada e curiosa com isso.
- Eu não sei. - Eu dei um daqueles sorrisinhos a ela, forma vergonhosa de se descrever.
Ela continuou parada por um tempo ali sem nem piscar. Parecia que eu havia contado algo e ela não sabia como processar.
- Bom, deixando isso pra depois... Eu tenho que te explicar algumas coisas antes de você sair para o mundo. - Ituh pegou um caderno pequeno e uma caneta.
Ela começou a rabiscar uns negócios, o caderno já estava grosso e velho de tanto ela usar.
- Aqui, esse é o reino de Farabella. Ou o mundo de Farabella. Como você quiser chamar. - Ela me mostrou o caderno, havia um desenho de uma espécie de cidade com várias outras ao redor, no meio estava escrito bem grande 'Farabella'.
- Parece Roma... - Eu havia lembrado de um desenho que eu havia visto da antiga cidade de Roma, em que todas as ruas de certa forma levavam a parte central de lá.
- É sério? Eu nunca visitei o seu mundo mas se você está dizendo... - Ela parecia estar intrigada e estar querendo saber mais sobre.
- É uma cidade antiga, todas as ruas levavam a um único lugar... E parece que aqui a maioria das ruas se encontram neste lugar. - Eu disse pegando o caderno e mostrando a ela.
- Realmente... Talvez, nossos mundos sejam bem parecidos. - Ela falou e sorriu.
Ela colocou o caderno em uma bancada próxima a cama e caminhou até uma sala. Depois voltou com uma muda de roupas e me entregou elas.
- Aqui, eu tentei pegar algo do seu estilo. - Ela me entregou, parecendo um pouco nervosa mas eu não sabia o porquê. E é claro que eu iria perguntar.
- Cê tá bem ansiosa aí? Acho que cê você fosse uma cadela seu rabo estaria balançando feito louco. - Eu disse, sorrindo para ela. Ela ficou extremamente vermelha, e não conseguia me olhar diretamente.
- É que... Eu finalmente conheci o salvador do nosso reino. É claro que estou ansiosa! Aliás, você não tem vergonha de falar essas coisas para uma dama? - Ela começou a falar mais alto claramente envergonhada.
- Eu disse algo errado? - Eu provoquei ela mais um pouco, ela suspirou e deixou as roupas na cama e saiu do quarto com passos rápidos mas potentes.
Eu coloquei a roupa, era uma camisa branca e um shorts. Pareciam tentar imitar o estilo de roupas atuais mas os materiais não eram comuns.
Eu caminhei até a porta e lentamente abri a porta, quando eu finalmente saí, eu me surpreendi. Tinha mais uma sala.
- Que lugar bonito... - Eu disse enquanto olhava para a sala, era um local em tons marrons e bastante confortável. Diferente da sala de laboratório que eu estava, esta parecia uma sala de espera.
- É onde eu costumo fazer minhas pesquisas quando eu não estou no laboratório. É bastante calmo aqui. - Ela disse enquanto estava sentada em uma das poltronas com os pés apoiados em um banquinho.
Eu continuei olhando ao redor e me sentei na poltrona em frente a ela, parecia que ela estava olhando algo, meio antigo e um pouco satânico.
- O que cê tá olhando? - Eu perguntei com o braço apoiado na cadeira.
Ela parecia ter tido uma Epifania, de repente, parecendo se lembrar de algo importante.
- Ah! É verdade. Eu não te expliquei a série de magias de Farabella.
Ela me mostrou, tinha uma espécie de diagrama nele mostrando alguns elementos.
- O que é isso? - Eu olhei para o diagrama, repleto de coisas que nem existiam na tabela periódica.
- Esse aqui é o diagrama elemental existente, ele começa na existência e se divide em água, fogo, ar e terra. Depois ele se divide em... - Ela começou a explicar todo o diagrama.
- Mas e pra que serve isso? - Perguntei, olhando para o diagrama enquanto roçava o dedo no papel.
Ela ficou parada por um tempo, depois olhou para mim de novo.
- É apenas um desenho... Mas ajuda os aprendizes. - Ela disse enquanto pegava o papel da minha mão e colocava no casaco dela.
Depois daquilo eu queria entender o que era isso de elementos e como eles funcionavam.
- A bela moça não respondeu minha pergunta... - Eu me curvei me aproximando dela.
- Como eu posso explicar... Cada aprendiz de magia, aprende baseado em algum elemento. Principalmente no manejo de catalisadores. - Ituh diz e levanta.
Ela parecia querer me mostrar algo, eu levanto para ir com ela. Eu achei bastante imprevisível quando ela ofereceu a mão dela para me levar.
- Eu to me sentindo como uma princesa com você me levando assim... - Eu disse a ela sorrindo.
Ela vira e olha para as nossas mãos arregalando os olhos. Parecia que ela não esperava por isso.
- Me desculpa! - Ela rapidamente afasta a mão dela da minha, retraindo-a ao seu corpo deliberadamente.
- Pfft, haha. Você é idiota. - Eu ri dela, ela apenas ficou mais envergonhada.
Depois de boas risadas maléficas, ela finalmente abriu a porta. E eu pude ver o que me esperava naquele lugar repleto de magia e criaturas diferentes.
- ... - Eu não consegui dizer o que eu estava sentindo. Parecia que tinham mentido para mim naquela hora.
- Me desculpa... A gente vai ter que andar um pouquinho. - Ela tem uma voz trêmula.
Eu estava em um lugar alto olhando para uma vasta floresta e nenhum sinal de algo com magia ou fantasia.
E andamos por um bom tempo, no meio do mato. Não tinha uma criatura se quer naquele lugar. Nem mesmo javalis ou qualquer bicho vivo lá.
- Eu até que curto essa vida mais rural, mas quando tem algo pra fazer... - Eu disse encarando ela com ódio.
- Me desculpa... - Ela abaixa a cabeça parecendo bastante nervosa quase chorando.
Eu não deveria ficar falando em como ela é ruim e coisas assim, mas o que eu deveria dizer...
- Para de chorar. - Eu falo para ela e ela me olha de pelo canto do olho começando a dar leves risadas.
- Takeru, você é bem ruim com palavras. - Ela disse para mim sorrindo, parecia que ela não choraria mais.
Caminhamos mais um pouco até chegarmos a uma vila, e lá finalmente eu pude testemunhar a real magia desse mundo.
- Em Farabella, possuímos dois tipos de magias. As magias catalisadores e os feitiços. - Ituh explicava enquanto nós caminhavamos.
Eu sinceramente estava pouco interessado mas eu ainda tinha um pouco de curiosidade depois de ter olhado aquele diagrama.
- Filho, cuidado com a esfera. - Uma mãe de cabelos longos e claros corre para seu filho que segura uma espécie de esfera.
Ituh e eu caminhamos pela vila, todos parecem conhecer ela mas pelo visto ela não é lá grande coisa, ainda bem. Até que escutamos alguém gritar.

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