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Podemos morrer juntos?

Capítulo 12: Plural sentimental.

Capítulo 12: Plural sentimental.

Aug 26, 2025

Se passou um dia, dormi o domingo todo, levantei apenas para ir ao banheiro e depois comer pão com chimia de madrugada enquanto todos dormiam. 
Eu confesso, queria não ser tão acostumado com isso, queria que esse tipo de situação não acontecesse com frequência, queria nunca ter vivido isso, queria que tudo fosse normal, queria uma família normal. Eu quero ser normal! Atiro o prato que eu estava segurando na parede. Após ouvir o barulho minha mãe vai correndo até a cozinha. Chegando na cozinha ela vê a cena: eu, um prato e minhas mãos ensanguentadas dos cacos que tentei esconder. Mesmo sem chinelos ela caminha até mim, pisando nos pedaços quebrados ela me abraça fortemente. No escuro da noite não vejo quase nada, porém sinto suas lágrimas quentes na minha orelha. -Eu sei filho…Eu sei. O abraço fica cada vez mais apertado. -Desculpa por não te proteger. Acho que ela finalmente começou a entender tudo, a me entender, talvez. Mas não consigo aceitar seu afeto, não posso aceitar afeto de ninguém. Por mais que o aprecie, eu não mereço ele. Com certa força afasto seu corpo do meu, assim deixando marcas de sangue em sua camiseta branca. Levanto do chão e vou até a porta, pego um par de chinelos e entrego para ela, sem dizer nada. 

 Os dias que se passam são tristes, faltei a escola durante 3 dias até decidir que tinha de ir. Em uma quinta feira, acordei mais cedo que o usual, meu pai trabalharia hoje então teria carona, porém decidi que não queria ir com ele. Comi um pouco de pão com chimia e botei um casaco aleatório, tinha vontade de vomitar sempre que lembrava de como minha camiseta havia sido destruída naquele dia. Que dia… 
Durante o tempo que fiquei sem ir para aula pensava na tristeza na minha solidão apesar de ter uma casa cheia. Nesse momentos me lembrava da solidão de Mattew, a sua era vazia. Me sentia culpado por ser solitário numa família tão grande enquanto ele era grato pela mínima atenção que recebesse. Sou um merda mesmo. Concluindo meu pensamento boto meus sapatos e começo a caminhar até a escola no escuro, a manhã não chegara ainda naquela cidade assim como no meu coração.
 Fiquei admirado o quão cedo eu levantei, não via ninguém nas ruas comigo. O que podia ver era eu e uns poucos cachorros ,moradores da cidade, Rios vermelhos tinha um impressionante número de cachorros andando por aí. Mas não eram cães abandonados e sim das casas que não tinham portão, como eram muitas as casas naquele fim de mundo (claro, há exceções como a casa de Mattew ,por exemplo, mas ele é uma exceção em tudo). Não existem assaltos para as pessoas se preocuparem, então preferem ocupar seu tempo protegendo a região de qualquer progresso. Perdido nos pensamentos dou de cara com o portão da escola, cheguei antes da escola abrir. Tento contato visual com o porteiro que se encontra em um sono profundo, desisto e sento no meio fio ouvindo música. Fico lá esperando o sol nascer ao som de “No surprises”, essa música sempre conversava comigo.

Outros alunos começaram a chegar, então o porteiro finalmente decidi acordar e abre o portão para nós. O agradeci fazendo um gesto com a mão e fui até minha sala, não queria me encontrar com ninguém, muito menos ver Ricardo agarrado na namorada. Sendo bem sincero, não queria ser percebido, ainda mais depois da situação que tive com o meu irmão aqui. 
Sentado na classe, abro meu caderno de inglês e começo a fazer algumas anotações gramáticas. Lembro então da tarefa que a professora Dutra havia me dado, como forma de agradecimento faço anotações de conteúdos de português para Mattew explicados em inglês. Também decido fazer anotações sobre regras de acentuação básica e dicas para o uso de plural e singular o qual noto que ele tem certa dificuldade. Assim que termino, levanto e boto sobre a mesa dele com um bilhete “Thank yous :)”. Volto para minha classe e pego no sono, acordar tão cedo assim realmente não é para mim, espero terminar o ensino médio logo. Melhor, espero me aposentar logo, sei muito bem que levantar à essa hora da manhã não será exclusivo da minha vida escolar.

Entre pesadelos estranhos, sou acordado novamente. Dessa vez, não com gritos e barulhos estrondosos. Ao invés disso, é uma mão macia que me acalenta, o calor perpassa os fios de meu cabelo bagunçado, sinto um conforto no coração - poucos lugares são capazes de fazer isso comigo, poucas pessoas são capazes de fazer isso comigo - começo a acordar lentamente. Abro os olhos e lá está ele, Mattew me olha gentilmente com as mãos na minha cabeça. -Morning, pensei que não ia acordar. Não sei como reagir, noto que todos olham para nós. Encaradas que dizem transmitem um ar de surpresa e certo julgamento que diz: desde quando eles são amigos? Ouço também sussurros acompanhados por olhares de inveja, afinal pelo incrível que pareça Mattew não é muito sociável na escola, ou talvez ele seja tão bonito que seja intimidade demais para falar com ele. Preferem o cobiçar como objeto de conquista. Me surpreendo como ele nunca nota a presença que tem ou de certa forma apenas ignora isso de maneira imperceptível. Entre olhares e cochichos, os olhos dele sempre encontram alguma forma de cruzar os meus, como está acontecendo agora. Enquanto os outros ele é o assunto, o único que quer discutir sou eu. Respiro. -Não dormi direito. -Comeu? -Comi. Me distanciando dos olhares por um breve momento, me sinto humorado, o suficiente para ser sarcástico. -Pão com chimia, muito melhor que british toasts. -Vocês brasileiros não sabem aproveitar a delícia de uma salsicha. -Ah, eu sei bem… Um silêncio momentâneo se instaura e é quebrado rapidamente por risadas contínuas. Mais uma vez me esqueço dos olhares, só consigo lembrar o dele.

Mais tarde ,no intervalo, depois de uma aula muito chata de geometria, que eu tenho facilidade mas não gosto nada, na sala vazia, Mattew se senta ao meu lado discretamente como um gato arisco e larga sua caça em cima da minha mesa: um pacote de biscoitos. -I made it! Disse em volume cômico. -Obrigados. -De nadas! Retruca como uma criança animada. -Valeu pela notinha, ajudou muito. Não teria conseguido escrever a redação de hoje sem ela. -Tranquilo. Tento parar a conversa, de repente aquela aproximação repentina me gera sentimentos de desconfiança, desfazendo o leve sorriso que começava a surgir no meu rosto. Tenho que lembrar que esta é uma relação de interesses e nada mais, ninguém como ele falaria comigo sem necessidade. -Tu tá distante. Tá fazendo a mesma cara daquele dia. Volto para realidade quase me engasgando após me afundar em pensamentos. Os olhos verdes agora têm tristeza. -Desculpas-desculpa se tiver invadindo teu espaço não quero ser turmoil. Eu não sei nem o que essa palavra significa. Quero falar mas nada me vem à boca, ele levanta num gesto de saída e eu pela primeira vez o prendo. Não sei se estou enlouquecendo, algum impulso que eu nunca senti me faz agarrar o garoto cuja lágrima respinga na minha mão. As palavras não saem, estou preso. Droga! O que esse cara tá fazendo comigo?! Já não basta me fazer perder a cabeça sendo perfeito?! Ele agora também me faz ter reações as quais não entendo também. Mattew não resiste, está estático e quieto, assim como eu. Mais uma vez o silêncio. -Fica. São as duas sílabas que consigo pronunciar naquele instante, enquanto meus braços o apertam mais. Não quero perder ele, talvez eu não queira ficar sozinho. Realmente comecei a desacostumar com a solidão. -Obrigado. Sussurra o menino, quase inaudivelmente. -Obrigado, Érico. Repete. Mais lágrimas molham o moletom, é a primeira vez que vejo um garoto chorando assim. Aproveito a diferença abissal entre nossa estatura e enfio meu rosto em suas costas, acho que choraria também se visse ele naquele estado, respiro fundo mais uma vez. -Obrigado, Érico. Repete pela terceira vez. 


Passam-se minutos até que ele me deixe se soltar dele, quando isso sucede ele volta a se sentar do meu lado. - É a primeira vez que vejo um guri desse tamanho chorar desse jeito. Digo, sem pensar,tentando reviver algum assunto -E é a primeira que ganho um abraço. Fico estarrecido: como um cara perfeito como ele nunca foi abraçado?! -Sabe, minha mãe nunca deu muita bola pra mim. Ela sempre tava preocupada com o trabalho dela, os desfiles, viagens, namorados. Mas nunca comigo, pra ela eu era a razão de meu pai ter parado de amar ela. Eu era a razão pro corpo dela não “servir” mais. Ela fazia questão de me falar isso todo dia. Nesse instante me lembro da minha mãe, que por mais não conseguisse me defender, sempre demonstrou claramente que me ama profundamente. Ele ainda com olhos marejados continua: - E por isso ela me mandou pra cá, morar com meu pai. Achei que no Brasil eu seria mais amado, mas ele também não tem muito tempo pra mim, tá sempre na capital. O inglês passa a mão sobre os olhos limpando as lágrimas e um sorriso surge em sua feição. - Só que agora, eu sinto-. O momento é interrompido por um grupo de meninos suados conversando desnecessariamente alto, voltando do recreio. Eles seguram uma bola e têm um mal cheiro terrível. As meninas se atrasam um pouco por estarem na sala de seus namorados mais velhos, Bianca é uma delas. Ela nem sequer consegue olhar para mim agora, bem não é como antes fizesse questão, contudo não evitava.
Todos se acomodam em seus lugares e a professora Dutra chega, parece animada hoje. Assim, inicia-se outra aula de português. Minutos se passam, revisamos os advérbios, enquanto isso olho para os lados entediado. Quem é o animal que não entende essa matéria? É um saco ter que rever o mesmo assunto, principalmente os que eu já sei- penso. Meus colegas parecem aéreos e não estão tentando prestar atenção, apesar de terem péssimas notas em linguagens. Com os olhos, procuro Mattew, ele está sentado do outro lado da sala agora olhando atentamente para a professora enquanto faz anotações, muito concentrado. Observo sua feição de traços harmoniosos, ele é realmente muito bonito. É engraçado também,de certa forma, o nariz dele ainda está um pouco vermelho de chorar e o rubro contrasta com sua pálida pele. O inglês nota minhas observações e cruzamos olhares, constrangido olho para meu caderno vazio. Que merda! - penso. Não consigo parar de observar ele. O que tá acontecendo comigo?! Deito de bruços na minha carteira, frustrado, não entendo isso. 
leozito
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#slow_burn #romance #portuguese #novel #lgbtq #drama #brazil #bl

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