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A pilha de relatórios e pergaminhos que cercava Li Hongyu parecia não ter fim, por mais que passasse dia e noite trabalhando. E, com os novos ataques de monstros nas vilas, as requisições apenas aumentavam a cada dia. A líder de seita apertou o pingente pendurado em seu pescoço, algo que a ajudava a se concentrar enquanto lia mais um relatório, um dos quais citava a ação brilhante da mais recente causa de suas dores de cabeça, Zhen Ming.

Desde a chegada daquela cultivadora viajante na região, Li Hongyu parecia ter adquirido novas rugas em seu rosto. A mulher havia se misturado relativamente rápido com os aldeões, realizando alguns trabalhos aqui e ali em troca de dinheiro ou comida. No entanto, não era exatamente isso o que incomodava a líder de seita, ela achava admirável a cultivadora ser talentosa em tantos caminhos diferentes como consertar telhados e fazer bordado. O que vinha realmente irritando Hongyu era o fato de Zhen Ming estar sempre em meio a confusões, como se soubesse exatamente onde o problema ia acontecer. Sempre que a seita era chamada para resolver algum estorvo, Zhen Ming estava lá. E na maioria das vezes ela já havia lidado com a situação, aproveitando para fazer gracinhas e provocar Hongyu.

A líder de seita bufou e assinou o relatório, anotando em seu caderno as informações que poderiam ser úteis em sua investigação, para enfim colocá-lo de lado. Antes que pudesse passar para o próximo, no entanto, batidas apressadas soaram do outro lado da porta e, no instante em que deu permissão para a pessoa entrar, Hongyu já estava de pé e com a espada na cintura, pronta para receber o discípulo esbaforido que atravessou a soleira.

—Líder de Seita! Recebemos mais um relato de ataque, a oeste da vila Bei, próximo ao bosque. Ao que tudo indica, é uma possessão desta vez. Não temos muitas informações ainda, mas a equipe que faz a patrulha da região está no local para controlar a situação.

—Algum ferido?

—Por enquanto não, senhora.

—Certo. Avise Li Quan para formar uma equipe e ficar de prontidão. – Hongyu seguiu para fora de seu escritório andando em passos rápidos. Pretendia mandar chamar Yahui para acompanhá-la, mas para sua sorte a médica estava cruzando seu caminho até a saída. – Preciso de você. Temos mais um ataque acontecendo agora.

—Lidere o caminho. – Yahui respondeu já subindo em sua espada e Hongyu fez o mesmo, seguindo na direção indicada.

Não foi difícil para a líder de seita encontrar o local, não só por conhecer Zheng Qi como a palma de sua mão, mas também pela quantidade de pessoas nas proximidades, mesmo com os membros da Seita Li pedindo para se afastarem.

Ao se aproximar de seu destino, Hongyu revirou os olhos e bufou, reconhecendo de longe as vestes em tons de amarelo claro e sentindo uma nova veia em sua testa pulsar. No entanto, manteve a postura, cumprimentando as discípulas que faziam a guarda do local, repetindo o gesto para Zhen Ming.

—É bom encontrá-la outra vez, Srta. Zhen. – Yahui comentou, cumprimentando a menor e fazendo com que Hongyu arqueasse uma sobrancelha. Sua conselheira sempre foi muito receptiva, mas ainda não conseguia se acostumar com sua simpatia para com a viajante.

—Líder Li, Srta. Yahui! – A menor respondeu ao cumprimento animada, com um pequeno sorriso que logo se desfez. – A coisa aqui não está muito boa...

Elas estavam a poucos metros de uma pequena casinha de madeira, simples e precariamente construída, que ficava um pouco mais afastada do centro da cidade e relativamente próximo ao bosque que cercava o vilarejo. Ao redor desta, quatro discípulos estavam posicionados. Zhen Ming estendeu a mão, parando-a no ar e, por mais que forçasse, não conseguia avançar.

—Uma barreira. – Hongyu murmurou, com um olhar afiado, virando-se para o discípulo mais próximo. – Qual a situação?

—Segundo os aldeões, a senhora desta casa sempre foi uma mulher humilde e trabalhadora. Apesar de ter ficado viúva muito jovem, ela tem sustentado a casa e os filhos de forma honrada por todos esses anos. No entanto, nos últimos dias ela começou a agir estranho. Algumas pessoas dizem que, às vezes, ela para do nada, fica tão imóvel que parece nem mesmo estar respirando. Outras, dizem que ela começa a gritar de repente e então volta ao normal no instante seguinte, como se nada tivesse acontecido. Os aldeões começaram a ficar com medo e pararam de mandar serviço para ela. Até que, dois dias atrás, ela se trancou na casa com os filhos e não saiu mais. – O rapaz se inclinou respeitosamente e retornou para sua posição. A líder de seita franziu a testa, ponderando.

—Não parece um caso simples de possessão. Espíritos não têm energia suficiente para manter uma barreira. – A médica da seita Li murmurou pensativa.

— O mais provável é que ela esteja sendo controlada por algum monstro ou criatura demoníaca. – Hongyu apertou o chicote em sua cintura, sentindo seu sangue ferver de raiva. 

—Se for isso mesmo... As chances dessa senhora ainda estar viva... – A pequena não teve coragem de terminar, abaixando o olhar.

Yahui concordou retribuindo o olhar triste e encarou sua líder, no aguardo do que deveriam fazer. Hongyu sacou sua espada, deslizando a lâmina vermelha para fora da bainha.

—Ergam uma nova barreira, vou descobrir o que está acontecendo lá dentro. – A líder de seita destruiu a parede invisível a sua frente com um único golpe de sua lâmina.

—Por que não leva a Srta. Zhen? Acredito que será de grande ajuda. – A médica piscou para a menor. Hongyu apenas deu com os ombros, sem esperar por Zhen Ming, que acelerou o passo para alcançá-la.

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