Please note that Tapas no longer supports Internet Explorer.
We recommend upgrading to the latest Microsoft Edge, Google Chrome, or Firefox.
Home
Comics
Novels
Community
Mature
More
Help Discord Forums Newsfeed Contact Merch Shop
Publish
Home
Comics
Novels
Community
Mature
More
Help Discord Forums Newsfeed Contact Merch Shop
__anonymous__
__anonymous__
0
  • Publish
  • Ink shop
  • Redeem code
  • Settings
  • Log out

Podemos morrer juntos?

Capítulo 14: Viver sozinho.

Capítulo 14: Viver sozinho.

Sep 07, 2025

Já em casa, entro e largo minha mochila na porta do meu quarto. Ao sair, noto que Ricardo não está em casa, apesar da aula ter acabado. -Bê, cadê ele? Digo, descendo as escadas em direção a cozinha. -Ué, não tá aí? -Não. Embora meu irmão mais velho não seja uma pessoa fácil de se ter por perto, nós ,pelo menos eu, não deixamos de ficar preocupados com ele. Antes era tudo mais fácil, a droga está acabando com o garoto aos poucos. Ele já foi um bom irmão, queria que nada daquilo tivesse acontecido- corto o pensamento. -Vem almoçar, Érico. Já aqueci a comida. -Tô indo. Respondo, entrando na cozinha.
 Depois de bem alimentado, volto para meu quarto. Bernardo se despede e sai para jogar futebol com o Henry. 
 Não consigo parar de pensar, memórias voltam a minha cabeça como um ciclo infinito, me afogo novamente nos meus próprios pensamentos. O que aconteceu na ponte…Minha cabeça é a minha ruína! Não quero lembrar de nada disso. Odeio aquele cara. Por que ele tá fazendo isso comigo? Eu não entendo, é confuso! O jeito que ele diz meu nome; Que me toca; É igualzinho a ele, dói do mesmo jeito, no mesmo lugar. 
Inverno passado, eu ainda tinha quinze anos, antes de tudo acontecer, Ricardo naquela época era um irmão menos problemático -sempre machista, preconceituoso, encrenqueiro mas não era drogado- , os amigos dele sempre frequentavam a nossa casa. Aqui, costumava ser o ponto de encontro dele e dos amigos, hoje já na faculdade, eles viam depois da aula, bebiam escondidos e conversavam jogando cartas. A nossa relação era pacífica há um ano atrás, ele me convidava de vez enquanto para beber também, eu sempre recusava, é claro, entretanto sempre ficava observando o jogo deles, participava raras vezes. Naquele grupo de guris um sempre me chamou atenção, o Daniel, maldito, foi alí que percebi que eu realmente era homossexual. Ele tinha cabelos castanhos, idênticos aos “dele” (sai da minha mente! Começo a sentir as carícias fantasmas novamente, me reviro na cama e retomo a memória) e olhos verdes (olhos verdes…) encantadores que pareciam devorar cada centímetro do meu corpo e acendiam um desejo perigoso de transgredir limites carnais. Daniel era o único dos garotos mais velhos que era gentil e nunca me encorajou a beber, até me defendia quando meu irmão me chamava de “viado”, ou “idiota”, ou “filho da puta”. Ele realmente chegava se importava comigo, perguntava se eu estava bem e também me ajudou em algumas crises de ansiedade na escola. Ele foi meu primeiro conforto fora da solidão, e só fui descobrir agora que foi. Lembro de como ele era apaixonado por literatura -é por isso que escrevo agora- ele gostava de repetir meu nome, Érico, incansavelmente. Ele achava incrível que eu tinha o mesmo nome que Érico De Veríssimo, o autor favorito dele, e me emprestava alguns livros dele; Sou apaixonado por Clarissa por causa disso. Liamos por horas juntos e nos aproximamos por causa disso.
Um dia depois da aula -que meu irmão e seus amigos tinham matado e não avisado Daniel- ele decidiu me acompanhar até em casa. Então, convidei ele para ler comigo, estava muito feliz nunca tive amigos na escola (ele parecia feliz também, ria como criança, como…para por favor, para, respira), ele acabou sendo mais do que um amigo. Naquela tarde sentado no chão do antigo quarto, que dividia com Ricardo, lendo “Tempo e vento” enquanto ele lia “Dyonélio Machado”, nós éramos apaixonados por literatura gaúcha, não só por ela. 

No espaço pequeno, que é meu quarto, libertamos sentimentos muito grandes . Os nossos joelhos se tocavam, uma atmosfera estranha sempre se instalava quando isso acontecia. Um desejo terrível de encostar mais partes do corpo surgia em mim. Eu ouvia a respiração profunda dele, evitávamos trocar olhares diretos e um silêncio (silêncio…não, não tem nada haver! Merda! Para cara!). Ele se aproximou cada vez mais, sentando entre meus joelhos, fiquei imóvel, não sabia como reagir. Daniel tirou gentilmente o livro da minha mão com certa agilidade, consenti que sim com a cabeça e nos beijamos. O beijo durou longos minutos, que depois se tornaram horas, nós pudemos expressar todo desejo e angústia que estava incrustada em nossos corações para fora. O toque dele era quente e consistente, nunca vou me esquecer daquela sensação, da força que fazia, das coisas que dizia, como despertou sensações que eu nunca havia sentido(Despertar, não quero despertar) ,das marcas que deixou em mim. A que mais lembro: A que ele deixou quando foi embora, de como me abandonou. Era um dia chuvoso, ele me chamou para ponte (maldita ponte), disse que precisava conversar. Fui até lá de pijamas e com um guarda chuva quebrado. Ele veio até mim -Érico. Encostou sua mão molhada no meu rosto quente. -Eu queria agradecer o tempo que passamos juntos. Foi muito importante pra mim. Ele se afasta, depois de ter dado um beijo na minha boca. -Eu tô indo pra pelotas.Vou pegar o próximo ônibus e ir. Correndo, ele acrescenta: -Se lembra com carinho de mim. Meu coração se partiu em milhares de pedaços, sentia muita dor e um frio inacalentavel -e não era por conta da chuva. Eu chorei muito, espero que as gotas do céu tenham se misturado com minhas lágrimas, ele não pode saber de jeito nenhum que chorei, por mais que ele possa ter visto depois, ele sabe, eu sei disso.
Meses depois ele morreu de overdose. Com isso, descobri que Ricardo se drogava também. Eu queria ter ido também…(quero esquecer isso, por favor!). Daniel morreu sozinho. Ele, desgraçado, me deu um senso de companhia depois teve a coragem de ir embora. Eu jurei que ia para sempre ficar sozinho, me acostumei mais uma vez com a solidão. Tenho medo de desacostumar de novo.
 -Mattew, por favor não faça isso comigo. Digo para mim mesmo, encerrando minha divagação. 

leozito
leozito

Creator

Comments (0)

See all
Add a comment

Recommendation for you

  • Secunda

    Recommendation

    Secunda

    Romance Fantasy 43.2k likes

  • Silence | book 2

    Recommendation

    Silence | book 2

    LGBTQ+ 32.3k likes

  • What Makes a Monster

    Recommendation

    What Makes a Monster

    BL 75.2k likes

  • Mariposas

    Recommendation

    Mariposas

    Slice of life 220 likes

  • The Sum of our Parts

    Recommendation

    The Sum of our Parts

    BL 8.6k likes

  • Siena (Forestfolk, Book 1)

    Recommendation

    Siena (Forestfolk, Book 1)

    Fantasy 8.3k likes

  • feeling lucky

    Feeling lucky

    Random series you may like

Podemos morrer juntos?
Podemos morrer juntos?

742 views5 subscribers

Érico, um garoto gay e introspectivo, vive uma vida complicada em um cidade do interior do Rio Grande Do Sul. Se sente sufocado pela família e deslocado na escola, seu único refugio é criar histórias e fazer análises de mundo pessimistas. Em uma noite, decide escrever um personagem com tudo aquilo que mais despreza, secretamente inveja, mas e se ele não fosse só um personagem e ,sim, alguém real. Será que Érico ainda o odiaria? A resposta virá de forma turbulenta.
Subscribe

15 episodes

Capítulo 14: Viver sozinho.

Capítulo 14: Viver sozinho.

19 views 1 like 0 comments


Style
More
Like
List
Comment

Prev
Next

Full
Exit
1
0
Prev
Next