O que eu fiz?! Ele estava tão perto, conseguia sentir todo seu corpo…E aquele olhar. Eu nunca conheci alguém com um olhar tão denso, que pode estar muito distante em alguns momentos; mas te prendem uma vez que te encontram. É impressionante quantas vezes acidentalmente olho para ele; é como se os olhos dele sussurrassem meu nome, e eu ,obviamente, vou correndo atendê-los. That's not fair! Foi uma das primeiras vezes que consegui manter um contato visual tão longo com alguém; a primeira vez que eu fui visto, e que , de certa forma, vi ele. Érico… Me responde: Por que meu coração acelerou? Por que decidiu derrubar suas barreiras para se aproximar de mim? Tears began to wet my face. I can't stand but sit here in the bridge. Essa ponte…muitas memórias né? The first time you and also the first I was seen. Não adianta o quanto tente esconder, eu não posso. Érico, eu lembro muito bem do dia que te agarrei nos braços - achava que ia ser a única, não foi- você estava desmaiado aqui enquanto chovia muito. No dia eu tinha saído, atoardo, de casa, fui expulso da escola perto da minha casa e meu pai nem se incomodou em me ligar na época. Meus punhos doíam de tanto ter brigado, entretanto, não se comparava à que sentia no meu coração. Elizandra - a garota tímida que ajudava- tinha tirado sua vida um dia antes. Pensei ser minha culpa; de não ter conseguido defender ela; de ter ficado em silêncio enquanto ela sofria, porque era covarde demais para enfrentar aqueles agressores. Então,movido pelo remorso, tomei minha decisão: ia acabar com todos aqueles garotos cruéis que mataram Eli em vida. Assim, lutei contra eles sozinho, infringi diversos socos em seus rostos e recebi alguns também, mas nenhum mais forte que os meus, nada podia doer mais que os sentidos ruins que haviam surgido em mim. Depois disso, fui expulso do colégio, e tive certeza que jamais deixaria de ficar sozinho, já que nem meus pais me queriam, muito menos, querido pelos meus colegas de classe. Por isso, tomei mais uma decisão radical: ia morrer sozinho. Corri até a ponte, mesmo com a tempestade que caía -isso impediria qualquer pessoa com um pouco de sanidade- mas quando cheguei lá não estava sozinho. A boy! Tinha um garoto desmaiado ali, e eu fui até ele. O menino parecia ter a minha idade, cabelos escuros, rosto bonito, sobrancelhas finas e era bem levinho -descobri isso quando o peguei no colo- foi fácil de carregar. Fiquei muito preocupado com ele, estava desacordado e tremia de frio. Segurei seu corpo firmemente, pressionando-lhe contra o meu. Conversei com ele -em inglês, sabia pouco português; e nem sei como estou pensando em português agora; e provavelmente estou pensando em inglês também e traduzindo mentalmente, não…não sei- obviamente não tive respostas, mas de repente não estava tão sozinho. Nos abriguei da tempestade embaixo da parada de ônibus, e continuei contando da minha vida à ele. Passei dias sentindo curiosidade para saber mais sobre o empecilho do meu suicídio, o garoto, fiquei pensando: Por que ele estava ali? Quem era? O que tinha acontecido? Mais tarde, mal sabia eu que iria encontrar ele desmaiado de novo na minha nova sala de aula; que o protegeria novamente; que nos tornariamos amigos, eu nunca tive um afinal; que não ficaria sozinho em casa; ganharia meu primeiro abraço sincero dele; que me apaixonaria. As lágrimas se tornavam mais intensas, como a agonia por não saber lidar com tudo aquilo. I don't know what to do, you make me feel that you, possibly, could release me.
Por que não segurei o Érico por mais tempo? Tá mas depois…provavelmente continuaria segurando ele…eu…fuck! Eu não sei beijar! Deus castiga: já não basta ser gay, sou virgem. Seco minhas lágrimas , frustrado, com o orgulho ferido.
Érico, um garoto gay e introspectivo, vive uma vida complicada em um cidade do interior do Rio Grande Do Sul. Se sente sufocado pela família e deslocado na escola, seu único refugio é criar histórias e fazer análises de mundo pessimistas. Em uma noite, decide escrever um personagem com tudo aquilo que mais despreza, secretamente inveja, mas e se ele não fosse só um personagem e ,sim, alguém real. Será que Érico ainda o odiaria? A resposta virá de forma turbulenta.
Comments (0)
See all