Sem deixar que perdesse a consciência, Meifu retirava seu casaco e o colocava em cima do sofá, vendo o tamanho dos danos em seu braço fino. Eram três cortes. Com o do meio sendo o mais profundo, os outros dois eram mais superficiais. Sem cerimônia alguma, a garota buscou algo apressadamente em sua mochila, puxando um frasco de plástico opaco. Se tratava de uma mistura de água oxigenada e outros componentes, Meifu desenrosca a tampa e despeja o frasco desajeitadamente por toda a área dos cortes. Quando o líquido entra em contato com os ferimentos, Meifu aperta o punho e range os dentes.
- nhhhhg
ela nunca aprendeu a lidar com aquele desconforto sensorial em específico. Uma espuma branca toma conta de toda superfície dos machucados, borbulhava violentamente, era como se corroesse a carne sensível e recém flagelada dela. Um som semelhante a de algo fritando emitia sutilmente daquilo. Após deixar agir por dois ou três minutos, Meifu esfrega um pedaço de pano nos cortes, tirando a espuma. Ela tinha feito isso para prevenir qualquer possível infecção. E com isso fora do caminho, a garota se apressava para concluir os reparos de seu braço, Pegando um carretel de linha junto de uma agulha e começando a costura dos cortes. Ela lutava contra a tremedeira das mãos, visão embaçando e duplicando e o constante cheiro de sangue na respiração nasal. A fadiga de seu corpo era imensa. A adrenalina do confronto estava se esvaindo, dando espaço para o relaxamento dos músculos, e enfim, o mal funcionamento do corpo. Ficaria ainda pior no dia seguinte.
※ ※ ※ ※ ※ ※ ※ ※
Já de manhã, Meifu se levanta. Sem nunca ter dormido completamente. Mesmo no estado em que ficou na noite passada, fez seu hábito de "varredura ocular constante" enquanto repousava. Pois aquele seria o momento ideal para matá-la. Logo no primeiro passo, ela sentiu o baque de seu corpo. A perna que tinha levado o chute do monstro estava com um hematoma feio, assim como seu rosto. O inchaço era notável também, As bandagens em seu braço pareciam okay até aquele momento. Os cortes não iriam ser um problema. Meifu seguiu para fora do quarto. Em passos lentos, porém constantes. A garota tinha uma meta importante no momento. Ela precisava de informações sobre o sobrenatural. Mesmo odiando completamente qualquer coisa que seja considerada herege, Meifu não era idiota. Suas emoções não iriam impedir ela de buscar o meio mais eficiente de agradar seu amado Deus.
"A coisa de ontem parecia um humano, porém com distorções óbvias. Com toda certeza algo de outro mundo. Talvez eu deva começar do básico. Vou pegar os inimigos de Deus mais famosos que se sabe sobre."
Pensava Meifu, ela já estava completamente calma e apática. Calculando o melhor raciocínio para se seguir naquela situação. Mesmo que tudo fosse baseado em lendas e mentiras populares falsamente justificadas pela igreja. Para Meifu sempre foi real, e com o encontro físico com o monstro, sua fé estava ainda mais forte.
"Vampiros, bruxas, zumbis, lobisomens e demônios.. com toda certeza não era uma bruxa. Um lobisomem.. talvez, não tinha aspecto de morto para ser um zumbi. Então fica entre demônio ou vampiro agora."
- okay, já consegui afunilar um pouco as opções.. preciso pensar nas fraquezas, e em que recursos eu tenho para infligir dano crítico neles.
Dizia para si mesma enquanto vasculhava sua mente em busca de informações úteis.
"Os demônios compartilham algumas fraquezas com os vampiros, objetos religiosos, água benta e fogo.. eu não sei confirmar sobre objetos de prata.. talvez seja eficaz contra um dos dois-"
Seus pensamentos são interrompidos pelo ronco de seu estômago. Que dessa vez não iria ser facilmente iludido. Meifu come uma barrinha inteira de cereal, de forma relutante.
- esse é o pior momento para gastar tanto..
Resmungava enquanto mastigava e engolia rapidamente a barrinha e continuava a sua ronda a passos lentos. O dia lá fora era nublado, mesmo de manhã. Era como se o mundo negasse a presença da luz solar quente e macia sob aquele lugar maldito. Uma aura opressora poderia estar envolvendo aquele local, os ruídos e barulhos estranhos poderiam ser mera coincidência. Ou talvez aquela mansão e terreno fossem realmente um epicentro de heresia e com o sobrenatural. Mesmo de dia a mansão não era tranquila.
※ ※ ※ ※ ※ ※ ※ ※
Meifu chegou no armazém de mantimentos da mansão. Após mancar aleatoriamente até lá. Seu corpo estava lentamente se adaptando à dor novamente. Como se a caminhada forçada tivesse aquecido suas articulações surradas e doloridas, as fazendo ficarem "funcionais". Ao entrar no grande cômodo, um cheiro pútrido enche o nariz dela, que já não sentia mais cheiro de nada sem ser a de sangue acobreado. É claro. A comida da mansão estava podre. Porém mesmo assim Meifu deu um passo à frente, na direção das prateleiras. Puxando caixas e mais caixas para fora. Abrindo cada uma delas, e apenas encontrando pilhas e pilhas de comida estragada. Algumas em específico em relação simbiótica com suas embalagens decompostas. O cheiro horrível não a incomodava. Era rotineiro, já tinha dormido em lugares que fediam mais, quartos fedorentos que fediam à carniça podre. Carniça humana-
- não. Eu não quero ficar pensando nessas coisas enquanto estou tão ocupada. Já acabou, a instituição não é mais parte da minha vida. Deus me tirou de lá, Deus tirou a Shuna de lá.
Mefiu afirmou para si mesma, cortando pensamentos indesejáveis sobre seu passado. Milagrosamente ao abrir uma das inúmeras caixas, Meifu encontra algumas cabeças de alho em bom estado, quase começando a brotar. Porém úteis. Ela às coleta em sua mochila, em uma sacola separada, saindo da sala de armazenamento. O cheiro de podre que ela sentia superficialmente estava a lembrando de coisas irrelevantes para seu propósito.
Após anos em uma instituição cruel, Meifu é jogada em uma mansão esquecida por Deus.
Fria, fanática e armada com um canivete, ela inicia sua caçada contra o sobrenatural.
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