Gilbert andava apressadamente pela mansão. Seus passos ainda eram leves. O homem abria as portas dos cômodos de forma escandalosa.
- Há! Aqui!.. Não, também não está. - dizia Gilbert, decepcionado pelo cômodo estar completamente vazio.
Porém uma tensão persistente nunca o deixava. Em todos os momentos sentia olhos obsessivos em cima de si. Era como se uma presença escondida estivesse o analisando de longe, em nenhum momento ele parou de sentir aquela tensão. Os olhos seguiam cada passo dele como uma câmera. Gilbert se virava rapidamente para trás, para os lados, para cima e embaixo dos móveis, procurando a fonte desse olhar. Apenas para se ver completamente sozinho no ambiente.
- Tsk! Eu sei que está aí! Ratinho maldito.. se revele de uma vez!
Gritava Gilbert, de forma raivosa e impulsiva. O homem já estava nesse ciclo há longas duas horas. Não sabia o rosto, gênero ou idade de sua presa. Porém sabia apenas de uma coisa. Tinha alguém o observando. Já eram 05:43 da manhã. E isso deixou o homem completamente impaciente..
"Interessante, ele parece preocupado com algo. Por que a pressa? Gilbert. Preocupado com as horas? Com o amanhecer?.. com o sol?"
Pensava Meifu, enquanto observava ele, escondida nas sombras. Com os olhos completamente abertos, seguindo o homem sem pausa alguma. A garota estava se esgueirando, rastejando e se encolhendo entre as frestas dos móveis e corredores há longas duas horas. Para ela já era rotineiro virar noites. Se esconder era uma de suas especialidades, caso Meifu quisesse, ninguém no mundo poderia a encontrar. Já fez isso tantas vezes, já se escondeu, já prendeu a respiração, já segurou o choro, já engoliu para dentro a ânsia de vômito. Seu batimento cardíaco era lento. Sua mente se focava em adquirir informações sobre esse homem pálido como a neve, usando um terno preto chique com dentes levemente mais afiados que o normal chamado Gilbert. O tinha observado por tempo suficiente para saber pequenas coisas.
- porra! Seu verme asqueroso! Se revele de uma vez! Está me deixando puto de verdade!
Gritava Gilbert com potência máxima nos pulmões enquanto socava uma parede, deixando uma cratera quebradiça. O homem estava impaciente, desconfortável. A confiança de duas horas atrás tinha sumido. A maldita sensação daqueles olhos obsessivos não sumia. Isso o deixava ansioso, caçava uma presa sem rosto, aparência ou voz.
Enquanto ele andava de forma rápida por um dos corredores, ele passava por uma janela, estava coberta por uma cortina, porém a pequena fresta releva a luz do dia. E isso o faz parar na hora.
"Como eu pensei. Um vampiro que tem medo do sol."
Meifu finalmente Concluiu mentalmente. Uma tese que demorou duas horas para ser confirmada. Gilbert era um vampiro e o sol poderia o ferir.
- porra!
Exclamou Gilbert enquanto a janela em sua frente era estilhaçada por uma pedra, deixando o sol entrar. Na mesma hora ele levanta os braços em cima do rosto e dá um pulo para trás.
- Finalmente uma abertura.
Soava uma voz feminina baixinha nas costas de Gilbert. Era Meifu, que habilmente jogou a pedra na janela, esperou a reação dele e correu para seu ponto cego. Sua varredura ocular detalhada a permitiu saber o melhor lugar baseado no último pulo impulsivo do homem.
- você.. - gritou Gilbert enquanto virava o corpo para finalmente ver o rosto de sua presa. Em sua pequena mão estava um canivete, mirado em direção ao seu pescoço.
- é idiota demais!
Rugiu Gilbert enquanto parou o golpe do canivete de Meifu, segurando o braço dela com uma das mãos. Apertou fortemente e arremessou a garota para longe. Ela se espatifou no chão, levantando com dificuldade. A análise de Meifu tinha sido quase perfeita. Ela sabia que ele era mais forte que o monstro que havia matado, porém não sabia o quanto. Seu corpo também estava mais lento do que quando enfrentou a criatura. Porém não teve escolha senão executar sua tese naquele momento. A oportunidade era perfeita demais.
- eu não acredito nisso. A pessoa que matou o meu servo foi você? Um saco de pele e osso? Uma garotinha? Que piada horrorosa!
Dizia Gilbert, de forma desdenhosa. Ele parecia um pouco frustrado também, mas sem dúvidas era ela, sim. Ele sentia aquele olhar obsessivo vindo da garota surrada em sua frente.
- me diga seu nome, ratinha imunda! Vou te matar lentamente por ter me feito ficar duas horas te procurando!
Meifu não fala nada. E mantém os olhos presos em Gilbert. Seu canivete firme em sua mão direita, sua respiração estava controlada. Seu corpo doía muito, a queda recente fez seus outros hematomas doerem novamente. Vendo a forma da garota, Gilbert dá passos lentos e confiantes na direção de Meifu.
- o que foi? Está com tanto medo que ficou muda? Aqui está sua preciosa abertura pela qual lutou tanto! Hã? Não vai fazer nada? Ratinho ridículo!
Debocha de Meifu enquanto se aproxima mais e mais. Sem medo algum. De braços abertos, zombando completamente da garota, ela por sua vez, não se movia de forma alguma. Seus olhos seguiam em Gilbert. Quando ele já estava há centímetros de distância da garota, o homem agarra o pescoço dela e a ergue no alto. Meifu não resiste de forma alguma. Ficando mole. Os braços ficam suspensos perto do corpo, seu canivete foi largado no chão.
- Esses olhos esquisitos seus me dão raiva.. você sequer está viva?
Perguntava Gilbert, que aproxima o rosto dela ao dele. Ele estava com raiva e curioso. A garota em sua frente o lembra de Lulibel de alguma forma. Ele aperta levemente o pescoço fino de Meifu, querendo alguma reação, porém tudo que tem é indiferença total. Os olhos dela estavam fixos no rosto dele. Gilbert fica impaciente com isso, raivoso. E então gritou, abrindo completamente a boca. Mostrando seus dentes superiores afiados.
- mostre alguma reação! Sua- ghhah!
Porém, na mesma hora que o homem abre a boca, Meifu cospe rapidamente algo dentro dela. Algo que manteve em sua boca desde o momento em que se levantou da queda. Gilbert se afasta rapidamente, colocando as duas mãos em sua garganta. Não era um simples engasgamento.
- isso é... é alho?! Sua maldita! - dizia o homem entre as violentas tosses. Seus olhos estavam avermelhados e uma sútil fumaça exalava da pele de seu pescoço, como se queimasse por dentro. De forma superficial. Enquanto isso acontece, Meifu corre rapidamente para direção da janela mais próxima, querendo abrir as cortinas em cima da forma ajoelhada de Gilbert. Quando ela abre e os raios solares entram em contato com a pele do homem, algo acontece.
- você me decepciona a cada século que passa.
Soava uma voz feminina apática, pertencente à Lulibel. Uma garotinha pequena, pálida, que usava um vestido com babados nas pontas. Se assemelhava à uma boneca de porcelana. Ela tinha chegado lá sem que ninguém percebesse. Arrastando Gilbert rapidamente para fora do alcance dos raios de luz. O homem finalmente conseguiu cuspir o alho para fora, limpando a boca com as costas das mãos. Estando recuperado.
- ei! Eu estava no controle aqui! Você não precisava meter o seu nariz!
Gilbert protestava com raiva para Lulibel. Meifu estava paralisada, observando a cena.
Lulibel: - Por que não usou suas presas sanguíneas? Você ia morrer de forma patética para uma mortal insignificante.
Gilbert: - eu já ia usar! Já ia usar!
Lulibel: - por que não usou desde o começo? Por que não matou ela em um único momento? A cada século que passa, eu fico mais decepcionada com sua impulsividade. - a pálida bonequinha de porcelana dizia de forma fria e cortante na direção de Gilbert. Seus Olhos Impiedosos não mediam as palavras para descrever as falhas dele.
- ah.
Suspirou Lulibel, ao ver que Meifu havia desaparecido. Gilbert olhava para o espaço onde a garota estava há momentos atrás com raiva mal contida.
Após anos em uma instituição cruel, Meifu é jogada em uma mansão esquecida por Deus.
Fria, fanática e armada com um canivete, ela inicia sua caçada contra o sobrenatural.
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