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Double Bass Duble

Capítulo 6

Capítulo 6

Oct 21, 2025

Uma garçonete apareceu em frente a porta, era uma moça alta com cabelos escuros amarrados em um coque. Seus olhos eram brancos como uma vela, sem qualquer possibilidade de ver a luz.

— Olá, em que posso ajudar? — A garçonete possuía uma voz suave e melancólica. Ela mantinha as mãos unidas, como se estivesse em uma postura previamente planejada.

Eryca olhava para ela com certa curiosidade, aquela mulher parecia tão etérea, era difícil de não perceber. 

— Precisamos de uma mesa com dois lugares e se possível próxima de uma janela — Miranda sorria, a mulher assentiu com a mesma expressão serena e gestos suaves, ela guiou as duas para uma mesa.

Eryca queria perguntar algo para a moça, qualquer coisa, havia um certo mistério rondando aquela mulher, ela tinha uma voz calma e também era cega. Mas isso era óbvio, e uma pergunta assim não a interessava.

— Você é anêmica? — Eryca perguntou com um rosto sério e sem expressão, os lábios da mulher se cerraram, sem palavras.

Todas ficaram em silêncio, se encarando, aquilo foi tão repentino que qualquer palavra ou até mesmo respirar parecia fora de hora.

Miranda cutucou Eryca com uma expressão levemente irritada, como se ela tivesse feito algo errado. 

— Você não pode perguntar isso pras pessoas, é feio! — Ela sussurrou com pressa, a mulher continuou parada como se estivesse congelada.

Eryca olhou para baixo, entendendo a situação, ela ficou um pouco envergonhada e triste, mas por fora parecia bem mais suave do que por dentro.

— Me desculpa, é que sua voz é tão suave que parece que você está quase que morta… — Eryca disse em um tom suave, suas palavras não melhoravam as coisas.

— Meu Deus?! Eryca, você podia ter ficado quieta! — Miranda exclamou em espanto, chocada com que a amiga havia falado.

— Me desculpa, eu não sou boa com palavras. — Eryca olhava para baixo, quase que choramingando.

A garçonete soltou uma leve risada, seus risos como sua aparência eram suaves, ela colocou a mão sob os lábios tentando escondê-los.

— Está tudo bem, aceito suas desculpas. E eu não sou anêmica, essa é apenas a maneira que eu falo. — Ela disse sorrindo.

Eryca suspirou aliviada, colocando a mão em seu peito. Ela não era boa com palavras, e muito menos com pessoas.

— Mas é verdade, a senhorita é muito diferente. — Miranda fitava ela com o olhar, parecia uma presença angelical bem na frente dela.

A garçonete sorriu, seus olhos se espremiam com suas bochechas se levantando levemente.

— As pessoas me dizem isso muito, algumas por conta do meu jeito e outras por conta da minha aparência, principalmente por conta dos meus olhos. — Ela falava com um tom suave, parecia que ela estava um pouco melancólica.

— Mas você sempre teve esse problema? — Miranda perguntou, suas palavras eram ingênuas, ela não queria ofendê-la de forma alguma, em resposta a mulher franziu o cenho, um pouco confusa com a pergunta.

Eryca olhou para ela com um sorriso de desdém, agora era Miranda a indelicada. Parece que mesmo que ela tenha mais convivência com as pessoas, ela não era uma sabe tudo.

— M-me desculpa! Não foi isso que eu quis dizer! É só que… Da forma que você fala parece que isso é um grande empecilho para você. — Miranda abanava as mãos, seu nervosismo estava evidente.

A moça suspirou fundo segurando o cardápio que estava em sua mão mais firmemente. Isso era até que comum para ela, mas ainda assim era difícil ter que explicar a cada pessoa sobre si mesma.

— Eu nasci cega, também tenho uma deficiência de ferro. As pessoas dizem que eu pareço um fantasma, mas eu sou apenas uma pessoa comum que tem sentimentos e trabalha. — Ela continuou. — Eu entendo a curiosidade de vocês e não me importo de responder qualquer pergunta que tenham, mas é só que… — Miranda olhou para a mulher enquanto ela mordia os lábios, ela parecia estar ficando ofegante, como se quisesse contar algo que normalmente não contava.

— Vamos, a gente está ouvindo. Pode falar. — Miranda segurou sua mão lhe dando firmeza, olhando fixamente para ela.

A garçonete deu um passo para trás, nunca alguém estava tão curioso a esse ponto sobre ela. Normalmente perguntavam coisas banais como “E como você vai no banheiro?” e “Como você conta dinheiro?” mas nunca quiseram saber sobre o que ela mesma queria contar. Nunca perguntavam “Você está bem?” ou “O que você acha de trabalhar aqui?”.

— Eu… Eu queria poder falar das coisas que eu gosto, que me perguntassem sobre meu trabalho ou sobre o que eu faço, mas as pessoas só querem saber da minha condição e dos pedidos que a chefe colocou em outro idioma… — Ela parecia estar completamente aborrecida, Eryca a olhava franzindo a sobrancelha.

— Mas isso não é algo bacana? Olha, ninguém pergunta para mim nada além das horas. — Eryca pos o rosto sob a o punho se apoiando nele, ela olhava para a moça de forma antipática que por sua vez a olhava com os olhos abertos para novas perspectivas.

— Você acha que… Eu devo ficar feliz que as pessoas têm curiosidade sobre mim? — Ela colocava a mão suavemente em seu queixo pensando sobre o assunto, nunca que ela iria pensar em uma coisa dessas.

Parecia que algo havia clicado nela, uma nova forma de pensar que iria além do que ela esperava para ela mesma. As pessoas eram curiosas e perguntavam coisas bobas, mas talvez era por isso que ela deveria se sentir agradecida, porque ela tinha algo que a aproximava dos outros mesmo que fosse um “empecilho”.

— Sim? E por que você não ficaria? — Eryca respondeu, como se nem tivesse sido abalada. A mulher pelo contrário tinha brilho nos olhos. 

Ela parecia bem mais feliz agora,  nem conseguia esconder um sorriso bobo do rosto. Mesmo que tapasse com o cardápio, risos suaves poderiam ser escutados.

— Bem, muito obrigada! Irei ver as coisas de forma diferente agora. — Ela sorriu e começou a andar para longe, Miranda se levantou rapidamente e a puxou pelo braço.

— Espera! — Miranda gritou. — Qual é seu nome? — Ela continuava segurando a garçonete, que olhava para seu próprio braço.

— É Angelica, Angelica Svarovski. - Ela sorriu e continuou caminhando se despedindo de Miranda e Eryca.

Miranda foi se sentar de volta à mesa, ela suspirou aliviada que conseguiu falar com a moça sobre seu nome. Eryca a encarava como se estivesse com algum problema.

— O que foi? Eu só queria perguntar o nome dela… — Miranda deu de ombros, olhando para o lado oposto de Eryca.

— É só que… Eu acho que a gente se esqueceu de algo… — Eryca deu uma leve pausa até que tudo ficou em silêncio.

— Ah! A gente se esqueceu do nosso pedido! Garçom! — Miranda deu um pulo na cadeira chamando alto o funcionário que estava ali perto.

As duas fizeram seus pedidos e logo saíram do restaurante satisfeitas com o que haviam comido, Miranda acariciava sua barriga e lambia os lábios.

Eryca olhou para ela incomodada, como ela conseguia comer tanto?

— Aah… Satisfeita e livre para andar por aí, tudo que eu sempre sonhei! — Miranda abria os braços deixando a luz solar penetrar em sua pele, Eryca por sua vez se encolhia e ficava na sombra atrás dela.

— E agora onde nós vamos? — Eryca perguntou, estando disposta a ir para qualquer lugar que Miranda quisesse.

— Para um hotel, é claro! É muito difícil ficar carregando essas malas para lá e pra cá. Eu me lembro bem que no restaurante várias pessoas tropeçaram na minha bolsa… — Miranda sorriu, ela já tinha um plano. E sabia quase que exatamente o que iria fazer.

— Tá bom… — Eryca concordou baixinho, Miranda percebeu que seu olhar estava diferente. Ela não estava séria ou irritada mas pensativa e até um pouco triste.

— Aliás, o que você veio fazer aqui? A gente ficou esse tempo todo andando juntas e você não me parece do tipo que saí viajar imprudentemente. — Ela a olhou com curiosidade, Eryca não conseguia desviar o olhar por mais que tentasse.

— Éééé… — Gotas de suor escorriam de sua cabeça. — Eu estou procurando trabalho, eu acho… — Eryca desviou o olhar.

Era mais óbvia a sua mentira que de criança, Miranda sorriu percebendo que ela não estava a fim de falar a verdade, talvez o motivo fosse algo vergonhoso ou ela realmente não sabia por que ela veio para essa cidade.

— Tá tudo bem não saber o que quer, afinal cada pessoa tem seu tempo né? — Miranda deu uma leve piscadinha para Eryca.

Mas ela não sorriu de volta, ela olhava para baixo ainda mais apreensiva, segurando suas próprias mãos tentando se proteger. Esse sentimento de impotência e não saber para onde ir a atormentava, será que ela nunca iria saber exatamente o que fazer com a vida dela? Ela sabia de muitas coisas, mas por que ela não conseguia colocar nada em prática?

— Eu… fui expulsa de casa. Minha mãe dizia que eu deveria ir ver o mundo e tentar coisas diferentes, ela era uma pessoa bem social e acho que ela queria me ver bem. Até então eu fui morar com a minha avó que morava em Salvador, mas depois que ela faleceu, eu tive que procurar outro lugar para ir. — Eryca se sentou em um banco que estava próximo delas, ela acariciava suas mãos e suspirava depois de cada frase.

— Eu encontrei um apartamento aqui em São Paulo, um até que grande. — Eryca se encolhia mais e mais. Miranda a encarava com uma expressão confusa.

— E qual é o problema? — Miranda perguntou, Eryca arregalou os olhos quando a escutou. 

“Qual era o problema?” Vários. Primeiro que o apartamento que ela conseguia pagar era um compartilhado e haviam muitas pessoas estranhas lá, segundo que ela não sabia como andar pelas ruas de São Paulo e tinha medo de ser sequestrada, terceiro que ela não tinha nenhuma amiga e provavelmente ficaria dentro do apartamento apodrecendo.

Mas o olhar de Miranda fez ela pensar em apenas uma única resposta.

— Eu não tenho amigos e também tem muitas pessoas lá… Acho bem desconfortável ficar perto de estranhos e sem ter ninguém para conversar… — Miranda encarou Eryca com uma expressão confusa, sua voz estava cheia de melancolia, mas por quê?

— Mas a gente é amiga, né? Por isso que a gente anda junto, mesmo que você seja uma pessoa de poucos amigos, eu sou uma desses poucos. — Eryca a encarou por um momento, elas eram amigas? Quer dizer que era isso que era ter uma amiga? Talvez, ela não estivesse tão sozinha quanto pensava…

— Sim, eu acho que sim… Me desculpa. — Ela olhou para baixo entrelaçando os dedos.

Miranda segurou sua mão e a puxou para continuarem a caminhar, Eryca pegou sua bolsa com pressa tentando acompanhá-la.

— Esquece isso, vamos! Vamos ver se esse pessoal aí aceita mais uma moradora, quero dizer… Duas! — Miranda a continuou puxando pelo braço, caminhando rapidamente mas sem correr, porque ela sabia que Eryca era meio sedentária e não conseguia correr por muito tempo.

Os olhos de Eryca brilharam, tudo parecia estar em câmera lenta enquanto Miranda segurava sua mão e a puxava, ela sentia algo que nunca havia sentido antes, um sentimento diferente.


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