O quarto era espaçoso e sereno. Atrás de si, uma grande cama de madeira com cortinas pesadas dominava o ambiente. Do lado oposto, uma mesa de chá de madeira escura era ladeada por quatro cadeiras simples. Um vestuário e uma penteadeira completavam o mobiliário, tudo em tons claros de madeira que refletiam a luz suave do lugar, tornando-o um ambiente aconchegante.

Ao sair, deparou-se com um corredor amplo, com seis portas no total. A primeira, à sua esquerda, revelou um banheiro surpreendentemente luxuoso para a era feudal a que o jogo se habituava, com detalhes em dourado e mármore branco. A decoração de toda a residência era sofisticada, transmitindo uma paz quase celestial que parecia um insulto à pobreza intelectual de seu mais novo habitante.

As outras portas revelaram uma cozinha imaculada e dois quartos de hóspedes, mais simples que o seu, mas ainda assim elegantes. A última porta, próximo à saída, abrigava um escritório. Uma enorme escrivaninha de madeira escura e uma cadeira alta com assento almofadado impunham-se ao centro, diante de uma estante abarrotada de livros que cobria a parede inteira. No canto direito, um sofá convidativo estava posicionado frente a uma mesinha de centro, com uma chaleira e um jogo de xícaras. Um lustre de cristal banhado a ouro iluminava um tapete de pelo branco perolado, e em um cabide no canto repousavam espadas e equipamentos marciais, um contraste severo com a suavidade do resto do ambiente.

Zhong sentiu um leve atordoamento. "Os ricos realmente sabem viver" — pensou, maravilhado e um pouco intimidado.

Decidido a entender sua nova função, passou o resto do dia imerso nos livros do escritório. A leitura de manuais de cultivo e tratados marciais absorveu-o de uma forma que nada em sua vida passada jamais conseguira. A concentração era tão intensa que perdeu a noção do tempo, só retornando à realidade quando batidas suaves e perfeitamente medidas ecoaram na porta.

— Com licença, mestre. Este discípulo veio trazer seu jantar e preparar seu banho! — A voz de Darius era como uma doce melodia, tão impecável que soava quase artificial. Seus movimentos, ao entrar e dispor a comida na mesa, eram precisos e eficientes, mas a postura era rígida demais para um simples servo, mostrando sutilmente suas origens rígidas de cultivador.

Foi naquela proximidade que Zhong pôde observá-lo verdadeiramente. Seus olhos amarelos, com pupilas verticais, lembravam os de um pequeno felino. Por um instante, Zhong julgou ter visto um brilho calculista em sua profundidade, mas foi rapidamente substituído por uma docilidade tão convincente que ele duvidou de sua própria percepção. Longos cílios emolduravam um nariz reto e um rosto fino, ainda marcado pela suavidade infantil. Seus cabelos, ainda não rebeldes por seu sangue demoníaco, eram negros como ébano e acrescentavam à aura de inocência, que era desmentida por um físico alto e robusto, desproporcional para um garoto de sua idade. Era, de fato, uma aparência digna de um futuro imperador impiedoso para um jogo de garotinhas!

— Darius, você está em que idade? — perguntou, sua curiosidade superando a cautela.

— Este discípulo logo fará dezesseis anos, meu mestre — respondeu o rapaz, baixando os olhos com uma humildade que parecia quase ensaiada. Um "Uh" foi a única resposta que Zhong conseguiu formular.

Decidindo não estender o assunto, permaneceu em silêncio até que a refeição estivesse posta e pôde, finalmente, provar o alimento. Mal o primeiro bocado tocou seu paladar, seus olhos se fecharam de prazer enquanto um suspiro deleitoso escapava entre seus lábios.

— Hm, bom — pronunciou, antes de continuar a comer com um apreço genuíno. Ele não viu o olhar que Darius lhe lançou, lampejando em puro desdém e triunfo contido, que fora rapidamente mascarado por uma expressão de satisfação servil.

— Fico extremamente feliz que meu mestre tenha gostado — a voz de Darius era suave, mas carregada de uma ênfase que soou ligeiramente doce demais aos ouvidos, mas que ele ignorou totalmente enquanto saboreava a deliciosa comida em sua boca.

Assim que Zhong terminou, Darius recolheu os utensílios com uma presteza quase ansiosa para deixar o aposento. Na solidão repentina, um sentimento incômodo brotou em seu peito. Darius poderia ser um tirano no futuro, mas agora era apenas uma criança, desempenhando tarefas servis para ele. Uma ponta de culpa misturou-se à sua perplexidade. "Talvez" — pensou, com um fio de esperança ingênuo — "se eu for um bom mestre para ele agora, ele não precise se tornar aquele personagem esnobe e impiedoso. Pobrezinho, deve ter tido uma vida tão difícil..."

Seu raciocínio foi interrompido pelo retorno do próprio ser de seus pensamentos. Darius parou na entrada, seu rosto um perfeito equilíbrio entre respeito e solicitude enquanto o encarava. — Mestre, seu banho está pronto.

Durante o curto trajeto até o banheiro, Zhong notou que os passos de Darius eram estranhamente silenciosos, como os de um predador. A devoção que ele projetava era tão perfeita que parecia assustadoramente caricata. "Que discípulo dedicado" — pensou Zhong, tocado pela própria interpretação ignorante.

Dentro do banheiro, Zhong começou a despir sua túnica superior enquanto Darius verificava a temperatura da água com as costas voltadas. Quando o jovem se virou, seus olhos faiscaram por uma fração de segundo, percorrendo o torso exposto do mestre com uma intensidade que fazia seu corpo queimar.

Zhong, alheio, interpretou o rubor passageiro nas faces de Darius apenas como timidez ao estar perto de seu professor.

— Pode se retirar. Isto é tudo por agora — disse Zhong, gentilmente.

— Como o mestre ordenar — Darius inclinou a cabeça, mas, ao se virar para sair, Zhong julgou ver o canto de sua boca ser levemente mordiscado em contenção. "Devo estar realmente muito cansado" — decidiu, ignorando o pressentimento estranho em seu corpo.

Assim que a porta se fechou, Zhong entrou na banheira. A água morna envolveu seu corpo, levando consigo parte da tensão do dia. Um suspiro frustrado escapou-lhe dos lábios. "Trabalhar é um saco, não importa em que vida!" — pensou, resignado.

Vestido com uma roupa de dormir de tecido leve e um majestoso roupão preto, Zhong voltou ao escritório. A sensação era estranhamente familiar, como os períodos de prova de sua vida passada.

Foi então que a voz estridente do sistema ecoou em sua mente:

【Parabéns, anfitrião! Você atingiu 90/1000 pontos de ternura com o vilão! Como recompensa, o anfitrião receberá 50% das memórias corporais do sucessor deste corpo! (＞∀＜) Peço ao anfitrião que vá imediatamente repousar para assimilá-las!】

Zhong quase gritou de alegria. Aqueles que muito trabalham realmente são abençoados!

Sem perder um segundo, alterou seu curso e dirigiu-se diretamente ao quarto. Mal seu corpo tocou o colchão macio, um impacto violento abalou sua consciência, como se um véu fosse rasgado, e então as luzes se apagaram.