Sara pega a mochila surrada de Meifu, a colocando do seu lado. Ela procurava algo dentro. Meifu descansava com a cabeça ainda encostada no colo dela, olhando para o teto com olhos semi abertos. 

Meifu: - o que você está procurando?..

A garota disse, com dificuldade. Até que de repente sentiu um pedaço de pano úmido em seu rosto, com suavidade. No local onde estava o corte. Ela tem uma pequena reação, porém ficou parada após alguns segundos.

Sara: - Eu vou limpar isso, tudo bem? 

Meifu: - não precisa fazer isso.. 

Sara: - eu preciso sim, você está coberta de machucados. Por favor, me deixe cuidar de você.

Sara disse enquanto olhava diretamente para Meifu em seu colo. Um pedido genuíno, assim como todas as ações da garota até agora. A garota câmera iria negar na mesma hora, se levantar forçadamente e continuar sua interminável luta. Porém aquela garotinha que cobria os ouvidos com as mãos em uma sala escura aceitaria. 

Meifu: - tá bom..

Ela fala bem baixinho, sua voz era vulnerável, Parecia que estava segurando choro, porém não chorou. Então Sara continua limpando os cortes do rosto de Meifu, até que gentilmente a coloca sentada, de costas para ela.

Sara: - Eu vou precisar tirar seu casaco agora, tá bom?

O tom da garota inocente era doce e acolhedor. Quase como um abraço verbal. Meifu concorda silenciosamente, fazendo um "sim" com a cabeça. Os olhos de Sara se abrem completamente quando termina de remover o casaco da garota em sua frente. Tinha a visão de seus machucados, mesmo por baixo da fina camisa branca que Meifu usava. manchas de sangue secas por todos os lugares. Algumas manchas mais antigas que outras. Quando Sara levanta a camisa para enxergar melhor, consegue ver alguns cortes muito específicos. Iguais e repetitivos, alguns cicatrizados, cobrindo boa parte das costas de Meifu. Seu rosto empalidece e seu peito se enche de compaixão e dor ao ver aquela cena. 

Sara: - Meifu.. o que fizeram com você? Isso é.. antigo.. não é? 

Meifu: - eu era idiota.. ficava retrucando eles.. 

Sara ficou em silêncio, tomando cuidado com suas próximas palavras.

Sara: - quer conversar disso comigo?

Meifu: - não.. me desculpa.

Sara: - não precisa pedir desculpas, tá tudo bem.. 

Sara passa a mão na cabeça de Meifu novamente, de forma tranquilizadora, já que a garota tremia um pouco.

Sara: - Quando se sentir confortável para falar disso comigo, pode falar...

Após isso, Meifu fica em silêncio. Então Sara continua a limpeza dos cortes, gentilmente costurando os machucados abertos, como os perto da costela fina de Meifu.

Meifu: - Sara.. 

Sara: - sim? 

Meifu: - por que você é tão gentil? - era uma pergunta genuína, realmente não ela entendia o porquê, e queria saber. 

Sara: - eu não sei.. me acha ingênua por isso? - ela tinha um tom de auto depreciação, talvez por se achar idiota em agir assim, mas não iria mudar. 

Meifu: - você é boa demais para existir, é só isso..

Sara: - e você é muito forte. Tem a coragem que eu jamais teria.. 

O tempo passa com um silêncio confortável entre as duas garotas naquela pequena sala escura e escondida da mansão. Curativos foram feitos com carinho, e laços também. Mesmo que fosse um erro, eles foram.

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Meifu e Sara estavam sentadas, encostadas em uma das paredes. Uma de suas mãos unidas, olhavam para frente, o sono não iria chegar tão cedo, já era perto da manhã.

Sara: - Você me disse algo sobre sua missão quando nós nos conhecemos.. o que é exatamente?

Meifu: - Existem seres que são inimigos de Deus, eu quero exterminar eles.. 

A garota parecia mais séria agora, talvez com um pouco de raiva em sua voz. 

Meifu: - essa mansão está cheia deles.. 

Sara: - aquela coisa que me arranhou é um deles?

Meifu: - eu não sei.. muito provavelmente.. 

De repente, Meifu se lembra de algo. 

Meifu: - o livro! Pode pegar o livro de capa branca do seu lado?

Sara: - ah, sim, Aqui.

Sara passa o livro para Meifu, que o apoia em seu colo.

Meifu: - Este livro salvou a minha vida, Deus que me deu ele. Ainda não tive a oportunidade de abrir ele, vamos fazer isso juntas.

Sara concorda, chegando mais perto de Meifu, para poder ver o livro melhor. 

Sara: - Quando quiser.

Meifu lentamente abriu o livro, para surpresa das duas, estava em branco, mas antes mesmo delas terem tempo de reagirem a isso, aquela voz andrógina ecoa na mente das garotas.

- Tal momento não é mera causalidade. Fogo e luz, ofereçam uma demonstração de devoção.

As duas parecem confusas, Meifu não questiona. Então Sara é a que o faz.

Sara: - como exatamente? Senhor Deus..

A voz responde, enquanto palavras aparecem em uma das primeiras páginas do livro. 

- o Corpo do Divino está em tuas mãos neste momento, o umideçam com uma gota de seus sangues, fogo e luz. 

Meifu: - vamos fazer isso. 

Meifu estava completamente decidida. Sara já nem tanto.

Sara: - tem certeza? Meifu. 

Meifu pega na mão de Sara, e a olha nos olhos

Meifu: - não se preocupe, é Deus, ele sabe o que faz, é só uma gota.

Sara aceitou, relutante, Porém queria acreditar em Meifu. não poderia negar aquilo, e então, com uma picada rápida de agulha, as duas derramam uma gota de sangue na página em branco do livro. O sangue se espalha pela página, escrevendo palavras e mais palavras.

- que toda maldade seja expurgada pelas tuas mãos pulguentes, sejam fogo, sejam luz. 

A voz andrógina disse, antes de sumir tão abruptamente quanto apareceu. Uma pequena página de texto e um desenho de uma cruz com um olho no meio haviam sido feitos com o sangue das duas, Meifu e Sara lêem o pequeno parágrafo primeiro.

"Ó Deus, ouça minhas preces. Faça-me inteiramente teu instrumento, faça-me combustão."

Existiam outras duas sentenças, com a mesma estrutura.

"Ó Deus, ouça minhas preces. Que as labaredas flamejantes arrebatem teu inimigo."

"Ó Deus ouça minhas preces. Assim como uma mãe, cuide do meu broto, enxugue tuas dores e as esprema em meu corpo."

Meifu e Sara lêem, mas não entendem. O livro começou a se distorcer, por reflexo, Meifu arranca a página com os parágrafos, com medo de perder as escrituras. 

Sara: - isso é..

Sara disse, surpresa, enquanto olha para o que um dia foi um livro no chão. Sua forma havia mudado. Agora era uma cruz com um olho no meio. Era pulsante, vivo. 

Meifu: - isso é divino.. 

Meifu pega o objeto, o olhando de perto, vendo algo talhado nele.

Meifu: - esse é o Serafim dos Sete milagres..

Naquele momento, algo maior que a mansão havia acordado. 

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