Júlio chegou cedo em casa naquele dia. O começo de mês sempre vinha com dias de calmaria, onde não precisava fazer hora extra nem virar noites revisando balancetes. Podia sair no seu horário, chegar em casa, tomar um banho e relaxar no sofá da sala enquanto espera Lucas terminar o jantar e Marcos se juntar a eles.

E foi exatamente o que fez, esticando as pernas na mesinha de centro e resgatando o celular do bolso do moletom. Ele ignorou completamente os grupos que acumulavam cada dia mais mensagens, sem paciência para interagir com tantas pessoas ao mesmo tempo, e clicou na mensagem de Isadora. Não era sua intenção, mas não sabia o que mandar em resposta, então apenas ficou encarando a tela do celular.

[Oi. Isadora aqui! ✧⁠◝⁠(⁠⁰⁠▿⁠⁰⁠)⁠◜⁠✧]

[Você pode me chamar de Dora, se quiser (⁠*⁠˘⁠︶⁠˘⁠*⁠)⁠.⁠｡⁠*⁠♡]

Bonitinha foi a única coisa que passou pela cabeça de Júlio, ainda sem saber o que responder.

“Qual o motivo desse sorrisinho aí pro celular?” Marcos afundou ao seu lado, tentando espiar a tela.

“Eu não tô sorrindo”

“Ei Lucas, vem ver, ele tá sorrindo”

Lucas apareceu na porta da cozinha, com uma colher de pau e uma faca nas mãos. “Definitivamente isso é um sorriso”

“Vocês não tem nada melhor para fazer não?” Júlio empurrou o ombro de Marcos para longe.

“Você sabe que implicar contigo é meu passatempo favorito, Ju” Marcos abraçou o namorado pelo ombro, puxando-o para perto e deixando um beijo estalado em sua bochecha.

“Ah, é a mocinha do outro dia.” Lucas comentou, apoiado no encosto do sofá, atrás dos dois e espiando o celular de Júlio. “Que fofinha”

“Júlio, faz três horas que ela mandou essas mensagens e você só visualizou, nem respondeu!” O mais alto dos três puxou o celular da mão alheia, ignorando seus protestos.

[Marcos aqui! Ele já salvou seu número (⁠｡⁠•̀⁠ᴗ⁠-⁠)⁠✧]

“Espera aí, como é que ela conseguiu seu contato?” Marcos indagou, repassando os acontecimentos da última sexta feira em sua mente e tendo certeza de não ver os dois trocando números.

“Ela também trabalha na Daylight, no prédio dois. Nos esbarramos no almoço” Júlio encolheu os ombros.

“Hmm, isso que eu chamo de coincidência!”

“Vocês almoçaram juntos?” Desta vez foi Lucas quem perguntou, retornando para a cozinha.

“Hm. Ela tentou pagar meu almoço. Eu não deixei” 

“Você não foi grosso com ela, né?” Júlio viu a sobrancelha, onde o piercing de Marcos descansava, se erguer. Ele negou com um aceno.

“Bom.”

Marcos deitou a cabeça no colo de Júlio e continuou digitando.

[Ju é um bobão, ele não sabe interagir com os outros, então perdoe ele pelos vácuos]

“Eu não sou um bobão. Você é.” Júlio tinha a testa franzida e um biquinho nos lábios e Marcos não resistiu em apertar suas bochechas, fazendo uma boquinha de peixe e puxando-o para um selinho.

“Ei, o que acham de chamá-la para a pista no sábado?” o maior deles sugeriu, voltando a se sentar.

“Você não sabe se ela sabe patinar, bobão”

“Se ela não souber, eu posso ensiná-la, igual te ensinei, bobão”

“Certo, meus dois bobões, o jantar está pronto!” Lucas anunciou da porta da cozinha. “Mas vão ter que pagar pedágio para comer” ele barrou a passagem com um braço e uma perna. Júlio e Marcos levantaram e correram até ele, em sua competição cotidiana. O menor foi mais rápido, se enfiando no espaço aberto entre o braço e as pernas de Lucas na tentativa de escapar do beijo, mas Marcos o alcançou, puxando-o pela cintura. Ao mesmo tempo, os dois maiores beijaram cada lado do rosto de Júlio, fazendo um sanduíche.

“O que é isso?!” Marcos gritou, cutucando as laterais do moreno.

“É um sorriso!” Lucas beijou a bochecha de Júlio outra vez, recebendo um empurrão em resposta.

“Parem com isso, bobões! Eu quero jantar!” O menor tentou protestar, se esforçando para esconder o sorriso atrás de uma carranca desajeitada, o que não funcionou e apenas fez seus dois namorados continuarem a provocar, até a fome fazê-los ceder e finalmente largarem.

Enquanto Júlio e Marcos se revezavam entre lavar e secar a louça, o maior sentiu o celular de Júlio vibrar em seu bolso, pescando-o sem se importar com o olhar feio do namorado ao seu lado. Ele sorriu para a tela com a mensagem que havia acabado de chegar.

[Boa noite Sr. Marcos!]

[Eu nunca patinei antes (⁠ʘ⁠ᗩ⁠ʘ⁠’⁠)]

[Me chame apenas de Marcos <⁠(⁠￣⁠︶⁠￣⁠)⁠>]

[Isso não é um problema, Dorinha. Nós podemos ensiná-la! (⁠/⁠^⁠-⁠^⁠(⁠^⁠ ⁠^⁠*⁠)⁠/]

[Eu vou então ლ⁠(⁠・⁠﹏⁠・⁠ლ⁠)]

“A Dorinha aceitou ir no rolê sábado!” A voz de Marcos chamou a atenção dos outros dois, que trabalhavam juntos para guardar a louça limpa.

“Por que você está chamando ela de Dorinha do nada?” O olhar estreito de Júlio fez Marcos se arrepiar. Ele sabia que não era ciúmes. Ou talvez fosse, restava saber se era dele ou de Dora.

“O que? Você quer que eu te chame de Julinho?” Rebateu Marcos, abraçando o namorado pelas costas enquanto descansava o queixo no topo da cabeça dele.

“Nem pensar” Júlio empurrou a cabeça para trás, na tentativa de se soltar, o que apenas fez Marcos beijá-lo de novo.

O mais alto voltou a digitar no celular, sob o olhar atento de Júlio e Lucas, que haviam terminado com a louça, encostando ao lado dos outros dois.

[Vou pegar seu número com o Júlio, tudo bem?]

[Sim, sem problemas!]

“Ei, eu também quero!”

[Lucas está pedindo para te adicionar também]

[por favor (⁠*⁠˘⁠︶⁠˘⁠*⁠)]

[Vocês moram juntos? (⁠꒪⁠꒳⁠꒪⁠)?]

[Sim! Nós somos ✧~Namorados~✧ (⁠ ⁠ꈍ⁠ᴗ⁠ꈍ⁠)]

[Você e o Júlio? (⁠☉⁠｡⁠☉⁠)⁠!]

[Não, Dorinha! Nós três]

[Júlio, Lucas e eu namoramos ♡⁠♡♡(⁠Ӧ⁠ｖ⁠Ӧ⁠｡⁠)]

[UAU! Vocês são um trisal! ＼⁠(⁠◎⁠o⁠◎⁠)⁠／]

[Acha estranho? (⁠⊙⁠_⁠ʖ⁠⊙⁠)]

[NÃO! Acho ✧~incrível!~✧ (⁠ﾉ⁠◕⁠ヮ⁠◕⁠)⁠ﾉ⁠*⁠.⁠✧]

Bonitinha. Os três pensaram ao mesmo tempo.

Antes que pudessem perceber, estavam sorrindo para a tela do celular. Mesmo a distância, Isadora parecia ser uma mulher doce e graciosa e isso aquecia o peito dos três. Era uma imagem muito melhor do que vê-la chorando, como na semana anterior.

Secretamente, os três já ansiavam pelo sábado que viria.