Isadora sentiu que poderia continuar dormindo por mais algumas horas, mas a luminosidade atingindo seu rosto começou a lhe incomodar. Ela esfregou os olhos, abrindo-os lentamente e por um momento ela não reconheceu onde estava. Definitivamente não era seu quarto. Sentou-se no susto, olhando ao redor com o coração disparado.
“Dorinha, tá tudo bem?” A voz baixa de Lucas colocou-a de volta nos eixos. Estava na casa dos meninos, mais especificamente dormindo no sofá. De costas para si, estava Júlio, ainda adormecido. No outro sofá, Marcos prendia Lucas em seus braços e pernas, abraçando-o feito um polvo.
“Tá sim, só me assustei um pouco.” Ela riu baixinho para não acordar os demais.
“Estava mais ou menos na metade do segundo filme quando vimos que você e Júlio tinham dormido. O dia ontem foi muito bom, mas também muito cansativo, né?”
“Uhum” Ela concordou, esfregando os olhos outra vez para afastar o sono.
“Quer me ajudar a fazer o café?” Viu o loiro cutucar o namorado que o agarrava, fazendo com que o soltasse. Lucas se levantou, esticando os braços acima da cabeça para se espreguiçar. Isadora também se levantou e o acompanhou até a cozinha.
Os dois passaram a trabalhar juntos nos preparativos. Na maior parte do tempo, Dora apenas o ajudou a pegar utensílios e ingredientes, observando Lucas cozinhar, com admiração.
Quando o aroma do café e do bacon já dominavam o ambiente, Marcos apareceu, arrastando um Júlio emburrado até a mesa de jantar. Dora ajudou Lucas a colocar a comida e todos se sentaram para aproveitar o café juntos.
Após a refeição, Marcos fez questão de puxar Júlio para lavar a louça, embalados em uma conversa amena. Assim que terminaram de guardar tudo, Dora se levantou.
“Rapazes, muito obrigada, o passeio ontem foi incrível. Mas sinto que já tô abusando da hospitalidade de vocês, então é melhor eu ir.”
“Espera.” Júlio reagiu em reflexo, segurando a manga de sua blusa. “É feriado”.
“Por que não fica pelo menos até o almoço?”
“Por que não fica pra sempre?”
Dora piscou algumas vezes, sem saber se tinha entendido direito. Os outros dois encararam Marcos com olhos arregalados e Júlio acertou-lhe um tapa no pescoço.
“No que você está pensando? Nós conversamos sobre isso!” O moreno o repreendeu, o que fez com que Isadora ficasse ainda mais confusa. Lucas suspirou pesado, indo até a garota.
“Dorinha, que tal sentar um instante?” Ele a guiou de volta à cadeira vazia.
“Eu não sei se entendi o que Marcos disse...”
“Nem ele entendeu, Dora.” Júlio ainda tinha seu olhar estreito sob o namorado mais alto.
“Eu deixei escapar, ok? Não foi proposital.”
“Meninos, fiquem quietos, só estão deixando a Dorinha ansiosa.” Lucas pediu e ambos se calaram. O olhar de Dora passeava de um para o outro, tentando por sua confusão em ordem e talvez encaixar as peças que ela havia perdido daquela conversa. Lucas ofereceu a mão a ela, em um pedido silencioso para que prestasse atenção apenas nele. Ela aceitou, percebendo como os dedos dele estavam frios, bem diferente do normal.
Isadora não podia mentir, ela estava mesmo ansiosa. Sentia o sangue correndo gelado em seu corpo, como se pressentisse que tudo estava a um passo de dar errado. Ela estava com medo do que viria a seguir.
“Eu gostaria que essa conversa acontecesse de outra forma, mais confortável, principalmente pra você.”
“Mas nós temos um namorado idiota.” Lucas ignorou o comentário de Júlio, que permanecia de braços cruzados e com a testa franzida.
“Shh, deixa o Lucas falar”
“Enfim, as coisas não saíram exatamente da forma que a maioria de nós gostaria. E eu não vou me prolongar mais, porque não quero que você fique ainda mais nervosa com tudo isso.” O loiro fez uma breve pausa, como se tomasse fôlego. Isadora se concentrou no azul límpido das íris de Lucas e ele não desviou o olhar nem por um segundo. “Nós gostamos de você. Romanticamente.”
Por um momento, a única coisa que Isadora conseguiu ouvir foram os próprios batimentos cardíacos.
Ela não esperava por aquilo.
Mas talvez esperasse.
No fundo ela queria, mas não sabia se estava preparada.
Se conseguiria.
Se não iria estragar tudo de novo.
“Nós gostaríamos de saber se nosso sentimento é recíproco. Se você também gosta da gente da mesma forma.”
Ela não sabia o que responder. Não tinha coragem de dizer o que estava sentindo. Não conseguia nem sustentar o olhar doce e caloroso que Lucas lhe dirigia, optando por encarar as mãos.
“Não precisa responder agora.” Júlio pareceu puxá-la para a realidade.
“Sim, não queremos te pressionar nem te deixar desconfortável. Você pode levar o tempo que precisar para nos dar uma resposta.” Lucas apertou sua mão, na tentativa de transmitir conforto. “E, se você preferir apenas manter a amizade, tudo bem também.”
“Eu… vou pensar.” Ela forçou um pequeno sorriso.
“Nós podemos continuar com as coisas como estão, ou prefere que a gente se afaste para você pensar com mais calma?”
“Eu não… não quero que as coisas mudem. Por favor.”
“Tudo bem.” Lucas apertou sua mão novamente. “Fica pro almoço com a gente?”
“Eu acho melhor ir pra casa. Desculpa.”
“Não se preocupe com isso.” Ele sorriu, ajudando-a a se levantar. Marcos e Júlio seguiram juntos.
“Eu levo você.” O moreno ofereceu e Dora não recusou.
Voltar para casa com Júlio foi bom. Ele não disse nada o percurso inteiro e Isadora pôde ficar sozinha com seus pensamentos. Sua cabeça estava cheia e ela não fazia ideia de como agir ou reagir dali em diante.

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