[Então os tais amigos legais disseram que gostam de você?] A mensagem de Maya chegou como um foguete.
Depois de se acalmar um pouco, Dora resolveu tomar um longo banho. Ao sair, porém, não resistiu em vestir o moletom roxo de Júlio. Ele era quente e a deixava confortável, além de cheirar muito bem.
Encolhida em sua cama, fez a coisa mais sensata na qual podia pensar: pedir conselho a Maya.
[Você gosta deles.] A falta de interrogação na frase deu certeza a Dora de que sua amiga não estava fazendo uma pergunta, mas sim uma afirmação.
[Gosto]
[Desde que nos conhecemos, você só fala deles o tempo todo. Eles te fazem se sentir bem, amada e protegida?]
[Sim…]
[E você gosta deles.]
[É…]
[Mas não sabe o que fazer]
[Maya, você não está ajudando!]
[Eu acho que você está pensando demais nas coisas. Você sabe, não sou a melhor pessoa para conselhos. Até outro dia nem amigos eu queria fazer. Se você gosta deles da mesma forma, porque não tenta? Se der tudo errado, eu prometo que não vou revirar os olhos quando vier me pedir colo]
[Maya…]
[Eu tenho medo do que pode acontecer.]
[Sendo bem sincero, acha que eles fariam algo ruim com você? Se a resposta for sim, é por que eles não te merecem de qualquer forma]
[Eu não sei. Acho que não. Mas tenho medo de estar enganada.]
[Só tem um jeito de descobrir e você sabe qual é.]
Isadora respirou fundo. Maya estava certa. Não tinha como as coisas voltarem ao que eram antes, se tudo ia mudar de qualquer forma, ela precisava deixar claro como se sentia.
Mas saber disso não diminuía seu medo.
Enquanto encarava o teto de seu quarto, ouviu o som da porta da sala ser aberta. Correu até lá, encontrando sua mãe que havia acabado de chegar do trabalho.
“Oi meu amor, aconteceu alguma coisa?” Célia tocou o rosto da filha, percebendo a expressão preocupada, mesmo que Isadora tentasse disfarçar.
“Mãe… o que a senhora ia pensar se eu começasse a namorar… com os meninos?”
“Mas você já não está?” O olhar confuso de sua mãe deixou Isadora também confusa. A mais velha riu por um instante, afagando o cabelo macio da filha e reparando no casaco que ela sabia não ser de Dora. “Pensei que você os tratasse como amigos na minha frente, por medo da minha reação mas, pelo visto eu estava enganada. Quer me contar o que aconteceu?”
Elas se sentaram no sofá da sala e Isadora contou tudo. Sobre a declaração e de como se sentia confusa e com medo. Célia abraçou a filha, absorvendo tudo enquanto fazia carinho em suas costas.
“Então você não sabe o que fazer agora?” Ela viu a filha concordar com a cabeça “Mas e você? Gosta deles? Do mesmo jeito que eles gostam de você?” Dora assentiu outra vez. Célia suspirou e deu um beijo na testa da filha, sustentando seu olhar. “Sabe Dora, quando você me contou que estava saindo com uns amigos, eu fiquei muito feliz. Cada dia que você passava com eles, era nítida a sua animação. Mas quando me disse que os três estavam em um relacionamento eu fiquei preocupada. Com medo de serem um trio de pervertidos querendo se aproveitar de uma mulher jovem e inocente. Mas quando você os apresentou, essa preocupação foi embora” Ela apertou mais a filha no abraço. “Eu confio muito no meu juízo de caráter, é muito difícil eu estar errada. Mas não precisei de cinco minutos com eles para entender o quanto eles gostavam de você. O olhar de cada um deles era diferente do olhar de aproveitadores. Eu podia ver o quanto eles te admiram. O olhar deles era de carinho puro. Eu acho que você sabe melhor do que ninguém que nenhum deles vai te julgar pelo o que você passou.”
Desta vez foi Isadora quem a abraçou mais forte. Sua mãe estava certa. Maya estava certa. Ela sabia que eles nunca a julgariam desta forma.
Mas ainda assim precisava de um tempo para reunir coragem e conversar.

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