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Fuga do Oásis

Péssimas Primeiras Impressões

Péssimas Primeiras Impressões

Nov 12, 2025

A cabeça da veterana ergue-se acima da multidão, os espinhos que a enfeitam afiados como os caninos de um caçador oportunista em busca de uma presa fácil. Ela abre caminho entre as operárias e se aproxima. Relva corre para trás das pernas da soldada. A distração delas é o prato perfeito para alimentar a ira da formiga mais velha.

“Por isso, também gostei do nome Flora quando o escolhi para mim”, seu tom é baixo, intimidador. Relva não sabe dizer se isso é bom, ou se teria sido melhor se ela tivesse chegado gritando como antes.

“Muito fofo da sua parte”, responde a jovem sem nome, mantendo-se firme diante da imponente superior.

“Mas sabe de algo que eu não gosto?”, os olhos de Flora descem lentamente em direção à coletora, o esquerdo dividido ao meio por uma ferida profunda e de aparência recente. “Não gosto quando estou dizendo algo importante e dois vermes que ainda fedem a casca de pupa ficam conversando como comadres desprovidas de responsabilidade!”

A cada palavra, a voz dela recupera a agressividade habitual. De perto, Flora é ainda mais assustadora. Seu exoesqueleto é de um marrom escuro e avermelhado, desgastado pelo tempo e cheio de arranhões e rachaduras que Relva só pode supor terem sido causados por feras e selvagens da superfície.

“Sentimos muito, não vai se repetir”, as falas da operária soam como um mero murmúrio. Ela não entende como a outra consegue permanecer tão aparentemente calma. Talvez ela seja só burra mesmo.

“De fato, espero que não.”

“Eu… acho que vou ficar com as coletoras agora…”

Relva começa a voltar pelo caminho pelo qual veio com passinhos apressados. Talvez ela encontre um lugar mais afastado que não a coloque tão perto de Flora ou das outras soldadas. Seu objetivo agora é se fazer de invisível e não se meter em mais problemas pelo resto da noite.

No entanto…

“Eu não disse que podia se retirar, novata!”

Não será tão fácil escapar de Flora.

A coletora para imediatamente, contorcendo as antenas como se sentisse dor física e continuando imóvel por alguns instantes até retornar temerosa à frente da mais velha, sem a menor coragem de olhá-la nos olhos.

Ao invés disso, ela desvia sua atenção para as outras operárias, descobrindo uma plateia de dezenas de pontinhos negros assistindo-a. Que vergonha! Que vontade de se enfiar no buraco mais apertado e profundo que pudesse cavar!

“Estou intrigada com algo”, Flora começa, empurrando Relva com facilidade e obrigando-a a ficar lado a lado com a jovem soldada. As demais formigas já se reuniam ao redor delas e, pouco a pouco, se organizavam para formar um círculo quase perfeito de caretas curiosas e antenas atentas. “Me digam, o que vocês lembram das diretrizes da colônia? Vamos, eu quero que vocês recitem para mim!”

As duas se entreolham. Relva encara a soldada em uma súplica silenciosa, mas é óbvio que esta sabe tão pouco quanto ela, e talvez ainda menos. Da câmara subterrânea ao lado, pode-se sentir sinais de aflição emitidos por algumas larvas manhosas. Os passos apressados das cuidadoras que trabalham incansavelmente para manter a ninhada em boas condições e o cheiro arbóreo de fungos frescos trazidos através dos túneis. Relva também sente nas pontas dos pés as vibrações de suas irmãs sussurrando umas para as outras. Breves comentários que suas entranhas ansiosas a fazem pensar serem sobre ela e sua terrível situação.

Flora estala as mandíbulas, sua paciência evaporando tão rapidamente quanto gotas de orvalho em uma manhã quente. É melhor elas se apressarem. Relva começa a recitar o que recordava, e sua relapsa companheira tenta acompanhar logo em seguida, sempre um pouco atrasada, sempre um pouco mais baixa, apenas repetindo o que já foi dito pela formiga menor.

“A rainha deve obedecer, na linha tem que andar, não falar com estranhos, no Mar Verde não patrulhar…”

“Basta! Basta!”, Flora interrompe, balançando as antenas ante o rosto das jovens. “Terrível! Patético, diria eu!”

A soldada faz uma carranca enfadada, exalando com força pelos espiráculos em seu abdômen, visivelmente envergonhada com as antenas enroladas no topo da cabeça. 

“Se isso é tão importante, por que não foi ensinado quando éramos larvas?”, ela pergunta com a voz dura de quem se segura para não deixar escapar xingamentos.

“Quando somos larvas, ouvimos histórias. Tradições que não vêm conosco do ventre da rainha, mas que são passadas de geração para geração”, explica Flora, não mais somente para Relva e aquela soldada inominada, mas para todas que ouvissem sua voz. “As diretrizes, soldada, não são tradições. São obrigações! Elas são o que nos permite sobreviver aqui nesta terra chamada Oásis, para proteger a colônia e a nós mesmas. É coisa de formiga já crescida, não de quem ainda tem o que crescer.”

A novata não tem o que argumentar, mesmo que a contragosto, e Relva também não diz mais nada. Há bem pouco tempo, fazia para si mesma esses comentários. E, em parte, sente-se grata pela coragem, ou falta de noção, que a soldada teve para expressá-los bem na frente de Flora. Ao menos agora ela sabia por que ainda estavam ali.

“Atentas, todas vocês! Soldadas, coletoras, jardineiras e cuidadoras!”, Flora abre amplamente as mandíbulas. Instintivamente, as outras formigas dão um passo à frente para se concentrar nela. E ai daquela que não o fizesse. Nenhuma quer passar pela mesma situação daquelas duas. Operárias, no geral, detestam ser o centro das atenções. “Quero ouvir de vocês, alto e claro, nossas diretrizes verso por verso, levantem suas vozes e ensinem suas irmãs!”

Flora emite um último estalo, estridente e seco como um galho se partindo. Devagar, o coro de formigas recém-emergidas cresce. Das palavras suaves e tímidas, assume a forma monstruosa de um recitativo carregado de vigor e reverência. Impossível de ser desprezado.


Obedeça à rainha.

Não saia da linha.

Não fale com selvagens.

Não patrulhe sozinha.


No Mar Verde, não se deve pisar.

Nem folhas, nem caules se devem cortar.

Coletora, soldada, seja quem for.

Não se pode escapar do mar predador.


Operária trabalha, sem questionar.

O inimigo ela mata, sem recuar.

Aranha, gafanhoto, besouro ou cupim.

Nas feras terríveis, se bota um fim.

Invasor, traidor, caçador, parasita.

Formiga não teme.

Formiga não hesita.


Monarcas ancestrais hão de louvar.

Para o jardim crescer e o fungo cultivar.

Pai que voa de noite.

Mãe que voa de dia.

Bitú que protege, Ysá que irradia.


Ao final do último verso, o silêncio volta a invadir o berçário, antecipando, cheio de receios, a reação de Flora ao desempenho de suas irmãs mais novas. Relva joga seu peso de uma perna para a outra. Mesmo os ruídos produzidos pelo seu próprio corpo a deixavam agoniada. Desde o rangido suave dos segmentos quitinosos até o bombeamento constante da hemolinfa dentro do abdômen.

“Espero que tenha sido suficiente!”, Flora enfim se manifesta. Suas antenas ascendem sinuosamente, ela parece satisfeita. “Agora separem-se, não quero mais saber de interrupções!”

Relva acompanha a soldada sem nome pelo canto de seus olhinhos compostos, sentindo uma leve pontada de desespero ao vê-la permanecer imóvel. Bem, que assim seja. Ela não ia deixar que sua teimosia a afetasse novamente. Forçando as pernas trêmulas a se erguerem, ela rasteja de volta ao pequeno grupo de coletoras com as quais emergiu naquela tarde, evitando ao máximo trocar olhares com elas e sentando-se em um canto distante, escorada contra a parede de terra.

Poderia ter sido pior. Ela pensa, em uma tentativa frustrada de autoconsolação. Consciente de que, a partir deste instante, ela e aquela soldada se tornarão o assunto do momento entre suas irmãs. O medo de que Flora as escute é o único fator impedindo os pitacos e fofocas de começarem.

Não importa! Não é importante! A jovem operária continua a mentir para si mesma. Ela só precisa ser paciente. Ficar ali naquele cantinho e esperar até o dia seguinte, quando finalmente poderá sair e começar a trabalhar em sua verdadeira vocação. As irmãs que aleguem o que bem entenderem, logo ela fará questão de mostrar a todas que almeja ser uma das melhores coletoras do formigueiro.

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Laura Ciello

Creator

O Capítulo 2 finalmente chegou! Levei um tempo para finalizá-lo devido a vários compromissos pessoais e profissionais que lotaram minha agenda. E agora fui contratada para ilustrar um livro infantil! Isso certamente afetará o ritmo em que estou trabalhando nesta história, mas mesmo assim, progresso está sendo feito.

#drama #Xenofiction #novel #animal_character #nonhuman_character #insects #bugs #animals #adventure #brazil

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Desde que era apenas uma pequena larva, Relva ouve histórias de como o Oásis é um paraíso para todos os insetos. Um refúgio de águas limpas, néctar doce e tocas aconchegantes tão profundas que nenhuma besta de pelo e penas consegue alcançar.
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Uma a uma, suas irmãs perecerão. Será ela também mais uma vítima desse trágico destino? Ou ela sobreviverá para criar o filho que esconde dos olhos vigilantes da rainha?

Aviso: Este livro contém cenas e temáticas que podem ser consideradas sensíveis ou perturbadoras para alguns leitores. A natureza é bela, mas também pode ser cruel. Esteja ciente disso antes de prosseguir. Espero que desfrute da história, boa leitura!
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