O reflexo da luz do sol brilhava das folhas verdejantes das árvores de Bruvi, caules altos esticando-se ao céu, para conquistar seu espaço nele. O azul com poucas nuvens pairava sobre tudo e todos, vez ou outra algumas aves sobrevoam a terra com grande elegância e leveza, esbanjando liberdade invejável, lindas como elas só, minúsculas de tão distantes. Ruídos eram audíveis mais próximos ao solo, animais passando à espreita, tentando passar despercebidos. Insetos marchando incessantemente em sua trilha, olhos ocultos nas sombras observando aqueles menos cautelosos, uma borboleta azarada, presa à teia de uma aranha.
Todo esse ritmo silvestre é perturbado com outro som: passos. Passos bastante apressados, amedrontados e esguios correm para cada vez mais longe, o veloz pulsar de um coração aflito, os suspiros irregulares de pulmões desesperados por oxigênio, todos estes pertencentes à uma jovem mulher, passando rapidamente por dentro da mata, suja de terra, lama, suor e sangue. Atrás de si estavam seus caçadores: homens de roupas escuras, malhas de metal, portando lâminas imundas e ensanguentadas, gritavam em direção sua presa, suas vozes carregadas de ódio, perseguiam sua presa com grande exaltação, vibrando a cada passo para seu objetivo mortal.
Amara já tinha vários cortes e machucados pelos impactos criados durante sua disparada, à sua frente a mata começava a se abrir e iluminar-se, estava chegando perto de uma área aberta, quando um ruído grave e constante, que aos poucos ia se deixando mais presente no ambiente: havia encontrado um rio, e corria ao seu lado. Um som agudo corta o ar próximo ao ombro direito de Amara, passara uma flecha perigosamente próxima de si, agora num campo aberto seus inimigos tinham uma melhor chance de acertá-la com projéteis. Zum - Outra flecha, agora acertou de raspão seu antebraço esquerdo, que se contorceu numa dor quente que espalhava se como um fluido por seu membro, mas a jovem não tinha tempo para se preocupar com isso, avistava à sua frente que chegava perto do fim da linha: uma queda d'água, um estrondo ensurdecedor da água batendo contra a superfície abaixo era o suficiente para abafar o escândalo raivoso atrás dela, possuía poucos segundos para escolher o melhor de dois males, enfrentar uma multidão de homens enfurecidos ou a força da natureza numa queda de algumas dezenas de metros.
Era óbvio qual era sua melhor opção, sua maior ou até única chance de sobrevivência, e então saltou. Fora envolvida no vento e o sopro do ar em seus ouvidos a impedia de escutar qualquer coisa com clareza, sentia um terrível frio em suas entranhas, lutou contra um medo primitivo da morte para não aumentar a dose de adrenalina em seu sangue. Seu declínio parecia durar uma eternidade, as areias no tempo, mesmo que brevemente, cessaram de cair, e Amara permitiu sua mente viajar para o passado, tentava compreender tudo que estava a acontecer, como um destino destes poderia se desenrolar.

Comments (0)
See all