Há apenas algumas horas ainda estava em seu lar, o Monastério Hoshikai, talhado no encosto de uma montanha com o mesmo nome. Seus pilares cor-de-ferrugem e cinza-azulado, altos e antigos contém escrituras daqueles que o construíram. Seu grande pátio, com vários arcos e teto em formato de domo, era o centro do monastério, onde todos treinavam em conjunto para melhorar suas habilidades físicas. Vivia neste local já há bastante tempo, alguns anos desde que foi acolhida pelo abade. Porém, durante a madrugada, durante o sono daqueles onde lá viviam, surgiram das sombras um grupo de mercenários que entraram sorrateiramente nos corredores de pedra, entre as elevadas colunas, caminhavam silenciosamente, indetectáveis. Armados com afiadas adagas, adentraram os dormitórios e assassinaram um a um. Somente quando estavam chegando aos aposentos do abade, Mestre Ryoma, o encontraram já esperando os invasores com sua espada qamaris empunhada, sua lâmina negra irradiava uma aura dourada e prata, em seu rosto uma expressão séria e destemida, o corpo preparado para lutar.
Amara não tem certeza de como, mas por algum motivo levantou-se durante essa madrugada e sentiu a presença maligna no ar, correu para o quarto de Ryoma, procurava-o como uma criança procura a própria mãe depois de um pesadelo, era jovem e inexperiente demais para ter sua própria espada. Sentia um peso no peito a cada passo mais próximo que dava para chegar até Ryoma, podia escutar aço chocando-se contra metal, seu punho cerrado em suas vestes era um indício de sua preocupação.
Ao adentrar o quarto do abade, podia presenciar um espetáculo um tanto hediondo: haviam dois corpos no chão, cobertos em túnicas escuras e máscaras que não podia reconhecer, um homem ainda de pé com as mesmas vestes tinha sua máscara partida próxima a testa, e era possível ver seu olho. Seu olhar era frio, completamente racional e controlado, uma gota de sangue escorria pela lateral de seu rosto. À sua frente estava Ryoma, vestia roupas largas bege, em seu peito havia uma grande mancha vermelha, mas o homem continuava de pé, ainda que arqueando, era notável os danos que havia sustentado até agora, e a julgar pelos corpos no chão, a luta já estava mais longa do que os invasores esperavam contra “um simples velho”.
A garota queria fazer algo à respeito, mas o medo a ancorava onde estava, sentia-se como que pesando toneladas, o homem que a resgatou da rua, lhe deu de comer, o que vestir, uma vida a seguir, agora lutava por sua vida e honra do monastério contra inimigos que ela não poderia reconhecer, era tudo muito confuso, onde estariam os outros? Será que estão bem?
Mal poderia pensar em algo, o invasor impulsionou-se adiante, tinha uma postura precisa e fatal, segurava sua lâmina com precisão, e Amara pode perceber que este estava à altura de Ryoma, num curto espasmo bloqueou a espada de seu inimigo, por pouco não era cortado. Não teria muito tempo para formular seus pensamentos, logo foi suprimido contra mais vários ataques consecutivos, cada vez mais sendo empurrado para trás, há poucos metros de ser pressionado contra a parede.
Finalmente, Amara teve o impulso da coragem para se lançar na sala e ajudar seu mentor, num súbito movimento agachou-se e agarrou uma das espadas ao chão e gritou e grunhiu com todo seu fôlego, a fim de acabar com a ameaça sem nome.
Este, porém, foi seu grande erro: rapidamente o invasor a percebeu e interceptou, bloqueou seu ataque lento e imaturo com movimentos bem treinados, cortou a pele de suas mãos e a desarmou, sua espada emprestada voou metros dela e assim ela estava rendida.

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