Continuou a andar, não poderia se permitir abalar mais ainda, caminhava sem realmente notar seus arredores, a mente imersa em seus próprios pensamentos, estava quase livre de adrenalina no sangue, e seu corpo sentia, a dor ficara pior. O choque de ver as labaredas sobre a qamaris ecoa dentro de si, estava incrédula com o ocorrido, lembrava-se que para que uma qamaris reaja ao seu chakra leva muito treinamento, e nunca conseguiu manifestar seu chakra em seus exercícios.
Amara continuava em passos desajeitados, suas feridas quase a faziam mancar. As árvores ao ser redor iam ficando cada vez mais densas, e a luz que banhava o solo começava a aparecer em pingos, os sons d’água já inaudíveis foram engolidos por um silêncio periodicamente interrompido pelos pássaros sobre os galhos. Folhas secas tomavam de conta do chão, musgo cobria as cascas das plantas.
Os ombros estavam caídos, seu lombo arqueado, suas pegadas longas de arrastarem a terra sob seus pés, poderia ter certeza de pesar uma tonelada. Não tinha mais certeza de quão longe chegara, olhou para os lados e tudo parecia igual, a fome e a sede já perturbavam seu espírito já abalado, seu corpo clamava por descanso. Acreditara que estava longe o suficiente, ninguém lhe encontraria naquela imensidão de antigos pilares de madeira viva, achou um canto recluso entre algumas raízes altas, sentou-se e se permitiu ser e respirar.
Novamente, o mundo escureceu, e antes que percebesse, Amara dormiu.
O sono veio como uma serpente faminta — rápido, certeiro, enroscando-se ao redor de sua mente exausta. Sentiu-o deslizar por entre os pensamentos, frio e suave, apertando-os até que não restasse espaço para resistência.
A cada volta, a consciência se tornava menor, comprimida dentro do anel invisível que a apertava. O ar parecia rarear, as ideias lutavam, debatendo-se, até que uma a uma foram silenciadas.
A serpente movia-se com paciência. Primeiro, paralisou-lhe os membros; depois, o peso dos olhos. Seu corpo cedeu ao toque que não podia ver, o calor do esforço fugindo como sangue escoando da ferida. A cabeça tombou, o peito suavizou.
Quando deu por si, já não sabia se estava sendo devorada ou acolhida.
O aperto deixou de doer — transformou-se em conforto, em calor úmido e morno.
E enquanto o último resquício de vigília desaparecia, a serpente abriu a boca do esquecimento e a engoliu inteira.
Nenhum som, nenhum pensamento.
Apenas o bater lento de um coração que já não sabia se era dela, ou do próprio sono que a abrigava.

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