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Jinkan - A Perdição da Estrela

Amara VI

Amara VI

Nov 15, 2025

Os galhos começaram a rarear, e a luz, antes filtrada pelas copas, passou a vazar em feixes dourados.

A cada passo, o verde se abria um pouco mais, até que, de súbito, a floresta terminou — e o mundo se escancarou diante de Amara.


O céu, tão vasto e azul, quase a cegou.

Ela levou as mãos ao rosto, as palmas voltadas ao sol, tentando proteger os olhos da claridade que a inundava. Depois de tanto tempo envolta em penumbra e sombras de folhas, a luz parecia sólida, quase uma presença divina, queimando-lhe a pele e lavando-lhe a alma.


Quando enfim conseguiu enxergar direito, viu o que se estendia à frente: uma pequena vila.

Telhados de palha reluziam sob a luz do meio-dia; casas de madeira, barro e argila se alinhavam em torno de um caminho central de terra batida.

Havia galinheiros, pequenas cercas improvisadas, varais com panos coloridos tremulando ao vento.

Um olhar rápido bastava para estimar talvez vinte, trinta habitações — simples, mas cheias de vida.


Amara ficou imóvel por um momento, observando. O contraste era quase violento: o silêncio antigo da floresta agora dava lugar a sons humanos — martelos, vozes distantes, o choro de uma criança, o latido de um cão.

Tudo isso parecia um sonho comparado ao que experienciou nos últimos dois dias.


Seguiu em frente em direção às pessoas, e a cada passo podia sentir o coração bater mais forte, como se quisesse escapar do peito. Era um misto estranho — ansiedade e alegria dançando juntas, uma sensação tão nova que quase embrulhava o estômago.
Os sons à distância ficaram mais claros, crescendo devagar enquanto ela caminhava: passos apressados, ferramentas batendo, mulheres conversando, o mugido de algum animal sendo guiado. As vozes humanas — tantas ao mesmo tempo — pareciam quase irreais depois de horas de silêncio verde e sussurrante.

E então as ouviu.

As crianças.

Risos soltos ecoavam entre as casas, não tinham nada da disciplina e contenção dos aprendizes do monastério — essas vozes eram leves, saltitantes, completamente livres. Um coro infantil atravessava o ar como pássaros barulhentos, interrompendo o silêncio que ela carregava por dentro.
Eram exatamente o que deveriam ser: só crianças aproveitando sua infância, correndo entre a poeira do chão, inventando histórias, brigando e fazendo as pazes no mesmo minuto.
Amara sentiu o peito apertar com algo que era quase saudade — de quê, exatamente, não sabia. Talvez daquilo que nunca teve, talvez apenas de um tempo em que o mundo parecia mais simples.

Ela deu mais alguns passos e a trilha começou a se transformar em caminho de verdade: marcas de rodas, pegadas largas, restos de palha, um balde esquecido ao lado de uma cerca torta. O cheiro de comida cozinhando em algum fogão distante veio dançar em seu nariz, misturado ao aroma rústico de madeira, fumaça e poeira quente.

O coração bateu ainda mais rápido.
Era real.
Havia vida ali.
Vida comum, simples, humana

A barriga roncou — não um ruído tímido, mas um protesto profundo, como se o estômago se contorcesse de indignação por estar vazio há tanto tempo. A dor era antiga e familiar, mas agora vinha acompanhada de algo ainda mais incômodo: esperança.
Seu corpo, fraco e ferido, clamava por sustento, suplicava por qualquer coisa que pudesse preencher aquele vazio que parecia ecoar dentro de si.

Amara respirou fundo e farejou o ar, instintivamente, como um animal faminto seguindo um instinto primal.
E o aroma estava ali, tão claro quanto uma trilha luminosa: quente, salgado, acolhedor — um cheiro de legumes, especiarias modestas e carne simples cozinhando lentamente.
Um cheiro que a abraçou por dentro, que lhe lembrou que ainda existiam lares no mundo.

Sua boca começou a salivar sem que percebesse, e seus pés, que antes hesitavam com medo da vila, agora se apressaram como se tivessem vontade própria.
Seguiu o aroma com passos quase trêmulos, movida por necessidade e por uma coragem que não sabia que ainda tinha.

Logo se encontrou diante de uma casa modesta.
As paredes eram feitas de madeira envelhecida, com rachaduras finas onde o sol se escondia. A janela estava aberta, e por ela escapava uma onda de calor reconfortante.
De dentro vinha o som delicioso do borbulhar de um cozido fervendo sobre um pequeno fogão à lenha.
As chamas estalavam baixinho, como que conversando entre si enquanto trabalhavam.
A panela exalava vapor, que se elevava como um convite irresistível.

Por um breve instante, Amara ficou parada ali — observando, respirando, bebendo o aroma.
Seu peito apertou.

Seu estômago roncou novamente, mais alto, mais desesperado.

E Amara percebeu que não podia adiar mais.

Sequer a sombra de um pensamento lógico passou por sua mente. Num impulso faminto, quase animal, Amara pulou pela janela para dentro da casa. O interior era simples, mas acolhedor: paredes de barro marcadas pelo tempo, um chão varrido às pressas, o cheiro de lenha queimando impregnado em cada canto. Uma pequena mesa redonda, de madeira já gasta, repousava no centro com três cadeiras desiguais — duas inteiras, uma com a perna remendada por uma cunha improvisada.
Sobre uma bancada curta, ainda suja de pequenos fiapos e sucos de legumes, era possível ver evidências do preparo apressado da refeição. Os machucados escuros de faca no tampo denunciavam anos de uso pesado. Debaixo dela, duas portinhas tortas formavam um armário modesto, onde certamente se guardavam colheitas simples, talvez alguns tubérculos, talvez só mais uma panela velha… e, sobretudo, o segredo do aroma que atraíra Amara: o cozido fervendo no fogão à lenha, borbulhando num ritmo quase hipnótico.

A fome era uma besta invisível agarrada às costelas da jovem Kenshi. E, naquele momento, essa besta rugia mais alto que qualquer senso moral. Era tarde demais para voltar atrás. Tarde demais para fingir que não tinha atravessado aquela janela como um animal selvagem. Seus olhos, ainda vidrados pela necessidade, vasculharam o cômodo até encontrarem uma tigela e uma concha de madeira.

Assim que as viu, suas mãos — sujas de terra, sangue seco e arranhões — se moveram por conta própria, como se estivessem seguindo um instinto e em segundos, serviu-se de uma porção apressada do cozido. O vapor queimou sua pele; o cheiro picante invadiu seu nariz; o calor subiu direto aos olhos, fazendo-os lacrimejar.
Mas nada disso importava. A fome ardia mais que o calor.

Sentada no chão, encurvada, ela levou a primeira colherada à boca.
O caldo escaldante queimou sua língua, obrigou-a a mover a comida de um lado para o outro como uma criança impaciente, arrancou-lhe caretas e pequenos sopros doloridos.

Era impossível saborear qualquer coisa — mas, naquele instante, Amara não queria sabor.
Queria sobrevivência.
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