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Jinkan - A Perdição da Estrela

Bhaz II

Bhaz II

Nov 29, 2025

Agora a trilha tornara-se estrada. Pedras recortadas, colocadas com intenção e paciência, formavam um caminho mais firme sobre a terra batida. Entre as lascas irregulares, ervas cresciam tímidas, resistindo ao peso constante de rodas e ferraduras.
A cada passo, as garras de Bhaz tocavam o chão com um som delicado e ritmado:

tec, tec, tec…
Quase como um pequeno tambor anunciando sua presença ao mundo.

Mais adiante, na curvatura suave da estrada, algo se movia em sua direção — uma carroça simples, puxada por uma mula robusta de pelagem curta e olhar paciente demais para a vida dura que provavelmente levava.
O veículo balançava a cada solavanco, rangendo de um jeito que contava histórias de anos de serviço. Sentado no banco, guiando-a com autoridade tranquila, estava um homem grisalho, pele curtida de sol, mãos firmes segurando a fita de couro amarrada ao focinho do animal.

Ao lado dele, porém, vinha o verdadeiro espetáculo.

Uma menina — talvez oito, nove anos — alternava entre saltitar e fazer pequenas corridas, tentando manter-se alinhada à carroça. Cada novo movimento parecia ser decidido no instante, como se o mundo inteiro fosse um enorme convite para brincar. Os pés dela levantavam poeira, o vestido simples rodopiava ao vento e seus cabelos, presos de qualquer jeito, balançavam como fitas soltas.

Ela ria.
O pai balançava a cabeça num suspiro resignado — resignado, mas sorrindo.
A mula continuava sua marcha filosófica, indiferente a tudo.

A distância entre eles e Bhaz encurtava-se lentamente.

E, conforme se aproximavam, o olhar da menina enfim o percebeu.

Ela estacou no ato.

Os olhos arregalaram-se, enormes, faiscantes de espanto e curiosidade infantil. O pé antes suspenso no meio de um salto tocou o chão devagar, como se ela temesse que um movimento brusco pudesse espantar a visão extraordinária à sua frente.

O homem grisalho levou um segundo a mais para notar — mas quando notou, puxou as rédeas de leve, apenas o suficiente para a mula diminuir o passo, não o suficiente para parecer medo.

Bhaz, por sua vez, apenas caminhava. Sentia no ar — quase como um calorzinho diferente nas costas — o olhar curioso da criança.
Logo a voz dela explodiu pelo campo, clara como um sino:

— Papai, olha só!

O pequeno dedo estendido apontava diretamente para ele, sem qualquer vergonha, pudor ou filtro — apenas o espanto puro de quem acabara de ver algo extraordinário.

— É um calango gigante!

Bhaz precisou reunir toda a força espiritual que tinha para não gargalhar na hora. Que ofensa terrível… se viesse de um adulto. Mas de uma criança? Era simplesmente a verdade nua, crua e hilária. Ele realmente parecia uma lagartixa enorme — com dentes e garra, mas ainda assim.

O pai, por sua vez, quase engasgou com a própria dignidade ao ouvir aquilo.

— Tenha modos, querida. Ele suspirou, puxando de leve a rédea para parar a carroça. — Ele não é um calango.

Virou-se então para Bhaz, postura firme, mas cordial.

— Desculpe. Não se vê muitos de vocês por aqui. Ela nunca viu um escamado antes.

Escamado.
Ah, como Bhaz detestava essa palavra.

Era como chamar alguém de "cabeludo" ou "orelhas" em vez do nome da espécie. Não era errado… só extremamente irritante. Mas ele engoliu o desagrado com a elegância de quem já havia ouvido coisa pior em mercados, tavernas e becos.

Abaixou-se um pouco para ficar mais próximo do nível da menina e sorriu, mostrando só a ponta dos dentes para não assustá-la.

— Olá, querida. Sou um maedrago.
Tocou o peito com duas garras.
— Consegue repetir comigo? Mae-dra-go.

O pai abriu a boca, como se a correção tivesse sido direcionada a ele — e de fato era.
A menina, porém, teve a melhor das reações.

— Ele fala, papai!!

Os olhos dela pareciam duas luas cheias, brilhando sem contenção.

— Falo sim! — Bhaz respondeu, sentindo o peito inflar de orgulho teatral. — E também sei fazer isso aqui, ó.

Agachou-se, apanhou algumas pedrinhas espalhadas pela beira da estrada e, com o movimento ágil de quem treinava isso desde a infância, lançou-as ao ar em uma chuva pequena de brilho mineral.

As pedras subiram, descreveram arcos perfeitos — e então Bhaz começou a girá-las a cada toque, mantendo-as sempre em movimento.

Para ele, era só aquecimento de coordenação fina.
Para a menina, era pura magia.

— Uaaaauuu… — escapou da criança como um vento encantado.

Bhaz sorriu, girando as pedrinhas entre as garras com destreza tranquila.

— Impressionante, não?

O pai cruzou os braços, tentando manter a compostura adulta diante do show improvisado — mas o canto de sua boca traía um pequeno sorriso.

A mula apenas mascava, indiferente a toda aquela revelação extraordinária.

A menina, completamente encantada com a demonstração de destreza, arregalou um sorriso que parecia grande demais para o rosto. Era óbvio: se o lagarto fazia truques, ela também tinha que mostrar algo.

Sem aviso — e muito menos permissão — levantou as mãos bem alto, ergueu uma das perninhas para trás como um pêndulo e, num impulso decidido, lançou o corpo inteiro num movimento giratório.

Fez uma estrelinha.
E outra.
E outra.

A estrada, antes tranquila, agora recebia uma sequência impecável de piruetas infantis, poeira levantando atrás dela como uma pequena nuvem dourada. O pai abriu a boca em espanto, a mula empacou de pura perplexidade e Bhaz… Bhaz quase deixou cair as pedras que malabareava.

No último giro, a menina aterrissou com mais coragem do que equilíbrio. Levantou-se rápido demais, o mundo inteiro provavelmente rodando ao seu redor como um pião desgovernado. Cambaleou meio passo, piscou forte — e então, com um esfuziante orgulho infantil, virou o rosto para o maedrago.

Buscava aprovação.
Clara, direta e luminosa como o próprio sol da manhã.

Bhaz inclinou a cabeça de lado, deixando a cauda balançar atrás de si num gesto involuntário de satisfação.

— Uau… — disse com genuína admiração. — Isso foi bem mais impressionante que as minhas pedrinhas.

A menina abriu um sorriso tão grande que parecia prestes a rachar o céu.

O pai soltou um resmungo resignado:

— Eu falei pra você parar de fazer isso na estrada… você vai quebrar o braço um dia.

— Mas papai, ele tava olhando!

Bhaz riu, um som grave e amistoso.

— E ainda bem que eu estava. Você é muito boa nisso.

A menina vibrou como se tivesse acabado de ganhar um prêmio de um festival — e talvez, para ela, tivesse mesmo.

O pai suspirou, mas um brilho orgulhoso escapou em seu olhar. Era impossível não sentir um pouco de orgulho.

— Muito bem, filha, hora de irmos para casa. — anunciou o pai, com aquela firmeza calma que só adultos exaustos conseguem dominar. Era o fim inevitável da diversão.

— Mas a gente precisa mesmo? — A menina encolheu os ombros, os olhos perdendo quase todo o brilho que antes faiscava como estrelas recém-nascidas. — Ele é tão legal…

Bhaz tentou não sorrir grande demais, mas a cauda dele entregou a alegria com um abaninho involuntário.

— Sim, precisamos. — respondeu o homem, firme, mas não duro. — Sua mãe está em casa e deve estar preparando algo delicioso para o almoço. Vamos, antes que esfrie.

A menininha soltou um suspiro pesado, daqueles que parecem carregar o peso do mundo inteiro. Arrastou os pés pela estrada de pedras, cada passo mais melodramático que o último, como se estivesse participando de uma grande tragédia pessoal. Subiu na carroça com um salto resignado e se sentou, abraçando os joelhos, o rosto claramente dizendo: injustiça absoluta.

Ainda assim, quando o pai estalou a língua para a mula seguir adiante, ela virou o corpo inteiro para trás, torcendo-se tanto quanto uma corda para não perder Bhaz de vista.

E então veio o gesto final.

Uma mãozinha erguida, pequena e suja de poeira, acenando com força suficiente para espantar pássaros de uma árvore.

Bhaz levantou a garra em resposta, num tchau silencioso, mas cheio de ternura desajeitada.

A carroça retomou seu caminho, rangendo suave enquanto se afastava pelo horizonte.
A menina continuou acenando até virar apenas um ponto vibrante na estrada.
E Bhaz ficou ali parado por alguns instantes, observando, sentindo um calor estranho e agradável espalhar-se pelo peito.

Talvez fosse o sol.
Talvez fosse outra coisa.

De qualquer forma… foi um bom encontro.

Virou-se novamente para a estrada; apesar de não ter qualquer urgência verdadeira, não queria se dar ao luxo de desperdiçar tempo. Seguiu caminhando num ritmo confortável, quase preguiçoso, permitindo-se observar o mundo ao redor. Uma única nuvem, branca como lã recém-tosada, flutuava lentamente no céu, deslizando sem pressa alguma pelo vasto azul que se estendia acima dele. Pássaros cruzavam esse pano de fundo luminoso em curvas rápidas e desordenadas, rabiscando de preto o ar como se fossem tinta viva numa tela celestial.

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