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Jinkan - A Perdição da Estrela

Bhaz III

Bhaz III

Nov 30, 2025

À medida que avançava, a paisagem mudava do campo aberto para a presença imponente da civilização. Os portões de Bruvi logo despontaram à frente — enormes, de madeira maciça escurecida pelo tempo, erguidos a vários metros do chão como gigantes silenciosos. Grossas chapas de metal estavam pregadas por toda a superfície da madeira, reforçando a estrutura com uma aparência quase militar, sugerindo que aqueles portões não abriam facilmente para ninguém.

Eram uma das poucas passagens existentes nas muralhas da cidade, construídas com as mesmas pedras cinzentas que formavam o pavimento da estrada, embora ali, nos muros, parecessem menos gastas, como se recebessem reparos frequentes ou fossem mais jovens que o restante da via. As muralhas se estendiam para os lados como um abraço de pedra, preparando viajantes para a imponência de Bruvi antes mesmo de entrarem nela.

Quatro guardas estavam posicionados na entrada — dois de cada lado — e seu simples estar ali já bastava para impor respeito. Mantinham-se firmes, ombros erguidos, queixos duros, com expressões fechadas e autoritárias. Revistavam carroças que atravessavam os portões, observavam mercadores, viajantes, mascates, e lançavam olhares avaliadores a qualquer um que não reconhecessem de vista. Era impossível ignorá-los: faziam questão de serem notados.

Carregavam consigo maças de ferro cuja simples aparência denunciava o peso — instrumentos capazes de esmagar ossos com facilidade. À cintura, enroladas de forma organizada, traziam cordas grossas destinadas a amarrar infratores ou quem ousasse contrariar a lei local. Sobre os corpos, vestiam armaduras de couro endurecido, múltiplas camadas tratadas para resistir a lâminas, mordidas, flechas e a maior parte das desgraças que alguém pudesse tentar impor a eles. 

No centro do peito, marcado a ferro quente de maneira tão profunda que parecia parte natural da couraça, brilhava o emblema da Igreja de Bhastilo: uma estrela cercada por anéis concêntricos. O símbolo, além de belo em sua simplicidade, irradiava autoridade — uma lembrança silenciosa de quem realmente governava Bruvi e boa parte das terras ao redor.

Bhaz aproximou-se dos portões sem demonstrar medo algum; não havia motivo. Seu coração estava tão leve quanto seus passos, e sua consciência tranquila como um lago ao amanhecer. Sabia muito bem que seria chamado pelo guarda mais próximo — era sempre assim nas cidades maiores — então resolveu economizar o trabalho do homem e caminhou diretamente até ele antes mesmo que abrisse a boca.

— Olá! Um bom dia para você. — disse com um sorriso largo, daqueles que mostravam um fiapo das presas brilhando sob o sol.

O guarda, entretanto, parecia imune a qualquer simpatia que não viesse acompanhada de uma boa dose de ouro. Sua expressão permaneceu dura, entalhada na mesma pedra que formava os muros atrás dele.

— Olá, lagarto. O que quer em Bruvi? — respondeu, e a maneira como modulou o “lagarto” soou menos como identificação e mais como insulto mascado.

Bhaz manteve o sorriso… ou metade dele. A outra metade escorregou sozinha para longe.

— Estou de passagem — explicou com um tom paciente, quase cordial. — Sou um viajante de longe e preciso de um bom lugar para ficar. — A voz deu uma pequena oscilada para cima, tentando recuperar o entusiasmo inicial. — Também gostaria de visitar a igreja local.

Por dentro, acreditou que aquela última frase talvez amaciasse o humor do homem — afinal, mencionar a igreja quase sempre garantia algum respeito extra. Mas este guarda parecia ser do tipo imune até à própria fé.

— Deixe-me ver sua bolsa. — ordenou, sem aguardar confirmação. Antes que Bhaz pudesse mover o braço, a bolsa já estava sendo arrancada de seus dedos, como se fosse propriedade pública.

O homem abriu o acessório e remexeu tudo sem qualquer cerimônia: virou peças de roupa, chacoalhou as moedas como um chocalho, fuçou como se esperasse encontrar crime enrolado em pano. Bhaz apenas observou, contendo o impulso de encolher o rabo de irritação.

— Roupas e umas moedas… — murmurou o guarda. Depois de um suspiro curto, devolveu a bolsa sem muito cuidado. — Tudo certo. Pode passar.

Bhaz assentiu, mas a gratidão que sentia não era exatamente pela permissão de entrada. Era pelo simples e delicioso fato de não ter mais que prolongar conversa com uma criatura tão amarga quanto aquele sujeito.

Ao cruzar o enorme arco de pedra sobre sua cabeça, sentiu o ambiente mudar ao seu redor — como se passasse de um mundo para outro. Estava oficialmente dentro de Bruvi.

Pouco havia ouvido falar sobre a cidade, mas uma coisa era certa: o comércio dali girava fortemente em torno de um produto local — um tipo muito apreciado de chá feito de uma planta que só prosperava naquela região. Diziam que seu aroma era inconfundível e seu sabor, viciante. Mas só agora, respirando o ar de Bruvi, Bhaz acreditou ter sentido pela primeira vez uma tímida nota desse perfume no vento.

As ruas da capital eram um universo em si mesmas — cheias de vida, movimento e vozes que se cruzavam como correntes de ar quente ao meio-dia. Pessoas de todas as idades transitavam pelos caminhos de pedra, algumas apressadas, outras apenas vagando com o ritmo de quem já se acostumara com o fluxo incessante de Bruvi. O comércio livre era não só permitido como incentivado, e isso se refletia em cada canto: barracas simples, improvisadas com panos coloridos e caibros tortos, exibiam seus produtos como pequenos tesouros disputando a atenção dos passantes.

Havia vendedores chamando alto, o timbre de suas vozes subindo e descendo como num mercado de ventos:
— “Aqui, minha senhora, o melhor pão macio!”
— “Ali, moço, frutas fresquinhas, colhidas hoje cedo!”
— “Venha, venha ver! Só hoje, só agora!”

A maioria trabalhava com comida — pães dourados, verduras frescas, carnes secas, doces feitos com mel local — e o ar era uma mistura deliciosa de aromas que disputavam espaço no nariz de qualquer um que respirasse. Outras barracas, mais tímidas, vendiam acessórios: colares artesanais, pequenos amuletos religiosos, pulseiras de contas, bolsas de couro, lâminas baratas que brilhavam mais de óleo do que de qualidade.

Bhaz caminhava devagar para absorver tudo. Seus olhos zanzaram entre as cores, os sons, os cheiros — era como se cada canto da cidade tivesse algo novo para lhe oferecer. O maedrago estava genuinamente encantado com as opções, com o entusiasmo contagiante das pessoas ao redor; era como assistir uma dança caótica, mas harmoniosa, de gente viva e feliz.

Quase o suficiente para ignorar as encaradas.

Quase.

Sentia-as tocando sua pele escamada como pequenas agulhas sociais — olhares longos, disfarçados, curiosos ou temerosos. Ele já estava acostumado a esse tipo de atenção, vinha de todo lugar, de toda gente. Ainda assim, nutria a expectativa de que uma cidade grande como Bruvi fosse ampla o bastante para diluí-lo na multidão, fazê-lo parecer menos uma criatura rara e mais… uma pessoa comum.

Ainda não era o caso.

Mas, ao menos ali, imerso naquele espetáculo de vida, o desconforto parecia menor. Como se Bruvi o abraçasse parcialmente — com um braço acolhedor e outro desconfiado — mas abraçasse ainda assim.

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