Mami desceu atrás e esticou os braços:

— Finalmente! Ar puro!

— Tem ar puro na cidade também… — Yamada murmurou.

— Não daquele jeito que é roubado por carros e prédios. — Ela sorriu.

Riku desceu logo depois, tropeçando nos próprios pés:

— NATUREZAAA! EU VOU VIRAR UM ANIMAL!

Shun puxou ele pela mochila.

— Você já é um Animal.

Antes de qualquer instrução, os alunos começaram a se agrupar, animados.

O professor só ergueu a prancheta para lembrar:

— Como avisei: vocês podem escolher suas duplas. Cada dupla fica com uma cabana, com dois quartos separados

Imediatamente Yui agarrou o braço do Shun

— Shun. Comigo.

— tá bom, tá bom — ele corou.

— Óbvio que tá bom — ela riu. — Você é meu desde ano passado.

Shun ficou tão vermelho que parecia um semáforo.

Riku escolheu aleatoriamente

Ele apontou pra um garoto qualquer.

— VOCÊ!

— Eu?! — Takeda arregalou os olhos.

— Sim! Eu senti uma energia boa. Você vai ser minha dupla.

— Tá…— Takeda não fazia ideia do que estava acontecendo.

E então Mami olhou para Yamada.

Um olhar doce. Quase tímido.

— Yamada… você fica comigo?

Ele não hesitou nem um segundo.

— Claro. Eu já tinha te escolhido antes de você perguntar.

Ela ficou corada na hora.

— Ah… é?

— Uhum — ele deu um sorriso — ia dar trabalho se alguém te chamasse antes.

— Q-Que?!

E assim, as duplas estavam formadas.

A cabana era aconchegante, com cheirinho de madeira nova e uma janelinha mostrando parte do lago.

— Que gracinha… — Mami abriu um dos quartos. — Esse é o meu.

Ela apontou pro outro.

— O seu é aquele ali. Agora somos vizinhos de parede.

Antes que ele tivesse uma reação, Mami puxou o braço dele:

— Vamos explorar o acampamento!

O acampamento era enorme. Trilha, mirante, lago, ponte de corda que parecia obra inacabada…

— Vamos ver o lago primeiro! — ela disse, animada.

Yamada deu um sorriso leve.

— Tá. Anda devagar ou vou te perder no meio das árvores.

Enquanto caminhavam pela trilha, o vento mexia no cabelo dela de um jeito que chamava atenção.

Yamada olhou por um momento, sem falar nada.

Mami percebeu.

— Para de me olhar assim… — ela murmurou, tímida.

— Mas eu gosto.

— E-eu sei…

Ela virou o rosto, sorrindo sozinha.

Mais alguns passos e o som da água apareceu entre as árvores. O lago estava calmo, brilhando sob o sol. Mami parou na beira e respirou fundo.

— Uau… é tão bonito…

Mami inclinou o corpo pra frente, como se quisesse ver o fundo do lago.

— Dá vontade de entrar correndo — ela disse, com brilho nos olhos.

— Não entra — Yamada respondeu automático. — Você vai escorregar, bater a cabeça numa pedra, morrer e eu vou ser culpado.

— Credo, Yamada — ela riu. — Por que você estraga todos os momentos bonitos?

— É o meu talento natural.

Mami se abaixou um pouco mais, olhando o reflexo da própria mão na água.

— Mas sério… é tão tranquilo aqui… — ela murmurou, balançando os pés na beirada.

Yamada observou ela por um instante.

A luz do lago deixava o rosto dela ainda mais suave.

— Você combina com esse lugar — ele falou sem pensar.

Mami virou na hora, surpresa, as bochechas ficando coradas como se o sol tivesse encostado nelas.

— E-eu…? Por quê?

— Sei lá. É calmo. Bonito.

— Eu não consigo ouvir essas coisas…

— Eu consigo falar — ele rebateu.

— Infeliz…

Ela deu um mini tapa no braço dele.

— Acho que… a gente devia voltar. — disse baixinho. — Senão vão achar que a gente se perdeu na floresta.

— Tá. Vamos. — Yamada respondeu sorrindo.

Eles foram caminhando lado a lado pela trilha. Quando chegaram de volta à área principal do acampamento, encontraram Yui e Shun sentados num banco, Yui encostada no ombro do Shun; Shun passando a mão no cabelo dela.

Riku estava em pé na frente deles, com os braços cruzados e cara de indignado.

— VOCÊS DOIS NÃO CONSEGUEM PARAR DE SER ASSIM NEM POR DOIS MINUTOS?! — ele reclamou. — EU ESTOU MORRENDO DE TÉDIO AQUI!

— Você podia ir conversar com o seu colega de cabana — Yui sugeriu, sem olhar pra ele.

— ELE TÁ JOGANDO UM RPG DE TABULEIRO SOZINHO E FALANDO COM PERSONAGENS IMAGINÁRIOS!! — Riku gritou. — ELE É UM NERD!!

Yui riu, dando tapinhas no ombro de Shun.

Mami se aproximou, sorrindo.

— Oi, gente.

Yui sorriu de volta.

— Vocês sumiram, hein.

— A gente deu uma volta pelo lago. — Yamada disse.

Quando o sinal do refeitório tocou, o grupo foi andando junto. O salão tinha mesas compridas, cheiro de curry e barulho de gente demais falando ao mesmo tempo.

A comida era simples: curry, arroz e pãozinho.

Riku pegou DOIS pratos.

— Riku… por que dois? — Yui perguntou.

— Um é pra mim.

— E o outro?

— Também. — ele respondeu, absolutamente convicto.

Shun apoiou o rosto na mão.

— Você vai explodir ainda nesse acampamento. Eu sinto.

Riku mordeu o pão exageradamente.

— QUE SE DANE, ISSO AQUI É A MELHOR COISA QUE JÁ ENCOSTOU NA MINHA BOCA!

Takeda passou correndo atrás, segurando uma pilha de dados coloridos.

— Riku! Eu descobri que meu personagem tem um feitiço que—

— NÃO! — Riku gritou, tenso. — NÃO COMEÇA! EU SÓ QUERO COMER EM PAZ!

O refeitório inteiro olhou.

Takeda parou, piscou duas vezes e saiu andando devagar.

— Eu sou um monstro. — Riku murmurou, derrotado.

Mami riu tanto que quase derrubou o curry.

— Shun, por que você mastiga assim? — Yui perguntou, irritada e fofa ao mesmo tempo.

— Assim como? — ele perguntou sem entender.

— Com cara de que tá degustando um vinho francês! É curry, Shun! Curry! — Riku disse indignado.

— Desculpa…? — ele murmurou, confuso.

— VOCÊ É UM HOMEM PERIGOSO, SHUN. NINGUÉM MASTIGA ASSIM. — Riku disse.

— Meu Deus… — Yui se afundou na mesa. — Eu namoro um alien.

A mesa inteira caiu na risada.

Depois do jantar, o grupo ficou um tempo caminhando perto do campo aberto, onde algumas cabanas tinham luzes acesas. O céu já estava ficando laranja, passando devagar pra um azul escuro bonito.

Riku bocejou.

— Eu tô indo dormir. Meu corpo foi feito pra comer e descansar. Boa noite!

— Nem são oito horas — Shun comentou.

— O sono NÃO ESCOLHE HORÁRIO, SHUN! — Riku declarou, indo embora arrastando os pés.

Yui puxou Shun.

— Vamos também. Eu quero testar a cama da cabana.

— C-Como assim testar?

— Dormir, seu idiota.

Os dois desapareceram pelo caminho.

Mami ficou ao lado de Yamada, olhando pro céu que escurecia devagar.

— Tá ficando frio… — ela disse, cruzando os braços.

Yamada tirou o casaco e colocou nos ombros dela, sem hesitar.

— Usa.

Mami segurou o tecido, olhando pra baixo — e quando encarou Yamada, ele estava corado, sorrindo de leve.

— Obrigada… — ela disse, tímida.

A luz do poste ao lado deixava os dois num brilho suave, como cena de filme.

— Vamos voltar pra cabana? — ela perguntou.

— Vamos.

Andaram juntos em silêncio confortável, ouvindo só os grilos e o vento mexendo as folhas. Quando chegaram, a porta rangeu baixinho.

Mami parou na frente do quarto dela e segurou o casaco com as duas mãos.

— Yamada?

— Hm?

— Foi… um bom dia. — ela disse, meio sem jeito. — De verdade.

Yamada segurou a porta por um instante, olhando pra ela um pouco mais do que precisava.

— F-Foi mesmo… — ele respondeu, corando.

Ele respirou fundo, tentando parecer natural.

— Boa noite.

— Boa noite, Namorado. — ela sorriu.